“A poetry spam de Lee Ranaldo ”

20-06-2011
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DOMINGO, 19| MusicBox, Lisboa

A técnica foi buscá-la a William Burroughs e Brion Gysin que, por sua vez, se inspiraram nos dadaístas. A chamada cut-up é uma técnica de criação que oferece o protagonismo à aleatoriedade e, com uma tesoura, escarafuncha textos originais, isola cada palavra limpando-a da gordura contextual e enxerta-a numa nova construção de raiz, na companhia de outras palavras tão tresmalhadas como aquela. A matéria-prima Lee Ranaldo (guitarrista dos Sonic Youth, artista visual e poeta) descobriu-a no fim dos emails de spam e junk de há uns anos, quando a tentativa de iludir os filtros passou, em grande parte, por despejar palavras sem nexo para o final do corpo das mensagens por mail mas que lhe dessem uma fajuta aparência de carta pessoal. Era uma massa indistinta de palavras avulsas que ninguém perdia tempo a ler. Lee, por seu lado, extraiu-lhes muitas vezes um involuntário e inusitado potencial poético.

Por isso, Ranaldo fala de Burroughs mas igualmente da matriz da escrita automática surrealista. "Muitos destes poemas são surreais e não é fácil atribuir-lhes um sentido ou uma lógica; mas para mim é interessante que qualquer sentido que possam ter passe ao lado da lógica. Em parte, porque muitas vezes não são palavras que se usem normalmente numa conversa do dia-a-dia, são um pouco estranhas".

E são estes poemas, esquivos e que iludem a malha apertada do entendimento, que Lee Ranaldo traz ao Festival Silêncio no dia 19, para o espectáculo no MusicBox. À partida, a guitarra deverá ficar arrumada no saco, em Nova Iorque, e as suas experiências audiovisuais deverão ficar devidamente descansadas na pasta que o disco rígido externo lhes reserva. Em palco não deverá haver mais do que ele e os poemas da sua safra mais recente. "Pediram-me uma leitura de poesia e é isso que vou fazer", diz-nos. Com ecos de beatniks, Sylvia Plath ou Anaïs Nin - alicerces e betão armado na construção dos seus escritos. Ou até Fernando Pessoa, que descobriu há um ano, em passagem pelo Porto, e cuja obra está a digerir com entusiasmo.

DOMINGO, 19| MusicBox, Lisboa

A técnica foi buscá-la a William Burroughs e Brion Gysin que, por sua vez, se inspiraram nos dadaístas. A chamada cut-up é uma técnica de criação que oferece o protagonismo à aleatoriedade e, com uma tesoura, escarafuncha textos originais, isola cada palavra limpando-a da gordura contextual e enxerta-a numa nova construção de raiz, na companhia de outras palavras tão tresmalhadas como aquela. A matéria-prima Lee Ranaldo (guitarrista dos Sonic Youth, artista visual e poeta) descobriu-a no fim dos emails de spam e junk de há uns anos, quando a tentativa de iludir os filtros passou, em grande parte, por despejar palavras sem nexo para o final do corpo das mensagens por mail mas que lhe dessem uma fajuta aparência de carta pessoal. Era uma massa indistinta de palavras avulsas que ninguém perdia tempo a ler. Lee, por seu lado, extraiu-lhes muitas vezes um involuntário e inusitado potencial poético.

Por isso, Ranaldo fala de Burroughs mas igualmente da matriz da escrita automática surrealista. "Muitos destes poemas são surreais e não é fácil atribuir-lhes um sentido ou uma lógica; mas para mim é interessante que qualquer sentido que possam ter passe ao lado da lógica. Em parte, porque muitas vezes não são palavras que se usem normalmente numa conversa do dia-a-dia, são um pouco estranhas".

E são estes poemas, esquivos e que iludem a malha apertada do entendimento, que Lee Ranaldo traz ao Festival Silêncio no dia 19, para o espectáculo no MusicBox. À partida, a guitarra deverá ficar arrumada no saco, em Nova Iorque, e as suas experiências audiovisuais deverão ficar devidamente descansadas na pasta que o disco rígido externo lhes reserva. Em palco não deverá haver mais do que ele e os poemas da sua safra mais recente. "Pediram-me uma leitura de poesia e é isso que vou fazer", diz-nos. Com ecos de beatniks, Sylvia Plath ou Anaïs Nin - alicerces e betão armado na construção dos seus escritos. Ou até Fernando Pessoa, que descobriu há um ano, em passagem pelo Porto, e cuja obra está a digerir com entusiasmo.

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