Grécia: suicídio dos 28 ou a morte do populismo?

09-10-2015
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O sucesso de fenómenos como o Syriza resulta do falhanço dos partidos tradicionais. Os próximos dias serão fundamentais para perceber se o governo grego se adapta à realidade e esquece o populismo da campanha, se a UE cede ou se há um meio termo em que todos podem ganhar. Oportunidade para Tsipras demonstrar se é um Estadista ou o "Che Guevara" europeu. Modelo do PS para Portugal foi testado na Grécia..e pelos vistos falhou.

Agora que já passou uma semana sobre o "Furacão Syriza" na Europa podemos começar a interpretar os primeiros sinais do que aí vem.

Em primeiro lugar, é imperioso olhar para estes resultados e entender a lição que todos os partidos, em particular os maiores, devem tirar. Movimentos como o Syriza e o Podemos surgem porque os partidos tradicionais, a forma como se organizam e as suas lideranças falharam. Não se souberam modernizar e deixaram de saber responder às expectativas das pessoas. Estes resultados são um aviso para todos nós e esse é um assunto a que regressarei em breve.

Syrizistas desde pequeninos

Esta eleição grega provocou na oposição de esquerda em Portugal uma competição pelo maior "syrizista cá do burgo". Realmente compreende-se: perante uma fragmentação da esquerda em Portugal, qualquer sucesso dentro da família ideológica, mesmo que separada por mais de 2800 km de distância, pode constituir um motivo de festejos. Todos quiseram ser mais Syriza que os outros. É justo que se diga que se há um legítimo herdeiro em Portugal é o BE. O PCP bem tenta colar-se e o PS, que perdeu a vergonha, teve o desplante de ignorar a derrota do PASOK e nas primeiras horas quis ser "Syrizista" deste pequenino. Em boa hora Vitalino Canas veio fazer o justo recuo em nome dos socialistas.

Solução do PS foi a que falhou na Grécia

Apesar do PS não ser Syriza desde o berço, a verdade é que se Portugal está hoje numa posição completamente diferente da Grécia, é porque não seguimos o caminho defendido por Seguro, e também por Costa, que não era muito diferente do que defende o BE e o PCP em Portugal, mas que corresponde ao que foi feito na Grécia e que levou à vitória do Syriza. Ao longo destes três anos Portugal fez tudo diferente da Grécia, que por seu lado fez tudo o que o Partido Socialista defendeu em Portugal: restruturaram a dívida, tiveram um perdão de dívida, não combateram a evasão fiscal, não cumpriram o memorando acordado e não fizeram reformas estruturais. Lembram-se?

Varoufakis anunciou chantagem com Portugal

Regressando à atualidade, e depois do Ministro das Finanças grego ter dito que era bom que os juros portugueses voltassem a subir para terem mais um aliado, e de ter dito que não pagavam nem negociavam com o FMI nem com o BCE, felizmente já veio o Primeiro-ministro Tsipras, a versão moderada, desmentir o Professor Varoufakis, o Ministro que tem encantado a esquerda europeia. E isso é um bom sinal. Varoufakis é o polícia mau e Tsipras o polícia bom.

Acredito que, perante a realidade, o romantismo da campanha eleitoral dê lugar ao pragmatismo necessário. Os gregos têm despesas, salários, empréstimos para pagar e não é possível começarem de repente a repor a despesa que os levou à crise. Admito que as medidas e a retórica inicial sejam meramente simbólicas, para marcar uma posição e satisfazer os apoiantes. Não é por acaso que promessas como o aumento do salário mínimo tenham sido já colocadas de lado. Como diz a sabedoria popular "não faz mal mudar de opinião, desde que seja para melhor."

Syriza só ganhou as eleições na Grécia...

É também útil esclarecer alguns factos que facilmente se esquecem no meio do entusiamo que grassa por essa esquerda fora, como recordar que a legitimidade do novo governo grego é exatamente igual à dos anteriores e a mesma dos restantes governos europeus. Significa isto que devem ser respeitados, como os outros, mas também significa que os restantes 27 Estados Membros continuam a ter as suas opções, programas e ideias. O Syriza só venceu eleições na Grécia. É oportuno lembrar que a Grécia continua a ser parte dos Tratados Europeus e a única opção de não os respeitar é sair fora.

