Blogue: Keynesiano, graças a Deus

29-04-2014
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1 | 2 | 3 | 4 | 5 SEGUINTE Pág. 1 de 9 Ver 10, 20, 50 resultados por pág. Morreu um enorme poeta da língua portuguesa Nicolau Santos 8:32 Segunda feira, 28 de abril de 2014 Vasco Graça Moura não era apenas Vasco Graça Moura. Era muitos Vasco Graça Moura. Era um cidadão politicamente empenhado. Bateu-se por todas as causas em que acreditava. Dizia sempre o que pensava. Ocupou muitos e importante cargos, todos de serviço público. Era um combatente cívico pelas grandes causas. Foi, com Mega Ferreira, o responsável por Portugal se ter candidatado ao sonho de organizar a Expo 98 - e de ter ganho. A última causa porque se bateu denodadamente foi contra o Acordo Ortográfico. Era um cronista que escrevia divinamente. Era um extraordinário tradutor das grandes obras universais. A sua tradução da Divina Comédia, de Dante, há-de perdurar por muitos e muitos anos como "a" tradução para língua portuguesa da Divina Comédia. E quem se atreveria a traduzir os sonetos de Shakespeare ou a poesia medieval francesa? Ou Rilke, Voltaire e muitos outros? Era um extraordinário sedutor, como prova a sua vida amorosa e as inúmeras paixões que viveu. Mas era sobretudo um grande, um enorme, um magnifico poeta da língua portuguesa, a par de Sophia ou de Jorge de Sena. E além disso era um homem de carne e osso, uma pessoa admirável em todos os sentidos. Podemos não concordar com muitas das suas posições, públicas ou políticas, mas era uma pessoa verdadeira, inabalável, incontornável, um dos últimos grandes intelectuais portugueses .

Na última entrevista que deu à "Visão", disse que "a Portugal está a faltar muita poesia. Não enche a barriga, mas pode ajudar a encher o espírito". Como grande poeta do amor, eis um dos seus mais espantosos poemas de amor.

No amor, regras que contem,

Há uma só que não é vã:

Amar hoje mais do que ontem

Mas bem menos que amanhã

E eu num fado que isso guarde

Também acrescentaria

Amo-te mais cada tarde

Do que amei nascendo o dia

E cada vez muito mais

Do que antes, mas tais requintes

São muito menos, ver vais

Do que nos dias seguintes

Com resultados tão plenos

Como somar dois e dois:

Muito mais e muito menos

Conforme "antes" e "depois"

No amor, regras que contem

Há uma só que não é vã:

