A nostalgia da quimera: o fantástico é o género dominante na literatura portuguesa

19-11-2011
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Existe, porém, outro tema fundamental que acaba, invariavelmente, por constituir como que o “cenário”, o “pano de fundo” de todos os outros: a existência, ou não, de algo que se poderia designar como uma “tradição” -secular, de preferência – do fantástico em Portugal. Eu afirmo que sim, que existe, e vou mesmo mais longe: não tanto pelo número dos seus livros mas mais pelo impacto e influência daqueles, o fantástico assume-se como o género dominante na (história da) literatura portuguesa – muito mais importante do que categorias ou épocas como o iluminismo, romantismo, realismo, modernismo, neo-realismo, pós-modernismo e outros “ismos”.

Encontrei o ponto de partida para esta conclusão numa das muitas iniciativas desenvolvidas por aquele que, pelo seu trabalho enquanto escritor (ficcionista e ensaísta, investigador e divulgador) e cineasta, é hoje incontestavelmente a maior figura de referência do panorama FC & F português: António de Macedo. Que há dez anos dirigiu uma colecção, denominada “Bibliotheca Phantastica”, na já extinta editora Hugin, onde foram editadas obras de autores actuais: Luísa Marques da Silva, Maria de Menezes, Pedro Lúcio, Sérgio Franclim… e eu próprio – “Visões” constituiu a minha estreia literária e ainda o sétimo e último número daquela colecção. Esta, no entanto, incluiu também dois autores “antigos”: João da Rocha com “Memórias de um Médium”, editado originalmente em 1900 mas provavelmente escrito em 1892; e Teófilo Braga com “Contos Fantásticos”, editado originalmente em 1865 (refira-se que o futuro Presidente da República publicaria, em 1905, mais um livro de ficção, “Frei Gil de Santarém”, sobre a lenda do médico, clérigo e santo português da Idade Média que teria assinado um pacto com o Diabo – um antecessor do “Fausto”). Mais: nas introduções que fez aos sete livros, António de Macedo aproveitou para recordar – para muitos de nós, tratou-se mesmo de revelar – obras e autores que podem integrar perfeitamente, graças aos seus romances, novelas e contos, um “quadro de honra” da FC & F portuguesa do século XX – em especial aquela prévia à da geração que se tornaria mais conhecida na viragem dos anos 80 para os anos 90 do século passado, em grande parte graças à “colecção azul” da Editorial Caminho.

Assim, os títulos e os nomes sucederam-se: “Um Jantar Muito Original”, “A Rosa de Seda” e “Czarkresko” (esta incompleta), de Fernando Pessoa; “A Grande Sombra”, “A Estranha Morte do Professor Antena”, “O Fixador de Instantes” (os três incluídos em “Céu de Fogo”) e “A Confissão de Lúcio”, de Mário de Sá-Carneiro; “O Príncipe com Orelhas de Burro” e “Há Mais Mundos”, de José Régio; “Apenas uma Narrativa”, de António Pedro; “As Aventuras de João Sem Medo”, de José Gomes Ferreira; “AK – A Tese e o Axioma”, “Não lhes Faremos a Vontade” e “A Buzina”, de Romeu de Melo; “Contos do Gin-Tonic”, “Novos Contos do Gin” e “Casos do Direito Galáctico”, de Mário-Henrique Leiria; “O Físico Prodigioso”, de Jorge de Sena. Inevitavelmente, António de Macedo também refere José Saramago; na verdade, como não atribuir um significado muito especial ao facto de o (até agora) único Prémio Nobel da Literatura da língua portuguesa ter várias obras – provavelmente, as suas principais – que se podem (e devem) inserir no género fantástico, nomeadamente “Deste Mundo e do Outro”, “O Ano de 1993”, “Objecto Quase”, “Memorial do Convento”, “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, “A Jangada de Pedra”, “A Segunda Vida de Francisco de Assis”, “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, “Ensaio Sobre a Cegueira”, “Ensaio Sobre a Lucidez” e “Caim”?

O futuro com história

Todavia, é fundamental salientar que o fantástico na literatura portuguesa é muito anterior ao século XX. Aliás, o realizador de “Os Abismos da Meia Noite” e de “Os Emissários de Khalom” mencionou igualmente dois outros livros – duas colectâneas – que podem dar uma primeira perspectiva do que nesse âmbito se fez para trás.

