UBER e os dilemas da economia da partilha

04-07-2015
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Se antes recorríamos ao crédito para ter acesso a determinado tipo de bens, para os quais não tínhamos disponibilidade financeira imediata, hoje, principalmente as novas gerações, recorrem à partilha de bens e serviços. Trocamos o crédito pela partilha de custos.

Nas últimas semanas a discussão sobre a nova economia tem sido feita em torno do UBER e do fenómeno da economia da partilha, ou “sharing economy” como dizem os mais anglo-saxónicos. Mas esta nova economia é muito mais do que UBER ou o dilema que nos cria a todos. Partilhar é inerente à natureza humana e em vários períodos da nossa existência conheceu diferentes formatos.

Parar o vento com as mãos?

Há umas semanas atrás, aqui no Expresso, alguém dizia que “Proibir o UBER é como parar o vento com as mãos”. Pode não ser literalmente assim mas esta é uma nova realidade que não podemos ignorar e cujo debate é inevitável. O UBER é o caso mais extremo deste fenómeno porque “abalroa” uma atividade concorrente em vigor, com muita tradição, com bons e maus exemplos e que divide a opinião pública.

Talvez pelas dificuldades, ou pela simples procura de maior sustentabilidade, há um conjunto de atividades ou de bens que passaram, ou voltaram a ser partilhados. Há décadas que todos conhecemos os lavadouros comuns, as cooperativas de produção e de exploração, entre outros. Ainda hoje, em alguns países europeus, os condóminos partilham máquinas de lavar roupa, algo que em Portugal não é tradição. A sociedade evoluiu e, todos, ou quase todos, passamos a deter acesso a meios próprios como as ditas máquinas de lavar, a automóveis, etc. No entanto, atualmente, há um fenómeno cada vez mais presente com a “economia da partilha. Hoje, já não partilhamos máquinas de lavar, mas podemos partilhar o aluguer de viaturas (Blá Blá Car), de meios de produção, de equipamentos tecnológicos, de apartamentos, de quartos e até de viagens, podemos partilhar empréstimos, hortas e alguns até partilham bens de luxo como jatos, barcos ou casas de férias.

Do crédito à partilha

Penso, sinceramente, que é algo muito positivo, porque permite-nos o acesso a bens e serviços a custos mais acessíveis, sem necessidade de grandes investimentos. Podemos até dizer que, se antes recorríamos ao crédito para ter acesso a determinado tipo de bens, para os quais não tínhamos disponibilidade financeira imediata, hoje, principalmente as novas gerações, recorrem à partilha de bens e serviços. Será que estamos mais pobres ou mais responsáveis? Acho que estamos mais sensatos e pensamos mais na sustentabilidade. Arrisco dizer que trocamos o crédito pela partilha.

Economia de agregação

Mas há outros serviços que também representam, na minha opinião, a economia da partilha, ou da “agregação” que servem apenas de interface, facilitadores, entre clientes e fornecedores e que são hoje líderes mundiais, senão vejamos: o Facebook partilha milhões de conteúdos mas não produz conteúdos; o UBER é a maior rede mundial de táxis e não tem um único táxi; o Alibaba é uma das empresas com mais capitalização bolsista e não tem um euro de stock, a Booking não tem um único quarto mas aluga milhões de dormidas; a portuguesa Farfetch é um sucesso de vendas online e não produz uma única peça de roupa. Ou seja, esta economia de “agregação” é também um fenómeno global que marca as tendências.

Portugueses “partilhadores”

Voltando à economia da partilha pura, é justo lembrar que também os portugueses dão cartas nesta matéria e a nível global. Falo-vos da Uniplaces que “arrenda” apartamentos ou a RAIZE, a primeira plataforma de empréstimos coletivos onde as pessoas podem emprestar dinheiro às empresas construindo uma alternativa de financiamento para a economia, onde uma empresa é financiada por várias pessoas e cada pessoa empresta a várias empresas. O objetivo é ter custos mais baixos para as empresas e permitir alternativas a quem quiser de investir.

