As eleições em Espanha vistas pelos partidos portugueses

04-08-2020
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PSD diz que o resultado das eleições espanholas mostra que os partidos do centro têm de fazer mais para travar a ascensão de formações políticas radicais. BE sublinha fragilidade de qualquer solução de Governo, num contexto de ascensão do que o PCP qualifica como "extrema-direita franquista".

Resultado das eleições de domingo deixa todos os cenários em aberto em Espanha: acordo à esquerda, à direita ou ao centro. © EPA/Andreu Dalmau

As eleições deste domingo em Espanha ditaram uma vitória amarga do PSOE que fica com 120 deputados (perde três), enquanto o Partido Popular fica com 88 (ganha 22 assentos) e o Vox, de extrema-direita, mais do que duplica a presença no parlamento, conseguindo 52 deputados, mais 28 do que em abril. A Unidas Podemos tem 26 (perde sete lugares) e o Ciudadanos fica-se pelos 10, uma descida abissal dos 47 parlamentares que tinha atualmente, e que deixa o partido abaixo até dos independentistas catalães da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que elegem 13 (menos dois). Um desfecho que está longe de resolver o impasse da situação política no país vizinho. O DN pediu aos vários partidos nacionais um comentário ao panorama que saiu das legislativas espanholas. PS e CDS não se mostraram disponíveis para este trabalho.

PSD. Um sinal de que partidos do centro "têm que fazer mais e melhor"

Para Isabel Meireles, vice-presidente do PSD, as eleições deste domingo traduzem-se no "parlamento mais fragmentado da democracia espanhola", onde se sentarão agora 16 formações partidárias, entre os quais "vários partidos de extrema-esquerda". "O PSOE perde três deputados, não é uma catástrofe, mas fica longe da maioria absoluta que ambicionava. Há a surpresa - para nós agradável - de o PP conseguir recuperar das eleições gerais de abril, mas a grande surpresa é o Vox. Juntamente com o PP, são os grandes vencedores", acrescenta a dirigente social-democrata, que diz ver como mais provável um acordo à direita - "Pode ser que PP, Vox e Ciudadanos consigam, juntamente com outros, formar governo. E isto não é wishful thinking, é olhar para a situação. Não sabemos se a Espanha vai ser governada à esquerda ou à direita, mas julgo que há uma maior possibilidade de o PP governar."

Isabel Meireles defende que a melhor solução seria um acordo entre os dois maiores partidos (PSOE e Partido Popular), mas não vê que este cenário, que "permitiria a estabilidade governativa que a Espanha não tem tido", se possa concretizar. Vê mais facilmente um acordo entre PP e Vox: "Já o vimos noutros países, como a Áustria. Não é inédito, um partido moderado governar com um partido de extrema-direita".

Para a também deputada as eleições de domingo em Espanha "seguem a tendência a que, infelizmente, vamos assistindo na Europa" e são um sinal para que, também em Portugal, os partidos do centro se conscencializem que "têm que fazer mais e melhor para provar que a política se pode desenvolver ao centro", para contrariar a tendência "cada vez mais forte e preocupante" que se vai espalhando por toda a União Europeia de o eleitorado "votar em partidos que oferecem soluções alternativas musculadas".

BE. Qualquer solução será sempre "bastante frágil"

Para José Manuel Pureza, do Bloco de Esquerda, as legislativas espanholas saldam-se por "uma situação muito preocupante de crescimento, a grande velocidade e em grande dimensão, da extrema-direita", também reflexo do "fracasso de quem se apresentou como uma força pretensamente liberal, o Ciudadanos", que agora acaba "esvaziado", precisamente para a extrema-direita.

Mas esta não é também uma derrota da esquerda, que não conseguiu formar governo na sequência das eleições do passado mês de abril? "É um fracasso da tentativa do PSOE ir de eleição em eleição até criar as condições para governar sozinho", acrescenta o parlamentar bloquista, defendendo que este é um resultado que "penaliza a democracia, penaliza todas as forças que se situam no campo democrático e que veem a extrema-direita em ascensão".

E como se explica o enorme crescimento do Vox? Para José Manuel Pureza o resultado destas eleições decorre, em boa medida, da "fadiga do eleitorado", chamado a votar em quatro atos eleitorais sem que o problema da governabilidade se tenha resolvido; da incapacidade dos partidos chegarem a um pacto político que permita responder às preocupações dos eleitores; e igualmente a uma "cultura de nostalgia franquista", acicatada pela questão das autonomias.

