Opinião de Francisca Almeida

05-05-2015
marcar artigo

1. Não, não foi uma "gaffe" a afirmação de António Costa por ocasião das celebrações do Ano Novo Chinês, na Póvoa do Varzim, organizadas pela Liga dos Chineses em Portugal. Não foi nem uma "gaffe", nem um "deslize", nem se tratou, como pretendeu fazer passar o Presidente do Grupo Parlamentar do PS, de uma "frase imprecisa" utilizada como " arma de arremesso contra ele e contra o PS". Nada disso. Vistas e revistas as declarações não há como interpretá-las de outra forma: António Costa disse exactamente aquilo que queria dizer. Disse que Portugal está melhor hoje que em 2011. De resto, não fosse a mera divergência consubstanciar, tantas vezes e infelizmente, a própria essência do debate político, ninguém se surpreenderia que António Costa o tivesse assumido desde a primeira hora. Com todas as discordâncias que naturalmente pudesse ter relativamente às políticas que nos permitiram chegar até aqui, o resultado é, em si mesmo, objectivo.

A comparação entre um país na pré-bancarrota e na eminência de não ter dinheiro para pagar salários e pensões e um país com contas equilibradas e com a economia a crescer só permite uma conclusão, justamente a que António Costa retirou: Portugal está hoje numa situação bastante diferente daquela em que estava há quatro anos.

2. Percebe-se, todavia, o embaraço do Secretário-Geral do Partido Socialista que o levou, de resto, a explicar-se por SMS aos militantes e a procurar dissuadir um dos históricos do partido de "entregar o cartão de militante". É que a pretensa justificação não cola nem medra. Para defender o país perante quem quer que seja, para mais num discurso sem sujeição a contraditório, não é necessário abordar nenhum tema em concreto e, muito menos, dizer o contrário do que se pensa (ou do que se diz que se pensa). Costa é um político experiente. Sabe isso e devia saber que justificar-se com a suposta "imagem externa" do país perante "investidores estrangeiros" não convence nem resolve.

3. Seria certamente mais fácil para o próprio PS encarar com leveza esta afirmação de António Costa se por esta altura a direcção do partido tivesse já apresentado propostas concretas para o país que representassem uma alternativa ao actual Governo. Podia ser legítimo contextualizá-las de alguma forma ou, pelo menos, tornar crível a afirmação de Costa no SMS que enviou aos militantes: "Todos sabem bem o que penso do estado do pais e da urgência de mudar de políticas e de governo." Ora, o ponto é exactamente este. Ninguém sabe bem o que pensa e ao que vem António Costa. Ninguém percebeu ainda ao que vem um partido que às segundas, quartas e sextas se entusiasma com a vitória do Syriza e a sua política de ruptura e às terças, quintas e sábados afirma que "é um erro um governo definir uma estratégia nacional que ignore as negociações a 28 na União Europeia, ficando bloqueado numa única solução."

Bem pode propalar António Costa: "Nós temos propostas, nós temos medidas. E não nos conformamos com a resignação do senhor primeiro-ministro - e estamos aqui para construir e afirmar uma alternativa. Bem podem unir-se [PSD e CDS-PP], nós vos venceremos e afirmaremos a alternativa". São bonitas proclamações. Mas já toda a gente percebeu que as propostas do PS de Costa se tornaram numa espécie de Santo Graal da política portuguesa: todos as procuram, ninguém as encontra. A começar pelo próprio PS.

Cem dias volvidos da sua eleição como Secretário-Geral, António Costa continua a ser apenas o presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

1. Não, não foi uma "gaffe" a afirmação de António Costa por ocasião das celebrações do Ano Novo Chinês, na Póvoa do Varzim, organizadas pela Liga dos Chineses em Portugal. Não foi nem uma "gaffe", nem um "deslize", nem se tratou, como pretendeu fazer passar o Presidente do Grupo Parlamentar do PS, de uma "frase imprecisa" utilizada como " arma de arremesso contra ele e contra o PS". Nada disso. Vistas e revistas as declarações não há como interpretá-las de outra forma: António Costa disse exactamente aquilo que queria dizer. Disse que Portugal está melhor hoje que em 2011. De resto, não fosse a mera divergência consubstanciar, tantas vezes e infelizmente, a própria essência do debate político, ninguém se surpreenderia que António Costa o tivesse assumido desde a primeira hora. Com todas as discordâncias que naturalmente pudesse ter relativamente às políticas que nos permitiram chegar até aqui, o resultado é, em si mesmo, objectivo.

A comparação entre um país na pré-bancarrota e na eminência de não ter dinheiro para pagar salários e pensões e um país com contas equilibradas e com a economia a crescer só permite uma conclusão, justamente a que António Costa retirou: Portugal está hoje numa situação bastante diferente daquela em que estava há quatro anos.

2. Percebe-se, todavia, o embaraço do Secretário-Geral do Partido Socialista que o levou, de resto, a explicar-se por SMS aos militantes e a procurar dissuadir um dos históricos do partido de "entregar o cartão de militante". É que a pretensa justificação não cola nem medra. Para defender o país perante quem quer que seja, para mais num discurso sem sujeição a contraditório, não é necessário abordar nenhum tema em concreto e, muito menos, dizer o contrário do que se pensa (ou do que se diz que se pensa). Costa é um político experiente. Sabe isso e devia saber que justificar-se com a suposta "imagem externa" do país perante "investidores estrangeiros" não convence nem resolve.

3. Seria certamente mais fácil para o próprio PS encarar com leveza esta afirmação de António Costa se por esta altura a direcção do partido tivesse já apresentado propostas concretas para o país que representassem uma alternativa ao actual Governo. Podia ser legítimo contextualizá-las de alguma forma ou, pelo menos, tornar crível a afirmação de Costa no SMS que enviou aos militantes: "Todos sabem bem o que penso do estado do pais e da urgência de mudar de políticas e de governo." Ora, o ponto é exactamente este. Ninguém sabe bem o que pensa e ao que vem António Costa. Ninguém percebeu ainda ao que vem um partido que às segundas, quartas e sextas se entusiasma com a vitória do Syriza e a sua política de ruptura e às terças, quintas e sábados afirma que "é um erro um governo definir uma estratégia nacional que ignore as negociações a 28 na União Europeia, ficando bloqueado numa única solução."

Bem pode propalar António Costa: "Nós temos propostas, nós temos medidas. E não nos conformamos com a resignação do senhor primeiro-ministro - e estamos aqui para construir e afirmar uma alternativa. Bem podem unir-se [PSD e CDS-PP], nós vos venceremos e afirmaremos a alternativa". São bonitas proclamações. Mas já toda a gente percebeu que as propostas do PS de Costa se tornaram numa espécie de Santo Graal da política portuguesa: todos as procuram, ninguém as encontra. A começar pelo próprio PS.

Cem dias volvidos da sua eleição como Secretário-Geral, António Costa continua a ser apenas o presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

marcar artigo