Sá-Carneiro: quero a última coca-cola do deserto, já!

09-10-2015
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A Filosofia está vestida para matar (o que foste fazer da Paixão, Brian de Palma!). Nisto sou mesmo Aristotélica: a Filosofia é para estar na rua. É verdade que eu e você, que me lê agora, nos possamos vir a finar ainda hoje. Não que eu menospreze o dia que acorda. Pelo contrário peço ainda mais dele, saber que o posso perder. Quero é ganhá-lo: tenho sede agora. Senão para que serve levantar-me? Ganhar o pão, ok. Mas para quê? Pois hoje, acordei com a Paz, "A tranquilidade da ordem em todas as coisas", assim a define S. Agostinho, homem que escreveu a magna obra "A Cidade de Deus", onde no livro XIX se pode ler aquela máxima. Distingue-a da "cidade dos homens", para dizer que ambas estão misturadas e que o critério é o que se entende por amor.

"Uma mente desordenada, está perturbada; ordena-se, e acontece a paz", ainda o filósofo. Trata-se de decidir existir. Eu não me deixo perdida "no lavabo dum café", querido Mário. Nem tu querias "um fim mais raffiné". Disseste-o com um humor já desiludido; mas o que tinhas era sede, desejo, como eu, como todos, e não estavas para esperas inúteis. Não terá sido em vão. Quando nos abraçarmos, vais ver que afinal continuamos a trabalhar para o mesmo: protagonistas "do" bem comum. Por isso escrevias.

Ontem, no início das Jornadas Mundiais da Juventude, o Bispo do Rio de Janeiro desafiava a construir a paz e a testemunhar a solidariedade na partilha. É o "serviço das sedes", como gostava de dizer Leonardo Coimbra. Com os pés na terra, mas com "Uma visão ginástica da vida", uma conferência sua que descreve a visão que S. Francisco de Assis tem da vida. Fabuloso! Fabulosa! Os que foram à lua em 69, e que hoje recordamos, também regressaram à terra.

Dois amores fazem duas cidades. A cidade de Deus é construída com o amor "de" Deus, a cidade dos homens, com o amor "dos" homens. No primeiro caso, amar Deus é o mesmo que dizer que o homem, fica em segundo plano; no segundo, que é Deus que fica em segundo plano. Em ambos os casos: o homem e Deus, os dois objectos da filosofia, re-corda sempre o santo. Tudo o mais em torno disto gira. E quem pensa que o filósofo é maniqueísta, está enganado. Passou por uma fase em que Mani era para ele o centro, mas depressa viu que a sua liberdade era mesmo sua, e que não era nenhuma substância má por natureza, que o levava a praticar o mal. "Sou eu que quero e não quero", repete sem conta. E o mal é "apenas" a ausência de bem, o escolher o que me faz "menos" homem.

Não sendo dualista, Agostinho sabe que as duas cidades estão "misturadas". Que somos uma espécie de "entre" e, como numa corrida, tendemos para a meta. Tendemos, repete. Porquê? Porque a liberdade escolhe em cada instante, corre hoje, pode não correr logo, pode desistir e dizer "a minha vida fartou-se e não há quem a levante." (Serradura, Mário de Sá Carneiro).

A correria em que nos agitamos tem tanto valor para nos perdermos no movimento que encontramos "cá dentro" (às vezes, num vislumbre, só por uns instantes, como num ver do por do sol, ou da lua, que tem estado tão bonita)? A Paz acontece-me se dela não desistir. Sim, porque sou mesmo livre para a querer ou não. Ninguém me força. Não me escandalizo que eu seja um mistura. Nem com quem desiste. Quero é ser a última coca-cola do deserto. Mas contigo Mário. Sozinha é impossível. Fora de jogo, é para o futebol. Auto-estima não é coisa de Psicologia. Vem antes. E antes que o sol se ponha. Não dou a vida por adquirida, nem por hipotéticos cordeiros e lobos que se vão abraçar num hipotético futuro. Quero ver, já! Os abraços, já! Decidi, hoje outra vez, na mistura que sou, ordenar a minha mente. Encomendo-me, misturada e livre, para tal.