Pureza sublinha a "grande indefinição" da situação política no país vizinho e sustenta que a hipótese de uma grande coligação ao centro não será uma boa solução. "A ser verdade não será uma notícia de bom augúrio", e não o será para a esquerda espanhola, atendendo ao "enfraquecimento da social-democracia" que tem resultado deste tipo de coligações ao centro, em vários países europeus. Outro cenário, o de um entendimento à direita, não surpreenderia o deputado: "Já houve tentativas nesse sentido, em contexto regional, não ficaria completamente espantado se isso viesse a acontecer".

Com uma "situação de grande indefinição" em que tudo está em aberto, para o deputado do BE há apenas uma certeza - qualquer solução será sempre "bastante frágil".

Vista de Portugal, a situação em Espanha merece "toda a atenção e preocupação", diz o também vice-presidente da Assembleia da República, lembrando que a extrema-direita que agora ganha expressão em Espanha "em Portugal está numa fase relativamente incipiente, mas está cá". E, se a génese da democracia nos dois países é diferente, há semelhanças nos problemas, nas necessidades sociais, pelo que "não é de rejeitar" que propostas extremistas como as que agora fazem caminho em Espanha possam ganhar peso também deste lado da fronteira.

PCP. O aumento da "expressão da extrema-direita franquista"

Para o PCP, as legislativas de 10 de novembro - que decorreram num "quadro marcado pelas ações pela independência na Catalunha e da dificuldade de formação" de governo - "mantêm no essencial a correlação de forças ao nível parlamentar", mas agora "com uma significativa rearrumação de forças à direita com aumento da expressão da extrema-direita franquista".

Sublinhando as "profundas diferenças entre os percursos históricos de Portugal e de Espanha e rejeitando paralelismos simplistas entre as situações atuais nos dois países", o PCP considera, numa nota escrita enviada ao DN, que os "direitos dos trabalhadores e dos povos de Espanha não saem fortalecidos" e que "será pela sua luta, e nas condições específicas da realidade social e política de Espanha, que estes conquistarão o caminho que dê uma efetiva resposta aos seus interesses e legítimas aspirações".

PSD diz que o resultado das eleições espanholas mostra que os partidos do centro têm de fazer mais para travar a ascensão de formações políticas radicais. BE sublinha fragilidade de qualquer solução de Governo, num contexto de ascensão do que o PCP qualifica como "extrema-direita franquista".

Resultado das eleições de domingo deixa todos os cenários em aberto em Espanha: acordo à esquerda, à direita ou ao centro. © EPA/Andreu Dalmau

As eleições deste domingo em Espanha ditaram uma vitória amarga do PSOE que fica com 120 deputados (perde três), enquanto o Partido Popular fica com 88 (ganha 22 assentos) e o Vox, de extrema-direita, mais do que duplica a presença no parlamento, conseguindo 52 deputados, mais 28 do que em abril. A Unidas Podemos tem 26 (perde sete lugares) e o Ciudadanos fica-se pelos 10, uma descida abissal dos 47 parlamentares que tinha atualmente, e que deixa o partido abaixo até dos independentistas catalães da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que elegem 13 (menos dois). Um desfecho que está longe de resolver o impasse da situação política no país vizinho. O DN pediu aos vários partidos nacionais um comentário ao panorama que saiu das legislativas espanholas. PS e CDS não se mostraram disponíveis para este trabalho.

PSD. Um sinal de que partidos do centro "têm que fazer mais e melhor"

Para Isabel Meireles, vice-presidente do PSD, as eleições deste domingo traduzem-se no "parlamento mais fragmentado da democracia espanhola", onde se sentarão agora 16 formações partidárias, entre os quais "vários partidos de extrema-esquerda". "O PSOE perde três deputados, não é uma catástrofe, mas fica longe da maioria absoluta que ambicionava. Há a surpresa - para nós agradável - de o PP conseguir recuperar das eleições gerais de abril, mas a grande surpresa é o Vox. Juntamente com o PP, são os grandes vencedores", acrescenta a dirigente social-democrata, que diz ver como mais provável um acordo à direita - "Pode ser que PP, Vox e Ciudadanos consigam, juntamente com outros, formar governo. E isto não é wishful thinking, é olhar para a situação. Não sabemos se a Espanha vai ser governada à esquerda ou à direita, mas julgo que há uma maior possibilidade de o PP governar."

