Tsipras com armas para passar teste de fogo

25-06-2015
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Tsipras com armas para passar teste de fogo

Ontem 00:07 Bruno Faria Lopes e António Freitas de Sousa

Pressão do Syriza e da "rua" aquece. Prova no parlamento será dura, mas é passável.

Depois dos passos dados na passada segunda-feira para um acordo entre o governo grego e os parceiros da zona euro, o primeiro-ministro Alexis Tsipras tem a muito breve prazo uma nova prova de fogo: fazer passar no parlamento as propostas do seu governo, que asssentam num enorme aumento de impostos dirigido a empresas e pensionistas.

A pressão em Atenas contra o que é visto como "uma traição" às promessas eleitorais do Syriza intensificou-se ontem. Por agora, contudo, a expectativa é de que mesmo sob fogo - e com deserçoões eventuais de deputados da coligação - Tsipras consiga aprovar as medidas.

Odia de ontem foi marcado por declarações inflamadas de membros do Syriza e uma manifestação de pensionistas contra as medidas. "A minha opinião é de que estas medidas não podem ser votadas porque são extremas e antisociais", afirmou Alexis Mitropoulos, vice-presidente do parlamento.

Ogoverno grego esforçou-se ao longo do dia para explicar as medidas. "Estamos completamente conscientes daquilo que está nas propostas: medidas que são duras e quem noutras circunstâncias nunca tomaríamos", afirmou numa entrevista televisiva Gavriel Sakellarides, porta-voz do Governo.

Apesar da oposição forte - um sinal de dificuldades futuras do Governo, que terá ainda que negociar um novo empréstimo com os credores - para já Tsipras tem hipóteses de passar o teste. "Orisco de chumbo é real, mas moderado", indica uma nota de dois analistas do banco Natixis. OSyriza tem 149 deputados em 350. "Mesmo que 40% dos deputados votem contra o texto do acordo poderia contar com o apoio de outros 89 [fora da coligação] e provavelmente de uma parte significativa dos 76 deputados do Nova Democracia e dos 17 do To Potami, que são favoráveis a qualquer acordo", explicam.

Além da composição do parlamento grego, o Governo conta com outros trunfos.Cerca de 84% dos helénicos querem permanecer na zona euro; 65% consideram que o Syriza liderou com eficácia as negociações com Bruxelas - e não com os "tecnocratas arrogantes e não eleitos da ‘troika'", segundo palavras do ministro das Finanças, Yanis Varoufakis - e 34% continuariam a votar no Syriza.

Este último dado é importante: segundo a imprensa grega, Alexis Tsipras já fez saber que, se o acordo com a zona euro não passar no parlamento, convocará novas eleições. O ‘timing' não podia ser melhor: segundo as últimas sondagens, o Syriza perde apenas 2 pontos percentuais, ao mesmo tempo que a Aurora Dourada, de extrema direita, perde metade do eleitorado (passa de 23% em 25 de Janeiro para 12% de intenções de voto). De qualquer modo, esse é um cenário que Tsipras não quer: todo o processo iria atrasar-se e o governo iria necessariamente falhar os pagamentos previstos aos credores até ao final do mês.

Para o grego Elias Soukiazis, professor de Economia na Universidade de Coimbra, "o Syriza negociou muito inteligentemente o acordo", com base em dois argumentos de enorme eficácia: por um lado, "a saída da Grécia do euro seria uma catástrofe para a Europa"; e, por outro, "se a Grécia saísse, aproximar-se ia da Rússia - o que até para o presidente Obama é impensável".

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Tsipras com armas para passar teste de fogo

Ontem 00:07 Bruno Faria Lopes e António Freitas de Sousa

Pressão do Syriza e da "rua" aquece. Prova no parlamento será dura, mas é passável.

Depois dos passos dados na passada segunda-feira para um acordo entre o governo grego e os parceiros da zona euro, o primeiro-ministro Alexis Tsipras tem a muito breve prazo uma nova prova de fogo: fazer passar no parlamento as propostas do seu governo, que asssentam num enorme aumento de impostos dirigido a empresas e pensionistas.

A pressão em Atenas contra o que é visto como "uma traição" às promessas eleitorais do Syriza intensificou-se ontem. Por agora, contudo, a expectativa é de que mesmo sob fogo - e com deserçoões eventuais de deputados da coligação - Tsipras consiga aprovar as medidas.

Odia de ontem foi marcado por declarações inflamadas de membros do Syriza e uma manifestação de pensionistas contra as medidas. "A minha opinião é de que estas medidas não podem ser votadas porque são extremas e antisociais", afirmou Alexis Mitropoulos, vice-presidente do parlamento.

Ogoverno grego esforçou-se ao longo do dia para explicar as medidas. "Estamos completamente conscientes daquilo que está nas propostas: medidas que são duras e quem noutras circunstâncias nunca tomaríamos", afirmou numa entrevista televisiva Gavriel Sakellarides, porta-voz do Governo.

Apesar da oposição forte - um sinal de dificuldades futuras do Governo, que terá ainda que negociar um novo empréstimo com os credores - para já Tsipras tem hipóteses de passar o teste. "Orisco de chumbo é real, mas moderado", indica uma nota de dois analistas do banco Natixis. OSyriza tem 149 deputados em 350. "Mesmo que 40% dos deputados votem contra o texto do acordo poderia contar com o apoio de outros 89 [fora da coligação] e provavelmente de uma parte significativa dos 76 deputados do Nova Democracia e dos 17 do To Potami, que são favoráveis a qualquer acordo", explicam.

Além da composição do parlamento grego, o Governo conta com outros trunfos.Cerca de 84% dos helénicos querem permanecer na zona euro; 65% consideram que o Syriza liderou com eficácia as negociações com Bruxelas - e não com os "tecnocratas arrogantes e não eleitos da ‘troika'", segundo palavras do ministro das Finanças, Yanis Varoufakis - e 34% continuariam a votar no Syriza.

Este último dado é importante: segundo a imprensa grega, Alexis Tsipras já fez saber que, se o acordo com a zona euro não passar no parlamento, convocará novas eleições. O ‘timing' não podia ser melhor: segundo as últimas sondagens, o Syriza perde apenas 2 pontos percentuais, ao mesmo tempo que a Aurora Dourada, de extrema direita, perde metade do eleitorado (passa de 23% em 25 de Janeiro para 12% de intenções de voto). De qualquer modo, esse é um cenário que Tsipras não quer: todo o processo iria atrasar-se e o governo iria necessariamente falhar os pagamentos previstos aos credores até ao final do mês.

Para o grego Elias Soukiazis, professor de Economia na Universidade de Coimbra, "o Syriza negociou muito inteligentemente o acordo", com base em dois argumentos de enorme eficácia: por um lado, "a saída da Grécia do euro seria uma catástrofe para a Europa"; e, por outro, "se a Grécia saísse, aproximar-se ia da Rússia - o que até para o presidente Obama é impensável".

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