Ainda o UBER

O UBER traz-nos um problema diferente porque nos oferece um serviço semelhante a outro já existente mas com novas condições. É óbvio que a disparidade face às exigências feitas ao seu concorrente, o táxi convencional, parece provocar alguma injustiça, mas é uma realidade que não podemos ignorar. Há condições que poderão também ser exigidas ao UBER, como por exemplo um seguro de acidentes pessoais e um mínimo de formação para os seus promotores. Porque, de resto, é um negócio legítimo, paga impostos, tem potencial e representa uma oferta diferente e da qual os clientes parecem estar a gostar. Para já são visíveis as externalidades positivas no tradicional serviço de táxi que já evoluiu, ou evoluirá, no sentido de compensar algumas vantagens oferecidas pelo UBER, como é exemplo disso a recente criação de uma app para chamada e pagamento do serviço.

A Eurodeputada do PSD, Cláudia Aguiar, promoveu na semana passada em Bruxelas um “public hearing” sobre a nova economia da partilha e as conclusões parecem consensuais: não podemos a ignorar, tem vantagens para todos e, mais do que enfiar a cabeça na areia ou criar preconceito, é urgente fazer evoluir a legislação comunitária onde faz cada mais sentido avaliar a aplicação do princípio da subsidiariedade.

Economia da partilha é pré-histórica

A economia da partilha é definida como um sistema socioeconómico, de pessoa para pessoa tal como a wikipedia, onde individuais colocam o seu conhecimento ao dispor de outros. Os princípios da economia da partilha são idênticos aos do início da existência humana: trocando bens e serviços de pessoas que os detêm para pessoas que deles necessitam. A grande diferença entre hoje e antigamente, é que podemos partilhar bens e serviços à distância de um clique.

Este debate promete, mas para já a economia da partilha garante melhores condições para os clientes, quer através dos novos prestadores de serviços quer provocando a evolução dos tradicionais que já estavam no mercado.

Que futuro? Estas novas companhias parecem não querer ser controladas pelas mesmas regras ou pela mesma regulação das empresas tradicionais. Este é também o nosso desafio.

Se antes recorríamos ao crédito para ter acesso a determinado tipo de bens, para os quais não tínhamos disponibilidade financeira imediata, hoje, principalmente as novas gerações, recorrem à partilha de bens e serviços. Trocamos o crédito pela partilha de custos.

Nas últimas semanas a discussão sobre a nova economia tem sido feita em torno do UBER e do fenómeno da economia da partilha, ou “sharing economy” como dizem os mais anglo-saxónicos. Mas esta nova economia é muito mais do que UBER ou o dilema que nos cria a todos. Partilhar é inerente à natureza humana e em vários períodos da nossa existência conheceu diferentes formatos.

Parar o vento com as mãos?

Há umas semanas atrás, aqui no Expresso, alguém dizia que “Proibir o UBER é como parar o vento com as mãos”. Pode não ser literalmente assim mas esta é uma nova realidade que não podemos ignorar e cujo debate é inevitável. O UBER é o caso mais extremo deste fenómeno porque “abalroa” uma atividade concorrente em vigor, com muita tradição, com bons e maus exemplos e que divide a opinião pública.

Talvez pelas dificuldades, ou pela simples procura de maior sustentabilidade, há um conjunto de atividades ou de bens que passaram, ou voltaram a ser partilhados. Há décadas que todos conhecemos os lavadouros comuns, as cooperativas de produção e de exploração, entre outros. Ainda hoje, em alguns países europeus, os condóminos partilham máquinas de lavar roupa, algo que em Portugal não é tradição. A sociedade evoluiu e, todos, ou quase todos, passamos a deter acesso a meios próprios como as ditas máquinas de lavar, a automóveis, etc. No entanto, atualmente, há um fenómeno cada vez mais presente com a “economia da partilha. Hoje, já não partilhamos máquinas de lavar, mas podemos partilhar o aluguer de viaturas (Blá Blá Car), de meios de produção, de equipamentos tecnológicos, de apartamentos, de quartos e até de viagens, podemos partilhar empréstimos, hortas e alguns até partilham bens de luxo como jatos, barcos ou casas de férias.

