Novembro 2010

12-09-2015
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Realizou-se na 5.ª feira passada o baptisado de um Filho do Sr. D. Luís de Sousa Sanches de Baena e da Ex.ma Sra. D. Maria da C. Zuzarte Sarrea neto do Sr. Visconde de Sanches e Baena, recebeu o nome de João.

Ao folhear, com mil cuidados, um velhíssimo exemplar do jornal «Echo», datado de Maio de 1901, com redacção na Rua da Madalena, em Lisboa, cujo administrador e editor era Luiz de Paiva Castilho, descobri, na secção «Pelo Estrangeiro», que já por essa época eram notícia alguns nomes da nossa lusa sociedade. Primórdios das actuais revistas «cor-de-rosa»? É provável. Simplesmente, nessa época não existiam «paparazzis»!

Por falta minha, confesso, não referi nem publiquei, na altura própria, mais três prémios que foram atribuídos, em datas diferentes, ao Sarrabal. Aqui ficam agora, com o meu agradecimento sincero e amigo ao Ricardo N. do blog Golfinho Alegre – um blog a visitar pela boa-disposição e curiosidades ali descritas, que fazem o agrado dos seus leitores.

Tenho o hábito de oferecer flores. Gosto de flores e acho que qualquer pessoa gosta de as receber. Ofereço-as quando faço uma visita mais cerimoniosa ou quando não é cerimoniosa, mas sei que a pessoa a quem vou visitar gosta de flores, como eu, e que vai sentir-se agradada. E ofereço flores em datas especiais: aniversários, no Dia da Mãe, no Dia da Mulher ou aos meus santos. Não sendo praticante, faço promessas e quase sempre sou atendida. Umas vezes por minha própria intenção ou pelos meus, outras pelos amigos. Alguns deles (mais elas), menos crentes, dizem-me por vezes: «Faz umas orações por mim, uma promessa, põe uma velinha!». Digo que sim. E cumpro. Além de acender uma velinha e de fazer as minhas orações, cumpro as promessas: a oferta de flores, de ramos de flores. E gosto de colocá-las nas jarras, que vou buscar às sacristias (nem sempre cumpro as minhas promessas na mesma igreja), de ajeitá-las e de pô-las depois nos respectivos altares.

Um dos floristas com estabelecimento em Alverca do Ribatejo, já conhece esta minha faceta, basta telefonar-lhe: «Paulo, preciso de um ramo bonito (dois ou mais, conforme as promessas a cumprir). Depois passo por aí.». E pronto. O Paulo já sabe do que se trata, daquilo que gosto e como gosto. As flores é que diferem de acordo com a época.

Gosto, também, de flores secas, naturais. Com elas costumava fazer arranjos florais. Devido a outros afazeres, deixei esse meu hobby de parte. Mas houve um tempo em que foram muitos (dezenas) os arranjos que fiz. Um deles, feito apenas com uma gama variada de flores roxas e lilases ofereci-o a Amália Rodrigues. Ao recebê-lo disse-me: «Vai direitinho para o meu oratório!». Dos muitos que fiz, espalhei-os pelas minhas casas do Bom Velho de Cima (mais rústicos), de Alverca do Ribatejo e do Algarve. Conforme o género e as cores, assim os locais onde foram colocados. Outros, ofereci-os. Para os confeccionar precisava de procurar em casas da especialidade as flores secas de que necessitava. Deslocava-me, por isso, algumas vezes a uma conhecida e afamada florista de Lisboa. Também adquiria ali outras flores. Umas vezes por motivos tristes (falecimentos), outros felizes, como atrás referi.

Nessa florista a variedade de flores era tal, que me perdia perante a beleza, a cor, o perfume, o milagre da Natureza que nos oferece (com a ajuda da mão do homem) prodígios assim. Confesso que não dava pelo tempo passar enquanto deambulava pelo amplo espaço, extasiada perante as flores expostas nas cantoneiras de zinco (creio) com a arte de quem sabe.

Num desses dias, entra no estabelecimento uma senhora de meia-idade, vestida, modestamente, de escuro. Semblante triste, ar um pouco tímido. Parava de vez em quando junto de um tufo de flores e perguntava o preço a uma das empregadas. Mas logo passava a outras flores, repetindo a pergunta e recebendo a resposta. No seu olhar, a pena por não se poder decidir pela compra. O preço ali é sempre elevado - muito embora não faltem clientes. Trata-se de um local onde impera o poder de compra. A extensa avenida e os altos prédios «respiram» desafogo. Há quem compre na referida florista (soube) dois a três ramos por semana!

A senhora de semblante triste e ar modesto, continuava a sua pesquisa por entre as flores. As perguntas em relação aos preços, também. A vontade de levar flores era muita, o dinheiro, pouco, deduzia-se. Aproximei-me e gabei a beleza e variedade das flores expostas. Sorriu, embaraçada, e explicou: «Queria um raminho aí para cinco euros, mas não há. É para levar ao cemitério.». Lamentei e confirmei que sim, as flores tinham, realmente, preços elevados.

