Do Portugal Profundo: Ouçam!

23-01-2012
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Eduardo Nascimento, O vento mudou, 1967,
João Magalhães Pereira (letra),Nuno Nazareth Fernandes (música)

O ataque ao João Gonçalves começou no Câmara Corporativa, em 28-6-2011 («Tópicos para um estudo sobre a miséria natureza humana»), prosseguiu no Da Literatura, de Eduardo Pitta, em 1-7-2011, «Relvas recruta na Rua da Prata», ecoou num poste escatológico «O mérito, afinal, compensa», na Câmara Corporativa nesse mesmo dia, e chegou ao Expresso, em 2-7-2011, «A história do assessor que chamou 'alforreca' a Passos», pela pena de Filipe Santos Costa, num artigo que o blogue da Câmara Corporativa lincou «Estrela da blogosfera brilha na política nacional» imediatamente (o primeiro comentário foi feito antes da uma da manhã desse madrugada de sábado, 2-7-2011). Siga a dança que a orquestra ainda toca.

O alibi é a nomeação do Dr. João Gonçalves, do blogue Portugal dos Pequeninos, para assessor político do ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas (primeiro disclaimer: sou amigo do João Gonçalves). Os trechos repescados indicam que, na sua escrita, o João Gonçalves usa, com frequência, comparações, metáforas, imagens, prosopopeias e antonomásias, além de metonímias, sinédoques, parábolas e alegorias e, ainda, ocasionalmente, sinestesias e catacreses, em vez de uma linguagem morna, insossa e pardacenta. É cáustico na análise e na conclusão. No lume, os adversários queixam-se da soda da sua opinião, que os coze, em vez da chama dos factos, que os fritam. Mais: o João escolhe lados, toma partido e raramente é neutro. Não poupa as palavras e os adversários não as relevam, mesmo se o João o faz relativamente aos insultos que sofre. O que agora foi feito creio que decorre da desumanidade socratina, a crueldade mal usada. Aliás, Filipe Santos Costa, o autor do artigo do Expresso, chamado à primeira página por outro Costa do mesmo castelo,  foi, antes de Eduarda Maio, o primeiro biógrafo oficioso de José Sócrates no panegírico hagiográfico de 23 de Janeiro de 2005, «Um osso duro de roer», no DN. Foi Filipe Santos Costa ou o biografado da Cova da Beira ou o eufemismo da fonte próxima, o autor, nesse artigo, da mentira sobre a sua licenciatura - «Quando voltou à Covilhã, em 1981, Sócrates já tinha complementado o bacharelato com a licenciatura, em Lisboa» - que denunciei em 22-2-2005 no meu poste «Os cursos de Sócrates», o qual deu origem à investigação subsequente sobre o percurso académico do primeiro-ministro (ver o meu livro «O Dossiê Sócrates», pp. 51-54)?... É que Sócrates só veio a obter a licenciatura, da forma que é pública, na Universidade Independente em data incerta de Agosto ou Setembro de 1996.

Uma explicação do modus operandi da informação do socratismo, antes da determinação do motivo.

Câmara Corporativa é o blogue das operações suaves do socratismo: recolha, análise, distribuição e intimidação. Operações suaves - para quem não lhes sente o peso -, mas sujas. As operações suaves trabalham em rede interna e actuam em consonância com as operações negras, que constituíram a chave do poder durante estes anos rosa-choque. Têm o mesmo comando estratégico. Na prática, a Câmara Corporativa era o órgão de reunião e divulgação da informação do socratismo, através dos assessores de imprensa e de outros aspones, cobertos por uomini di paglia e pseudónimos chochos, sejam Miguel ou Manuel, de Abrantes ou de outro quartel de pseudo-Liberdade. Burros, como outro de carga, supõem ser os únicos certos, embora de passo errado, no pelotão pretoriano do sistema.

Perdido o poder político para o PSD, despedidos das funções que desempenhavam para o sistema, colocados os mais servis e importantes em lugares recatados do Estado e sujeitos os restantes a guia de marcha para a vida civil, receosos da detecção de origem e da determinação precisa da ordem de batalha e o medo (e o custo...) de algum processo sobre as calúnias e difamações que bolsaram, sem acesso aos poderosíssimos meios tecnológicos de antes e com os agentes do serviço interessados em tapar o rasto, em vez de suportarem operações de pressão sobre alvos - mesmo que no partido ainda sobre dinheiro para ostentações de força e uma estrutura mínima de protecção, que logo terá de ser paga com o dinheiro do chefe máximo -, largam as últimas bojardas de despedida, supondo que os alvos as tomam por capacidade de disuasão, quando não passam de um bluff de despedida de fugitivos. «Soube que mentira/P'ra sempre fugira».

