Opinião de Duarte Marques

05-05-2015
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Como há ataques que são de caráter e não políticos, há respostas que não podem deixar de ser dadas, pois quem não se sente não é filho de boa gente. Ignorar poderia significar aceitar.

O que Francisco Louçã fez na semana passada nas páginas do Público é demasiado grave. É um exercício desonesto, desleal, uma verdadeira manobra covarde de quem não tem mais argumentos para esgrimir. Podem chamar-me tudo, mas associarem-me a “racismo”, é intolerável. É não ter a mínima noção sobre mim, sobre o que penso ou sobre o meu percurso em termos de cooperação ou ajuda ao desenvolvimento em países africanos, sempre, repito sempre, voluntariamente e sem tentar tirar daí qualquer benefício ou proveito político pessoal, o que até seria bastante fácil. Quem me conhece sabe bem que há duas coisas que me metem nojo: o racismo e a corrupção.

Pretender que seja "amigo" ou admirador de um autor que citei, designadamente a frase “PS recupera Excel de Gaspar”, e anunciar-me como subscritor ou cúmplice das maiores barbaridades que esse seu colega de formação e profissão proferiu é uma verdadeira manipulação covarde (canalha). Essa atitude não seria de esperar vinda de alguém que tanto se arroga como exemplo, inspirador da moral e da ética em Portugal.

Jorge de Sena entra em “cena”

No artigo que assina, talvez por falta de outros argumentos, Francisco Louçã tenta passar a imagem de que partilho das mesmas ideias de caráter racista, xenófobo e irresponsável do autor. Nada mais falso. É tão lamentável o exercício que Louçã fez como os disparates que este professor escreveu sobre outros assuntos entretanto tornados públicos. Mas mesmo isso não lhe tira o direito a acertar, como recorda o grande Jorge de Sena na “Homenagem a Tomás Antonio Gonzaga”

Gonzaga: podias não ter dito mais nada,

não ter escrito senão insuportáveis versos

de um árcade pedante, numa língua bífida

para o coloquial e o latim às avessas.

Mas uma vez disseste:

“eu tenho um coração maior que o mundo”.

Pouco importa em que circunstâncias o disseste:

Um coração maior que o mundo —

uma das mais raras coisas

que um poeta disse.

Talvez que a tenhas copiado

de algum velho clássico. Mas como

a tu disseste, Gonzaga! Por certo

que o teu coração era maior que o mundo:

nem pátrias nem Marílias te bastavam.

(Ainda que em Moçambique, como Rimbaud na Etiópia, engordasses depois vendendo escravos).

Será Louçã cúmplice de um líder sanguinário? Não.

Fazer de mim “co-autor” moral dessas frases é tão desonesto como se eu dissesse que Louçã é um sanguinário apenas porque segue Trotsky, partilha das suas ideias e das suas opções políticas. Eu, ao contrário de Louçã, não sigo nenhum dos dois.

A estratégia de Louçã permite-me usar alguns silogismos que este bem conhecerá e que me fazem recordar a estratégia por detrás de algumas das suas teses, mas que aplicadas ao próprio terão menos graça. Por exemplo: qualquer professor de economia arrisca dizer asneiras. Francisco é professor de economia. Logo, Francisco diz asneiras. Ou então: Francisco é professor de economia. Cosme é professor de Economia. Logo, Francisco é o Cosme. Provavelmente Louçã terá muito mais leituras em comum com o tal Cosme do que eu, pois são colegas e eu do Cosme só li mesmo aquela “malfadada” frase. Terá sido a primeira e a última.

Seria desonesto da minha parte, usando a mesma estratégia do puritano Louçã, se eu pegasse em algumas pérolas de Trotsky e dissesse que o querido eterno líder do Bloco também considera que “não existem absolutamente regras de conduta, seja em paz ou na guerra. Tudo depende das circunstâncias”. Ou indo mais longe do que Manuela Ferreira Leite e dizer que o “Xico” concorda com o que Lev disse “há limites para aplicar métodos democráticos”. Ou recorrer a esta verdadeira alegoria da democracia cidadã, onde o debate profundo assenta como pilar, para recordar mais este notável contributo de Trotsky “Se tivéssemos mais tempo para discussão teríamos também cometido mais erros.” Seria ainda pior se eu atribuísse a Louçã a co-autoria moral de mais este hino à violência frequentemente atribuído a Lev “sob todas as condições, a violência bem organizada parece-me sempre a distância mais curta entre dois pontos”. Segundo Trotsky o regime ideal para os pobres é a ditadura

Como corolário do exercício de manipulação que acabei de fazer recordo mais esta pérola do inspirador de Louçã, o querido Lev Trotsky, “o regime democrático é o mais aristocrático de todos. Logo só é possível a uma nação rica”. Ou seja, seguindo o “método Louçã” diria que para o Francisco a democracia deve existir apenas para os ricos. Para os pobres Louçã considera preferível a ditadura.

