textos elaborados pelo Dr. Alexandre Laboreiro, que amavelmente acedeu ao convite para connosco colaborar.Há setenta anos ...«Senhor se da tua pura justiça / Nascem os monstros que em minha roda eu vejo / É porque alguém te venceu ou desviou / Em não sei que penumbra os teus caminhos.»Sofia de Mello Breynner(in “Mar Morto”)Estão perfazendo 70 anos, os inícios da Guerra Civil em Espanha - despoletada pelo levantamento insurreccional da extrema-direita espanhola, encabeçada pelo general Francisco Franco (acolitado pelos generais Mola e Sanjurjo), e que tinha, como propósito primeiro, derrubar o regime democrático surgido das eleições democráticas de 1931.Felizmente, que os 70 anos que se comemoram face ao início do movimento de insurreição contra o Regime Republicano em Espanha, encontraram no governo espanhol, um elenco governativo socialista - que (mercê das celebrações - envolvendo debates, publicações, abertura de arquivos, exposições, espectáculos de cariz histórico-cultural) permite - é essa a sua intenção - clarificar (perante as várias gerações de espanhóis: sobretudo as mais jovens) os verdadeiros propósitos e interesses dos revoltosos da extrema-direita; e dar a conhecer o cariz da República Espanhola, nascida de eleições livres contra o autoritarismo monárquico de Afonso XIII, contra os privilégios de certo clero espanhol, contra o imobilismo económico que advinha da mentalidade retrógrada das castas sociais predominantes. Anote-se que o Partido Popular Espanhol criticou o Partido Socialista Espanhol de proporcionar este debate clarificador. Por nós lamentamos que - surgida em Portugal a Democracia em Abril de 74 - não tenha sido mais debatida a História da Ditadura e da Resistência (omissão que não só despoletou o desconhecimento das camadas jovens sobre a repressão e o totalitarismo fascista, e o obscurecimento das mentes, assim como abriu portas ao branqueamento do período negro da Ditadura - fazendo crer que os brandos costumes fizeram do governo salazarista um “regime católico musculado”: esquecendo o Tribunal Plenário da Boa Hora, o Aljube, Caxias, Peniche, Elvas, Penamacor, S. Nicolau, Tarrafal, entre outras prisões e formas de reprimir).Quanto à insurreição de Franco (que teria beneplácito de parte do clero espanhol), degenerou em mais de um milhão de mortos, com muitos milhares de fuzilamentos a sangue-frio (sendo reconhecida internacionalmente a desumanidade das tropas franquistas, perante os prisioneiros republicanos). E a tónica que presidiu à revolta franquista, vislumbra-se facilmente nos apoios que Franco teve na luta: os regimes fascistas de Salazar e Mussoline e do regime nazi de Hitler; aliás, o seu grito de guerra “Abaixo a cultura! Viva a morte!”, diria a filosofia ética que inspirava o comportamento insurreccional que conduziria à perseguição e morte de poetas e artistas, à destruição de obras de arte, à condenação de dramaturgos, a destituição e perseguição de Humanistas (como Unamuno); em contraste os Republicanos espanhóis, encontraram o eco da simpatia (e auxílio) nas muitas dezenas de milhar de voluntários (Homens de mais de 50 países), que - sem a facilidade de comunicação e propaganda dos nossos dias - se mobilizaram no apoio ao Regime Democrático Espanhol (formando as “Brigadas Internacionais”): vindos de França, Inglaterra, Austrália, Canadá, União Soviética, Estados Unidos, Portugal (resistentes democráticos), Irlanda, Holanda, Bélgica, Islândia, Suécia, etc..Nas Brigadas Internacionais, inscreveram-se escritores (Ernest Hemmingway, André Malraux, Jaime Cortesão, entre outros) e cientistas (lembrando-nos nós do matemático português Emídio Guerreiro).Pablo Picasso - inspirando-se no animalesco bombardeamento alemão-nazi de uma aldeia republicana do Norte de Espanha (pela Legião Condor) - pintaria o célebre quadro “Guernica”, que - segundo sua determinação - de protesto - só voltaria a Espanha após a extinção do Franquismo. E assim foi: encontramos agora exposto, este quadro, recentemente no Museu Rainha Sofia (Madrid).Venceram as tropas franquistas, italianas fascistas e nazi-alemãs (que se uniram abertamente); venceu o apoio salazarista (económico, logístico, militar). Para trás, ficaram dois milhões de prisioneiros, 183 cidades destruídas, um milhão de mortos, 500 mil exilados; para trás, ficou uma República Democrática e Pluralista, a emancipação política, cultural e social e económica dos trabalhadores, a liberdade religiosa, a autonomia das regiões basca, catalã e galega. Emergiu uma Ditadura, com um caudilho que praticou um culto de personalidade, impôs uma língua oficial e obrigatória, perseguiu, prendeu, torturou e matou.Razão teriam, certamente, os Aliados (Democracias e URSS) para se arrependerem da sua não intervenção - apesar da campanha do intelectual Georges Orwell a favor da intervenção.Que Deus proteja a jovem Democracia Espanhola, e lhe ilumine a objectividade - enquanto os espanhóis (detentores que são de uma consciência democrática e patriótica) saberão resistir ao branqueamento da História.José Alexandre Laboreiro(Publicado na "Folha de Montemor" em SET -06) Al Tejo agradece a colaboração da Folha de Montemor, que nos facilitou os suportes para a transcrição.
