O Grande Zoo: OS HOMENS DURAMENTE EXPERIMENTADOS

03-07-2011
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Às vezes , a nossa emocionalidade mais profunda ou a nossa intuição poética criam evidências que a nossa racionalidade corrente demora mais tempo a alcançar. Isso ocorre muito a propósito das conjunturas políticas. Os primeiros sinais identificadores do actual governo de direita fizeram-me lembrar um poema que escrevi quando nos velhos tempos do fascismo as múmias do regime substituiram o incapacitado Salazar pelo engomado Marcelo Caetano. Esse poema viria a ser integrado no meu livro Maio Ausente , publicado em 1970. Recordando-o, sinto o vago incómodo de sentir nele alguma actualidade, como se a direita fosse no essencial a mesma, embora suficientemente ágil para ser tão democrática quanto tiver que o ser e tão autoritária quanto puder. Sempre a favor dos poderes de facto e sempre íntima do dinheiro. Eis o poema:OS HOMENS DURAMENTE EXPERIMENTADOSHá homem novo na cadeira velhacasaca ainda de perfume antigorosto esculpido em conhecida sombraa palavra medida estável desertaHomem de poltrona e velhos livroscaminha por entre frases tumularesfala ao povo de longe por palavrasgastas em anos de discurso largoOs mesmo guardas estão em seu redorcom fardas bastante conhecidasguarnecida está a esperança deste medopolícia a polícia alimentadoNeste país de muros e fantasmascontinua de pedra o tempo todovelhos os meses no relógio antigoos homens duramente experimentados [Rui Namorado]


Às vezes , a nossa emocionalidade mais profunda ou a nossa intuição poética criam evidências que a nossa racionalidade corrente demora mais tempo a alcançar. Isso ocorre muito a propósito das conjunturas políticas. Os primeiros sinais identificadores do actual governo de direita fizeram-me lembrar um poema que escrevi quando nos velhos tempos do fascismo as múmias do regime substituiram o incapacitado Salazar pelo engomado Marcelo Caetano. Esse poema viria a ser integrado no meu livro Maio Ausente , publicado em 1970. Recordando-o, sinto o vago incómodo de sentir nele alguma actualidade, como se a direita fosse no essencial a mesma, embora suficientemente ágil para ser tão democrática quanto tiver que o ser e tão autoritária quanto puder. Sempre a favor dos poderes de facto e sempre íntima do dinheiro. Eis o poema:OS HOMENS DURAMENTE EXPERIMENTADOSHá homem novo na cadeira velhacasaca ainda de perfume antigorosto esculpido em conhecida sombraa palavra medida estável desertaHomem de poltrona e velhos livroscaminha por entre frases tumularesfala ao povo de longe por palavrasgastas em anos de discurso largoOs mesmo guardas estão em seu redorcom fardas bastante conhecidasguarnecida está a esperança deste medopolícia a polícia alimentadoNeste país de muros e fantasmascontinua de pedra o tempo todovelhos os meses no relógio antigoos homens duramente experimentados [Rui Namorado]

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