.: Torre de Moncorvo in blog :.: Morreu Palma Inácio

01-07-2011
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Aos 87 anos, morreu Palma Inácio, o nosso último herói romântico.Vai fazer, no próximo Agosto, 41 anos que Palma Inácio foi preso em Moncorvo, esbofeteado e encarcerado no quartel da GNR, hoje o Museu do Ferro, numa cela que ainda existe, e que eu já visitei, embora recuperada para as funções do Museu.Fui amigo, nos últimos anos, de Palma Inácio. Almoçávamos com frequência. Nunca o ouvi dizer mal de ninguém, mesmo dos seus algozes ( à excepção, que eu nunca compreendi, de Guterres). Só bebia vinho tinto e fumava cachimbo. Foi um sedutor durante toda a vida que acabou num lar, pago pelos amigos, pois a reforma que tinha, equivalente ao salário mínimo, não era suficiente. Era o homem mais modesto que eu conheci. Nunca teve cargos políticos e nunca aceitou que nas acções da LUAR algum operacional matasse ou mesmo ferisse alguém. Nunca foi um político, apenas um anti-fascista. Alguém me contou, talvez ele -- que a memória também me vai falhando-- que aquando da sua prisão em Moncorvo, onde ele ia buscar alimentos para outros operacionais que tinham ficado em Mogadouro, pois o carro destes rebentara e ele não os quis abandonar, foi insultado, com exigências de quase linchamento por parte de algumas criaturas de Moncorvo, ainda hoje vivas, e que deveriam ter remorsos, enquanto uma velha a quem ele encontrou quando já estava algemado e ele lhe disse: "Minha senhora eu não sou um preso comum, eu sou um preso político", essa senhora, esssa velha da aldeia lhe respondeu: "Se eu soubesse issso tinha-lhe trazido um pão". Desculpem-me esta viagem emocionada em torno da vida de um homem que podia ter tido tudo e não quis nada, a ponto de morrer na mais profunda pobreza, mas na maior dignidade. Um dia, no almoço, disse-lhe, meio a brincar, meio a sério: "O agente Serra ( o polícia que começou aos tiros na Praça) anda com medo que lhe façam alguma coisa". Ele sorriu e disse-me: "Pode estar descansado". Palma Inácio não permitiu sequer aos seus homens da LUAR que agridissem ou matassem, logo depois do 25 de Abril, o tipo que os denunciou a todos, o Canário, que tinha e ainda terá um bar na Caparica. Não queria violência, nem vingança.No dia 14 de Julho, simbolicamente no dia em que os sans cullotes, dirigidos por Camille Desmoulins ocuparam e incendiaram a Bastilha, morria Palma Inácio. Muita gente foi ao seu velório, no Largo de Rato. E às 11 da noite, por ironia do destino, por brincadeira de mau gosto, a sala do velório teve que ser evacuada, pelo anúncio falso de uma bomba. Nunca Palma Inácio foi bombista e o fascismo de colarinho branco ou cabelo rapado, assenta a sua coragem na cobardia do anonimato. Paz, muita paz a este homem bom que nos deixou. Este homem que leva com ele parte do nosso sonho por um mundo melhor.


Aos 87 anos, morreu Palma Inácio, o nosso último herói romântico.Vai fazer, no próximo Agosto, 41 anos que Palma Inácio foi preso em Moncorvo, esbofeteado e encarcerado no quartel da GNR, hoje o Museu do Ferro, numa cela que ainda existe, e que eu já visitei, embora recuperada para as funções do Museu.Fui amigo, nos últimos anos, de Palma Inácio. Almoçávamos com frequência. Nunca o ouvi dizer mal de ninguém, mesmo dos seus algozes ( à excepção, que eu nunca compreendi, de Guterres). Só bebia vinho tinto e fumava cachimbo. Foi um sedutor durante toda a vida que acabou num lar, pago pelos amigos, pois a reforma que tinha, equivalente ao salário mínimo, não era suficiente. Era o homem mais modesto que eu conheci. Nunca teve cargos políticos e nunca aceitou que nas acções da LUAR algum operacional matasse ou mesmo ferisse alguém. Nunca foi um político, apenas um anti-fascista. Alguém me contou, talvez ele -- que a memória também me vai falhando-- que aquando da sua prisão em Moncorvo, onde ele ia buscar alimentos para outros operacionais que tinham ficado em Mogadouro, pois o carro destes rebentara e ele não os quis abandonar, foi insultado, com exigências de quase linchamento por parte de algumas criaturas de Moncorvo, ainda hoje vivas, e que deveriam ter remorsos, enquanto uma velha a quem ele encontrou quando já estava algemado e ele lhe disse: "Minha senhora eu não sou um preso comum, eu sou um preso político", essa senhora, esssa velha da aldeia lhe respondeu: "Se eu soubesse issso tinha-lhe trazido um pão". Desculpem-me esta viagem emocionada em torno da vida de um homem que podia ter tido tudo e não quis nada, a ponto de morrer na mais profunda pobreza, mas na maior dignidade. Um dia, no almoço, disse-lhe, meio a brincar, meio a sério: "O agente Serra ( o polícia que começou aos tiros na Praça) anda com medo que lhe façam alguma coisa". Ele sorriu e disse-me: "Pode estar descansado". Palma Inácio não permitiu sequer aos seus homens da LUAR que agridissem ou matassem, logo depois do 25 de Abril, o tipo que os denunciou a todos, o Canário, que tinha e ainda terá um bar na Caparica. Não queria violência, nem vingança.No dia 14 de Julho, simbolicamente no dia em que os sans cullotes, dirigidos por Camille Desmoulins ocuparam e incendiaram a Bastilha, morria Palma Inácio. Muita gente foi ao seu velório, no Largo de Rato. E às 11 da noite, por ironia do destino, por brincadeira de mau gosto, a sala do velório teve que ser evacuada, pelo anúncio falso de uma bomba. Nunca Palma Inácio foi bombista e o fascismo de colarinho branco ou cabelo rapado, assenta a sua coragem na cobardia do anonimato. Paz, muita paz a este homem bom que nos deixou. Este homem que leva com ele parte do nosso sonho por um mundo melhor.

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