Voltei à escolha das minhas flores secas. Foi nessa altura que a dona da florista se aproximou da senhora em causa. Em vezes anteriores tinha reparado na sua falta de delicadeza, principalmente, para com as empregadas. Pessoa de aspecto pouco cuidado, mal-encarada, amplo avental enxovalhado, chinelos nos pés, sempre a resmungar, a vistoriar com mil olhos o amplo estabelecimento. Era ela quem atendia o telefone e dava toda a espécie de ordens. Nunca cheguei a saber se era a dona ou a gerente do estabelecimento. Mas que tinha um cargo de chefia, lá isso, tinha. Notava ainda o receio no rosto das empregadas quando, por qualquer motivo, as interpelava, embora se entregassem diligentemente à tarefa de fazer os ramos, as coroas e as palmas de flores, além de atenderem os clientes. No que me diz respeito, nunca tive razão de queixa. Só não entendia como era possível uma pessoa assim estar à frente de um estabelecimento daqueles.

Foram estas as palavras que dirigiu à senhora que procurava um raminho de cinco euros: «Olhe cá, não tem que fazer lá em casa, em vez de vir para aqui chatear a gente?!» – Naturalmente, apercebendo-se que não tinha ali cliente à altura do seu estabelecimento.

Ainda com mais acanhamento do que aquele com que havia entrado, a senhora saiu da conhecida florista da Avenida Estados Unidos da América. Olhei as empregadas, que me olharam também.

Não me lembro de lá ter voltado. Com a encomenda dos oito volumes da colecção «Festas e Tradições Portuguesas» pelo Círculo de Leitores, o meu hobby acabou pouco tempo depois. Não sei porquê, não o retomei. Fui perdendo o entusiasmo por fazer os bouquets colocados em pequenas taças de porcelana. Até há pouco tempo, tinha três guardados. Em Julho último ofereci um deles à Maria Anka, uma jovem romena que trabalha em minha casa e de quem gosto. À custa de muito trabalho, construiu uma casa na sua aldeia, na Roménia. Ofereci-lho «para a casa nova». Levou-o quando foi de férias.

Este episódio, que relato e a que assisti, leva-me a pensar que, por vezes, as flores de plástico que vejo nas campas dos cemitérios, têm a sua razão de existir…

Soledade Martinho Costa

Realizou-se na 5.ª feira passada o baptisado de um Filho do Sr. D. Luís de Sousa Sanches de Baena e da Ex.ma Sra. D. Maria da C. Zuzarte Sarrea neto do Sr. Visconde de Sanches e Baena, recebeu o nome de João.

Ao folhear, com mil cuidados, um velhíssimo exemplar do jornal «Echo», datado de Maio de 1901, com redacção na Rua da Madalena, em Lisboa, cujo administrador e editor era Luiz de Paiva Castilho, descobri, na secção «Pelo Estrangeiro», que já por essa época eram notícia alguns nomes da nossa lusa sociedade. Primórdios das actuais revistas «cor-de-rosa»? É provável. Simplesmente, nessa época não existiam «paparazzis»!

Por falta minha, confesso, não referi nem publiquei, na altura própria, mais três prémios que foram atribuídos, em datas diferentes, ao Sarrabal. Aqui ficam agora, com o meu agradecimento sincero e amigo ao Ricardo N. do blog Golfinho Alegre – um blog a visitar pela boa-disposição e curiosidades ali descritas, que fazem o agrado dos seus leitores.

Tenho o hábito de oferecer flores. Gosto de flores e acho que qualquer pessoa gosta de as receber. Ofereço-as quando faço uma visita mais cerimoniosa ou quando não é cerimoniosa, mas sei que a pessoa a quem vou visitar gosta de flores, como eu, e que vai sentir-se agradada. E ofereço flores em datas especiais: aniversários, no Dia da Mãe, no Dia da Mulher ou aos meus santos. Não sendo praticante, faço promessas e quase sempre sou atendida. Umas vezes por minha própria intenção ou pelos meus, outras pelos amigos. Alguns deles (mais elas), menos crentes, dizem-me por vezes: «Faz umas orações por mim, uma promessa, põe uma velinha!». Digo que sim. E cumpro. Além de acender uma velinha e de fazer as minhas orações, cumpro as promessas: a oferta de flores, de ramos de flores. E gosto de colocá-las nas jarras, que vou buscar às sacristias (nem sempre cumpro as minhas promessas na mesma igreja), de ajeitá-las e de pô-las depois nos respectivos altares.

Um dos floristas com estabelecimento em Alverca do Ribatejo, já conhece esta minha faceta, basta telefonar-lhe: «Paulo, preciso de um ramo bonito (dois ou mais, conforme as promessas a cumprir). Depois passo por aí.». E pronto. O Paulo já sabe do que se trata, daquilo que gosto e como gosto. As flores é que diferem de acordo com a época.

