Brasil: Ainda há tesouros por descobrir

11-07-2015
marcar artigo

Um génio mestiço e igrejas por todo o lado

A pretexto do café da tarde fomos em passeio até à Igreja da Nossa Senhora do Carmo, um dos nossos ‘spots' preferidos nesta odisseia "ouropretana". O olhar perdeu-se na paisagem, na vegetação densa e verde-escura, nas fachadas caiadas de branco, na familiaridade do traço, na névoa que começava a envolver um dos flancos da serra. Depois da contemplação decidimos desbravar a assombrosa colecção do Museu do Oratório, instalado na Casa do Noviciado da Ordem Terceira do Carmo, no adro da igreja. Uma colecção única no mundo mas, acima de tudo, fascinante e imperdível.

De novo ao ar livre, as analogias surgem espontaneamente. Não fosse a topografia e poderíamos pensar que estávamos em Velha Goa, onde a profusão de igrejas só tem rival na prodigalidade da vegetação. Aqui, o melhor exercício é ir entrando e conhecendo, fixando os nomes e os detalhes das que mais gostamos. A lista é enorme! Matriz Nossa Senhora do Pilar, Igreja de S. Francisco de Assis, Matriz Nossa Senhora da Conceição de António Dias, Capela do Padre Faria, a já elogiada Nossa Senhora do Carmo e a que arrebatou o coração e a razão - Santa Efigénia dos Pretos, construída por e para a comunidade de escravos em meados de Setecentos. Igrejas por todo o lado. São indissociáveis do dia-a-dia de Ouro Preto, o primeiro sítio no país a receber o título de Património Mundial da UNESCO no ano de 1980. São tesouros que merecem ser descobertos, tal como as obras dessa figura quase mítica que dá pelo nome de António Francisco Lisboa, "O Aleijadinho".

Arquitecto, escultor e entalhador brasileiro, terá nascido em 1730 ou 1738 - as opiniões dividem-se, embora a segunda seja tida como mais plausível - em Vila Rica, filho de Manuel Francisco Lisboa, arquitecto português, e de uma escrava africana de nome Isabel. Não teve formação artística nem profissional, apenas o que aprendeu na oficina do pai e no contacto com um tio entalhador. Bastardo e mulato deve a sua alcunha a uma doença grave que o deformou fisicamente, mas que combateu com perseverança em nome da paixão pela escultura. O seu talento é tal que perante certas obras apetece dizer que a doença lhe transmitiu um poder mágico de comunicar forma, vida, intensidade e beleza à imobilidade da pedra.

Curiosamente, até a pedra lhe foi favorável, ou não predominasse na região a chamada pedra sabão, mais fácil de trabalhar. Mas isso não explica o talento nem a criatividade que o Aleijadinho explorou criando uma identidade própria a partir da matriz barroca que fundiu com referências europeias e a cultura afro-brasileira. É o Barroco Mineiro em todo o seu esplendor.

Um génio mestiço e igrejas por todo o lado

A pretexto do café da tarde fomos em passeio até à Igreja da Nossa Senhora do Carmo, um dos nossos ‘spots' preferidos nesta odisseia "ouropretana". O olhar perdeu-se na paisagem, na vegetação densa e verde-escura, nas fachadas caiadas de branco, na familiaridade do traço, na névoa que começava a envolver um dos flancos da serra. Depois da contemplação decidimos desbravar a assombrosa colecção do Museu do Oratório, instalado na Casa do Noviciado da Ordem Terceira do Carmo, no adro da igreja. Uma colecção única no mundo mas, acima de tudo, fascinante e imperdível.

De novo ao ar livre, as analogias surgem espontaneamente. Não fosse a topografia e poderíamos pensar que estávamos em Velha Goa, onde a profusão de igrejas só tem rival na prodigalidade da vegetação. Aqui, o melhor exercício é ir entrando e conhecendo, fixando os nomes e os detalhes das que mais gostamos. A lista é enorme! Matriz Nossa Senhora do Pilar, Igreja de S. Francisco de Assis, Matriz Nossa Senhora da Conceição de António Dias, Capela do Padre Faria, a já elogiada Nossa Senhora do Carmo e a que arrebatou o coração e a razão - Santa Efigénia dos Pretos, construída por e para a comunidade de escravos em meados de Setecentos. Igrejas por todo o lado. São indissociáveis do dia-a-dia de Ouro Preto, o primeiro sítio no país a receber o título de Património Mundial da UNESCO no ano de 1980. São tesouros que merecem ser descobertos, tal como as obras dessa figura quase mítica que dá pelo nome de António Francisco Lisboa, "O Aleijadinho".

Arquitecto, escultor e entalhador brasileiro, terá nascido em 1730 ou 1738 - as opiniões dividem-se, embora a segunda seja tida como mais plausível - em Vila Rica, filho de Manuel Francisco Lisboa, arquitecto português, e de uma escrava africana de nome Isabel. Não teve formação artística nem profissional, apenas o que aprendeu na oficina do pai e no contacto com um tio entalhador. Bastardo e mulato deve a sua alcunha a uma doença grave que o deformou fisicamente, mas que combateu com perseverança em nome da paixão pela escultura. O seu talento é tal que perante certas obras apetece dizer que a doença lhe transmitiu um poder mágico de comunicar forma, vida, intensidade e beleza à imobilidade da pedra.

Curiosamente, até a pedra lhe foi favorável, ou não predominasse na região a chamada pedra sabão, mais fácil de trabalhar. Mas isso não explica o talento nem a criatividade que o Aleijadinho explorou criando uma identidade própria a partir da matriz barroca que fundiu com referências europeias e a cultura afro-brasileira. É o Barroco Mineiro em todo o seu esplendor.

marcar artigo