A Madeira dá cartas... E não é só no mundo do futebol!

09-10-2015
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O PSD da Madeira escolheu um novo líder num processo tranquilo em que venceu o maior opositor de Alberto Joao Jardim. Ao contrário do que se esperava o partido saiu mais forte e não dividido como muitos esperavam. Será que aconteceu uma "Primavera árabe" na Madeira?

Num dia em que celebramos a conquista de mais uma Bola de Ouro pelo Cristiano Ronaldo, para enjoo de Platini e Blatter, mas pelos vistos também de Jorge Costa e obviamente da inevitável Raquel Varela - que deve ter achado super-piroso o vestido da mãe coragem - a Madeira também está de parabéns também por outras razões: as eleições no PSD da Madeira.

A Madeira mudou

O ponto de partida para as eleições internas do PSD-Madeira foi de um disputado processo de eleições internas, onde seis candidatos se apresentaram para cativar o voto dos militantes para a liderança do partido. O continente aguardava uma luta fratricida que iria enfraquecer o PSD na região. Surpresa: o PSD-Madeira deu nas suas eleições, mas sobretudo no seu congresso regional, uma importante lição de democracia viva ao país e consagrou Miguel Albuquerque como novo presidente do partido que o parece conseguir unir em torno do objetivo da renovação.

Este marco da vida política regional demonstrou como, num ambiente considerado por muitos como hostil à divergência de opiniões, a estrutura orgânica interna de um partido consegue responder ao desafio impar de decidir a sucessão de um líder tão especial como Alberto João Jardim. Político que nunca deixou ninguém indiferente. Diria que essa é a marca dos grandes políticos, para o bem e para o mal. Apesar de enormes divergências existentes relativas às políticas específicas desenvolvidas nos últimos anos, é inegável que Jardim sempre colocou a sua região, o seu eleitorado e a sua terra em primeiro lugar.

O desenvolvimento sócio-económico da Madeira está à vista de todos e é palpável quando se compara a região antes e depois da autonomia. Hoje vive-se muito melhor na Madeira que há 15-20 anos atrás - há hoje muito menos pobreza, há acesso a saúde e educação em todos os pontos da região, há muito menos desemprego e, sobretudo, um maior número de oportunidades.

Um líder muito especial

É verdade que o estilo de liderança de Alberto João Jardim não agradava a todos, sobretudo no continente. É também verdade que a sua linguagem, o tom provocatório e as suas "tropelias" jamais teriam o mesmo sucesso no continente. Parece-me óbvio que na parte final do seu consulado se exagerou na dívida e que vimos o acentuar de alguns traços mais negativos da personalidade e do estilo de Alberto João Jardim. Mas é inegável o seu papel fulcral para o desenvolvimento daquela região.

Quando é desporto nacional apontar a Madeira como um exemplo de falta de democracia, não posso deixar de refutar aqui os mais diversos argumentos para rejeitar esta ideia errada e poucas vezes desmontada aqui pelo continente. Alberto João Jardim foi repetidamente eleito em eleições livres e democráticas pelos madeirenses e portosantenses. Negar este facto é menosprezar todos os eleitores da região. Foram 42 vitórias eleitorais para o PSD Madeira.

Democracia livre

Também não posso deixar de recordar que a região, que segundo alguns não tem eleições livres, deu 40% de votos ao candidato José Manuel Coelho nas Presidenciais contra o candidato do PSD, que retirou sete autarquias ao PSD nas últimas eleições, inclusive a da sua capital. Recordo também que no tempo do Padre Martins, famoso opositor de Jardim, este ganhou consecutivamente eleições para Presidente de Câmara de Machico pela UDP e depois pelo PS, enquanto o PSD vencia no mesmo concelho para a Assembleia Municipal e para o governo regional.