Amar hoje mais do que ontem

Mas bem menos que amanhã

Depois da alma, agora querem tratar-nos do corpo Nicolau Santos 12:18 Quinta feira, 17 de abril de 2014 Quando chegou ao poder, Margareth Thatcher disse que o seu programa não visava apenas mudar a economia britânica; apontava também para mudar a alma dos ingleses. O ajustamento português têm exatamente as mesmas características. Para além da redução drástica do Estado social; para além da diminuição dramática do papel do Estado na economia; para além da passagem do Estado para uma função meramente assistencialista; também fomos fustigados com sucessivas declarações destinadas a culpar-nos dos nossos supostos excessos consumistas e por vivermos acima das nossas possibilidades. O objectivo é claro: instigar-nos um sentimento de culpa judaico-cristão, levando-nos a crer que a responsabilidade da crise é nossa e só nossa - e que portanto temos de expirar esses pecados. Mas a ideologia subjacente a este ajustamento não se quer ficar por aqui: depois de nos livrar dos pecados da alma quer agora libertar-nos dos pecados do corpo. E assim surge a genial ideia de aplicar taxas especiais não apenas ao tabaco e ao álcool, cujos impostos serão de novo agravados, mas agora também a produtos alimentares com excesso de sal e de açúcar. "Queremos melhorar os hábitos de consumo das famílias", disse o secretário de Estado da Saúde, Leal da Costa. E como se faz isso? Com campanhas pedagógicas? Com a proibição desses produtos? Com a limitação do sal e açúcar qiue tais produtos podem conter? Não, porque isso dá muito trabalho e leva tempo. Com impostos é que se vai lá! E quem define os tais níveis de sal e de açúcar nocivos para a saúde? O Ministério da Saúde, claro, ou um grupo criado para o efeito. Ou então copia-se o que os norte-americanos já fizeram. E eis como a lógica fiscal e o fundamentalismo higiénico se conjugam para, depois de uma alma nova, passarmos também a ter um corpo renovado! É oficial: no final deste ajustamento seremos um povo muito mais são de corpo e espírito. Qual é a novidade? 13:50 Segunda feira, 14 de abril de 2014 Veio o secretário de Estado, que tinha convidado vários jornalistas para lhes dizer, em off, que o cálculo das pensões ia passar a ser indexado à evolução da economia e da demografia, e disse na Assembleia da República: "Roma lucuta, causa finita" (faltou-lhe o "est" mas isso agora não interessa nada). Queria dizer o secretário de Estado quis dizer que se o primeiro-ministro tinha dito que se tratava de uma "especulação" e que não havia qualquer decisão sobre o tema que teria de ser discutido em Conselho de Ministros - então essa era a verdade oficial. O chefe falou, está falado e encerrado o assunto. A propósito do mesmo tema veio o dr. Marques Guedes e, sempre com excelente postura, falou em manipulação. Veio o dr. Portas e, franzindo o sobrolho, gesto que faz com bastante sucesso, disse tratar-se de um erro. Veio o dr. Poiares Maduro e falou tristemente num problema de comunicação do Governo. Não havia nada, portanto. Mas eis que a Comissão Europeia pelos vistos elaborou um documentozinho, supõe-se que em articulação com o Governo, onde se diz que o cálculo das pensões passará a ser feito de acordo com a evolução da demografia e da economia. Interrogado pelos jornalistas, o primeiro-ministro retorquiu: "qual é a novidade?" Sim, qual é a novidade? "Não há novidade nenhuma", respondeu a si próprio o primeiro-ministro. E todos temos de concordar. Qual é a novidade? As pensões vão ser cortadas, qualquer que seja o modo como isso vai ser feito. Qual é a novidade? Não, o problema não é "deles", dra. Assunção Nicolau Santos 10:34 Sexta feira, 11 de abril de 2014 A presidente da Assembleia da República disse que se os militares da Associação 25 de Abril não forem ao Parlamento nas comemorações do aniversário dessa data "o problema é deles". A dra. Assunção Esteves está equivocada. O problema não é "deles". O problema é da senhora presidente da Assembleia da República que não quer ser incomodada com um discurso que extravase o que é normal entre os parlamentares da maioria e da oposição. O problema é da senhora presidente da Assembleia da República, que não tem um pingo de bom senso - porque, se tivesse, lembrar-se-ia que só se senta na cadeira onde se senta porque os militares que ela não quer ouvir abriram caminho para que tal fosse possível. O problema é da senhora presidente da Assembleia da República porque, se tivesse um pingo de bom senso, lembrar-se-ia que este ano se comemora uma data redonda, 40 anos, sobre o 25 de Abril de 1974, pelo que seria totalmente admissível que abrisse uma excepção e que, para além dos parlamentares, fosse dada voz aos militares que abriram caminho para que esta Assembleia da República existisse. O problema é da senhora presidente da Assembleia da República porque, se fosse minimamente agradecida, lembrar-se que a reforma que aufere por ter sido juíz do Tribunal Constitucional só é possível porque os militares que não quer ouvir abriram caminho para que tal fosse possível. Pensando melhor, contudo, talvez o problema não seja da senhora presidente da Assembleia da República. Talvez o problema seja do país que tem como segunda figura do Estado a dra. Assunção Esteves, que já demonstrou por várias vezes não ter um pingo de bom senso. E seguramente que essa tem de ser uma das qualidades exigidas para se ser a segunda figura do Estado português. O negócio da morte em Portugal Nicolau Santos 14:49 Quarta feira, 9 de abril de 2014 O preço médio de um funeral ronda, no nosso país, a módica quantia de 1500 euros. É claro que num momento de luto e dor, os familiares aceitam pagar esta quantia sem pestanejar. Por isso, o mercado da morte tem evoluído bem: diminuem as empresas, aumentam os proveitos. Em 2010, havia 1178 empresas a trabalhar no sector, que facturavam 179 milhões de euros. Nos dois anos a seguir os valores foram os seguintes: 1167 empresas e 180 milhões (2011); 1141 empresas e 189 milhões (2012). Ou seja, há concentração no sector. E como os resultados aumentam, isso quer dizer que em média, cada um dos operadores está agora a ganhar mais que em 2010. O que também quer dizer que, das duas uma: ou há mais gente a morrer ou os funerais estão mais caros. Ou podem ser mesmos as duas hipóteses. Certo é que se trata de um bom negócio. Os clientes pagam e não protestam. Talvez por isso as IPSS (instituições de solidariedade social) também querem entrar no negócio. Para quê, eis a questão. Com efeito, as funerárias são obrigadas, desde 