CIDADANIA LX: Geomonumentos de Lisboa em risco de se perderem para sempre

01-07-2011
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Nas fotos: Geomonumentos em Lisboa. Dois casos: em cima, o de Rio Seco, abandonado; em baixo, o da Sampaio Bruno, preservado.Monumentos com milhões e milhões de anos deviam ser pólos museológicosO que são os «geomonumentos»? Ninguém melhor para explicar isso do que o Prof. Galopim de Carvalho, que um dia tive a honra de entrevistar para rádio e que me explicitou tudo, como agora fez noutra entrevista onde explica com rigor o que são estas formações geológicas especiais: «Geomonumento, como o nome indica, é um monumento de natureza geológica. E monumento, se formos ver a raiz da palavra, quer dizer aquilo que se lega, aquilo que perpetua uma memória. Uma rocha, em certas circunstâncias, tem esta característica de monumentalidade e, como é de natureza geológica, é juntar a palavra, geomonumento. Uma pedra pode ser um monumento, a questão é ela ter significado. E esse significado que ela tem é o testemunho de uma certa página da história da Terra. Para ler esse testemunho é preciso conhecer as letras, os caracteres dessa escrita. E esses caracteres dessa escrita são os minerais, são os fósseis, são outras particularidades que o geólogo aprende a decifrar».Diz ainda Galopim de Carvalho: «Em Lisboa há alguns afloramentos rochosos que eu entendi considerar como geomonumento e que propus à Câmara a sua salvaguarda. O que se fez. Em nome do Museu assinei um protocolo com a Câmara Municipal de Lisboa em 1998 para criar esses geomonumentos da cidade. A Câmara assumia a obrigatoriedade de os musealizar, de os preservar, de os valorizar e de os manter. O Museu, ao abrigo desse mesmo protocolo, era a entidade científica com capacidade de fazer tirar deles o proveito pedagógico e cultural que eles encerram. Mas esses geomonumentos, agora, estão ao abandono. E outros caíram no esquecimento ou perderam-se».Recomendação da Assembleia MunicipalHá uns tempos, a Assembleia Municipal de Lisboa foi surpreendida com uma iniciativa de um pequeno grupo de deputados seus para criação de um «exo-museu» e para salvaguarda de um geomonumento concreto. No caso, o de Rio Seco. Terá 90 a 95 milhões de anos. A iniciativa foi de «Os Verdes» em meados de Abril deste ano. A Assembleia em peso aprovou as duas recomendações para que a Câmara respeitasse este seu compromisso para com a Museu de História Natural – firmado em letra de forma naquele Protocolo de 1998. Tudo para que não aconteça o mesmo que já aconteceu, por exemplo, ao geomonumento que havia na Travessa das Águas Livres, datado de há 30 milhões de anos e que foi… destruído. Ou como se vê «nalguns casos, (que) se estão a degradar, como aconteceu com o roubo do painel do pólo da Av. Gulbenkian». Como tantos. Como por pouco não acontecia há 12 anos com as marcas de dinossauros em Carenque, ao tempo de um governo de Cavaco Silva: a CREL em construção levava tudo à frente, claro, com a insensibilidade digna de uma obra urgente. A opinião pública e publicada (incluindo um programa de rádio que então eu editava) evitou o pior, com apoio do então PR, Mário Soares e de muitas figuras públicas.Lista oficial dos 11 geomonumentos de Lisboa (Estudo do Museu de História Natural aceite pela CML)1 - Avenida Infante Santo. Camadas de Calcário com sílex. 90 a 95 milhões de anos. Geomonumento implantado.2 - Avenida Infante Santo. Afloramento de Calcários, recifal. 90 a 95 milhões de anos. Carece de estudo.3 - Av. Duarte Pacheco (Sete Moinhos). Calcários do Cretácio. 90 a 95 milhões de anos. Geomonumento implantado.4 - Av. Gulbenkian. Afloramento de Calcários do Cretácio. 90 a 95 milhões de anos. Geomonumento implantado.5 - Rua Fialho de Almeida. Manto Basáltico do Cretácio Superior. 71 milhões de anos.6 - Travessa das Águas Livres. Terraço flurio-marinho do Cenozóico Inferior. 30 milhões de anos. Destruído.7 - Pedreira da Serafina. Calcários Marinhos do Cretácio Médio. 95 milhões de anos.8 - Rio Seco. Calcários do Cretácio. 90 a 95 milhões de anos.9 - Rua Sampaio Bruno. Fundo Marinho de uma plataforma recifal com briozoários. 24 milhões de anos). Geomonumento implantado.10 - Rua Amílcar Cabral. Estratos sedimentares do miocénico com camadas areno-argilosas e calcárias fossilíferas. Classificação em projecto.11 - Boa Hora / Aliança Operária. Escuada basáltica do Cretácio Superior.