A Filosofia está vestida para matar (o que foste fazer da Paixão, Brian de Palma!). Nisto sou mesmo Aristotélica: a Filosofia é para estar na rua. É verdade que eu e você, que me lê agora, nos possamos vir a finar ainda hoje. Não que eu menospreze o dia que acorda. Pelo contrário peço ainda mais dele, saber que o posso perder. Quero é ganhá-lo: tenho sede agora. Senão para que serve levantar-me? Ganhar o pão, ok. Mas para quê? Pois hoje, acordei com a Paz, "A tranquilidade da ordem em todas as coisas", assim a define S. Agostinho, homem que escreveu a magna obra "A Cidade de Deus", onde no livro XIX se pode ler aquela máxima. Distingue-a da "cidade dos homens", para dizer que ambas estão misturadas e que o critério é o que se entende por amor.

"Uma mente desordenada, está perturbada; ordena-se, e acontece a paz", ainda o filósofo. Trata-se de decidir existir. Eu não me deixo perdida "no lavabo dum café", querido Mário. Nem tu querias "um fim mais raffiné". Disseste-o com um humor já desiludido; mas o que tinhas era sede, desejo, como eu, como todos, e não estavas para esperas inúteis. Não terá sido em vão. Quando nos abraçarmos, vais ver que afinal continuamos a trabalhar para o mesmo: protagonistas "do" bem comum. Por isso escrevias.

Ontem, no início das Jornadas Mundiais da Juventude, o Bispo do Rio de Janeiro desafiava a construir a paz e a testemunhar a solidariedade na partilha. É o "serviço das sedes", como gostava de dizer Leonardo Coimbra. Com os pés na terra, mas com "Uma visão ginástica da vida", uma conferência sua que descreve a visão que S. Francisco de Assis tem da vida. Fabuloso! Fabulosa! Os que foram à lua em 69, e que hoje recordamos, também regressaram à terra.

Dois amores fazem duas cidades. A cidade de Deus é construída com o amor "de" Deus, a cidade dos homens, com o amor "dos" homens. No primeiro caso, amar Deus é o mesmo que dizer que o homem, fica em segundo plano; no segundo, que é Deus que fica em segundo plano. Em ambos os casos: o homem e Deus, os dois objectos da filosofia, re-corda sempre o santo. Tudo o mais em torno disto gira. E quem pensa que o filósofo é maniqueísta, está enganado. Passou por uma fase em que Mani era para ele o centro, mas depressa viu que a sua liberdade era mesmo sua, e que não era nenhuma substância má por natureza, que o levava a praticar o mal. "Sou eu que quero e não quero", repete sem conta. E o mal é "apenas" a ausência de bem, o escolher o que me faz "menos" homem.

Não sendo dualista, Agostinho sabe que as duas cidades estão "misturadas". Que somos uma espécie de "entre" e, como numa corrida, tendemos para a meta. Tendemos, repete. Porquê? Porque a liberdade escolhe em cada instante, corre hoje, pode não correr logo, pode desistir e dizer "a minha vida fartou-se e não há quem a levante." (Serradura, Mário de Sá Carneiro).

A correria em que nos agitamos tem tanto valor para nos perdermos no movimento que encontramos "cá dentro" (às vezes, num vislumbre, só por uns instantes, como num ver do por do sol, ou da lua, que tem estado tão bonita)? A Paz acontece-me se dela não desistir. Sim, porque sou mesmo livre para a querer ou não. Ninguém me força. Não me escandalizo que eu seja um mistura. Nem com quem desiste. Quero é ser a última coca-cola do deserto. Mas contigo Mário. Sozinha é impossível. Fora de jogo, é para o futebol. Auto-estima não é coisa de Psicologia. Vem antes. E antes que o sol se ponha. Não dou a vida por adquirida, nem por hipotéticos cordeiros e lobos que se vão abraçar num hipotético futuro. Quero ver, já! Os abraços, já! Decidi, hoje outra vez, na mistura que sou, ordenar a minha mente. Encomendo-me, misturada e livre, para tal.

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