Por falar em memória, há uma coisa que garanto: nunca cometerei o erro de Louçã de ver os outros à minha imagem. Jamais diria que um líder partidário não sabe o que é ter filhos porque nunca os teve [apenas para recordar o ataque vil que fez a Paulo Portas].

Gostaria sinceramente de saber, e confirmar, o que realmente já fez Francisco Louçã, para além de discursos radicais e profissões de fé teleevangelistas, para ajudar os milhões de africanos que vivem na pobreza, cá e nos seus países de origem. Saberá Louçã o desespero que é, em pleno coração da África e como reconhecimento do nosso trabalho, ser obrigado a aceitar como oferta uma galinha, sabendo que é a única numa aldeia de 500 habitantes, e não poder recusar porque isso significaria para eles a maior desonra a toda uma comunidade?

Fica claro que há uma grande diferença entre fazedores de opinião e manipuladores de opinião. Mesmo em política não vale tudo.

ps1: Não confundo o Bloco com Louçã, tal como acho que Louçã não é o Bloco. Também não aplico o método Louçã ao Bloco. No Bloco não são todos manipuladores como Louçã. Tenho muito respeito e consideração, política e pessoal, por pessoas como o João Semedo, Marisa Matias, a Joana e a Mariana Mortágua, o Pedro Filipe Soares, a Mariana Aiveca ou o Luís Fazenda.

Ps2: Francisco Trotskã era o nome de Francisco Louçã, numa clara alusão ao seu passado reconhecidamente trotskista, num dos mais brilhantes programas de humor político que passou pela televisão portuguesa, infelizmente já terminado.

Como há ataques que são de caráter e não políticos, há respostas que não podem deixar de ser dadas, pois quem não se sente não é filho de boa gente. Ignorar poderia significar aceitar.

O que Francisco Louçã fez na semana passada nas páginas do Público é demasiado grave. É um exercício desonesto, desleal, uma verdadeira manobra covarde de quem não tem mais argumentos para esgrimir. Podem chamar-me tudo, mas associarem-me a “racismo”, é intolerável. É não ter a mínima noção sobre mim, sobre o que penso ou sobre o meu percurso em termos de cooperação ou ajuda ao desenvolvimento em países africanos, sempre, repito sempre, voluntariamente e sem tentar tirar daí qualquer benefício ou proveito político pessoal, o que até seria bastante fácil. Quem me conhece sabe bem que há duas coisas que me metem nojo: o racismo e a corrupção.

Pretender que seja "amigo" ou admirador de um autor que citei, designadamente a frase “PS recupera Excel de Gaspar”, e anunciar-me como subscritor ou cúmplice das maiores barbaridades que esse seu colega de formação e profissão proferiu é uma verdadeira manipulação covarde (canalha). Essa atitude não seria de esperar vinda de alguém que tanto se arroga como exemplo, inspirador da moral e da ética em Portugal.

Jorge de Sena entra em “cena”

No artigo que assina, talvez por falta de outros argumentos, Francisco Louçã tenta passar a imagem de que partilho das mesmas ideias de caráter racista, xenófobo e irresponsável do autor. Nada mais falso. É tão lamentável o exercício que Louçã fez como os disparates que este professor escreveu sobre outros assuntos entretanto tornados públicos. Mas mesmo isso não lhe tira o direito a acertar, como recorda o grande Jorge de Sena na “Homenagem a Tomás Antonio Gonzaga”

Gonzaga: podias não ter dito mais nada,

não ter escrito senão insuportáveis versos

de um árcade pedante, numa língua bífida

para o coloquial e o latim às avessas.

Mas uma vez disseste:

“eu tenho um coração maior que o mundo”.

Pouco importa em que circunstâncias o disseste:

Um coração maior que o mundo —

uma das mais raras coisas

que um poeta disse.

