Quetzal

13-01-2012
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Estão aí os policiais vindos do frio e do norte da Europa, mas escolho dois vindos do Sul: um de Portugal, L. Ville, de Fernando Sobral; outro do México, Balas de Prata, de Élmer Mendoza. A sensação que tive ao ler L. Ville foi a de que não conhecia Lisboa; não conheço. A cidade transfigura-se com as memórias do detective de Sobral (Manuel da Rosa), um último romântico corrompido pelas memórias de Macau e de Lagos, na Nigéria, onde a vida vale pouco. Em Lisboa também vale cada vez menos; Sobral fala das sombras (há uma evocação clara da estatueta de jade, que pode ser de Dashiell Hammett), das ruas onde se pode comprar uma Kalashnikov, de um rosto oriental que atravessa a história de uma investigação a que a vida não empresta sentido nenhum.

E Élmer Mendoza. Mendoza é o talento puro para contar histórias; a narrativa é desordenada, cruzada, marcada pelo calor de México DF. Balas de Prata fala da cidade onde os mortos se acumulam (como em Bolaño, de certo modo), da sua inclinação por Cris, do narcotráfico e da rádio nocturna que se ouve nos carros sujos que atravessam Av. Insurgentes e avariam com o excesso de maus tratos. Ele é um investigador triste e solitário à maneira dos grandes mitos da literatura policial americana, dividido entre o seu desamor e as idas ao analista, entre as pequenas refeições nas roulottes da estrada de Cuernavaca e os personagens abandonados antes da morte.

Balas de Prata, de Élmer Mendoza, com tradução de Salvato Teles de Menezes, sai para as livrarias na próxima sexta-feira. Mendoza foi a principal fonte para Arturo Pérez-Reverte poder escrever A Rainha do Sul.

Republicação de um post de Francisco José Viegas que está de regresso ao Origem das Espécies.

Estão aí os policiais vindos do frio e do norte da Europa, mas escolho dois vindos do Sul: um de Portugal, L. Ville, de Fernando Sobral; outro do México, Balas de Prata, de Élmer Mendoza. A sensação que tive ao ler L. Ville foi a de que não conhecia Lisboa; não conheço. A cidade transfigura-se com as memórias do detective de Sobral (Manuel da Rosa), um último romântico corrompido pelas memórias de Macau e de Lagos, na Nigéria, onde a vida vale pouco. Em Lisboa também vale cada vez menos; Sobral fala das sombras (há uma evocação clara da estatueta de jade, que pode ser de Dashiell Hammett), das ruas onde se pode comprar uma Kalashnikov, de um rosto oriental que atravessa a história de uma investigação a que a vida não empresta sentido nenhum.

E Élmer Mendoza. Mendoza é o talento puro para contar histórias; a narrativa é desordenada, cruzada, marcada pelo calor de México DF. Balas de Prata fala da cidade onde os mortos se acumulam (como em Bolaño, de certo modo), da sua inclinação por Cris, do narcotráfico e da rádio nocturna que se ouve nos carros sujos que atravessam Av. Insurgentes e avariam com o excesso de maus tratos. Ele é um investigador triste e solitário à maneira dos grandes mitos da literatura policial americana, dividido entre o seu desamor e as idas ao analista, entre as pequenas refeições nas roulottes da estrada de Cuernavaca e os personagens abandonados antes da morte.

Balas de Prata, de Élmer Mendoza, com tradução de Salvato Teles de Menezes, sai para as livrarias na próxima sexta-feira. Mendoza foi a principal fonte para Arturo Pérez-Reverte poder escrever A Rainha do Sul.

Republicação de um post de Francisco José Viegas que está de regresso ao Origem das Espécies.

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