2001, a terem no seu cardápio um fineral social que ronda os 400 euros. Por isso, coloca-se de novo a questão: o que querem as IPSS? Fazer funerais gratuitos? Ou serem fiunanciadas pelo Estado para executarem essas funções? É que, convém lembrar, as IPSS recebem todos os anos 1,2 mil milhões de euros (não, não estou enganado - são mesmo 1,2 mil milhões de euros) para desenvolver actividades de solidariedade social em nome do Estado. Digamos que não é pouco. E digamos que pouca gente sabe que as IPSS recebem esta verba para fazerem o que o Estado deveria fazer. Daí a estas actividades passarem a ter um teor vagamente mercantilista é um passo de anão. Agora as IPSS querem fazer funerais. Com um fim social, junto do público alvo das IPSS, dizem os seus responsáveis. Mas agora é que descobriram isso? Não morreu ninguém desse público alvo até agora? Ou morreu e não foi enterrado por falta de dinheiro dos familiares? Convenhamos que o intuito do Governo abrir o negócio dos funerais às IPSS (passe a piada de mau gosto) não cheira bem. As IPSS já são um lobby que faz enorme pressão sobre a área de solidariedade social dos Governos. Agora vai aumentar o seu poder. Esperemos que um dia destes não sejamos confrontados com a canalização de mais dinheiros públicos para as IPSS para desempenhar uma função que está assegurada pelo mercado. A vergonha dos 500 euros Nicolau Santos 15:17 Terça feira, 8 de abril de 2014 Um Governo que há três anos hesita em aumentar o salário mínimo de 485 euros para 500 euros - devia ter vergonha! Patrões de empresas que dizem que não podem pagar um salário mínimo de 500 euros - deviam ter vergonha! Empresas que só conseguem sobreviver se pagarem salários abaixo dos 500 euros - deviam ter vergonha! Um deputado da maioria que diz que o seu partido não quer salários baixos mas competitividade alta faz trocadilhos com as palavras - e devia ter vergonha! Um deputado da maioria que diz que para aumentar o salário mínimo é preciso pedir autorização prévia à troika não só se está a menorizar a si como ao Governo e ao país - e devia ter vergonha! Todos os parceiros da concertação social que andam há três anos a discutir o aumento do salário mínimo nacional em 15 euros - deviam ter vergonha! Um primeiro-ministro que antes considerava que quando o desemprego é muito elevado se deve baixar o salário mínimo e agora diz-se disposto a aumentar o salário mínimo apesar do desemprego continuar muito elevado - devia ter vergonha! Um primeiro-ministro que agora aceita discutir o aumento do salário mínimo mas com condições está no fundo a protelar a decisão e a encanar a perna à rã - e devia ter vergonha! Toda esta discussão envergonha o Governo, a classe política, a maioria e a oposição, os parceiros sociais, os cidadãos, o país! Um debate sobre um aumento de 15 euros que se arrasta há três anos relativo a um salário mínimo que é o mais baixo da Eurolândia é um enxovalho e uma vergonha para todos nós! Abriu outra vez a caça ao Constâncio Nicolau Santos 11:07 Terça feira, 1 de abril de 2014 Bastou Durão Barroso ter dito em entrevisto ao Expresso e à SIC que, quando era primeiro-ministro de Portugal, chamou três vezes Vítor Constâncio a São Bento, para "saber se aquilo que se "dizia do BPN era verdade", para se alvoraçarem de novo as almas que querem ver o ex-governador do Banco de Portugal condenado pelo caso BPN. E assim o deputado do PSD, Duarte Marques, enviou um requerimento ao actual governador do Banco de Portugal para saber se Constâncio "estava alertado para o caso há mais tempo do que se falou". Eu admito que duas comissões parlamentares de inquérito não tenham chegado para resolver a magna questão de saber exatamente em que dia e a que hora Vítor Constâncio soube que o BPN era um caso de polícia. Admito mesmo que Duarte Marques tenha ouvido e lido tudo o que lá foi dito, incluindo o questionário de mais de doze horas a que foi submetido Constâncio - e não tenha encontrado resposta para esta questão que tanto o angustia. Mas já me custa muito a perceber porque é que este aperto no coração que assola o deputado Duarte Marques não o leva a fazer outras perguntas. Por exemplo, será que o deputado Duarte Marques considera mais grave a actuação do polícia ou dos ladrões? Será que o deputado Duarte Marques se atiça contra Constâncio por este ser do PS e nada diz sobre o facto dos responsáveis do caso de polícia em que se tornou o BPN serem todos do PSD? Porque será que o deputado Duarte Marques não se indigna com a forma afável, quase galhofeira, com que Oliveira Costa foi recebido nas comissões parlamentares, ao contrário da agressividade com que Constâncio foi confrontado? Porque será que Duarte Marques não requere que Dias Loureiro seja ouvido no parlamento? Ou Joaquim Coimbra? Ou Rui Machete? Ou mesmo Cavaco Silva? Porque será que o deputado Duarte Marques não se indigna com o facto de estar a caminho a prescrição do processo contra Oliveira Costa? Não. Para o deputado Duarte Marques (e seguramente para o eurodeputado do CDS, Nuno Melo), o que importa é saber se Constâncio sabia ou não sabia do caso BPN, umas horas, uns dias ou uns meses antes do que disse. Isso é que é importante. Isso é que conta. Porque se isso for provado, o culpado de tudo o que se passou no BPN é de Constâncio. Os senhores Oliveira Costa, Caprichoso, Fantasia e todos os que fizeram negócios mentirosos com créditos que nunca pagaram do BPN (por acaso todos figuras gradas do cavaquismo) são uns santos e umas vítimas. Funcionasse a supervisão do Banco de Portugal e eles não teriam sido tentados pelo pecado da ganância. E assim, enquanto se crucifixa Constâncio, prescrevem os crimes dos que transfomaram o BPN numa colossal factura de mais de 6000 milhões de euros que os contribuintes portugueses andam a pagar com língua de palmo. O problema do deputado Duarte Marques é que estamos a empobrecer materialmente mas mantemos alguma sanidade mental. E que percebemos muito bem os objectivos que o deputado Duarte Marques pretende atingir. Mas, infelzimente para o deputado Duarte Marques, não se consegue tapar o sol com uma peneira. E só os tolos ficam a olhar para o dedo quando se aponta a lua. Cortes nas pensões acabam quando o Arouca for campeão. Três vezes seguidas Nicolau Santos 11:20 Sexta feira, 28 de março de 2014 Esta semana o país ficou a saber que nas Finanças se está a cogitar como será possível transformar em definitivos os cortes nas pensões que o primeiro-ministro, o vice-primeiro-ministro e a ministra das Finanças tem dito repetidamente serem