A Grécia, a Europa e o suposto OXI(génio)

13-07-2015
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A Grécia disse “Não” e estamos perante um triunfo político de Tsipras e Varoufakis. Aqui e ali, mais do que esperava, muito mais do que se justificava, esta máxima do Bloco de Esquerda ganhou fôlego. Discordo. Discordo eu e discorda a realidade.

A vitória do “Não” foi uma fuga para a frente coroada de [alegado] “êxito” que abrangeu 60% do eleitorado grego, captando novas realidades como a penosa extrema direita da aurora dourada.

A Europa cometeu erros, como aqui previamente antecipei, e não se revela apta para este tenaz combate político que largamente extravasa os cânones da diplomacia. Estamos perante uma impressiva opinião pública, oscilante e ancorada num exercício de ludibrio e desinformação onde Tsipras e Varoufakis não têm par. Basta vermos o relatório do FMI sobre a Grécia, saltarem à vista as tergiversações destes protagonistas.

Mas este resultado não significa mais que isso e é bem mais fatídico para a imagem da UE do que útil no deslindar do problema de fundo que assola e assolará os cidadãos gregos. A única diferença entre a vitória do “sim” e do “não” era o reforço ou o fragilizar do governo grego perante os seus eleitores e as instituições europeias. Pouco para um referendo, muito para a sobrevivência política do Syriza. Fora isso, pouco muda com este resultado. Alguém esperaria que um povo acossado pela austeridade, com um governo que promete a lua e renega à dívida, num Estado capturado de clientelas e uma sociedade assolada por um desemprego tremendo votasse diferente?

Factos: (i) a proposta que foi a votos já não estava em cima da mesa; (ii) o pacote de ajuda previsto já não era suficiente; (iii) o resultado, fosse qual fosse, não se impunha aos restantes países; (iv) este resultado só vincula governo grego e um constitui balão de oxigênio para Tsipras; (v) a vitória do sim não significa, de per si, uma revisão dos tratados nem revoga as normas da zona euro, menos ainda se impõe aos restantes Estados Membros; (vi) o PIB submergiu e a banca, descalça, ficou em circunstâncias ainda mais frágeis. Não vislumbro sinal positivo ou de vitória.

As consequências destas duas semanas para a Grécia são bem mais penosas do que a austeridade em si. A economia parou nas últimas duas semanas, os bancos entraram em colapso e vivem ligados à "máquina". Apesar da euforia de ontem, foram talvez as duas semanas mais negras da história recente da Grécia. Infelizmente este resultado não resolve nada, apenas alimenta a esperança e o perigo da desilusão. Sim, o maior perigo de todos é a desilusão de um povo. Ou algo muda ou será a própria democracia que está em causa.

O referendo de ontem foi um voto entre a estratégia de confrontação do Governo grego e as propostas da Troika. Não foi um referendo à União Europeia, talvez à zona euro. Ignorar o seu resultado é sinónimo de irresponsabilidade, entronizá-lo é desconsiderar o Estado de direito democrático.

Sustentar que a Europa não é solidária é desconhecer o significado de solidariedade. A democracia grega elegeu estes dirigentes tal como os anteriores. A legitimidade da actual liderança grega não é superior nem inferior à dos restantes países europeus

O principal problema da Grécia não está na Europa, mas na própria Grécia, na falta de coragem para serem feitas reformas estruturais que aumentem a competitividade e reforcem a sua sustentabilidade.

Se os gregos pagassem mais impostos, as empresas fugissem menos ao fisco tudo seria diferente.

A Europa tem responsabilidades, a zona Euro nunca foi perfeita, mas responsabilizar o Euro pelas fragilidades da economia grega mais não é do que sacudir a água do capote.

Ao contrário do que muitos queriam por cá, sobretudo a oposição, Portugal não é a Grécia, porque não prosseguiu a receita que o PS e a restante oposição engendraram para Portugal.

Relembro o que pediam: mais tempo, mais dinheiro, uma menor almofada financeira, um segundo resgate, um programa cautelar. Portugal assinou um memorando que este Governo de coligação alterou, com tenacidade e mérito e conquistou a confiança dos parceiros porque os portugueses o permitiram com o seu esforço e resiliência.

É, por isso, que não posso deixar de registar a esquizofrenia do PS português em relação à Grécia. Por um lado acusa o Governo português de não proteger a Grécia, colocando-se ao lado dos interesses do Syriza. Por outro lado, faz a apologia da estratégia que acentuou a crise grega. O debate não é entre esquerda e direita, é entre a utopia e a realidade. Talvez, por isso, seja útil lembrar a António Costa quem são alguns dos principais decisores europeus: É ou não é o Presidente do Eurogrupo um socialista holandês? É ou não é o Vice-Presidente do BCE, o credor, o ex-líder socialista português Vítor Constâncio? Martin Schultz, Presidente do Parlamento Europeu não é o mesmo que tirou uma selfie com António Costa na baixa de Lisboa em plena campanha eleitoral? Renzi, Hollande e Valls, não se sentam ao lado de António Costa no Partido Socialista Europeu? Pois. “Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és”.