Nas fotos: Geomonumentos em Lisboa. Dois casos: em cima, o de Rio Seco, abandonado; em baixo, o da Sampaio Bruno, preservado.Monumentos com milhões e milhões de anos deviam ser pólos museológicosO que são os «geomonumentos»? Ninguém melhor para explicar isso do que o Prof. Galopim de Carvalho, que um dia tive a honra de entrevistar para rádio e que me explicitou tudo, como agora fez noutra entrevista onde explica com rigor o que são estas formações geológicas especiais: «Geomonumento, como o nome indica, é um monumento de natureza geológica. E monumento, se formos ver a raiz da palavra, quer dizer aquilo que se lega, aquilo que perpetua uma memória. Uma rocha, em certas circunstâncias, tem esta característica de monumentalidade e, como é de natureza geológica, é juntar a palavra, geomonumento. Uma pedra pode ser um monumento, a questão é ela ter significado. E esse significado que ela tem é o testemunho de uma certa página da história da Terra. Para ler esse testemunho é preciso conhecer as letras, os caracteres dessa escrita. E esses caracteres dessa escrita são os minerais, são os fósseis, são outras particularidades que o geólogo aprende a decifrar».Diz ainda Galopim de Carvalho: «Em Lisboa há alguns afloramentos rochosos que eu entendi considerar como geomonumento e que propus à Câmara a sua salvaguarda. O que se fez. Em nome do Museu assinei um protocolo com a Câmara Municipal de Lisboa em 1998 para criar esses geomonumentos da cidade. A Câmara assumia a obrigatoriedade de os musealizar, de os preservar, de os valorizar e de os manter. O Museu, ao abrigo desse mesmo protocolo, era a entidade científica com capacidade de fazer tirar deles o proveito pedagógico e cultural que eles encerram. Mas esses geomonumentos, agora, estão ao abandono. E outros caíram no esquecimento ou perderam-se».Recomendação da Assembleia MunicipalHá uns tempos, a Assembleia Municipal de Lisboa foi surpreendida com uma iniciativa de um pequeno grupo de deputados seus para criação de um «exo-museu» e para salvaguarda de um geomonumento concreto. No caso, o de Rio Seco. Terá 90 a 95 milhões de anos. A iniciativa foi de «Os Verdes» em meados de Abril deste ano. A Assembleia em peso aprovou as duas recomendações para que a Câmara respeitasse este seu compromisso para com a Museu de História Natural – firmado em letra de forma naquele Protocolo de 1998. Tudo para que não aconteça o mesmo que já aconteceu, por exemplo, ao geomonumento que havia na Travessa das Águas Livres, datado de há 30 milhões de anos e que foi… destruído. Ou como se vê «nalguns casos, (que) se estão a degradar, como aconteceu com o roubo do painel do pólo da Av. Gulbenkian». Como tantos. Como por pouco não acontecia há 12 anos com as marcas de dinossauros em Carenque, ao tempo de um governo de Cavaco Silva: a CREL em construção levava tudo à frente, claro, com a insensibilidade digna de uma obra urgente. A opinião pública e publicada (incluindo um programa de rádio que então eu editava) evitou o pior, com apoio do então PR, Mário Soares e de muitas figuras públicas.Lista oficial dos 11 geomonumentos de Lisboa (Estudo do Museu de História Natural aceite pela CML)1 - Avenida Infante Santo. Camadas de Calcário com sílex. 90 a 95 milhões de anos. Geomonumento implantado.2 - Avenida Infante Santo. Afloramento de Calcários, recifal. 90 a 95 milhões de anos. Carece de estudo.3 - Av. Duarte Pacheco (Sete Moinhos). Calcários do Cretácio. 90 a 95 milhões de anos. Geomonumento implantado.4 - Av. Gulbenkian. Afloramento de Calcários do Cretácio. 90 a 95 milhões de anos. Geomonumento implantado.5 - Rua Fialho de Almeida. Manto Basáltico do Cretácio Superior. 71 milhões de anos.6 - Travessa das Águas Livres. Terraço flurio-marinho do Cenozóico Inferior. 30 milhões de anos. Destruído.7 - Pedreira da Serafina. Calcários Marinhos do Cretácio Médio. 95 milhões de anos.8 - Rio Seco. Calcários do Cretácio. 90 a 95 milhões de anos.9 - Rua Sampaio Bruno. Fundo Marinho de uma plataforma recifal com briozoários. 24 milhões de anos). Geomonumento implantado.10 - Rua Amílcar Cabral. Estratos sedimentares do miocénico com camadas areno-argilosas e calcárias fossilíferas. Classificação em projecto.11 - Boa Hora / Aliança Operária. Escuada basáltica do Cretácio Superior.

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