Ainda sujeitos ao fumo da ilusão do poder eterno, inconscientes de que a informação de ameaça nos dossiês organizados se torna obsoleta rapidamente, convictos de que a história de 2002-2004 se repetirá em 2011-2013, como se ninguém aprendesse nada e se deixassem todos embalar nas promessas de divisão dos despojos, negligenciando o facto de que o poder judicial já não será o mesmo promíscuo, pois adquiriu uma força própria moral tremenda, não percebem que é tempo de fugir e de se abrigarem silenciosamente algures nas pampas e nos Andes, de correr mais depressa do que os outros camaradas, em vez de se tentarem reorganizar na sombra dos depauperados patrões dos media. Em contraste, os mais espertos desaparecem da vida pública, não respondem aos telefonemas dos camaradas, nem vão aos almoços, porque já não há sobremesa, e apenas desejam sopas e o descanso possível, pois sabem que, sem poder nem protecção, a Câmara Corporativa não pode deixar de ter o mesmo destino dos congéneres Muito Mentiroso ou Verdadeiro Lápis Azul.

Agora, o motivo.

O motivo deste ataque, e de outros que têm sido orquestrados, é a tentativa de resistir, nos media, à tomada do poder político real pelos vencedores das eleições de 5 de Junho de 2011. Outro caso, ainda que de estilo diferente, foi o de insinuação de nazismo ao Prof. Miguel Morgado (do Cachimbo de Magritte), recentemente nomeado assessor político do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho: o Prof. João Cardoso Rosas escreveu no Económico, de 1-7-2011, o artigo «Um liberalismo», em que o Miguel é classificado, por alguém que se intitula de seu amigo, de «o nosso mais talentoso crítico da democracia» (sic), com um pensamento que o autor compara com Carl Schmitt, artigo logo citado, nesse dia, num poste do Câmara Corporativa, ilustrado com uma foto de Schmitt com um oficial nazi...

Os media tradicionais dependentes estão nas lonas e precisam da almofada financeira que Sócrates lhes proporcionou durante estes anos de vómito. A imprensa deixou de ser um negócio, para passar a ser um deficitário centro de custos de grupos económicos que, todavia, a entendem como biceps para obter concessões do Estado. O Governo não deve preocupar-se com os seus défices, pois eles têm de ser avaliados segundo preços de transferência interna de custosas operações de lobbying para obter favores do Estado e do público.

Para disfarçar o seu desespero, os media dependentes picam o Governo com farpas selectivas e má-vontade ostensiva. Porquê?... Na RTP teme-se a privatização (e, pior, a venda de frequências, esgotando o objecto social da empresa, com o tamanho actual); na Impresa (Expresso, Visão e SIC) de Francisco Balsemão e na Controlinveste (DN/JN/TSF) de Joaquim Oliveira precisa-se da continuação do apoio financeiro, directo e indirecto, do Estado; e na TVI, pretende-se a conservação do statu quo de mercado e não a entrada de mais um player televisivo, através da alegada aliança Ongoing de Nuno Vasconcelos e da Cofina de Paulo Fernandes. Esta conjunção de interesses dos media dependentes com os vencidos socratinos organizou-se para ganhar a batalha da RTP. Os socratinos entendem que se vencerem a batalha da RTP conseguem vergar Passos Coelho ao peso da circunstância sistémica não só nos media, mas no Estado e no País; os media dependentes acham que, apesar do corte de rating, pela Moody's, da dívida da República portuguesa para lixo (Ba2), em 5-7-2011, tornar essa ajuda camuflada ainda mais difícil e justificar a necessidade de equilíbrio rápido das contas do Estado - como venho insistindo -, se afrontarem o Governo o primeiro-ministro continuará a dispensar-lhes os subsídios e o conforto público do financiamento da dívida privada, que Sócrates concedia. Não creio.

O nó górdio desta aliança entre media dependentes e socratismo remanescente desata-se com o corte imediato do financiamento especial do Estado aos media. O Estado não tem de possuir um canal de televisão generalista (basta o modelo do C-Span, e parte da RTP Internacional e RTP-África), nem de financiar o apoio mediático da imprensa ou de garantir aos grupos privados de media um apoio maior do que a outros sectores económicos. Se Passos não desatar o nó, não quebrando, assim, a aliança conjuntural entre o socratismo remanescente e os media encostados ao socialismo promíscuo, o ímpeto reformista do Governo será travado, pela convicção de outros sectores de que é o Governo é fraco. Porém, pode ser que os socratinos e os media dependentes se enganem...

Actualização: este poste foi emendado às 11:01 de 6-7-2011.

Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos media, que comento, não são, que eu saiba, suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade.

Eduardo Nascimento, O vento mudou, 1967,
João Magalhães Pereira (letra),Nuno Nazareth Fernandes (música)

O ataque ao João Gonçalves começou no Câmara Corporativa, em 28-6-2011 («Tópicos para um estudo sobre a miséria natureza humana»), prosseguiu no Da Literatura, de Eduardo Pitta, em 1-7-2011, «Relvas recruta na Rua da Prata», ecoou num poste escatológico «O mérito, afinal, compensa», na Câmara Corporativa nesse mesmo dia, e chegou ao Expresso, em 2-7-2011, «A história do assessor que chamou 'alforreca' a Passos», pela pena de Filipe Santos Costa, num artigo que o blogue da Câmara Corporativa lincou «Estrela da blogosfera brilha na política nacional» imediatamente (o primeiro comentário foi feito antes da uma da manhã desse madrugada de sábado, 2-7-2011). Siga a dança que a orquestra ainda toca.

O alibi é a nomeação do Dr. João Gonçalves, do blogue Portugal dos Pequeninos, para assessor político do ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas (primeiro disclaimer: sou amigo do João Gonçalves). Os trechos repescados indicam que, na sua escrita, o João Gonçalves usa, com frequência, comparações, metáforas, imagens, prosopopeias e antonomásias, além de metonímias, sinédoques, parábolas e alegorias e, ainda, ocasionalmente, sinestesias e catacreses, em vez de uma linguagem morna, insossa e pardacenta. É cáustico na análise e na conclusão. No lume, os adversários queixam-se da soda da sua opinião, que os coze, em vez da chama dos factos, que os fritam. Mais: o João escolhe lados, toma partido e raramente é neutro. Não poupa as palavras e os adversários não as relevam, mesmo se o João o faz relativamente aos insultos que sofre. O que agora foi feito creio que decorre da desumanidade socratina, a crueldade mal usada. Aliás, Filipe Santos Costa, o autor do artigo do Expresso, chamado à primeira página por outro Costa do mesmo castelo,  foi, antes de Eduarda Maio, o primeiro biógrafo oficioso de José Sócrates no panegírico hagiográfico de 23 de Janeiro de 2005, «Um osso duro de roer», no DN. Foi Filipe Santos Costa ou o biografado da Cova da Beira ou o eufemismo da fonte próxima, o autor, nesse artigo, da mentira sobre a sua licenciatura - «Quando voltou à Covilhã, em 1981, Sócrates já tinha complementado o bacharelato com a licenciatura, em Lisboa» - que denunciei em 22-2-2005 no meu poste «Os cursos de Sócrates», o qual deu origem à investigação subsequente sobre o percurso académico do primeiro-ministro (ver o meu livro «O Dossiê Sócrates», pp. 51-54)?... É que Sócrates só veio a obter a licenciatura, da forma que é pública, na Universidade Independente em data incerta de Agosto ou Setembro de 1996.

Uma explicação do modus operandi da informação do socratismo, antes da determinação do motivo.

Câmara Corporativa é o blogue das operações suaves do socratismo: recolha, análise, distribuição e intimidação. Operações suaves - para quem não lhes sente o peso -, mas sujas. As operações suaves trabalham em rede interna e actuam em consonância com as operações negras, que constituíram a chave do poder durante estes anos rosa-choque. Têm o mesmo comando estratégico. Na prática, a Câmara Corporativa era o órgão de reunião e divulgação da informação do socratismo, através dos assessores de imprensa e de outros aspones, cobertos por uomini di paglia e pseudónimos chochos, sejam Miguel ou Manuel, de Abrantes ou de outro quartel de pseudo-Liberdade. Burros, como outro de carga, supõem ser os únicos certos, embora de passo errado, no pelotão pretoriano do sistema.

Perdido o poder político para o PSD, despedidos das funções que desempenhavam para o sistema, colocados os mais servis e importantes em lugares recatados do Estado e sujeitos os restantes a guia de marcha para a vida civil, receosos da detecção de origem e da determinação precisa da ordem de batalha e o medo (e o custo...) de algum processo sobre as calúnias e difamações que bolsaram, sem acesso aos poderosíssimos meios tecnológicos de antes e com os agentes do serviço interessados em tapar o rasto, em vez de suportarem operações de pressão sobre alvos - mesmo que no partido ainda sobre dinheiro para ostentações de força e uma estrutura mínima de protecção, que logo terá de ser paga com o dinheiro do chefe máximo -, largam as últimas bojardas de despedida, supondo que os alvos as tomam por capacidade de disuasão, quando não passam de um bluff de despedida de fugitivos. «Soube que mentira/P'ra sempre fugira».