temporários. Aliás, foi com este argumento - que os cortes seriam temporários - que o Tribunal Constitucional autorizou que os cortes fossem aplicados até ao final do programa de ajustamento a 17 de maio deste ano ou, no máximo, até 31 de dezembro de 2014. Mas como já se percebeu a redução da despesa pública tem sido conseguida até agora essencialmente pelo corte nos salários da Função Pública e nas pensões. Se forem levantados esses cortes, regressa o pecado consumista: ele serão os funcionários públicos a comprar roupa, sapatos novos e a jantar fora, os reformados a viajar e a dar dinheiro aos netos, que por sua vez irão comprar ténis e bermudas de marcas internacionais e, está-se mesmo a ver o que acontece: regressam de imediato os desequilíbrios financeiros que nos conduziram ao pedido de ajuda internacional. Como é óbvio, os nossos credores não vão gostar que tudo volte à estaca zero. O Governo não vai gostar de perceber que afinal todo o seu esforço para mudar a alma dos portugueses foi em vão. E o povo não vai gostar de perceber que nunca mais vai ver as pensões, reformas e salários que lhes foram tirados. Ora, para transformar os cortes temporários em definitivos o Governo quer indexá-los à evolução da demografia e da economia. São dois enormes riscos. No caso da demografia, o dr. Passos já anunciou que todos os que emigraram podem desde já voltar porque o país está muito melhor. Se isso acontecer, alguns virão já com filhos mas outros começarão a procriar com grande afinco dada a rede social que o Estado português lhes oferece. E isso fará crescer a população e irá inflacionar as pensões. Por sua vez, ninguém garante que a economia, em vez de crescimentos abaixo de 2% até 2016, não toma o freio nos dentes e não desata a crescer a taxas de 4% ou mais - o que inflacionará de novo as pensões. Penso que é mais seguro utilizar outro indexante, que seja mais claro para todos e menos passível de conduzir aos resultados que o Governo não quer. Assim, proponho que as pensões fiquem congeladas enquanto o Arouca estiver no campeonato principal de futebol do país. Quando cair de divisão, as pensões descem. E quanto o Arouca for campeão, então finalmente as pensões subirão. Mas só se o Arouca for campeão três vezes e todas seguidas. Assim toda a gente percebe quando é que serão repostas as pensões que foram tenporariamente cortadas. Livra, dra. Teodora! Que raio de ideia! Nicolau Santos 11:08 Quarta feira, 26 de março de 2014 Teodora Cardoso é seguramente das melhores economistas do país, com uma larguíssima experiência em matéria de Finanças Públicas. Participou nas duas equipas que negociaram os anteriores acordos com o Fundo Monetário Internacional, em 78-79 e 83-85. E atualmente é presidente do Conselho de Finanças Públicas. Ora Teodora Cardoso, insuspeita de ser apoiante deste ou de qualquer Governo, disse nas jornadas parlamentares do PSD que seria interessante taxar os levantamentos sobre as contas-poupanças de todos os que recebam os ordenados por essa via. Eu confesso que fico estupefacto. Depois do enorme aumento de impostos decidido por Vítor Gaspar, que entrou em vigor em 2013 e continua a fazer-se sentir de forma muito pesada (só nos dois primeiros meses do ano, o IRS voltou a crescer 14,7%!); depois de vários indicadores mostrarem que estamos no limite (ou já o ultrapassámos mesmo) do esforço fiscal das famílias; lançar um novo imposto não só não faz sentido como pode agravar o colapso em matéria de rendimentos em que se encontram muitas famílias, que as tem levado a deixar de pagar ao fisco ou os empréstimos contraídos junto da banca. Acresce que há muito que os clientes bancários e as organizações de defesa dos consumidores travam uma batalha contra a banca no sentido de evitar que esta cobre comissões pelos levantamentos nas caixas multibanco. Se a ideia de Teodora Cardoso fosse avante, claro que também esta iria. Por isso, não há outra maneira para qualificar esta proposta senão com esta frase: "Livra, dra. Teodora! Que raio de ideia!" Não podiam comprar o Porsche mais tarde? Nicolau Santos 13:57 Segunda feira, 17 de março de 2014 Portugal está no fim de um programa de ajustamento fortemente penalizador para a generalidade da população. 660 mil famílias deixaram de pagar os seus créditos à banca. Há mais de 2,5 milhões de concidadãos que vivem no limiar da pobreza. O subsídio de desemprego, o abono de família, as pensões e reformas foram drasticamente reduzidos. Mais de 700 mil pessoas não têm trabalho. Tudo parece correr mal na frente interna. Tudo? Seguramente que não. A venda de automóveis de luxo em Portugal vai de vento em pôpa, ainda sem a Factura da Sorte do fisco ter começado a oferecer carros topo de gama a quem pedir facturas, criando assim mais excêntricos. Com efeito, o ano passado houve 300 cidadãos que compraram carros em que um novo jogo de pneus custa mais que o salário mínimo acumulado num ano: três Bentley, um Lamborghini, nove Ferraris, 14 Aston Martin e 273 Porsches. Se isto aconteceu num ano em que a recessão terá sido de 1,6%, sucedendo a outros dois anos de quebra severa do produto interno bruto do país, o que não se irá passar neste ano em finalmente a economia volta a crescer? A resposta é óbvia: muito mais carros de luxo vão ser vendidos no mercado português. Para já, nos dois primeiros meses do ano, a Porsche já vendeu 43 carros da marca, mais 53,6% que no mesmo período do ano anterior. A Ferrari vendeu três carros este ano contra nenhum no mesmo período de 2013. E as outras marcas de luxo vão pelo mesmo caminho. Ora partindo do princípio que todos os compradores são portugueses, a pergunta que se faz é se não podiam esperar um pouco mais para comprar o Porschezinho? Se não conseguiriam viver mais, já não digo uns anos mas uns meses, antes de adquirirem o carrinho? Se não conseguiam circular nem mais um minuto com o anterior modelo? Ou se nunca lhes passou pela cabeça ajudar uma instituição de solidariedade social? Ou investir para criar emprego? Ou ao menos reforçar o capital de empresas? É que num país dizimado pelo programa de ajustamento um pouco de pudor talvez ajudasse a suportar a dor e passasse a ideia que, apesar de tudo, os sacrifícios estão a ser mais ou menos bem distribuídos. Assim não. Assim fica-se com a ideia que há muitos que estão a pagar com lingua de palmo este ajustamento - mas há uma minoria que continua a escapar. E que não tem discrição nem vergonha. Não é uma elite na miséria. Mas é uma miséria de elite. 1 | 2 | 3 | 4 | 5 SEGUINTE Pág. 1 de 9 Ver 10, 20, 50 resultados por pág.

