GES não recebeu dinheiro de Angola e o que Salgado recebeu já foi declarado

30-04-2015
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Pedir desculpa é pior do que não ter razão. Eu estou aqui para defender a minha razão”. Foi com uma citação de Fernando Pessoa que Ricardo Salgado respondeu às acusações feitas pelo deputado social-democrata, Carlos Abreu Amorim, que pediu ao ex-presidente do BES para assumir as suas responsabilidades e pedir desculpa, como fizeram Granadeiro e José Manuel Espírito Santo. A frase atribuída ao poeta (Álvaro de Campos) acabou por corrigida no final da audição para “Não dar desculpas, é melhor que ter razão”.

O ex-presidente do BES disse várias vezes que se sentia como estando “perante um tribunal, na qual o juiz me chama para dizer que a sentença está declarada e que agora vai proceder ao julgamento.”

Ricardo Salgado foi o primeiro a regressar à comissão de inquérito aos atos de gestão do BES e do Grupo Espírito Santo (GES). Na exposição inicial, que demorou cerca de uma hora, Ricardo Salgado escolheu um alvo: o governador do Banco de Portugal e a “justiça de pelourinho” do supervisor que em 30 de julho anunciou logo a existência de irregularidades e a suspeita de atos de gestão ruinosa. Para Salgado, o governador Carlos Costa “não percebeu o problema”, caracterizando a atuação do regulador numa palavra: “Estupefação”.

O ex-presidente do BES sublinhou que o “ring fencing” (barreira de proteção entre o grupo e o banco) a que foi obrigado pelo Banco de Portugal foi um “ring fencing cego” que “prejudicou o BES em vez de o proteger”. No limite, concluiu que foi esta imposição que precipitou o colapso do grupo e do banco. Acusou ainda Carlos Costa de “manifesta falta de isenção”.

Numa reação à primeira parte da auditoria forense, Ricardo Salgado defendeu que as operações que o Banco de Portugal diz terem contornado a proibição de aumentar a exposição do BES ao GES, serviram, pelo contrário, para cumprir esse ring-fencing, na medida que asseguraram o reembolso de clientes que investiram em dívida do GES, cumprindo uma determinação do supervisor.

O dinheiro usado para reembolsar os investidores da dívida das empresas da área não financeira foi retirado ao BES, mas Salgado assegura que estes clientes, mesmo os do private banking (gestão de fortunas) eram não qualificados e estavam como tal cobertos pela garantia imposta pelo Banco de Portugal.

Na intervenção inicial (que pode ler em anexo), culpou ainda o Banco de Portugal, cuja atuação e discurso provocaram: “a volatilidade das ações e a fuga de depósitos. Foram estas duas circunstâncias que ditaram a destruição do BES”.

Salgado repetiu a tese (“ladainha” na expressão do deputado comunista Miguel Tiago) de que o BES não faliu, foi forçado a desaparecer, invocando o excesso de provisões imposto pelo Banco de Portugal e as implicações da resolução na perda da garantia de Angola.

“Gaspar agradeceu-me duas vezes o apoio do BES ao pais”

Mariana Mortágua comparou Ricardo Salgado ao maestro de uma orquestra que prefere afundar com o barco (o Titanic) a admitir que acabou, considerando que o banqueiro esteve a gerir um grupo falido durante dez anos. Salgado responde: “O Estado português estava falido e o BES ajudou o Estado, tal como ajudou vários grupos que estavam falidos. Por duas vezes, Vítor Gaspar agradeceu-me o apoio que o BES estava a dar ao país. Tive dois telefonemas. A única coisa que pedimos foi uma reciprocidade.”

Brasileiros e Zeinal sabiam que PT ia manter investimentos no GES por um ano

Sobre a Portugal Telecom, Ricardo Salgado assegura que Granadeiro, Zeinal Bava e os acionistas brasileiros da Oi sabiam que havia um compromisso para a PT manter os investimentos no BES/GES durante mais um ano. Esse compromisso tinha como objetivo assegurar a “reciprocidade em relação aos parceiros brasileiros”. Eles sabiam dos 900 milhões aplicados na Rioforte? Sabiam do investimento na Espírito Santo Internacional, responde. Esta aplicação foi transferida para a Rioforte no início de 2014.

Salgado reafirmou a veracidade do mail enviado a dois investidores brasileiros a lembrar esta reciprocidade e que foi desmentido pela Oi. Mas se os brasileiros sabiam, então porque é que os portugueses aceitaram rever a fusão em termos que prejudicaram a PT? Salgado recorda que nessa altura (julho de 2014) estava totalmente absorvido na “situação terrível do BES”. Deixou de ter possibilidade de intervir. “Não tive tempo para me mexer”, responde quando questionado porque não disse nada. Mas lembra que Granadeiro e Bava também sabiam.

