As Coisas Essenciais

23-04-2015
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Que valores estão as mulheres na política activa a defender?

Num recente programa Política Mesmo da tvi 24, com Paulo Magalhães, 4 deputadas, Francisca Almeida do PSD e Teresa Anjinho do CDS/PP de um lado, Marisa Matias eurodeputada pelo BE e Paula Santos do PCP do outro, ainda pensei: para variar vamos ver o que estas mulheres têm para nos dizer, já cansa ouvir só homens e debates entre egos masculinos. Mas mal sabia eu a decepção que iria ter...

Francisca Almeida, deputada do PSD, com a sua voz estridente que se deve ouvir nos cantos da sala da assembleia, com argumentos bem assimilados tipo propaganda governativa e a papaguear mais alto do que as adversárias, uma estratégia tão cara aos deputados da assembleia mas insuportável num debate para espectadores que querem ser informados, revelou estar apenas preocupada em defender o seu lugarzinho no parlamento e em defender o chefe.

Teresa Anjinho, do CDS/PP, parecia uma bonequinha de plástico muito in num certo meio e muito bem comportadinha (o nome fica-lhe bem), um exemplo de mimetismo social (a personagem que me surgiu foi Leonor Beleza) de que sofrem os políticos e todas as pessoas com ambições sociais: imitar o mentor idealizado, uma necessidade de aprovação social e o discurso certo para o efeito. Caricata a elaboração da sua pergunta à eurodeputada do BE em que inclui a resposta na própria pergunta, com o seu ar autoritário. De resto, apenas retórica e propaganda.

Na verdade, depois de as ter visto e ouvido pela primeira vez, verifico que não estamos perante mulheres já feitas, autónomas, corajosas, e que sabem pensar pela sua própria cabeça, mas debutantes mimadas, que nada sabem da vida, das pessoas que dizem representar, do país que dizem defender, e que dependem da sua capacidade de agradar ao seu grupo de referência (aprovação social). Uma verdadeira decepção.

Como um dia as duas irão verificar, quando adquirirem alguma maturidade, estão culturalmente obsoletas, cada uma no seu género e no que representa, renderam-se à linguagem do poder essencialmente masculina, do mais forte a submeter o mais fraco, considerando normal e saudável a manutenção da cultura da caridadezinha, da vocação assistencialista do Estado. Falam de emergência mas sem qualquer emoção. O que as move é apenas garantir o pagamento do empréstimo aos credores, por mais agiotas que se revelem actualmente.

Do outro lado: Paula Santos, do PCP, também desconhecida para mim. Embora tenha dito uma ou outra verdade e embora revele saber o que está em jogo, o seu enquadramento político está desactualizado. Mas foi dela o punch certeiro a Teresa Anjinho e a Francisca Almeida desmontando a sua perspectiva caritativa e assistencialista. Aqui esteve perfeita: de facto, podemos dizer que esta é uma questão de classes, os grupos privilegiados (banca, grandes grupos económicos), contra o resto da população portuguesa. Revela conhecer de perto a vida diária dos cidadãos, as dificuldades sentidas nos hospitais, nas escolas, os cortes nos subsídios de desemprego, as dificuldades das famílias, e que seria essencial valorizar salários e pensões para dinamizar o nosso mercado interno, assim como as pequenas e médias empresas, etc.

E finalmente Marisa Matias, eurodeputada pelo BE, a única com quem consegui sentir uma afinidade cultural, a única que se revela empenhada num propósito maior do que o seu ego, e isso percebe-se desde logo pela informação de que dispõe, pelo entusiasmo genuíno, pelos argumentos fiáveis e baseados no essencial. Revelou estar bem informada sobre o que está a acontecer na Europa e no país e saber exactamente o que está em jogo. Revelou aqui verdadeira empatia com os cidadãos, percebemos que não é retórica nem simples propaganda. É uma mulher de acção. Já a conhecia de uma reportagem sobre a sua intervenção no parlamento europeu, em que ficamos inspiradas sobre o que uma mulher pode fazer para exigir uma informação correcta, a defesa dos cidadãos europeus negligenciados, a divulgação de autênticas situações de crise humanitária. Uma mulher feita, que pensa pela sua própria cabeça, que tem os neurónios a funcionar, a empatia a funcionar, a capacidade de agir de forma inteligente e consequente. Só uma mulher autónoma, que sabe observar e intervir, pode inspirar-nos, mulheres, a observar e participar. E qual foi a informação crucial que esta eurodeputada nos trouxe? A seguinte:

Passou em votação no parlamento europeu um Relatório de actividades do BCE com um parágrafo com uma recomendação para reverter para os países intervencionados as suas mais-valias com a dívida desses países: 3 mil M€/ano. Dá para acreditar? (Já Francisco Louçã, aliás, o tinha revelado no dia anterior no mesmo programa da tvi 24, ao apresentar o livro Isto é um assalto, que só com a dívida portuguesa o lucro do BCE corresponde a 1,5 mil M€/ano).

E sabem quem votou contra? Precisamente: os eurodeputados do PSD e do CDS.

Está tudo dito.

Quanto à análise que aqui deixo sobre as mulheres: a questão aqui não é o partido x ou y, a questão é:

Que valores estão as mulheres na política activa a defender?