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Na última entrevista que deu à "Visão", disse que "a Portugal está a faltar muita poesia. Não enche a barriga, mas pode ajudar a encher o espírito". Como grande poeta do amor, eis um dos seus mais espantosos poemas de amor.

No amor, regras que contem,

Há uma só que não é vã:

Amar hoje mais do que ontem

Mas bem menos que amanhã

E eu num fado que isso guarde

Também acrescentaria

Amo-te mais cada tarde

Do que amei nascendo o dia

E cada vez muito mais

Do que antes, mas tais requintes

São muito menos, ver vais

Do que nos dias seguintes

Com resultados tão plenos

Como somar dois e dois:

Muito mais e muito menos

Conforme "antes" e "depois"

No amor, regras que contem

Há uma só que não é vã:

Amar hoje mais do que ontem

Mas bem menos que amanhã

Depois da alma, agora querem tratar-nos do corpo Nicolau Santos 12:18 Quinta feira, 17 de abril de 2014 Quando chegou ao poder, Margareth Thatcher disse que o seu programa não visava apenas mudar a economia britânica; apontava também para mudar a alma dos ingleses. O ajustamento português têm exatamente as mesmas características. Para além da redução drástica do Estado social; para além da diminuição dramática do papel do Estado na economia; para além da passagem do Estado para uma função meramente assistencialista; também fomos fustigados com sucessivas declarações destinadas a culpar-nos dos nossos supostos excessos consumistas e por vivermos acima das nossas possibilidades. O objectivo é claro: instigar-nos um sentimento de culpa judaico-cristão, levando-nos a crer que a responsabilidade da crise é nossa e só nossa - e que portanto temos de expirar esses pecados. Mas a ideologia subjacente a este ajustamento não se quer ficar por aqui: depois de nos livrar dos pecados da alma quer agora libertar-nos dos pecados do corpo. E assim surge a genial ideia de aplicar taxas especiais não apenas ao tabaco e ao álcool, cujos impostos serão de novo agravados, mas agora também a produtos alimentares com excesso de sal e de açúcar. "Queremos melhorar os hábitos de consumo das famílias", disse o secretário de Estado da Saúde, Leal da Costa. E como se faz isso? Com campanhas pedagógicas? Com a proibição desses produtos? Com a limitação do sal e açúcar qiue tais produtos podem conter? Não, porque isso dá muito trabalho e leva tempo. Com impostos é que se vai lá! E quem define os tais níveis de sal e de açúcar nocivos para a saúde? O Ministério da Saúde, claro, ou um grupo criado para o efeito. Ou então copia-se o que os norte-americanos já fizeram. E eis como a lógica fiscal e o fundamentalismo higiénico se conjugam para, depois de uma alma nova, passarmos também a ter um corpo renovado! É oficial: no final deste ajustamento seremos um povo muito mais são de corpo e espírito. Qual é a novidade? 13:50 Segunda feira, 14 de abril de 2014 Veio o secretário de Estado, que tinha convidado vários jornalistas para lhes dizer, em off, que o cálculo das pensões ia passar a ser indexado à evolução da economia e da demografia, e disse na Assembleia da República: "Roma lucuta, causa finita" (faltou-lhe o "est" mas isso agora não interessa nada). Queria dizer o secretário de Estado quis dizer que se o primeiro-ministro tinha dito que se tratava de uma "especulação" e que não havia qualquer decisão sobre o tema que teria de ser discutido em Conselho de Ministros - então essa era a verdade oficial. O chefe falou, está falado e encerrado o assunto. A propósito do mesmo tema veio o dr. Marques Guedes e, sempre com excelente postura, falou em manipulação. Veio o dr. Portas e, franzindo o sobrolho, gesto que faz com bastante sucesso, disse tratar-se de um erro. Veio o dr. Poiares Maduro e falou tristemente num problema de comunicação do Governo. Não havia nada, portanto. Mas eis que a Comissão Europeia pelos vistos elaborou um documentozinho, supõe-se que em articulação com o Governo, onde se diz que o cálculo das pensões passará a ser feito de acordo com a evolução da demografia e da economia. Interrogado pelos jornalistas, o primeiro-ministro retorquiu: "qual é a novidade?" Sim, qual é a novidade? "Não há novidade nenhuma", respondeu a si próprio o primeiro-ministro. E todos temos de concordar. Qual é a novidade? As pensões vão ser cortadas, qualquer que seja o modo como isso vai ser feito. Qual é a novidade? Não, o problema não é "deles", dra. Assunção Nicolau Santos 10:34 Sexta feira, 11 de abril de 2014 A presidente da Assembleia da República disse que se os militares da Associação 25 de Abril não forem ao Parlamento nas comemorações do aniversário dessa data "o problema é deles". A dra. Assunção Esteves está equivocada. O problema não é "deles". O problema é da senhora presidente da Assembleia da República que não quer ser incomodada com um discurso que extravase o que é normal entre os parlamentares da maioria e da oposição. O problema é da senhora presidente da Assembleia da República, que não tem um pingo de bom senso - porque, se tivesse, lembrar-se-ia que só se senta na cadeira onde se senta porque os militares que ela não quer ouvir abriram