“Não acredito” que tenha saído dinheiro do BESA para financiar o GES

E o dinheiro que saiu do BESA (Banco Espírito Santo Angola) via BES? O deputado socialista Pedro Nuno Santos cita a auditoria forense conhecida esta semana e a imprensa para perguntar se esses fundos foram parar a Ricardo Salgado, Amílcar Morais Pires e Álvaro Sobrinho (ex-presidente do BESA). “Serviu para ir para a família, para empresas que tivessem dívida, através de sociedades offshore?

“No que diz respeito à minha pessoa e a Amílcar Morais Pires, não. Não posso falar por ele, mas conheço a sua extraordinária competência técnica e profissional”, defende Salgado que ignora a referência a Álvaro Sobrinho. Numa resposta dada mais tarde ao deputado comunista Miguel Tiago, Salgado acaba por admitir que tudo o que recebeu via Angola foi já divulgado e declarado no quadro do RERT (perdão fiscal), relativo aos rendimentos que tinha fora do país e que foram regularizados em 2012. O antigo banqueiro volta a acusar o BdP de ter montado uma narrativa na imprensa. O banqueiro admite que teve dinheiro em offshores, mas diz que já não tem.

Confrontado igualmente com as conclusões da auditoria sobre a relação com o BESA, que apontam para a saída de fundos da conta do banco angolano no BES para entidades ligadas ao grupo, Ricardo Salgado deixa a convicção. “De forma alguma, houve recursos do BESA que tenham vindo para financiar o GES. Não acredito. Não é verdade”. Salgado não diz contudo quem são os proprietários das sociedades offshore que terão beneficiado desses fundos, invocando o sigilo bancário angolano.

No que diz respeito à Vaningo, uma empresa angolana que comprou a Legacy, mas em relação à qual o GES continuou a pagar juros, explica que essa situação aconteceu para evitar que houvesse imparidades no BES. O BES financiou a Legacy que foi vendida à Vaningo, mas o GES continuou a pagar os juros do empréstimo da Legacy ao BES. “Fizemos muita coisa para ajudar o BES. Está-se a rir, mas é verdade”, diz Salgado, em reposta ao deputado socialista Pedro Nuno Santos.

Chamar BES ao banco mau é “uma facada”

Salgado voltou a atacar a solução de resolução que colocou as ações do BESA do lado do banco mau. “Para mim, é como uma facada chamarem ao BES banco mau”. Os 2700 milhões incluídos na recapitalização do Novo Banco serviram para provisionar a totalidade do crédito ao BESA. Ou seja, conclui, isto significa que a garantia soberana foi considerada “falsa”. E se é verdade que o Novo Banco conseguiu recuperar uma parte, cerca de 680 milhões de euros, perdeu o resto, 80% do crédito que tinha sido concedido pelo BES à operação angolana.

O ex-presidente do BES recusou ainda a tese de que a ES Enterprise era um saco azul do grupo e justifica a empresa pela forma como o grupo cresceu de fora para dentro de Portugal. Descreve-a como uma empresa de partilha de serviços. Desconhece se mais alguém, para além de Hélder Bataglia, recebeu pagamentos através desta sociedade offshore que não estava identificada na estrutura do grupo devido a uma “falha”.

Mas o tema é proibido porque está em segredo de justiça. O mesmo argumento é usado para limitar as respostas sobre a Lecacy e a Vaningo, duas sociedades relacionadas com a Escom e cujo crédito ao BES estava coberto pela garantia soberana de Angola.

A Apollo vai fazer um lucro brutal na Tranquilidade

O ex-presidente do BES lamenta o preço a que foi vendida a seguradora Tranquilidade. Apesar de reconhecer à deputada do CDS, Cecília Meireles, que os investimentos feitos no GES tiveram impacto negativo no valor da seguradora, cerca de 150 milhões de euros, Salgado contrapõe que foram a instabilidade e a queda das ações do BES que levaram os interessados a esperarem para poderem fazer uma oferta mais baixa.

“Vão ver a Apollo realizar “um lucro brutal” com a venda da Tranquilidade, daqui a uns anos. Salgado revela que houve um investidor da ESFG que impugnou a venda e que só desistiu do processo, que chegou a travar a negócio, porque o fundo americano lhe ofereceu 8% do capital da seguradora. A Tranquilidade foi vendida por 40 milhões que é menos do que o valor das suas participadas, acrescenta.

