Da Literatura: SEU NETO

01-07-2011
marcar artigo

Miguel Sanches Neto, escritor brasileiro (n. 1965), autor de dois romances, um livro de contos, duas colectâneas de poesia, três volumes de ensaio e crítica, um de crónicas e outro de correspondência, publicou na revista Carta Capital um texto ruim sobre o que considera ser a recolonização do Brasil. Tal recolonização partiria do pressuposto da transferência, para o Brasil, da «corte literária portuguesa». Dito de outro modo, tem por objecto o programa de divulgação de autores portugueses no Brasil, patrocinado pelo IPLB (uma das competências do Instituto é justamente divulgar autores portugueses no estrangeiro, e ainda bem que o Brasil passou a ser uma prioridade). N’A Origem das Espécies, Francisco José Viegas deu notícia da catilinária. E foi também o Francisco quem reproduziu, no Gávea, a carta do embaixador Seixas da Costa. A notícia foi entretanto repescada pela imprensa, sem indicação da fonte (os blogues citados) e, ontem, no Público, Eduardo Prado Coelho pega no tema. Acontece que o texto de EPC tem um senão. Citando os autores alvo da disparatada imprecação nacionalista, acrescenta dois — Francisco Bethencourt e Boaventura Sousa Santos — que são omissos do texto brasileiro, e omite outros — o de Francisco José Viegas, por exemplo — que são, de facto, aqueles que preocupam o autor de Hóspede Secreto (2003). Não vale a pena zurzir em seu Neto. Nós por cá temos tontos do mesmo calibre, a pensar exactíssimamente como ele. Ele pensa que estamos todos pulando a cerca. Ó prós caras chegando! (Consta que o rapaz do skate é Miguel Sousa Tavares. Porém, o informe carece de confirmação.) Miguel Sanches Neto devia começar por perceber que todos ganhamos com a troca. Pessoalmente, lamento a parcimónia das livrarias portuguesas no tocante a literatura brasileira, em particular no que à ficção e ao ensaio respeita. Mas não faço disso doutrina. O Ipiranga da semana modernista (1922) já foi. Enfim, como a criatura é praticamente desconhecida entre nós, ficam duas citações: 1. «Um poeta me liga para reclamar que não comentei o livro dele, sem perceber que sua obra já fora julgada nas restrições que fiz a outras similares.» 2. «O preconceito, em crítica, é tão importante quanto a sensibilidade. Ele deixa claro que não se tem medo de contrariar o alegre coro das comadres.» Jogo de cintura o homem tem. O resto são equívocos, e todos temos direito a entesourar os nossos.Etiquetas: AAA

Miguel Sanches Neto, escritor brasileiro (n. 1965), autor de dois romances, um livro de contos, duas colectâneas de poesia, três volumes de ensaio e crítica, um de crónicas e outro de correspondência, publicou na revista Carta Capital um texto ruim sobre o que considera ser a recolonização do Brasil. Tal recolonização partiria do pressuposto da transferência, para o Brasil, da «corte literária portuguesa». Dito de outro modo, tem por objecto o programa de divulgação de autores portugueses no Brasil, patrocinado pelo IPLB (uma das competências do Instituto é justamente divulgar autores portugueses no estrangeiro, e ainda bem que o Brasil passou a ser uma prioridade). N’A Origem das Espécies, Francisco José Viegas deu notícia da catilinária. E foi também o Francisco quem reproduziu, no Gávea, a carta do embaixador Seixas da Costa. A notícia foi entretanto repescada pela imprensa, sem indicação da fonte (os blogues citados) e, ontem, no Público, Eduardo Prado Coelho pega no tema. Acontece que o texto de EPC tem um senão. Citando os autores alvo da disparatada imprecação nacionalista, acrescenta dois — Francisco Bethencourt e Boaventura Sousa Santos — que são omissos do texto brasileiro, e omite outros — o de Francisco José Viegas, por exemplo — que são, de facto, aqueles que preocupam o autor de Hóspede Secreto (2003). Não vale a pena zurzir em seu Neto. Nós por cá temos tontos do mesmo calibre, a pensar exactíssimamente como ele. Ele pensa que estamos todos pulando a cerca. Ó prós caras chegando! (Consta que o rapaz do skate é Miguel Sousa Tavares. Porém, o informe carece de confirmação.) Miguel Sanches Neto devia começar por perceber que todos ganhamos com a troca. Pessoalmente, lamento a parcimónia das livrarias portuguesas no tocante a literatura brasileira, em particular no que à ficção e ao ensaio respeita. Mas não faço disso doutrina. O Ipiranga da semana modernista (1922) já foi. Enfim, como a criatura é praticamente desconhecida entre nós, ficam duas citações: 1. «Um poeta me liga para reclamar que não comentei o livro dele, sem perceber que sua obra já fora julgada nas restrições que fiz a outras similares.» 2. «O preconceito, em crítica, é tão importante quanto a sensibilidade. Ele deixa claro que não se tem medo de contrariar o alegre coro das comadres.» Jogo de cintura o homem tem. O resto são equívocos, e todos temos direito a entesourar os nossos.Etiquetas: AAA

marcar artigo