É verdade que continuavam a existir várias "tradições" políticas na Madeira que no continente seriam inaceitáveis, como o facto líder do Governo não debater na Assembleia Regional com a oposição, no dia da Madeira não discursarem no plenário os partidos da oposição, ou o facto de se inaugurarem obras em período de campanha eleitoral. Tudo isto é verdade e muito criticável, mas não é aceitável a demagogia de acusar a Madeira de não ter eleições livres. O principal opositor a Alberto João Jardim ganhou incontestavelmente as eleições internas e isso diz muito da maturidade e liberdade democrática de um partido político. Saúdo ainda o discurso de Albuquerque no encerramento do congresso no domingo, onde na sua exaustiva "to-do list" sublinha as urgentes reformas que irá encetar para sanar as relações parlamentares regionais, precisamente nos pontos que foquei acima.

Oposição madeirense aflita

Será que a oposição - seja a nível regional ou nacional - teria achado mais "válido" uma eventual vitória de um candidato que fosse mais ligado à antiga direção do partido? Ser-lhes-ia útil, como suporte para uma argumentação onde o PSD-Madeira igualaria somente à figura de Alberto João Jardim. Mas o património imaterial de um partido político vai para além do/a seu líder. Que tenha sido o candidato mais crítico à postura de Jardim a ganhar a liderança do PSD-Madeira realmente baralha as contas aos opositores. Mas trata-se da decisão dos militantes, tal como foi o próprio eleitorado madeirense que durante 40 anos elegeu Jardim para a presidência do Governo Regional. Ignorar este aspeto é simplesmente menosprezar o cidadão e a sua escolha nas urnas, simplesmente porque não encaixa numa suposta "modernidade" simplista.

As lutas políticas internas não enfraqueceram o partido nem o envergonharam, ao contrário do que aconteceu na disputa Costa vs Seguro no PS. Antes pelo contrário. O combate na Madeira trouxe uma vitalidade democrática exemplar para o país, o que implica colocar a seguinte pergunta: num tempo em que tanto se discute a reforma dos partidos, será que operações charme como as tão badaladas primárias no PS conseguiram apresentar uma pluralidade de opiniões e posições políticas tão grande como o que aconteceu na Madeira com o PSD? Apesar de defensor de eleições primárias, mas não de diretas, gostava de ver este debate em cima da mesa. Será que o caso da Madeira é apenas a tal exceção que confirma a regra?

O PSD da Madeira escolheu um novo líder num processo tranquilo em que venceu o maior opositor de Alberto Joao Jardim. Ao contrário do que se esperava o partido saiu mais forte e não dividido como muitos esperavam. Será que aconteceu uma "Primavera árabe" na Madeira?

Num dia em que celebramos a conquista de mais uma Bola de Ouro pelo Cristiano Ronaldo, para enjoo de Platini e Blatter, mas pelos vistos também de Jorge Costa e obviamente da inevitável Raquel Varela - que deve ter achado super-piroso o vestido da mãe coragem - a Madeira também está de parabéns também por outras razões: as eleições no PSD da Madeira.

A Madeira mudou

O ponto de partida para as eleições internas do PSD-Madeira foi de um disputado processo de eleições internas, onde seis candidatos se apresentaram para cativar o voto dos militantes para a liderança do partido. O continente aguardava uma luta fratricida que iria enfraquecer o PSD na região. Surpresa: o PSD-Madeira deu nas suas eleições, mas sobretudo no seu congresso regional, uma importante lição de democracia viva ao país e consagrou Miguel Albuquerque como novo presidente do partido que o parece conseguir unir em torno do objetivo da renovação.

Este marco da vida política regional demonstrou como, num ambiente considerado por muitos como hostil à divergência de opiniões, a estrutura orgânica interna de um partido consegue responder ao desafio impar de decidir a sucessão de um líder tão especial como Alberto João Jardim. Político que nunca deixou ninguém indiferente. Diria que essa é a marca dos grandes políticos, para o bem e para o mal. Apesar de enormes divergências existentes relativas às políticas específicas desenvolvidas nos últimos anos, é inegável que Jardim sempre colocou a sua região, o seu eleitorado e a sua terra em primeiro lugar.

O desenvolvimento sócio-económico da Madeira está à vista de todos e é palpável quando se compara a região antes e depois da autonomia. Hoje vive-se muito melhor na Madeira que há 15-20 anos atrás - há hoje muito menos pobreza, há acesso a saúde e educação em todos os pontos da região, há muito menos desemprego e, sobretudo, um maior número de oportunidades.