Do crédito à partilha

Penso, sinceramente, que é algo muito positivo, porque permite-nos o acesso a bens e serviços a custos mais acessíveis, sem necessidade de grandes investimentos. Podemos até dizer que, se antes recorríamos ao crédito para ter acesso a determinado tipo de bens, para os quais não tínhamos disponibilidade financeira imediata, hoje, principalmente as novas gerações, recorrem à partilha de bens e serviços. Será que estamos mais pobres ou mais responsáveis? Acho que estamos mais sensatos e pensamos mais na sustentabilidade. Arrisco dizer que trocamos o crédito pela partilha.

Economia de agregação

Mas há outros serviços que também representam, na minha opinião, a economia da partilha, ou da “agregação” que servem apenas de interface, facilitadores, entre clientes e fornecedores e que são hoje líderes mundiais, senão vejamos: o Facebook partilha milhões de conteúdos mas não produz conteúdos; o UBER é a maior rede mundial de táxis e não tem um único táxi; o Alibaba é uma das empresas com mais capitalização bolsista e não tem um euro de stock, a Booking não tem um único quarto mas aluga milhões de dormidas; a portuguesa Farfetch é um sucesso de vendas online e não produz uma única peça de roupa. Ou seja, esta economia de “agregação” é também um fenómeno global que marca as tendências.

Portugueses “partilhadores”

Voltando à economia da partilha pura, é justo lembrar que também os portugueses dão cartas nesta matéria e a nível global. Falo-vos da Uniplaces que “arrenda” apartamentos ou a RAIZE, a primeira plataforma de empréstimos coletivos onde as pessoas podem emprestar dinheiro às empresas construindo uma alternativa de financiamento para a economia, onde uma empresa é financiada por várias pessoas e cada pessoa empresta a várias empresas. O objetivo é ter custos mais baixos para as empresas e permitir alternativas a quem quiser de investir.

Ainda o UBER

O UBER traz-nos um problema diferente porque nos oferece um serviço semelhante a outro já existente mas com novas condições. É óbvio que a disparidade face às exigências feitas ao seu concorrente, o táxi convencional, parece provocar alguma injustiça, mas é uma realidade que não podemos ignorar. Há condições que poderão também ser exigidas ao UBER, como por exemplo um seguro de acidentes pessoais e um mínimo de formação para os seus promotores. Porque, de resto, é um negócio legítimo, paga impostos, tem potencial e representa uma oferta diferente e da qual os clientes parecem estar a gostar. Para já são visíveis as externalidades positivas no tradicional serviço de táxi que já evoluiu, ou evoluirá, no sentido de compensar algumas vantagens oferecidas pelo UBER, como é exemplo disso a recente criação de uma app para chamada e pagamento do serviço.

A Eurodeputada do PSD, Cláudia Aguiar, promoveu na semana passada em Bruxelas um “public hearing” sobre a nova economia da partilha e as conclusões parecem consensuais: não podemos a ignorar, tem vantagens para todos e, mais do que enfiar a cabeça na areia ou criar preconceito, é urgente fazer evoluir a legislação comunitária onde faz cada mais sentido avaliar a aplicação do princípio da subsidiariedade.

Economia da partilha é pré-histórica

A economia da partilha é definida como um sistema socioeconómico, de pessoa para pessoa tal como a wikipedia, onde individuais colocam o seu conhecimento ao dispor de outros. Os princípios da economia da partilha são idênticos aos do início da existência humana: trocando bens e serviços de pessoas que os detêm para pessoas que deles necessitam. A grande diferença entre hoje e antigamente, é que podemos partilhar bens e serviços à distância de um clique.

Este debate promete, mas para já a economia da partilha garante melhores condições para os clientes, quer através dos novos prestadores de serviços quer provocando a evolução dos tradicionais que já estavam no mercado.

Que futuro? Estas novas companhias parecem não querer ser controladas pelas mesmas regras ou pela mesma regulação das empresas tradicionais. Este é também o nosso desafio.

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