caminho para que tal fosse possível. O problema é da senhora presidente da Assembleia da República porque, se tivesse um pingo de bom senso, lembrar-se-ia que este ano se comemora uma data redonda, 40 anos, sobre o 25 de Abril de 1974, pelo que seria totalmente admissível que abrisse uma excepção e que, para além dos parlamentares, fosse dada voz aos militares que abriram caminho para que esta Assembleia da República existisse. O problema é da senhora presidente da Assembleia da República porque, se fosse minimamente agradecida, lembrar-se que a reforma que aufere por ter sido juíz do Tribunal Constitucional só é possível porque os militares que não quer ouvir abriram caminho para que tal fosse possível. Pensando melhor, contudo, talvez o problema não seja da senhora presidente da Assembleia da República. Talvez o problema seja do país que tem como segunda figura do Estado a dra. Assunção Esteves, que já demonstrou por várias vezes não ter um pingo de bom senso. E seguramente que essa tem de ser uma das qualidades exigidas para se ser a segunda figura do Estado português. O negócio da morte em Portugal Nicolau Santos 14:49 Quarta feira, 9 de abril de 2014 O preço médio de um funeral ronda, no nosso país, a módica quantia de 1500 euros. É claro que num momento de luto e dor, os familiares aceitam pagar esta quantia sem pestanejar. Por isso, o mercado da morte tem evoluído bem: diminuem as empresas, aumentam os proveitos. Em 2010, havia 1178 empresas a trabalhar no sector, que facturavam 179 milhões de euros. Nos dois anos a seguir os valores foram os seguintes: 1167 empresas e 180 milhões (2011); 1141 empresas e 189 milhões (2012). Ou seja, há concentração no sector. E como os resultados aumentam, isso quer dizer que em média, cada um dos operadores está agora a ganhar mais que em 2010. O que também quer dizer que, das duas uma: ou há mais gente a morrer ou os funerais estão mais caros. Ou podem ser mesmos as duas hipóteses. Certo é que se trata de um bom negócio. Os clientes pagam e não protestam. Talvez por isso as IPSS (instituições de solidariedade social) também querem entrar no negócio. Para quê, eis a questão. Com efeito, as funerárias são obrigadas, desde 2001, a terem no seu cardápio um fineral social que ronda os 400 euros. Por isso, coloca-se de novo a questão: o que querem as IPSS? Fazer funerais gratuitos? Ou serem fiunanciadas pelo Estado para executarem essas funções? É que, convém lembrar, as IPSS recebem todos os anos 1,2 mil milhões de euros (não, não estou enganado - são mesmo 1,2 mil milhões de euros) para desenvolver actividades de solidariedade social em nome do Estado. Digamos que não é pouco. E digamos que pouca gente sabe que as IPSS recebem esta verba para fazerem o que o Estado deveria fazer. Daí a estas actividades passarem a ter um teor vagamente mercantilista é um passo de anão. Agora as IPSS querem fazer funerais. Com um fim social, junto do público alvo das IPSS, dizem os seus responsáveis. Mas agora é que descobriram isso? Não morreu ninguém desse público alvo até agora? Ou morreu e não foi enterrado por falta de dinheiro dos familiares? Convenhamos que o intuito do Governo abrir o negócio dos funerais às IPSS (passe a piada de mau gosto) não cheira bem. As IPSS já são um lobby que faz enorme pressão sobre a área de solidariedade social dos Governos. Agora vai aumentar o seu poder. Esperemos que um dia destes não sejamos confrontados com a canalização de mais dinheiros públicos para as IPSS para desempenhar uma função que está assegurada pelo mercado. A vergonha dos 500 euros Nicolau Santos 15:17 Terça feira, 8 de abril de 2014 Um Governo que há três anos hesita em aumentar o salário mínimo de 485 euros para 500 euros - devia ter vergonha! Patrões de empresas que dizem que não podem pagar um salário mínimo de 500 euros - deviam ter vergonha! Empresas que só conseguem sobreviver se pagarem salários abaixo dos 500 euros - deviam ter vergonha! Um deputado da maioria que diz que o seu partido não quer salários baixos mas competitividade alta faz trocadilhos com as palavras - e devia ter vergonha! Um deputado da maioria que diz que para aumentar o salário mínimo é preciso pedir autorização prévia à troika não só se está a menorizar a si como ao Governo e ao país - e devia ter vergonha! Todos os parceiros da concertação social que andam há três anos a discutir o aumento do salário mínimo nacional em 15 euros - deviam ter vergonha! Um primeiro-ministro que antes considerava que quando o desemprego é muito elevado se deve baixar o salário mínimo e agora diz-se disposto a aumentar o salário mínimo apesar do desemprego continuar muito elevado - devia ter vergonha! Um primeiro-ministro que agora aceita discutir o aumento do salário mínimo mas com condições está no fundo a protelar a decisão e a encanar a perna à rã - e devia ter vergonha! Toda esta discussão envergonha o Governo, a classe política, a maioria e a oposição, os parceiros sociais, os cidadãos, o país! Um debate sobre um aumento de 15 euros que se arrasta há três anos relativo a um salário mínimo que é o mais baixo da Eurolândia é um enxovalho e