Um líder muito especial

É verdade que o estilo de liderança de Alberto João Jardim não agradava a todos, sobretudo no continente. É também verdade que a sua linguagem, o tom provocatório e as suas "tropelias" jamais teriam o mesmo sucesso no continente. Parece-me óbvio que na parte final do seu consulado se exagerou na dívida e que vimos o acentuar de alguns traços mais negativos da personalidade e do estilo de Alberto João Jardim. Mas é inegável o seu papel fulcral para o desenvolvimento daquela região.

Quando é desporto nacional apontar a Madeira como um exemplo de falta de democracia, não posso deixar de refutar aqui os mais diversos argumentos para rejeitar esta ideia errada e poucas vezes desmontada aqui pelo continente. Alberto João Jardim foi repetidamente eleito em eleições livres e democráticas pelos madeirenses e portosantenses. Negar este facto é menosprezar todos os eleitores da região. Foram 42 vitórias eleitorais para o PSD Madeira.

Democracia livre

Também não posso deixar de recordar que a região, que segundo alguns não tem eleições livres, deu 40% de votos ao candidato José Manuel Coelho nas Presidenciais contra o candidato do PSD, que retirou sete autarquias ao PSD nas últimas eleições, inclusive a da sua capital. Recordo também que no tempo do Padre Martins, famoso opositor de Jardim, este ganhou consecutivamente eleições para Presidente de Câmara de Machico pela UDP e depois pelo PS, enquanto o PSD vencia no mesmo concelho para a Assembleia Municipal e para o governo regional.

É verdade que continuavam a existir várias "tradições" políticas na Madeira que no continente seriam inaceitáveis, como o facto líder do Governo não debater na Assembleia Regional com a oposição, no dia da Madeira não discursarem no plenário os partidos da oposição, ou o facto de se inaugurarem obras em período de campanha eleitoral. Tudo isto é verdade e muito criticável, mas não é aceitável a demagogia de acusar a Madeira de não ter eleições livres. O principal opositor a Alberto João Jardim ganhou incontestavelmente as eleições internas e isso diz muito da maturidade e liberdade democrática de um partido político. Saúdo ainda o discurso de Albuquerque no encerramento do congresso no domingo, onde na sua exaustiva "to-do list" sublinha as urgentes reformas que irá encetar para sanar as relações parlamentares regionais, precisamente nos pontos que foquei acima.

Oposição madeirense aflita

Será que a oposição - seja a nível regional ou nacional - teria achado mais "válido" uma eventual vitória de um candidato que fosse mais ligado à antiga direção do partido? Ser-lhes-ia útil, como suporte para uma argumentação onde o PSD-Madeira igualaria somente à figura de Alberto João Jardim. Mas o património imaterial de um partido político vai para além do/a seu líder. Que tenha sido o candidato mais crítico à postura de Jardim a ganhar a liderança do PSD-Madeira realmente baralha as contas aos opositores. Mas trata-se da decisão dos militantes, tal como foi o próprio eleitorado madeirense que durante 40 anos elegeu Jardim para a presidência do Governo Regional. Ignorar este aspeto é simplesmente menosprezar o cidadão e a sua escolha nas urnas, simplesmente porque não encaixa numa suposta "modernidade" simplista.

As lutas políticas internas não enfraqueceram o partido nem o envergonharam, ao contrário do que aconteceu na disputa Costa vs Seguro no PS. Antes pelo contrário. O combate na Madeira trouxe uma vitalidade democrática exemplar para o país, o que implica colocar a seguinte pergunta: num tempo em que tanto se discute a reforma dos partidos, será que operações charme como as tão badaladas primárias no PS conseguiram apresentar uma pluralidade de opiniões e posições políticas tão grande como o que aconteceu na Madeira com o PSD? Apesar de defensor de eleições primárias, mas não de diretas, gostava de ver este debate em cima da mesa. Será que o caso da Madeira é apenas a tal exceção que confirma a regra?

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