A segunda audição a Ricardo Salgado durou dez horas com uma pausa rápida para jantar.

Pedir desculpa é pior do que não ter razão. Eu estou aqui para defender a minha razão”. Foi com uma citação de Fernando Pessoa que Ricardo Salgado respondeu às acusações feitas pelo deputado social-democrata, Carlos Abreu Amorim, que pediu ao ex-presidente do BES para assumir as suas responsabilidades e pedir desculpa, como fizeram Granadeiro e José Manuel Espírito Santo. A frase atribuída ao poeta (Álvaro de Campos) acabou por corrigida no final da audição para “Não dar desculpas, é melhor que ter razão”.

O ex-presidente do BES disse várias vezes que se sentia como estando “perante um tribunal, na qual o juiz me chama para dizer que a sentença está declarada e que agora vai proceder ao julgamento.”

Ricardo Salgado foi o primeiro a regressar à comissão de inquérito aos atos de gestão do BES e do Grupo Espírito Santo (GES). Na exposição inicial, que demorou cerca de uma hora, Ricardo Salgado escolheu um alvo: o governador do Banco de Portugal e a “justiça de pelourinho” do supervisor que em 30 de julho anunciou logo a existência de irregularidades e a suspeita de atos de gestão ruinosa. Para Salgado, o governador Carlos Costa “não percebeu o problema”, caracterizando a atuação do regulador numa palavra: “Estupefação”.

O ex-presidente do BES sublinhou que o “ring fencing” (barreira de proteção entre o grupo e o banco) a que foi obrigado pelo Banco de Portugal foi um “ring fencing cego” que “prejudicou o BES em vez de o proteger”. No limite, concluiu que foi esta imposição que precipitou o colapso do grupo e do banco. Acusou ainda Carlos Costa de “manifesta falta de isenção”.

Numa reação à primeira parte da auditoria forense, Ricardo Salgado defendeu que as operações que o Banco de Portugal diz terem contornado a proibição de aumentar a exposição do BES ao GES, serviram, pelo contrário, para cumprir esse ring-fencing, na medida que asseguraram o reembolso de clientes que investiram em dívida do GES, cumprindo uma determinação do supervisor.

O dinheiro usado para reembolsar os investidores da dívida das empresas da área não financeira foi retirado ao BES, mas Salgado assegura que estes clientes, mesmo os do private banking (gestão de fortunas) eram não qualificados e estavam como tal cobertos pela garantia imposta pelo Banco de Portugal.

Na intervenção inicial (que pode ler em anexo), culpou ainda o Banco de Portugal, cuja atuação e discurso provocaram: “a volatilidade das ações e a fuga de depósitos. Foram estas duas circunstâncias que ditaram a destruição do BES”.

Salgado repetiu a tese (“ladainha” na expressão do deputado comunista Miguel Tiago) de que o BES não faliu, foi forçado a desaparecer, invocando o excesso de provisões imposto pelo Banco de Portugal e as implicações da resolução na perda da garantia de Angola.

“Gaspar agradeceu-me duas vezes o apoio do BES ao pais”

Mariana Mortágua comparou Ricardo Salgado ao maestro de uma orquestra que prefere afundar com o barco (o Titanic) a admitir que acabou, considerando que o banqueiro esteve a gerir um grupo falido durante dez anos. Salgado responde: “O Estado português estava falido e o BES ajudou o Estado, tal como ajudou vários grupos que estavam falidos. Por duas vezes, Vítor Gaspar agradeceu-me o apoio que o BES estava a dar ao país. Tive dois telefonemas. A única coisa que pedimos foi uma reciprocidade.”

Brasileiros e Zeinal sabiam que PT ia manter investimentos no GES por um ano

Sobre a Portugal Telecom, Ricardo Salgado assegura que Granadeiro, Zeinal Bava e os acionistas brasileiros da Oi sabiam que havia um compromisso para a PT manter os investimentos no BES/GES durante mais um ano. Esse compromisso tinha como objetivo assegurar a “reciprocidade em relação aos parceiros brasileiros”. Eles sabiam dos 900 milhões aplicados na Rioforte? Sabiam do investimento na Espírito Santo Internacional, responde. Esta aplicação foi transferida para a Rioforte no início de 2014.

Salgado reafirmou a veracidade do mail enviado a dois investidores brasileiros a lembrar esta reciprocidade e que foi desmentido pela Oi. Mas se os brasileiros sabiam, então porque é que os portugueses aceitaram rever a fusão em termos que prejudicaram a PT? Salgado recorda que nessa altura (julho de 2014) estava totalmente absorvido na “situação terrível do BES”. Deixou de ter possibilidade de intervir. “Não tive tempo para me mexer”, responde quando questionado porque não disse nada. Mas lembra que Granadeiro e Bava também sabiam.

