De que não falamos quando falamos de amor

01-10-2015
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Tédio foi a palavra que despertou a atenção do fotógrafo João Francisco Vilhena. Leu-a nos jornais, há cerca de oito anos, como sendo a desculpa dada por um homem para ter morto a mulher. "Pensas sempre que o ódio, a raiva e o amor são sentimentos muito mais fortes do que o tédio. Dizer que se mata porque se sente tédio com uma pessoa é como se a comparasses a uma pedra da calçada", revelou o autor ao. A partir daí, começou a ler e a coleccionar artigos sobre outros casos em que a violência doméstica terminou em morte. Leu um livro que considera fundamental, escrito por Elza Pais, intitulado Homicídio Conjugal em Portugal, e alinhavou ideias para um futuro trabalho.Esta exposição resulta dessa reflexão, que ainda "vai a meio", e materializa-se em oito dípticos que, de um lado, mostram objectos usados pelos agressores e, do outro, têm cruzes que simbolizam o destino das vítimas. As imagens são a preto e branco e estão emolduradas a preto, com um passepartout da mesma cor.Numa outra sala está um grande coração, o do próprio João Vilhena, que resulta de uma ressonância magnética manipulada digitalmente. Aqui ouvem-se batimentos cardíacos e pode ler-se um texto escrito por Vilhena, antigo editor de fotografia dos semanários O Independente e O Sol. "Esse coração é o meu, mas podia ser o delas. Ele, no fundo, bate por elas", explica o autor. "Para mim o amor é vida. O amor e a paixão contêm alguma irracionalidade, sim, mas isso não te pode levar ao acto bárbaro de matar alguém por amor", desabafa.O fotógrafo esteve na APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) e na UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta) e explica que das conversas que teve nesses locais se concluiu que a Internet, e a possibilidade de filmar e partilhar gratuitamente violência, acaba por, muitas vezes, tornar "giro" agredir alguém. "O bullying que já havia antes de repente tornou-se viral e acaba por ter graça entre amigos. Infelizmente isso depois estende-se ao plano amoroso", revela."Lembro-me de, com 16 ou 17 anos, sentir que namorar era uma coisa bonita. Para conquistar as raparigas escrevíamos cartas, oferecíamos um CD dos U2, que tinha acabado de sair, ou dos Echo and the Bunnymen. Vejo relações construídas na violência, com os namorados a chamar puta ou cabra à namorada e ela a achar isso normal. Podes chamar-me dinossauro, velho, cinquentão, mas para mim isto não é, e nunca será, amor saudável", confessa. Um trabalho desta natureza mexe com as emoções e Vilhena deixa uma última mensagem: "Estamos em pleno século XXI. Já chega."Galeria das SalgadeirasR. das Salgadeiras, 24, LisboaAté 14/11 || 15h-24h || fecha dom. e 2.ªGrátis

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