Cinema Notebook: El Orfanato (2007)

01-07-2011
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Laura - a sensacional actriz espanhola Belén Rueda, que já recentemente havia brilhado em “Mar Adentro” – passou grande parte da sua infância num gigantesco mas acolhedor orfanato. Três décadas mais tarde, regressa com o seu marido e com o jovem filho adoptado seropositivo do casal ao mesmo local onde viveu os seus momentos mais felizes e compra a agora velha e abandonada mansão, sonhando construir ali a sua própria casa, bem como um lar de apoio a crianças com necessidades especiais. Mas em poucos dias, a alegria de um sonho que está prestes a concretizar-se é substituída pelo pânico de um filho desaparecido, num suposto rapto sem explicação lógica que, por isso mesmo, toma contornos misteriosos e fantasmagóricos.Com “El Orfanato”, o estreante realizador catalão Juan Antonio Bayona deixa no espectador uma marca de idoneidade inegável, que o atira de imediato para o escalão de “nome a seguir com muita atenção nos próximos anos”. Com claras influências directoriais do chileno Alejandro Amenábar e, mais propriamente, do seu “The Others”, a película de Bayona é audaz, meticulosamente eficaz no que concerne aos momentos de suspense e não entra nunca por caminhos fáceis mas previsíveis de sobressaltos repentinos. Da luminosidade aos ângulos de filmagem, passando pela cuidada sonoplastia, Bayona prova que é mais do que um simples tarefeiro competente sobre as ordens do mexicano Guillermo del Toro – que produziu e lançou o filme no mercado norte-americano -, orquestrando uma obra que acaba por ser mais inteligente na sua execução do que no seu desenvolvimento narrativo. Em “O Orfanato”, não há elementos ficcionais nunca antes vistos: apenas uma hábil utilização do que, normalmente, é transformado em demência noutras indústrias cinematográficas.Assim, assustar a audiência não é, de longe, o único objectivo de “El Orfanato” – apesar de este o conseguir por variadas vezes ao longo das quase duas horas de fita. Ao contrário do que é costume no género, Bayona dá mais importância à angústia de uma mãe desesperada do que aos fantasmas que a ameaçam. Por isso, as suas prioridades surpreendem e convencem todos aqueles que, mais do que uma carnificina inócua instantânea, procuravam um filme enigmático e obscuro. Deste modo, podemos considerar que estruturalmente o filme é bastante sólido e, tal como o já referido “The Others”, sabe sempre sugerir mais do que aquilo que realmente relata, permitindo assim um desfecho excelso e inesperado que implora ao espectador por um encadeamento de juízos e pequenas pistas que, mais cedo, pareceram ser insignificantes.Em suma, “O Orfanato” ressuscita um género que ainda não foi devidamente explorado para merecer ou justificar uma denominação genérica. Depois de “O Sexto Sentido” do indiano M. Night Shyamalan e de “The Others – Os Outros” de Amenábar, o trabalho de Bayona seis anos mais tarde encaixa novamente num estilo que se apresenta como de terror, mas que não o é: os espectadores são pura e simplesmente presenteados com estímulos descritivos que os levam a construir na sua própria mente uma hipótese terrivelmente assustadora, sem que para isso tenha sido necessário espetar com um monstro de faca em punho e dois metros de altura escondido na despensa da cozinha. Depois? Depois basta somar o desempenho notável de Belén Rueda enquanto mãe desesperada, mulher céptica e heroína destemida e esperar que o mundo não fique, uma vez mais, a aguardar por uma reinvenção norte-americana da película espanhola para colocar os olhos na história de Sergio Sánchez. É que quando miúdos de palmo e meio conseguem intimidar uma plateia inteira, temos a certeza que é esta a versão que queremos desfrutar.


Laura - a sensacional actriz espanhola Belén Rueda, que já recentemente havia brilhado em “Mar Adentro” – passou grande parte da sua infância num gigantesco mas acolhedor orfanato. Três décadas mais tarde, regressa com o seu marido e com o jovem filho adoptado seropositivo do casal ao mesmo local onde viveu os seus momentos mais felizes e compra a agora velha e abandonada mansão, sonhando construir ali a sua própria casa, bem como um lar de apoio a crianças com necessidades especiais. Mas em poucos dias, a alegria de um sonho que está prestes a concretizar-se é substituída pelo pânico de um filho desaparecido, num suposto rapto sem explicação lógica que, por isso mesmo, toma contornos misteriosos e fantasmagóricos.Com “El Orfanato”, o estreante realizador catalão Juan Antonio Bayona deixa no espectador uma marca de idoneidade inegável, que o atira de imediato para o escalão de “nome a seguir com muita atenção nos próximos anos”. Com claras influências directoriais do chileno Alejandro Amenábar e, mais propriamente, do seu “The Others”, a película de Bayona é audaz, meticulosamente eficaz no que concerne aos momentos de suspense e não entra nunca por caminhos fáceis mas previsíveis de sobressaltos repentinos. Da luminosidade aos ângulos de filmagem, passando pela cuidada sonoplastia, Bayona prova que é mais do que um simples tarefeiro competente sobre as ordens do mexicano Guillermo del Toro – que produziu e lançou o filme no mercado norte-americano -, orquestrando uma obra que acaba por ser mais inteligente na sua execução do que no seu desenvolvimento narrativo. Em “O Orfanato”, não há elementos ficcionais nunca antes vistos: apenas uma hábil utilização do que, normalmente, é transformado em demência noutras indústrias cinematográficas.Assim, assustar a audiência não é, de longe, o único objectivo de “El Orfanato” – apesar de este o conseguir por variadas vezes ao longo das quase duas horas de fita. Ao contrário do que é costume no género, Bayona dá mais importância à angústia de uma mãe desesperada do que aos fantasmas que a ameaçam. Por isso, as suas prioridades surpreendem e convencem todos aqueles que, mais do que uma carnificina inócua instantânea, procuravam um filme enigmático e obscuro. Deste modo, podemos considerar que estruturalmente o filme é bastante sólido e, tal como o já referido “The Others”, sabe sempre sugerir mais do que aquilo que realmente relata, permitindo assim um desfecho excelso e inesperado que implora ao espectador por um encadeamento de juízos e pequenas pistas que, mais cedo, pareceram ser insignificantes.Em suma, “O Orfanato” ressuscita um género que ainda não foi devidamente explorado para merecer ou justificar uma denominação genérica. Depois de “O Sexto Sentido” do indiano M. Night Shyamalan e de “The Others – Os Outros” de Amenábar, o trabalho de Bayona seis anos mais tarde encaixa novamente num estilo que se apresenta como de terror, mas que não o é: os espectadores são pura e simplesmente presenteados com estímulos descritivos que os levam a construir na sua própria mente uma hipótese terrivelmente assustadora, sem que para isso tenha sido necessário espetar com um monstro de faca em punho e dois metros de altura escondido na despensa da cozinha. Depois? Depois basta somar o desempenho notável de Belén Rueda enquanto mãe desesperada, mulher céptica e heroína destemida e esperar que o mundo não fique, uma vez mais, a aguardar por uma reinvenção norte-americana da película espanhola para colocar os olhos na história de Sergio Sánchez. É que quando miúdos de palmo e meio conseguem intimidar uma plateia inteira, temos a certeza que é esta a versão que queremos desfrutar.

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