A Grécia disse “Não” e estamos perante um triunfo político de Tsipras e Varoufakis. Aqui e ali, mais do que esperava, muito mais do que se justificava, esta máxima do Bloco de Esquerda ganhou fôlego. Discordo. Discordo eu e discorda a realidade.

A vitória do “Não” foi uma fuga para a frente coroada de [alegado] “êxito” que abrangeu 60% do eleitorado grego, captando novas realidades como a penosa extrema direita da aurora dourada.

A Europa cometeu erros, como aqui previamente antecipei, e não se revela apta para este tenaz combate político que largamente extravasa os cânones da diplomacia. Estamos perante uma impressiva opinião pública, oscilante e ancorada num exercício de ludibrio e desinformação onde Tsipras e Varoufakis não têm par. Basta vermos o relatório do FMI sobre a Grécia, saltarem à vista as tergiversações destes protagonistas.

Mas este resultado não significa mais que isso e é bem mais fatídico para a imagem da UE do que útil no deslindar do problema de fundo que assola e assolará os cidadãos gregos. A única diferença entre a vitória do “sim” e do “não” era o reforço ou o fragilizar do governo grego perante os seus eleitores e as instituições europeias. Pouco para um referendo, muito para a sobrevivência política do Syriza. Fora isso, pouco muda com este resultado. Alguém esperaria que um povo acossado pela austeridade, com um governo que promete a lua e renega à dívida, num Estado capturado de clientelas e uma sociedade assolada por um desemprego tremendo votasse diferente?

Factos: (i) a proposta que foi a votos já não estava em cima da mesa; (ii) o pacote de ajuda previsto já não era suficiente; (iii) o resultado, fosse qual fosse, não se impunha aos restantes países; (iv) este resultado só vincula governo grego e um constitui balão de oxigênio para Tsipras; (v) a vitória do sim não significa, de per si, uma revisão dos tratados nem revoga as normas da zona euro, menos ainda se impõe aos restantes Estados Membros; (vi) o PIB submergiu e a banca, descalça, ficou em circunstâncias ainda mais frágeis. Não vislumbro sinal positivo ou de vitória.

As consequências destas duas semanas para a Grécia são bem mais penosas do que a austeridade em si. A economia parou nas últimas duas semanas, os bancos entraram em colapso e vivem ligados à "máquina". Apesar da euforia de ontem, foram talvez as duas semanas mais negras da história recente da Grécia. Infelizmente este resultado não resolve nada, apenas alimenta a esperança e o perigo da desilusão. Sim, o maior perigo de todos é a desilusão de um povo. Ou algo muda ou será a própria democracia que está em causa.

O referendo de ontem foi um voto entre a estratégia de confrontação do Governo grego e as propostas da Troika. Não foi um referendo à União Europeia, talvez à zona euro. Ignorar o seu resultado é sinónimo de irresponsabilidade, entronizá-lo é desconsiderar o Estado de direito democrático.

Sustentar que a Europa não é solidária é desconhecer o significado de solidariedade. A democracia grega elegeu estes dirigentes tal como os anteriores. A legitimidade da actual liderança grega não é superior nem inferior à dos restantes países europeus

O principal problema da Grécia não está na Europa, mas na própria Grécia, na falta de coragem para serem feitas reformas estruturais que aumentem a competitividade e reforcem a sua sustentabilidade.

Se os gregos pagassem mais impostos, as empresas fugissem menos ao fisco tudo seria diferente.

A Europa tem responsabilidades, a zona Euro nunca foi perfeita, mas responsabilizar o Euro pelas fragilidades da economia grega mais não é do que sacudir a água do capote.

Ao contrário do que muitos queriam por cá, sobretudo a oposição, Portugal não é a Grécia, porque não prosseguiu a receita que o PS e a restante oposição engendraram para Portugal.

Relembro o que pediam: mais tempo, mais dinheiro, uma menor almofada financeira, um segundo resgate, um programa cautelar. Portugal assinou um memorando que este Governo de coligação alterou, com tenacidade e mérito e conquistou a confiança dos parceiros porque os portugueses o permitiram com o seu esforço e resiliência.

É, por isso, que não posso deixar de registar a esquizofrenia do PS português em relação à Grécia. Por um lado acusa o Governo português de não proteger a Grécia, colocando-se ao lado dos interesses do Syriza. Por outro lado, faz a apologia da estratégia que acentuou a crise grega. O debate não é entre esquerda e direita, é entre a utopia e a realidade. Talvez, por isso, seja útil lembrar a António Costa quem são alguns dos principais decisores europeus: É ou não é o Presidente do Eurogrupo um socialista holandês? É ou não é o Vice-Presidente do BCE, o credor, o ex-líder socialista português Vítor Constâncio? Martin Schultz, Presidente do Parlamento Europeu não é o mesmo que tirou uma selfie com António Costa na baixa de Lisboa em plena campanha eleitoral? Renzi, Hollande e Valls, não se sentam ao lado de António Costa no Partido Socialista Europeu? Pois. “Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és”.

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