O Senhor Xis

15-08-2015
marcar artigo

Em 1950 saía uma nova coleção de romances policiais, a Xis, da Editorial Minerva. O primeiro número, Um crime branco, de James Marcus, era na realidade escrito por dois autores portugueses, J. P. Fernandes e A. Fernandes, creditados no livro como tradutores. Para uma ilusão perfeita, a editora inventou mesmo um título original para o romance: White Murder. Sem abandonar o policial dedutivo inglês, a Xis vulgarizou o policial negro americano, género dominante em coleções posteriores. Havia um traço comum entre as mais emblemáticas coleções policiais de bolso iniciadas nos últimos anos de 40. A Escaravelho de Ouro, também em 1950, a popularíssima Vampiro e a Xis iniciaram-se sob a influência gráfica do Surrealismo. Cândido Costa Pinto, figura de topo do movimento surrealista, pontificava nas famosas capas da Vampiro e da Argonauta (lendária coleção de ficção científica) ambas da editora Livros do Brasil.

Fiel à tradição pictórica, a ilustração surrealista era um compósito de várias pedaços do enredo, ora descritivos ora metafóricos, assumindo o cariz de um enigma ilustrado. O surrealismo gráfico nobilitou o subestimado género policial e substituia as capas das coleções mais antigas, onde a figuração do crime de sangue era geralmente explícita. Edmundo Muge (Abrantes, 1925-Lisboa, 1984), foi capista habitual da Minerva em coleções de variados géneros e ilustrou a Xis durante 202 volumes. Casarões sinistros, máscaras humanas de puro terror e objetos vulgares combinam-se numa inquietante charada, que no volume O táxi amarelo, de 1953, é literalmente o pesadelo recorrente da protagonista e motor do enredo. O surrealismo de Muge desvaneceu-se ao longo da década e, passada a primeira centena de títulos, em 1958, fixa-se numa mais convencional figuração narrativa. Após um interregno de 13 anos, a coleção voltaria em 1986, numa segunda série a começar no número 203, mantendo o antigo grafismo e ilustrações do novíssimo Jorge Colombo. Extinguiu-se de vez ao número 210, em 1993.

N.º 8, Morte entre amigos, Lange Lewis, 1951

Fontes

Crimes de bolso, texto de Luís Miguel Queirós, Pública, jornal Público, 12 setembro 2010

O caso do policial português, catálogo, org. Luís Sá e Manuela Rego, Câmara Municipal de Lisboa, 1998

Em 1950 saía uma nova coleção de romances policiais, a Xis, da Editorial Minerva. O primeiro número, Um crime branco, de James Marcus, era na realidade escrito por dois autores portugueses, J. P. Fernandes e A. Fernandes, creditados no livro como tradutores. Para uma ilusão perfeita, a editora inventou mesmo um título original para o romance: White Murder. Sem abandonar o policial dedutivo inglês, a Xis vulgarizou o policial negro americano, género dominante em coleções posteriores. Havia um traço comum entre as mais emblemáticas coleções policiais de bolso iniciadas nos últimos anos de 40. A Escaravelho de Ouro, também em 1950, a popularíssima Vampiro e a Xis iniciaram-se sob a influência gráfica do Surrealismo. Cândido Costa Pinto, figura de topo do movimento surrealista, pontificava nas famosas capas da Vampiro e da Argonauta (lendária coleção de ficção científica) ambas da editora Livros do Brasil.

Fiel à tradição pictórica, a ilustração surrealista era um compósito de várias pedaços do enredo, ora descritivos ora metafóricos, assumindo o cariz de um enigma ilustrado. O surrealismo gráfico nobilitou o subestimado género policial e substituia as capas das coleções mais antigas, onde a figuração do crime de sangue era geralmente explícita. Edmundo Muge (Abrantes, 1925-Lisboa, 1984), foi capista habitual da Minerva em coleções de variados géneros e ilustrou a Xis durante 202 volumes. Casarões sinistros, máscaras humanas de puro terror e objetos vulgares combinam-se numa inquietante charada, que no volume O táxi amarelo, de 1953, é literalmente o pesadelo recorrente da protagonista e motor do enredo. O surrealismo de Muge desvaneceu-se ao longo da década e, passada a primeira centena de títulos, em 1958, fixa-se numa mais convencional figuração narrativa. Após um interregno de 13 anos, a coleção voltaria em 1986, numa segunda série a começar no número 203, mantendo o antigo grafismo e ilustrações do novíssimo Jorge Colombo. Extinguiu-se de vez ao número 210, em 1993.

N.º 8, Morte entre amigos, Lange Lewis, 1951

Fontes

Crimes de bolso, texto de Luís Miguel Queirós, Pública, jornal Público, 12 setembro 2010

O caso do policial português, catálogo, org. Luís Sá e Manuela Rego, Câmara Municipal de Lisboa, 1998

marcar artigo