As eleições gregas são o verdadeiro teste à solidez e à coragem da União Europeia. Se seguir a opção que Tsipras e Varoufakis defenderam em campanha eleitoral, a UE está então a fazer uma viragem em toda a sua atuação nos últimos 5/10 anos que, se é criticável, é verdade que foi sempre coerente. Se a UE vira a agulha apenas porque um país, que raramente cumpriu os Tratados que assinou, virou e mudou de opinião, está então a confirmar que afinal tem mesmo pés barro e que muda de orientação como qualquer catavento.

Braço de ferro "Comissão + Tsipras vs Conselho" ?

Acredito que isso aconteça com a Comissão Europeia, mais frágil porque não tem a força dos Estados, e que tem atualmente uma liderança fragilizada pelo Luxleaks, que quererá fazer tudo para agradar aos críticos da Europa. Mas UE, apesar de tudo, tem conseguido adaptar-se às diversas crises que tem conhecido e encontrado soluções que evitaram que alguns países perdessem a face. É essa a sua força mas também a sua fraqueza. Provavelmente, o novo governo grego irá continuar a recuar nas suas promessas eleitorais, ajustando-se à realidade e a Europa terá, espero, a capacidade e inteligência de se adaptar e dar alguns trunfos que o novo governo grego poderá utilizar no jogo interno.

Tsipras: populista ou estadista?

Chegados aqui resta saber o quer Tsipras: salvar o seu país, reformar e tirar a Grécia da bancarrota, ou quer ser o primeiro líder da esquerda europeia (sim Tsipras é um líder e tem a esuerda europeia a seus pés), que tem uma alternativa à UE e que só poderá existir fora do Euro? Este é o momento da definição da Grécia, de Tsipras e do futuro da União Europeia. Conseguirá Tsipras resistir à ambição de ser o Che Guevara europeu e salvar o seu país? Agora sim, veremos se é um estadista ou um populista. Desejo sinceramente que se revele como um estadista porque a Grécia não pode ver o seu futuro mais uma vez adiado. Lembrando Winston Churchill nos 50 anos da sua morte "É preciso coragem para levantar-se e falar, mas também é preciso coragem para sentar-se e ouvir."

O sucesso de fenómenos como o Syriza resulta do falhanço dos partidos tradicionais. Os próximos dias serão fundamentais para perceber se o governo grego se adapta à realidade e esquece o populismo da campanha, se a UE cede ou se há um meio termo em que todos podem ganhar. Oportunidade para Tsipras demonstrar se é um Estadista ou o "Che Guevara" europeu. Modelo do PS para Portugal foi testado na Grécia..e pelos vistos falhou.

Agora que já passou uma semana sobre o "Furacão Syriza" na Europa podemos começar a interpretar os primeiros sinais do que aí vem.

Em primeiro lugar, é imperioso olhar para estes resultados e entender a lição que todos os partidos, em particular os maiores, devem tirar. Movimentos como o Syriza e o Podemos surgem porque os partidos tradicionais, a forma como se organizam e as suas lideranças falharam. Não se souberam modernizar e deixaram de saber responder às expectativas das pessoas. Estes resultados são um aviso para todos nós e esse é um assunto a que regressarei em breve.

Syrizistas desde pequeninos

Esta eleição grega provocou na oposição de esquerda em Portugal uma competição pelo maior "syrizista cá do burgo". Realmente compreende-se: perante uma fragmentação da esquerda em Portugal, qualquer sucesso dentro da família ideológica, mesmo que separada por mais de 2800 km de distância, pode constituir um motivo de festejos. Todos quiseram ser mais Syriza que os outros. É justo que se diga que se há um legítimo herdeiro em Portugal é o BE. O PCP bem tenta colar-se e o PS, que perdeu a vergonha, teve o desplante de ignorar a derrota do PASOK e nas primeiras horas quis ser "Syrizista" deste pequenino. Em boa hora Vitalino Canas veio fazer o justo recuo em nome dos socialistas.