Talvez que a tenhas copiado

de algum velho clássico. Mas como

a tu disseste, Gonzaga! Por certo

que o teu coração era maior que o mundo:

nem pátrias nem Marílias te bastavam.

(Ainda que em Moçambique, como Rimbaud na Etiópia, engordasses depois vendendo escravos).

Será Louçã cúmplice de um líder sanguinário? Não.

Fazer de mim “co-autor” moral dessas frases é tão desonesto como se eu dissesse que Louçã é um sanguinário apenas porque segue Trotsky, partilha das suas ideias e das suas opções políticas. Eu, ao contrário de Louçã, não sigo nenhum dos dois.

A estratégia de Louçã permite-me usar alguns silogismos que este bem conhecerá e que me fazem recordar a estratégia por detrás de algumas das suas teses, mas que aplicadas ao próprio terão menos graça. Por exemplo: qualquer professor de economia arrisca dizer asneiras. Francisco é professor de economia. Logo, Francisco diz asneiras. Ou então: Francisco é professor de economia. Cosme é professor de Economia. Logo, Francisco é o Cosme. Provavelmente Louçã terá muito mais leituras em comum com o tal Cosme do que eu, pois são colegas e eu do Cosme só li mesmo aquela “malfadada” frase. Terá sido a primeira e a última.

Seria desonesto da minha parte, usando a mesma estratégia do puritano Louçã, se eu pegasse em algumas pérolas de Trotsky e dissesse que o querido eterno líder do Bloco também considera que “não existem absolutamente regras de conduta, seja em paz ou na guerra. Tudo depende das circunstâncias”. Ou indo mais longe do que Manuela Ferreira Leite e dizer que o “Xico” concorda com o que Lev disse “há limites para aplicar métodos democráticos”. Ou recorrer a esta verdadeira alegoria da democracia cidadã, onde o debate profundo assenta como pilar, para recordar mais este notável contributo de Trotsky “Se tivéssemos mais tempo para discussão teríamos também cometido mais erros.” Seria ainda pior se eu atribuísse a Louçã a co-autoria moral de mais este hino à violência frequentemente atribuído a Lev “sob todas as condições, a violência bem organizada parece-me sempre a distância mais curta entre dois pontos”. Segundo Trotsky o regime ideal para os pobres é a ditadura

Como corolário do exercício de manipulação que acabei de fazer recordo mais esta pérola do inspirador de Louçã, o querido Lev Trotsky, “o regime democrático é o mais aristocrático de todos. Logo só é possível a uma nação rica”. Ou seja, seguindo o “método Louçã” diria que para o Francisco a democracia deve existir apenas para os ricos. Para os pobres Louçã considera preferível a ditadura.

Por falar em memória, há uma coisa que garanto: nunca cometerei o erro de Louçã de ver os outros à minha imagem. Jamais diria que um líder partidário não sabe o que é ter filhos porque nunca os teve [apenas para recordar o ataque vil que fez a Paulo Portas].

Gostaria sinceramente de saber, e confirmar, o que realmente já fez Francisco Louçã, para além de discursos radicais e profissões de fé teleevangelistas, para ajudar os milhões de africanos que vivem na pobreza, cá e nos seus países de origem. Saberá Louçã o desespero que é, em pleno coração da África e como reconhecimento do nosso trabalho, ser obrigado a aceitar como oferta uma galinha, sabendo que é a única numa aldeia de 500 habitantes, e não poder recusar porque isso significaria para eles a maior desonra a toda uma comunidade?

Fica claro que há uma grande diferença entre fazedores de opinião e manipuladores de opinião. Mesmo em política não vale tudo.

ps1: Não confundo o Bloco com Louçã, tal como acho que Louçã não é o Bloco. Também não aplico o método Louçã ao Bloco. No Bloco não são todos manipuladores como Louçã. Tenho muito respeito e consideração, política e pessoal, por pessoas como o João Semedo, Marisa Matias, a Joana e a Mariana Mortágua, o Pedro Filipe Soares, a Mariana Aiveca ou o Luís Fazenda.

Ps2: Francisco Trotskã era o nome de Francisco Louçã, numa clara alusão ao seu passado reconhecidamente trotskista, num dos mais brilhantes programas de humor político que passou pela televisão portuguesa, infelizmente já terminado.

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