Que valores estão as mulheres na política activa a defender?

Num recente programa Política Mesmo da tvi 24, com Paulo Magalhães, 4 deputadas, Francisca Almeida do PSD e Teresa Anjinho do CDS/PP de um lado, Marisa Matias eurodeputada pelo BE e Paula Santos do PCP do outro, ainda pensei: para variar vamos ver o que estas mulheres têm para nos dizer, já cansa ouvir só homens e debates entre egos masculinos. Mas mal sabia eu a decepção que iria ter...

Francisca Almeida, deputada do PSD, com a sua voz estridente que se deve ouvir nos cantos da sala da assembleia, com argumentos bem assimilados tipo propaganda governativa e a papaguear mais alto do que as adversárias, uma estratégia tão cara aos deputados da assembleia mas insuportável num debate para espectadores que querem ser informados, revelou estar apenas preocupada em defender o seu lugarzinho no parlamento e em defender o chefe.

Teresa Anjinho, do CDS/PP, parecia uma bonequinha de plástico muito in num certo meio e muito bem comportadinha (o nome fica-lhe bem), um exemplo de mimetismo social (a personagem que me surgiu foi Leonor Beleza) de que sofrem os políticos e todas as pessoas com ambições sociais: imitar o mentor idealizado, uma necessidade de aprovação social e o discurso certo para o efeito. Caricata a elaboração da sua pergunta à eurodeputada do BE em que inclui a resposta na própria pergunta, com o seu ar autoritário. De resto, apenas retórica e propaganda.

Na verdade, depois de as ter visto e ouvido pela primeira vez, verifico que não estamos perante mulheres já feitas, autónomas, corajosas, e que sabem pensar pela sua própria cabeça, mas debutantes mimadas, que nada sabem da vida, das pessoas que dizem representar, do país que dizem defender, e que dependem da sua capacidade de agradar ao seu grupo de referência (aprovação social). Uma verdadeira decepção.

Como um dia as duas irão verificar, quando adquirirem alguma maturidade, estão culturalmente obsoletas, cada uma no seu género e no que representa, renderam-se à linguagem do poder essencialmente masculina, do mais forte a submeter o mais fraco, considerando normal e saudável a manutenção da cultura da caridadezinha, da vocação assistencialista do Estado. Falam de emergência mas sem qualquer emoção. O que as move é apenas garantir o pagamento do empréstimo aos credores, por mais agiotas que se revelem actualmente.

Do outro lado: Paula Santos, do PCP, também desconhecida para mim. Embora tenha dito uma ou outra verdade e embora revele saber o que está em jogo, o seu enquadramento político está desactualizado. Mas foi dela o punch certeiro a Teresa Anjinho e a Francisca Almeida desmontando a sua perspectiva caritativa e assistencialista. Aqui esteve perfeita: de facto, podemos dizer que esta é uma questão de classes, os grupos privilegiados (banca, grandes grupos económicos), contra o resto da população portuguesa. Revela conhecer de perto a vida diária dos cidadãos, as dificuldades sentidas nos hospitais, nas escolas, os cortes nos subsídios de desemprego, as dificuldades das famílias, e que seria essencial valorizar salários e pensões para dinamizar o nosso mercado interno, assim como as pequenas e médias empresas, etc.

E finalmente Marisa Matias, eurodeputada pelo BE, a única com quem consegui sentir uma afinidade cultural, a única que se revela empenhada num propósito maior do que o seu ego, e isso percebe-se desde logo pela informação de que dispõe, pelo entusiasmo genuíno, pelos argumentos fiáveis e baseados no essencial. Revelou estar bem informada sobre o que está a acontecer na Europa e no país e saber exactamente o que está em jogo. Revelou aqui verdadeira empatia com os cidadãos, percebemos que não é retórica nem simples propaganda. É uma mulher de acção. Já a conhecia de uma reportagem sobre a sua intervenção no parlamento europeu, em que ficamos inspiradas sobre o que uma mulher pode fazer para exigir uma informação correcta, a defesa dos cidadãos europeus negligenciados, a divulgação de autênticas situações de crise humanitária. Uma mulher feita, que pensa pela sua própria cabeça, que tem os neurónios a funcionar, a empatia a funcionar, a capacidade de agir de forma inteligente e consequente. Só uma mulher autónoma, que sabe observar e intervir, pode inspirar-nos, mulheres, a observar e participar. E qual foi a informação crucial que esta eurodeputada nos trouxe? A seguinte:

Passou em votação no parlamento europeu um Relatório de actividades do BCE com um parágrafo com uma recomendação para reverter para os países intervencionados as suas mais-valias com a dívida desses países: 3 mil M€/ano. Dá para acreditar? (Já Francisco Louçã, aliás, o tinha revelado no dia anterior no mesmo programa da tvi 24, ao apresentar o livro Isto é um assalto, que só com a dívida portuguesa o lucro do BCE corresponde a 1,5 mil M€/ano).

E sabem quem votou contra? Precisamente: os eurodeputados do PSD e do CDS.

Está tudo dito.

Quanto à análise que aqui deixo sobre as mulheres: a questão aqui não é o partido x ou y, a questão é:

Que valores estão as mulheres na política activa a defender?

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