Solução do PS foi a que falhou na Grécia

Apesar do PS não ser Syriza desde o berço, a verdade é que se Portugal está hoje numa posição completamente diferente da Grécia, é porque não seguimos o caminho defendido por Seguro, e também por Costa, que não era muito diferente do que defende o BE e o PCP em Portugal, mas que corresponde ao que foi feito na Grécia e que levou à vitória do Syriza. Ao longo destes três anos Portugal fez tudo diferente da Grécia, que por seu lado fez tudo o que o Partido Socialista defendeu em Portugal: restruturaram a dívida, tiveram um perdão de dívida, não combateram a evasão fiscal, não cumpriram o memorando acordado e não fizeram reformas estruturais. Lembram-se?

Varoufakis anunciou chantagem com Portugal

Regressando à atualidade, e depois do Ministro das Finanças grego ter dito que era bom que os juros portugueses voltassem a subir para terem mais um aliado, e de ter dito que não pagavam nem negociavam com o FMI nem com o BCE, felizmente já veio o Primeiro-ministro Tsipras, a versão moderada, desmentir o Professor Varoufakis, o Ministro que tem encantado a esquerda europeia. E isso é um bom sinal. Varoufakis é o polícia mau e Tsipras o polícia bom.

Acredito que, perante a realidade, o romantismo da campanha eleitoral dê lugar ao pragmatismo necessário. Os gregos têm despesas, salários, empréstimos para pagar e não é possível começarem de repente a repor a despesa que os levou à crise. Admito que as medidas e a retórica inicial sejam meramente simbólicas, para marcar uma posição e satisfazer os apoiantes. Não é por acaso que promessas como o aumento do salário mínimo tenham sido já colocadas de lado. Como diz a sabedoria popular "não faz mal mudar de opinião, desde que seja para melhor."

Syriza só ganhou as eleições na Grécia...

É também útil esclarecer alguns factos que facilmente se esquecem no meio do entusiamo que grassa por essa esquerda fora, como recordar que a legitimidade do novo governo grego é exatamente igual à dos anteriores e a mesma dos restantes governos europeus. Significa isto que devem ser respeitados, como os outros, mas também significa que os restantes 27 Estados Membros continuam a ter as suas opções, programas e ideias. O Syriza só venceu eleições na Grécia. É oportuno lembrar que a Grécia continua a ser parte dos Tratados Europeus e a única opção de não os respeitar é sair fora.

As eleições gregas são o verdadeiro teste à solidez e à coragem da União Europeia. Se seguir a opção que Tsipras e Varoufakis defenderam em campanha eleitoral, a UE está então a fazer uma viragem em toda a sua atuação nos últimos 5/10 anos que, se é criticável, é verdade que foi sempre coerente. Se a UE vira a agulha apenas porque um país, que raramente cumpriu os Tratados que assinou, virou e mudou de opinião, está então a confirmar que afinal tem mesmo pés barro e que muda de orientação como qualquer catavento.

Braço de ferro "Comissão + Tsipras vs Conselho" ?

Acredito que isso aconteça com a Comissão Europeia, mais frágil porque não tem a força dos Estados, e que tem atualmente uma liderança fragilizada pelo Luxleaks, que quererá fazer tudo para agradar aos críticos da Europa. Mas UE, apesar de tudo, tem conseguido adaptar-se às diversas crises que tem conhecido e encontrado soluções que evitaram que alguns países perdessem a face. É essa a sua força mas também a sua fraqueza. Provavelmente, o novo governo grego irá continuar a recuar nas suas promessas eleitorais, ajustando-se à realidade e a Europa terá, espero, a capacidade e inteligência de se adaptar e dar alguns trunfos que o novo governo grego poderá utilizar no jogo interno.

Tsipras: populista ou estadista?

Chegados aqui resta saber o quer Tsipras: salvar o seu país, reformar e tirar a Grécia da bancarrota, ou quer ser o primeiro líder da esquerda europeia (sim Tsipras é um líder e tem a esuerda europeia a seus pés), que tem uma alternativa à UE e que só poderá existir fora do Euro? Este é o momento da definição da Grécia, de Tsipras e do futuro da União Europeia. Conseguirá Tsipras resistir à ambição de ser o Che Guevara europeu e salvar o seu país? Agora sim, veremos se é um estadista ou um populista. Desejo sinceramente que se revele como um estadista porque a Grécia não pode ver o seu futuro mais uma vez adiado. Lembrando Winston Churchill nos 50 anos da sua morte "É preciso coragem para levantar-se e falar, mas também é preciso coragem para sentar-se e ouvir."

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