“Não acredito” que tenha saído dinheiro do BESA para financiar o GES

E o dinheiro que saiu do BESA (Banco Espírito Santo Angola) via BES? O deputado socialista Pedro Nuno Santos cita a auditoria forense conhecida esta semana e a imprensa para perguntar se esses fundos foram parar a Ricardo Salgado, Amílcar Morais Pires e Álvaro Sobrinho (ex-presidente do BESA). “Serviu para ir para a família, para empresas que tivessem dívida, através de sociedades offshore?

“No que diz respeito à minha pessoa e a Amílcar Morais Pires, não. Não posso falar por ele, mas conheço a sua extraordinária competência técnica e profissional”, defende Salgado que ignora a referência a Álvaro Sobrinho. Numa resposta dada mais tarde ao deputado comunista Miguel Tiago, Salgado acaba por admitir que tudo o que recebeu via Angola foi já divulgado e declarado no quadro do RERT (perdão fiscal), relativo aos rendimentos que tinha fora do país e que foram regularizados em 2012. O antigo banqueiro volta a acusar o BdP de ter montado uma narrativa na imprensa. O banqueiro admite que teve dinheiro em offshores, mas diz que já não tem.

Confrontado igualmente com as conclusões da auditoria sobre a relação com o BESA, que apontam para a saída de fundos da conta do banco angolano no BES para entidades ligadas ao grupo, Ricardo Salgado deixa a convicção. “De forma alguma, houve recursos do BESA que tenham vindo para financiar o GES. Não acredito. Não é verdade”. Salgado não diz contudo quem são os proprietários das sociedades offshore que terão beneficiado desses fundos, invocando o sigilo bancário angolano.

No que diz respeito à Vaningo, uma empresa angolana que comprou a Legacy, mas em relação à qual o GES continuou a pagar juros, explica que essa situação aconteceu para evitar que houvesse imparidades no BES. O BES financiou a Legacy que foi vendida à Vaningo, mas o GES continuou a pagar os juros do empréstimo da Legacy ao BES. “Fizemos muita coisa para ajudar o BES. Está-se a rir, mas é verdade”, diz Salgado, em reposta ao deputado socialista Pedro Nuno Santos.

Chamar BES ao banco mau é “uma facada”

Salgado voltou a atacar a solução de resolução que colocou as ações do BESA do lado do banco mau. “Para mim, é como uma facada chamarem ao BES banco mau”. Os 2700 milhões incluídos na recapitalização do Novo Banco serviram para provisionar a totalidade do crédito ao BESA. Ou seja, conclui, isto significa que a garantia soberana foi considerada “falsa”. E se é verdade que o Novo Banco conseguiu recuperar uma parte, cerca de 680 milhões de euros, perdeu o resto, 80% do crédito que tinha sido concedido pelo BES à operação angolana.

O ex-presidente do BES recusou ainda a tese de que a ES Enterprise era um saco azul do grupo e justifica a empresa pela forma como o grupo cresceu de fora para dentro de Portugal. Descreve-a como uma empresa de partilha de serviços. Desconhece se mais alguém, para além de Hélder Bataglia, recebeu pagamentos através desta sociedade offshore que não estava identificada na estrutura do grupo devido a uma “falha”.

Mas o tema é proibido porque está em segredo de justiça. O mesmo argumento é usado para limitar as respostas sobre a Lecacy e a Vaningo, duas sociedades relacionadas com a Escom e cujo crédito ao BES estava coberto pela garantia soberana de Angola.

A Apollo vai fazer um lucro brutal na Tranquilidade

O ex-presidente do BES lamenta o preço a que foi vendida a seguradora Tranquilidade. Apesar de reconhecer à deputada do CDS, Cecília Meireles, que os investimentos feitos no GES tiveram impacto negativo no valor da seguradora, cerca de 150 milhões de euros, Salgado contrapõe que foram a instabilidade e a queda das ações do BES que levaram os interessados a esperarem para poderem fazer uma oferta mais baixa.

“Vão ver a Apollo realizar “um lucro brutal” com a venda da Tranquilidade, daqui a uns anos. Salgado revela que houve um investidor da ESFG que impugnou a venda e que só desistiu do processo, que chegou a travar a negócio, porque o fundo americano lhe ofereceu 8% do capital da seguradora. A Tranquilidade foi vendida por 40 milhões que é menos do que o valor das suas participadas, acrescenta.

A segunda audição a Ricardo Salgado durou dez horas com uma pausa rápida para jantar.

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