Isabel Meireles defende que a melhor solução seria um acordo entre os dois maiores partidos (PSOE e Partido Popular), mas não vê que este cenário, que "permitiria a estabilidade governativa que a Espanha não tem tido", se possa concretizar. Vê mais facilmente um acordo entre PP e Vox: "Já o vimos noutros países, como a Áustria. Não é inédito, um partido moderado governar com um partido de extrema-direita".

Para a também deputada as eleições de domingo em Espanha "seguem a tendência a que, infelizmente, vamos assistindo na Europa" e são um sinal para que, também em Portugal, os partidos do centro se conscencializem que "têm que fazer mais e melhor para provar que a política se pode desenvolver ao centro", para contrariar a tendência "cada vez mais forte e preocupante" que se vai espalhando por toda a União Europeia de o eleitorado "votar em partidos que oferecem soluções alternativas musculadas".

BE. Qualquer solução será sempre "bastante frágil"

Para José Manuel Pureza, do Bloco de Esquerda, as legislativas espanholas saldam-se por "uma situação muito preocupante de crescimento, a grande velocidade e em grande dimensão, da extrema-direita", também reflexo do "fracasso de quem se apresentou como uma força pretensamente liberal, o Ciudadanos", que agora acaba "esvaziado", precisamente para a extrema-direita.

Mas esta não é também uma derrota da esquerda, que não conseguiu formar governo na sequência das eleições do passado mês de abril? "É um fracasso da tentativa do PSOE ir de eleição em eleição até criar as condições para governar sozinho", acrescenta o parlamentar bloquista, defendendo que este é um resultado que "penaliza a democracia, penaliza todas as forças que se situam no campo democrático e que veem a extrema-direita em ascensão".

E como se explica o enorme crescimento do Vox? Para José Manuel Pureza o resultado destas eleições decorre, em boa medida, da "fadiga do eleitorado", chamado a votar em quatro atos eleitorais sem que o problema da governabilidade se tenha resolvido; da incapacidade dos partidos chegarem a um pacto político que permita responder às preocupações dos eleitores; e igualmente a uma "cultura de nostalgia franquista", acicatada pela questão das autonomias.

Pureza sublinha a "grande indefinição" da situação política no país vizinho e sustenta que a hipótese de uma grande coligação ao centro não será uma boa solução. "A ser verdade não será uma notícia de bom augúrio", e não o será para a esquerda espanhola, atendendo ao "enfraquecimento da social-democracia" que tem resultado deste tipo de coligações ao centro, em vários países europeus. Outro cenário, o de um entendimento à direita, não surpreenderia o deputado: "Já houve tentativas nesse sentido, em contexto regional, não ficaria completamente espantado se isso viesse a acontecer".

Com uma "situação de grande indefinição" em que tudo está em aberto, para o deputado do BE há apenas uma certeza - qualquer solução será sempre "bastante frágil".

Vista de Portugal, a situação em Espanha merece "toda a atenção e preocupação", diz o também vice-presidente da Assembleia da República, lembrando que a extrema-direita que agora ganha expressão em Espanha "em Portugal está numa fase relativamente incipiente, mas está cá". E, se a génese da democracia nos dois países é diferente, há semelhanças nos problemas, nas necessidades sociais, pelo que "não é de rejeitar" que propostas extremistas como as que agora fazem caminho em Espanha possam ganhar peso também deste lado da fronteira.

PCP. O aumento da "expressão da extrema-direita franquista"

Para o PCP, as legislativas de 10 de novembro - que decorreram num "quadro marcado pelas ações pela independência na Catalunha e da dificuldade de formação" de governo - "mantêm no essencial a correlação de forças ao nível parlamentar", mas agora "com uma significativa rearrumação de forças à direita com aumento da expressão da extrema-direita franquista".

Sublinhando as "profundas diferenças entre os percursos históricos de Portugal e de Espanha e rejeitando paralelismos simplistas entre as situações atuais nos dois países", o PCP considera, numa nota escrita enviada ao DN, que os "direitos dos trabalhadores e dos povos de Espanha não saem fortalecidos" e que "será pela sua luta, e nas condições específicas da realidade social e política de Espanha, que estes conquistarão o caminho que dê uma efetiva resposta aos seus interesses e legítimas aspirações".

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