MILHAFRE: O BLOGUE DO MIL, O FÓRUM DA LUSOFONIA: Recensão crítica da biografia de António Maria Fontes Pereira de Melo da autoria de Maria Filomena Mónica

22-01-2012
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Recensão crítica do livro: Maria Filomena Mónica, Fontes Pereira de Melo - uma biografia - edição revista e aumentada, 2009 ( 1ª edição 1999, 4ª edição 2009 )Este livro de Maria Filomena Mónica é uma biografia política de António Maria Fontes Pereira de Melo, um dos mais significativos políticos da Monarquia Constitucional Portuguesa da segunda metade do século XIX. A sua elaboração resultou de vários anos de investigação da autora com base, sobretudo, na consulta de uma extensa rede de espólios epistolográficos. A primeira edição saiu em 1999.Partindo da crítica às visões tendenciosas da época e às visões clássicas da historiografia portuguesa, Maria Filomena Mónica consegue dar-nos uma imagem de um político com estatura de Estadista que deixou uma impressiva marca do seu génio pragmático no contexto social português da segunda metade de Oitocentos.Com efeito, baseando-se na visão transmitida nos bancos da escola de FPM, como o político pragmático construtor de obras públicas, a autora procurou evidenciar-nos as outras facetas pessoais que influenciaram o Estado português. Começou por evocar a inveja que esteve subjacente à hostilidade como os grandes intelectuais da geração de 70 o percepcionavam. Salientou, em particular, a inveja que lhe nutriam: Joaquim Pedro Oliveira Martins que o encarava sem qualquer traço de genialidade e Rafael Bordalo Pinheiro que na sátira corrosiva das suas caricaturas o via como um extorsor de impostos.Na sua análise mais aprofundada tende a considerar que FPM garantiu, no período em que exerceu os cargos de ministro e de presidente do conselho, a estabilidade governativa e o desenvolvimento material do país entre 1851 e 1886. Está subjacente a esta indagação histórica o vínculo de articulação entre o presente e o passado, de que nos falava epistemologicamente Marc Bloch no desabrochar da “História Nova”. Assim, a autora com o seu magistral poder de síntese apresenta-nos FPM como um Estadista tecnocrata e pragmático preocupado em fazer sair o país da letargia, da pobreza e da decadência quando os intelectuais estavam tão-só a esmiuçar as suas origens.A autora sublinha que o seu perfil de Estadista se torna mais visível ao sabermos que exerceu os altos cargos públicos com honestidade e que acabou por morrer pobre, mas amplamente reconhecido postumamente pelos seus adversários e pela posteridade. Na sua dimensão ideológica estampa-lhe as convicções de liberal progressista que acreditava na tolerância e no contínuo progresso material. No entanto, estas convicções plasmaram-se em austeridade e inflexibilidade com que chefiou o Partido Regenerador. Foi, aliás, esta sua postura supranacional e o seu temperamento forte, sem nunca se deixar cair num nacionalismo exacerbado, na opinião de Maria Filomena Mónica, que incutiram instintivamente no regime político a estabilidade através do rotativismo partidário. A autora tem, com efeito, o imenso mérito de descobrir as qualidades pessoais que FPM conseguiu transmitir ao Estado português no contexto do liberalismo monárquico.Reforça a ideia clássica de que FPM foi o maior responsável pela expansão ferroviária do país até 1886. Chamou, também, a atenção para o facto de ter sido militar de carreira, atingindo o posto de general, e ter como político procurado modernizar o Exército com novas armas. A autora colocou em evidência que não se atormentou com o facto dos seus adversários políticos o denunciarem como despesista, uma vez que os empréstimos externos que solicitou endividaram o país para que pudesse levar a cabo o progresso material das infra-estruturas civilizacionais da época. Notou, igualmente, com pertinência que com o falecimento de FPM emergiu na sociedade portuguesa o ímpeto Republicano que teve no Ultimato inglês o primeiro grande sinal.O livro para além da originalidade destas novas interpretações, em relação ao papel de FPM na configuração do regime e do Estado, revela grande rigor na análise das fontes documentais, ao mesmo tempo que nos brinda com imagens do biografado e de alguns dos seus contemporâneos mais prestigiados. A linguagem empregue é bastante cativante pela simplicidade prendendo-nos como leitores até ao fim. É, pois, um livro de excelente recorte intelectual, com uma extensa bibliografia e um índice remissivo, que se deve recomendar a interessados e leigos.FPM - Fontes Pereira de MeloNuno Sotto Mayor FerrãoPublicado originalmente in: http://www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt/