uma vergonha para todos nós! Abriu outra vez a caça ao Constâncio Nicolau Santos 11:07 Terça feira, 1 de abril de 2014 Bastou Durão Barroso ter dito em entrevisto ao Expresso e à SIC que, quando era primeiro-ministro de Portugal, chamou três vezes Vítor Constâncio a São Bento, para "saber se aquilo que se "dizia do BPN era verdade", para se alvoraçarem de novo as almas que querem ver o ex-governador do Banco de Portugal condenado pelo caso BPN. E assim o deputado do PSD, Duarte Marques, enviou um requerimento ao actual governador do Banco de Portugal para saber se Constâncio "estava alertado para o caso há mais tempo do que se falou". Eu admito que duas comissões parlamentares de inquérito não tenham chegado para resolver a magna questão de saber exatamente em que dia e a que hora Vítor Constâncio soube que o BPN era um caso de polícia. Admito mesmo que Duarte Marques tenha ouvido e lido tudo o que lá foi dito, incluindo o questionário de mais de doze horas a que foi submetido Constâncio - e não tenha encontrado resposta para esta questão que tanto o angustia. Mas já me custa muito a perceber porque é que este aperto no coração que assola o deputado Duarte Marques não o leva a fazer outras perguntas. Por exemplo, será que o deputado Duarte Marques considera mais grave a actuação do polícia ou dos ladrões? Será que o deputado Duarte Marques se atiça contra Constâncio por este ser do PS e nada diz sobre o facto dos responsáveis do caso de polícia em que se tornou o BPN serem todos do PSD? Porque será que o deputado Duarte Marques não se indigna com a forma afável, quase galhofeira, com que Oliveira Costa foi recebido nas comissões parlamentares, ao contrário da agressividade com que Constâncio foi confrontado? Porque será que Duarte Marques não requere que Dias Loureiro seja ouvido no parlamento? Ou Joaquim Coimbra? Ou Rui Machete? Ou mesmo Cavaco Silva? Porque será que o deputado Duarte Marques não se indigna com o facto de estar a caminho a prescrição do processo contra Oliveira Costa? Não. Para o deputado Duarte Marques (e seguramente para o eurodeputado do CDS, Nuno Melo), o que importa é saber se Constâncio sabia ou não sabia do caso BPN, umas horas, uns dias ou uns meses antes do que disse. Isso é que é importante. Isso é que conta. Porque se isso for provado, o culpado de tudo o que se passou no BPN é de Constâncio. Os senhores Oliveira Costa, Caprichoso, Fantasia e todos os que fizeram negócios mentirosos com créditos que nunca pagaram do BPN (por acaso todos figuras gradas do cavaquismo) são uns santos e umas vítimas. Funcionasse a supervisão do Banco de Portugal e eles não teriam sido tentados pelo pecado da ganância. E assim, enquanto se crucifixa Constâncio, prescrevem os crimes dos que transfomaram o BPN numa colossal factura de mais de 6000 milhões de euros que os contribuintes portugueses andam a pagar com língua de palmo. O problema do deputado Duarte Marques é que estamos a empobrecer materialmente mas mantemos alguma sanidade mental. E que percebemos muito bem os objectivos que o deputado Duarte Marques pretende atingir. Mas, infelzimente para o deputado Duarte Marques, não se consegue tapar o sol com uma peneira. E só os tolos ficam a olhar para o dedo quando se aponta a lua. Cortes nas pensões acabam quando o Arouca for campeão. Três vezes seguidas Nicolau Santos 11:20 Sexta feira, 28 de março de 2014 Esta semana o país ficou a saber que nas Finanças se está a cogitar como será possível transformar em definitivos os cortes nas pensões que o primeiro-ministro, o vice-primeiro-ministro e a ministra das Finanças tem dito repetidamente serem temporários. Aliás, foi com este argumento - que os cortes seriam temporários - que o Tribunal Constitucional autorizou que os cortes fossem aplicados até ao final do programa de ajustamento a 17 de maio deste ano ou, no máximo, até 31 de dezembro de 2014. Mas como já se percebeu a redução da despesa pública tem sido conseguida até agora essencialmente pelo corte nos salários da Função Pública e nas pensões. Se forem levantados esses cortes, regressa o pecado consumista: ele serão os funcionários públicos a comprar roupa, sapatos novos e a jantar fora, os reformados a viajar e a dar dinheiro aos netos, que por sua vez irão comprar ténis e bermudas de marcas internacionais e, está-se mesmo a ver o que acontece: regressam de imediato os desequilíbrios financeiros que nos conduziram ao pedido de ajuda internacional. Como é óbvio, os nossos credores não vão gostar que tudo volte à estaca zero. O Governo não vai gostar de perceber que afinal todo o seu esforço para mudar a alma dos portugueses foi em vão. E o povo não vai gostar de perceber que nunca mais vai ver as pensões, reformas e salários que lhes foram tirados. Ora, para transformar os cortes temporários em definitivos o Governo quer indexá-los à evolução da demografia e da economia. São dois enormes riscos. No caso da demografia, o dr. Passos já anunciou que todos os que emigraram podem desde já voltar porque o país está muito melhor. Se isso acontecer, alguns virão já com filhos mas outros começarão a procriar com grande