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textos elaborados pelo Dr. Alexandre Laboreiro, que amavelmente acedeu ao convite para connosco colaborar.Há setenta anos ...«Senhor se da tua pura justiça / Nascem os monstros que em minha roda eu vejo / É porque alguém te venceu ou desviou / Em não sei que penumbra os teus caminhos.»Sofia de Mello Breynner(in “Mar Morto”)Estão perfazendo 70 anos, os inícios da Guerra Civil em Espanha - despoletada pelo levantamento insurreccional da extrema-direita espanhola, encabeçada pelo general Francisco Franco (acolitado pelos generais Mola e Sanjurjo), e que tinha, como propósito primeiro, derrubar o regime democrático surgido das eleições democráticas de 1931.Felizmente, que os 70 anos que se comemoram face ao início do movimento de insurreição contra o Regime Republicano em Espanha, encontraram no governo espanhol, um elenco governativo socialista - que (mercê das celebrações - envolvendo debates, publicações, abertura de arquivos, exposições, espectáculos de cariz histórico-cultural) permite - é essa a sua intenção - clarificar (perante as várias gerações de espanhóis: sobretudo as mais jovens) os verdadeiros propósitos e interesses dos revoltosos da extrema-direita; e dar a conhecer o cariz da República Espanhola, nascida de eleições livres contra o autoritarismo monárquico de Afonso XIII, contra os privilégios de certo clero espanhol, contra o imobilismo económico que advinha da mentalidade retrógrada das castas sociais predominantes. Anote-se que o Partido Popular Espanhol criticou o Partido Socialista Espanhol de proporcionar este debate clarificador. Por nós lamentamos que - surgida em Portugal a Democracia em Abril de 74 - não tenha sido mais debatida a História da Ditadura e da Resistência (omissão que não só despoletou o desconhecimento das camadas jovens sobre a repressão e o totalitarismo fascista, e o obscurecimento das mentes, assim como abriu portas ao branqueamento do período negro da Ditadura - fazendo crer que os brandos costumes fizeram do governo salazarista um “regime católico musculado”: esquecendo o Tribunal Plenário da Boa Hora, o Aljube, Caxias, Peniche, Elvas, Penamacor, S. Nicolau, Tarrafal, entre outras prisões e formas de reprimir).Quanto à insurreição de Franco (que teria beneplácito de parte do clero espanhol), degenerou em mais de um milhão de mortos, com muitos milhares de fuzilamentos a sangue-frio (sendo reconhecida internacionalmente a desumanidade das tropas franquistas, perante os prisioneiros republicanos). E a tónica que presidiu à revolta franquista, vislumbra-se facilmente nos apoios que Franco teve na luta: os regimes fascistas de Salazar e Mussoline e do regime nazi de Hitler; aliás, o seu grito de guerra “Abaixo a cultura! Viva a morte!”, diria a filosofia ética que inspirava o comportamento insurreccional que conduziria à perseguição e morte de poetas e artistas, à destruição de obras de arte, à condenação de dramaturgos, a destituição e perseguição de Humanistas (como Unamuno); em contraste os Republicanos espanhóis, encontraram o eco da simpatia (e auxílio) nas muitas dezenas de milhar de voluntários (Homens de mais de 50 países), que - sem a facilidade de comunicação e propaganda dos nossos dias - se mobilizaram no apoio ao Regime Democrático Espanhol (formando as “Brigadas Internacionais”): vindos de França, Inglaterra, Austrália, Canadá, União Soviética, Estados Unidos, Portugal (resistentes democráticos), Irlanda, Holanda, Bélgica, Islândia, Suécia, etc..Nas Brigadas Internacionais, inscreveram-se escritores (Ernest Hemmingway, André Malraux, Jaime Cortesão, entre outros) e cientistas (lembrando-nos nós do matemático português Emídio Guerreiro).Pablo Picasso - inspirando-se no animalesco bombardeamento alemão-nazi de uma aldeia republicana do Norte de Espanha (pela Legião Condor) - pintaria o célebre quadro “Guernica”, que - segundo sua determinação - de protesto - só voltaria a Espanha após a extinção do Franquismo. E assim foi: encontramos agora exposto, este quadro, recentemente no Museu Rainha Sofia (Madrid).Venceram as tropas franquistas, italianas fascistas e nazi-alemãs (que se uniram abertamente); venceu o apoio salazarista (económico, logístico, militar). Para trás, ficaram dois milhões de prisioneiros, 183 cidades destruídas, um milhão de mortos, 500 mil exilados; para trás, ficou uma República Democrática e Pluralista, a emancipação política, cultural e social e económica dos trabalhadores, a liberdade religiosa, a autonomia das regiões basca, catalã e galega. Emergiu uma Ditadura, com um caudilho que praticou um culto de personalidade, impôs uma língua oficial e obrigatória, perseguiu, prendeu, torturou e matou.Razão teriam, certamente, os Aliados (Democracias e URSS) para se arrependerem da sua não intervenção - apesar da campanha do intelectual Georges Orwell a favor da intervenção.Que Deus proteja a jovem Democracia Espanhola, e lhe ilumine a objectividade - enquanto os espanhóis (detentores que são de uma consciência democrática e patriótica) saberão resistir ao branqueamento da História.José Alexandre Laboreiro(Publicado na "Folha de Montemor" em SET -06) Al Tejo agradece a colaboração da Folha de Montemor, que nos facilitou os suportes para a transcrição.