Existe, porém, outro tema fundamental que acaba, invariavelmente, por constituir como que o “cenário”, o “pano de fundo” de todos os outros: a existência, ou não, de algo que se poderia designar como uma “tradição” -secular, de preferência – do fantástico em Portugal. Eu afirmo que sim, que existe, e vou mesmo mais longe: não tanto pelo número dos seus livros mas mais pelo impacto e influência daqueles, o fantástico assume-se como o género dominante na (história da) literatura portuguesa – muito mais importante do que categorias ou épocas como o iluminismo, romantismo, realismo, modernismo, neo-realismo, pós-modernismo e outros “ismos”.

Encontrei o ponto de partida para esta conclusão numa das muitas iniciativas desenvolvidas por aquele que, pelo seu trabalho enquanto escritor (ficcionista e ensaísta, investigador e divulgador) e cineasta, é hoje incontestavelmente a maior figura de referência do panorama FC & F português: António de Macedo. Que há dez anos dirigiu uma colecção, denominada “Bibliotheca Phantastica”, na já extinta editora Hugin, onde foram editadas obras de autores actuais: Luísa Marques da Silva, Maria de Menezes, Pedro Lúcio, Sérgio Franclim… e eu próprio – “Visões” constituiu a minha estreia literária e ainda o sétimo e último número daquela colecção. Esta, no entanto, incluiu também dois autores “antigos”: João da Rocha com “Memórias de um Médium”, editado originalmente em 1900 mas provavelmente escrito em 1892; e Teófilo Braga com “Contos Fantásticos”, editado originalmente em 1865 (refira-se que o futuro Presidente da República publicaria, em 1905, mais um livro de ficção, “Frei Gil de Santarém”, sobre a lenda do médico, clérigo e santo português da Idade Média que teria assinado um pacto com o Diabo – um antecessor do “Fausto”). Mais: nas introduções que fez aos sete livros, António de Macedo aproveitou para recordar – para muitos de nós, tratou-se mesmo de revelar – obras e autores que podem integrar perfeitamente, graças aos seus romances, novelas e contos, um “quadro de honra” da FC & F portuguesa do século XX – em especial aquela prévia à da geração que se tornaria mais conhecida na viragem dos anos 80 para os anos 90 do século passado, em grande parte graças à “colecção azul” da Editorial Caminho.

Assim, os títulos e os nomes sucederam-se: “Um Jantar Muito Original”, “A Rosa de Seda” e “Czarkresko” (esta incompleta), de Fernando Pessoa; “A Grande Sombra”, “A Estranha Morte do Professor Antena”, “O Fixador de Instantes” (os três incluídos em “Céu de Fogo”) e “A Confissão de Lúcio”, de Mário de Sá-Carneiro; “O Príncipe com Orelhas de Burro” e “Há Mais Mundos”, de José Régio; “Apenas uma Narrativa”, de António Pedro; “As Aventuras de João Sem Medo”, de José Gomes Ferreira; “AK – A Tese e o Axioma”, “Não lhes Faremos a Vontade” e “A Buzina”, de Romeu de Melo; “Contos do Gin-Tonic”, “Novos Contos do Gin” e “Casos do Direito Galáctico”, de Mário-Henrique Leiria; “O Físico Prodigioso”, de Jorge de Sena. Inevitavelmente, António de Macedo também refere José Saramago; na verdade, como não atribuir um significado muito especial ao facto de o (até agora) único Prémio Nobel da Literatura da língua portuguesa ter várias obras – provavelmente, as suas principais – que se podem (e devem) inserir no género fantástico, nomeadamente “Deste Mundo e do Outro”, “O Ano de 1993”, “Objecto Quase”, “Memorial do Convento”, “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, “A Jangada de Pedra”, “A Segunda Vida de Francisco de Assis”, “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, “Ensaio Sobre a Cegueira”, “Ensaio Sobre a Lucidez” e “Caim”?

O futuro com história

Todavia, é fundamental salientar que o fantástico na literatura portuguesa é muito anterior ao século XX. Aliás, o realizador de “Os Abismos da Meia Noite” e de “Os Emissários de Khalom” mencionou igualmente dois outros livros – duas colectâneas – que podem dar uma primeira perspectiva do que nesse âmbito se fez para trás.

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