Gosto, também, de flores secas, naturais. Com elas costumava fazer arranjos florais. Devido a outros afazeres, deixei esse meu hobby de parte. Mas houve um tempo em que foram muitos (dezenas) os arranjos que fiz. Um deles, feito apenas com uma gama variada de flores roxas e lilases ofereci-o a Amália Rodrigues. Ao recebê-lo disse-me: «Vai direitinho para o meu oratório!». Dos muitos que fiz, espalhei-os pelas minhas casas do Bom Velho de Cima (mais rústicos), de Alverca do Ribatejo e do Algarve. Conforme o género e as cores, assim os locais onde foram colocados. Outros, ofereci-os. Para os confeccionar precisava de procurar em casas da especialidade as flores secas de que necessitava. Deslocava-me, por isso, algumas vezes a uma conhecida e afamada florista de Lisboa. Também adquiria ali outras flores. Umas vezes por motivos tristes (falecimentos), outros felizes, como atrás referi.

Nessa florista a variedade de flores era tal, que me perdia perante a beleza, a cor, o perfume, o milagre da Natureza que nos oferece (com a ajuda da mão do homem) prodígios assim. Confesso que não dava pelo tempo passar enquanto deambulava pelo amplo espaço, extasiada perante as flores expostas nas cantoneiras de zinco (creio) com a arte de quem sabe.

Num desses dias, entra no estabelecimento uma senhora de meia-idade, vestida, modestamente, de escuro. Semblante triste, ar um pouco tímido. Parava de vez em quando junto de um tufo de flores e perguntava o preço a uma das empregadas. Mas logo passava a outras flores, repetindo a pergunta e recebendo a resposta. No seu olhar, a pena por não se poder decidir pela compra. O preço ali é sempre elevado - muito embora não faltem clientes. Trata-se de um local onde impera o poder de compra. A extensa avenida e os altos prédios «respiram» desafogo. Há quem compre na referida florista (soube) dois a três ramos por semana!

A senhora de semblante triste e ar modesto, continuava a sua pesquisa por entre as flores. As perguntas em relação aos preços, também. A vontade de levar flores era muita, o dinheiro, pouco, deduzia-se. Aproximei-me e gabei a beleza e variedade das flores expostas. Sorriu, embaraçada, e explicou: «Queria um raminho aí para cinco euros, mas não há. É para levar ao cemitério.». Lamentei e confirmei que sim, as flores tinham, realmente, preços elevados.

Voltei à escolha das minhas flores secas. Foi nessa altura que a dona da florista se aproximou da senhora em causa. Em vezes anteriores tinha reparado na sua falta de delicadeza, principalmente, para com as empregadas. Pessoa de aspecto pouco cuidado, mal-encarada, amplo avental enxovalhado, chinelos nos pés, sempre a resmungar, a vistoriar com mil olhos o amplo estabelecimento. Era ela quem atendia o telefone e dava toda a espécie de ordens. Nunca cheguei a saber se era a dona ou a gerente do estabelecimento. Mas que tinha um cargo de chefia, lá isso, tinha. Notava ainda o receio no rosto das empregadas quando, por qualquer motivo, as interpelava, embora se entregassem diligentemente à tarefa de fazer os ramos, as coroas e as palmas de flores, além de atenderem os clientes. No que me diz respeito, nunca tive razão de queixa. Só não entendia como era possível uma pessoa assim estar à frente de um estabelecimento daqueles.

Foram estas as palavras que dirigiu à senhora que procurava um raminho de cinco euros: «Olhe cá, não tem que fazer lá em casa, em vez de vir para aqui chatear a gente?!» – Naturalmente, apercebendo-se que não tinha ali cliente à altura do seu estabelecimento.

Ainda com mais acanhamento do que aquele com que havia entrado, a senhora saiu da conhecida florista da Avenida Estados Unidos da América. Olhei as empregadas, que me olharam também.

Não me lembro de lá ter voltado. Com a encomenda dos oito volumes da colecção «Festas e Tradições Portuguesas» pelo Círculo de Leitores, o meu hobby acabou pouco tempo depois. Não sei porquê, não o retomei. Fui perdendo o entusiasmo por fazer os bouquets colocados em pequenas taças de porcelana. Até há pouco tempo, tinha três guardados. Em Julho último ofereci um deles à Maria Anka, uma jovem romena que trabalha em minha casa e de quem gosto. À custa de muito trabalho, construiu uma casa na sua aldeia, na Roménia. Ofereci-lho «para a casa nova». Levou-o quando foi de férias.

Este episódio, que relato e a que assisti, leva-me a pensar que, por vezes, as flores de plástico que vejo nas campas dos cemitérios, têm a sua razão de existir…

Soledade Martinho Costa

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