Ainda sujeitos ao fumo da ilusão do poder eterno, inconscientes de que a informação de ameaça nos dossiês organizados se torna obsoleta rapidamente, convictos de que a história de 2002-2004 se repetirá em 2011-2013, como se ninguém aprendesse nada e se deixassem todos embalar nas promessas de divisão dos despojos, negligenciando o facto de que o poder judicial já não será o mesmo promíscuo, pois adquiriu uma força própria moral tremenda, não percebem que é tempo de fugir e de se abrigarem silenciosamente algures nas pampas e nos Andes, de correr mais depressa do que os outros camaradas, em vez de se tentarem reorganizar na sombra dos depauperados patrões dos media. Em contraste, os mais espertos desaparecem da vida pública, não respondem aos telefonemas dos camaradas, nem vão aos almoços, porque já não há sobremesa, e apenas desejam sopas e o descanso possível, pois sabem que, sem poder nem protecção, a Câmara Corporativa não pode deixar de ter o mesmo destino dos congéneres Muito Mentiroso ou Verdadeiro Lápis Azul.

Agora, o motivo.

O motivo deste ataque, e de outros que têm sido orquestrados, é a tentativa de resistir, nos media, à tomada do poder político real pelos vencedores das eleições de 5 de Junho de 2011. Outro caso, ainda que de estilo diferente, foi o de insinuação de nazismo ao Prof. Miguel Morgado (do Cachimbo de Magritte), recentemente nomeado assessor político do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho: o Prof. João Cardoso Rosas escreveu no Económico, de 1-7-2011, o artigo «Um liberalismo», em que o Miguel é classificado, por alguém que se intitula de seu amigo, de «o nosso mais talentoso crítico da democracia» (sic), com um pensamento que o autor compara com Carl Schmitt, artigo logo citado, nesse dia, num poste do Câmara Corporativa, ilustrado com uma foto de Schmitt com um oficial nazi...

Os media tradicionais dependentes estão nas lonas e precisam da almofada financeira que Sócrates lhes proporcionou durante estes anos de vómito. A imprensa deixou de ser um negócio, para passar a ser um deficitário centro de custos de grupos económicos que, todavia, a entendem como biceps para obter concessões do Estado. O Governo não deve preocupar-se com os seus défices, pois eles têm de ser avaliados segundo preços de transferência interna de custosas operações de lobbying para obter favores do Estado e do público.

Para disfarçar o seu desespero, os media dependentes picam o Governo com farpas selectivas e má-vontade ostensiva. Porquê?... Na RTP teme-se a privatização (e, pior, a venda de frequências, esgotando o objecto social da empresa, com o tamanho actual); na Impresa (Expresso, Visão e SIC) de Francisco Balsemão e na Controlinveste (DN/JN/TSF) de Joaquim Oliveira precisa-se da continuação do apoio financeiro, directo e indirecto, do Estado; e na TVI, pretende-se a conservação do statu quo de mercado e não a entrada de mais um player televisivo, através da alegada aliança Ongoing de Nuno Vasconcelos e da Cofina de Paulo Fernandes. Esta conjunção de interesses dos media dependentes com os vencidos socratinos organizou-se para ganhar a batalha da RTP. Os socratinos entendem que se vencerem a batalha da RTP conseguem vergar Passos Coelho ao peso da circunstância sistémica não só nos media, mas no Estado e no País; os media dependentes acham que, apesar do corte de rating, pela Moody's, da dívida da República portuguesa para lixo (Ba2), em 5-7-2011, tornar essa ajuda camuflada ainda mais difícil e justificar a necessidade de equilíbrio rápido das contas do Estado - como venho insistindo -, se afrontarem o Governo o primeiro-ministro continuará a dispensar-lhes os subsídios e o conforto público do financiamento da dívida privada, que Sócrates concedia. Não creio.

O nó górdio desta aliança entre media dependentes e socratismo remanescente desata-se com o corte imediato do financiamento especial do Estado aos media. O Estado não tem de possuir um canal de televisão generalista (basta o modelo do C-Span, e parte da RTP Internacional e RTP-África), nem de financiar o apoio mediático da imprensa ou de garantir aos grupos privados de media um apoio maior do que a outros sectores económicos. Se Passos não desatar o nó, não quebrando, assim, a aliança conjuntural entre o socratismo remanescente e os media encostados ao socialismo promíscuo, o ímpeto reformista do Governo será travado, pela convicção de outros sectores de que é o Governo é fraco. Porém, pode ser que os socratinos e os media dependentes se enganem...

Actualização: este poste foi emendado às 11:01 de 6-7-2011.

Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos media, que comento, não são, que eu saiba, suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade.

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