Recensão crítica do livro: Maria Filomena Mónica, Fontes Pereira de Melo - uma biografia - edição revista e aumentada, 2009 ( 1ª edição 1999, 4ª edição 2009 )Este livro de Maria Filomena Mónica é uma biografia política de António Maria Fontes Pereira de Melo, um dos mais significativos políticos da Monarquia Constitucional Portuguesa da segunda metade do século XIX. A sua elaboração resultou de vários anos de investigação da autora com base, sobretudo, na consulta de uma extensa rede de espólios epistolográficos. A primeira edição saiu em 1999.Partindo da crítica às visões tendenciosas da época e às visões clássicas da historiografia portuguesa, Maria Filomena Mónica consegue dar-nos uma imagem de um político com estatura de Estadista que deixou uma impressiva marca do seu génio pragmático no contexto social português da segunda metade de Oitocentos.Com efeito, baseando-se na visão transmitida nos bancos da escola de FPM, como o político pragmático construtor de obras públicas, a autora procurou evidenciar-nos as outras facetas pessoais que influenciaram o Estado português. Começou por evocar a inveja que esteve subjacente à hostilidade como os grandes intelectuais da geração de 70 o percepcionavam. Salientou, em particular, a inveja que lhe nutriam: Joaquim Pedro Oliveira Martins que o encarava sem qualquer traço de genialidade e Rafael Bordalo Pinheiro que na sátira corrosiva das suas caricaturas o via como um extorsor de impostos.Na sua análise mais aprofundada tende a considerar que FPM garantiu, no período em que exerceu os cargos de ministro e de presidente do conselho, a estabilidade governativa e o desenvolvimento material do país entre 1851 e 1886. Está subjacente a esta indagação histórica o vínculo de articulação entre o presente e o passado, de que nos falava epistemologicamente Marc Bloch no desabrochar da “História Nova”. Assim, a autora com o seu magistral poder de síntese apresenta-nos FPM como um Estadista tecnocrata e pragmático preocupado em fazer sair o país da letargia, da pobreza e da decadência quando os intelectuais estavam tão-só a esmiuçar as suas origens.A autora sublinha que o seu perfil de Estadista se torna mais visível ao sabermos que exerceu os altos cargos públicos com honestidade e que acabou por morrer pobre, mas amplamente reconhecido postumamente pelos seus adversários e pela posteridade. Na sua dimensão ideológica estampa-lhe as convicções de liberal progressista que acreditava na tolerância e no contínuo progresso material. No entanto, estas convicções plasmaram-se em austeridade e inflexibilidade com que chefiou o Partido Regenerador. Foi, aliás, esta sua postura supranacional e o seu temperamento forte, sem nunca se deixar cair num nacionalismo exacerbado, na opinião de Maria Filomena Mónica, que incutiram instintivamente no regime político a estabilidade através do rotativismo partidário. A autora tem, com efeito, o imenso mérito de descobrir as qualidades pessoais que FPM conseguiu transmitir ao Estado português no contexto do liberalismo monárquico.Reforça a ideia clássica de que FPM foi o maior responsável pela expansão ferroviária do país até 1886. Chamou, também, a atenção para o facto de ter sido militar de carreira, atingindo o posto de general, e ter como político procurado modernizar o Exército com novas armas. A autora colocou em evidência que não se atormentou com o facto dos seus adversários políticos o denunciarem como despesista, uma vez que os empréstimos externos que solicitou endividaram o país para que pudesse levar a cabo o progresso material das infra-estruturas civilizacionais da época. Notou, igualmente, com pertinência que com o falecimento de FPM emergiu na sociedade portuguesa o ímpeto Republicano que teve no Ultimato inglês o primeiro grande sinal.O livro para além da originalidade destas novas interpretações, em relação ao papel de FPM na configuração do regime e do Estado, revela grande rigor na análise das fontes documentais, ao mesmo tempo que nos brinda com imagens do biografado e de alguns dos seus contemporâneos mais prestigiados. A linguagem empregue é bastante cativante pela simplicidade prendendo-nos como leitores até ao fim. É, pois, um livro de excelente recorte intelectual, com uma extensa bibliografia e um índice remissivo, que se deve recomendar a interessados e leigos.FPM - Fontes Pereira de MeloNuno Sotto Mayor FerrãoPublicado originalmente in: http://www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt/

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