afinco dada a rede social que o Estado português lhes oferece. E isso fará crescer a população e irá inflacionar as pensões. Por sua vez, ninguém garante que a economia, em vez de crescimentos abaixo de 2% até 2016, não toma o freio nos dentes e não desata a crescer a taxas de 4% ou mais - o que inflacionará de novo as pensões. Penso que é mais seguro utilizar outro indexante, que seja mais claro para todos e menos passível de conduzir aos resultados que o Governo não quer. Assim, proponho que as pensões fiquem congeladas enquanto o Arouca estiver no campeonato principal de futebol do país. Quando cair de divisão, as pensões descem. E quanto o Arouca for campeão, então finalmente as pensões subirão. Mas só se o Arouca for campeão três vezes e todas seguidas. Assim toda a gente percebe quando é que serão repostas as pensões que foram tenporariamente cortadas. Livra, dra. Teodora! Que raio de ideia! Nicolau Santos 11:08 Quarta feira, 26 de março de 2014 Teodora Cardoso é seguramente das melhores economistas do país, com uma larguíssima experiência em matéria de Finanças Públicas. Participou nas duas equipas que negociaram os anteriores acordos com o Fundo Monetário Internacional, em 78-79 e 83-85. E atualmente é presidente do Conselho de Finanças Públicas. Ora Teodora Cardoso, insuspeita de ser apoiante deste ou de qualquer Governo, disse nas jornadas parlamentares do PSD que seria interessante taxar os levantamentos sobre as contas-poupanças de todos os que recebam os ordenados por essa via. Eu confesso que fico estupefacto. Depois do enorme aumento de impostos decidido por Vítor Gaspar, que entrou em vigor em 2013 e continua a fazer-se sentir de forma muito pesada (só nos dois primeiros meses do ano, o IRS voltou a crescer 14,7%!); depois de vários indicadores mostrarem que estamos no limite (ou já o ultrapassámos mesmo) do esforço fiscal das famílias; lançar um novo imposto não só não faz sentido como pode agravar o colapso em matéria de rendimentos em que se encontram muitas famílias, que as tem levado a deixar de pagar ao fisco ou os empréstimos contraídos junto da banca. Acresce que há muito que os clientes bancários e as organizações de defesa dos consumidores travam uma batalha contra a banca no sentido de evitar que esta cobre comissões pelos levantamentos nas caixas multibanco. Se a ideia de Teodora Cardoso fosse avante, claro que também esta iria. Por isso, não há outra maneira para qualificar esta proposta senão com esta frase: "Livra, dra. Teodora! Que raio de ideia!" Não podiam comprar o Porsche mais tarde? Nicolau Santos 13:57 Segunda feira, 17 de março de 2014 Portugal está no fim de um programa de ajustamento fortemente penalizador para a generalidade da população. 660 mil famílias deixaram de pagar os seus créditos à banca. Há mais de 2,5 milhões de concidadãos que vivem no limiar da pobreza. O subsídio de desemprego, o abono de família, as pensões e reformas foram drasticamente reduzidos. Mais de 700 mil pessoas não têm trabalho. Tudo parece correr mal na frente interna. Tudo? Seguramente que não. A venda de automóveis de luxo em Portugal vai de vento em pôpa, ainda sem a Factura da Sorte do fisco ter começado a oferecer carros topo de gama a quem pedir facturas, criando assim mais excêntricos. Com efeito, o ano passado houve 300 cidadãos que compraram carros em que um novo jogo de pneus custa mais que o salário mínimo acumulado num ano: três Bentley, um Lamborghini, nove Ferraris, 14 Aston Martin e 273 Porsches. Se isto aconteceu num ano em que a recessão terá sido de 1,6%, sucedendo a outros dois anos de quebra severa do produto interno bruto do país, o que não se irá passar neste ano em finalmente a economia volta a crescer? A resposta é óbvia: muito mais carros de luxo vão ser vendidos no mercado português. Para já, nos dois primeiros meses do ano, a Porsche já vendeu 43 carros da marca, mais 53,6% que no mesmo período do ano anterior. A Ferrari vendeu três carros este ano contra nenhum no mesmo período de 2013. E as outras marcas de luxo vão pelo mesmo caminho. Ora partindo do princípio que todos os compradores são portugueses, a pergunta que se faz é se não podiam esperar um pouco mais para comprar o Porschezinho? Se não conseguiriam viver mais, já não digo uns anos mas uns meses, antes de adquirirem o carrinho? Se não conseguiam circular nem mais um minuto com o anterior modelo? Ou se nunca lhes passou pela cabeça ajudar uma instituição de solidariedade social? Ou investir para criar emprego? Ou ao menos reforçar o capital de empresas? É que num país dizimado pelo programa de ajustamento um pouco de pudor talvez ajudasse a suportar a dor e passasse a ideia que, apesar de tudo, os sacrifícios estão a ser mais ou menos bem distribuídos. Assim não. Assim fica-se com a ideia que há muitos que estão a pagar com lingua de palmo este ajustamento - mas há uma minoria que continua a escapar. E que não tem discrição nem vergonha. Não é uma elite na miséria. Mas é uma miséria de elite. 1 | 2 | 3 | 4 | 5 SEGUINTE Pág. 1 de 9 Ver 10, 20, 50 resultados por pág.

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