Opinião BPI: Japão reforça medidas de suporte à economia

21-11-2014
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Opinião BPI: Japão reforça medidas de suporte à economia

Teresa Gil Pinheiro, do Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI

14:37

As políticas monetárias das principais economias desenvolvidas continuam ultra acomodatícias e os investidores atribuem agora uma maior probabilidade ao adiamento dos ciclos de normalização das políticas monetárias.

Para tal contribui, em grande parte, o facto de as taxas de inflação se encontrarem em níveis muito baixos e dos principais bancos centrais estarem a rever em baixa as respectivas perspectivas de evolução dos preços no consumidor. Todavia, entre as quatro principais autoridades monetárias – Reserva Federal, Banco de Inglaterra, Banco do Japão e Banco Central Europeu – surgem sinais de divergência no seu posicionamento, reflectindo disparidades nos respectivos ciclos económicos, claramente mais fortes nas economias anglo-saxónicas. Por seu turno, o Banco do Japão e o BCE reforçaram as medidas de cariz não convencional como forma de combater os riscos de deflação e de enfraquecimento da actividade. O BCE comprometeu-se com um possível alargamento das medidas de cariz não convencional, caso a evolução da actividade económica e da inflação o justifique e o Banco do Japão surpreendeu o mercado no final de Outubro, anunciando a expansão das compras de dívida pública e de activos de maior risco.

A decisão do Banco do Japão tem como principal objectivo assegurar o cumprimento do objectivo para a taxa de inflação de 2%. Com efeito, desde Junho tem-se assistido a um movimento de desaceleração no ritmo de crescimento dos preços, o que em grande parte se justifica com a evolução do preço do petróleo que apresenta uma tendência descendente, situando-se actualmente abaixo dos 80 dólares por barril (Brent), mas que se poderá reflectir numa redução das expectativas inflacionistas, dificultando a tarefa do banco central em inflacionar a economia. Também o facto de o crescimento económico permanecer aquém do esperado tende a tornar-se num risco adicional para o cumprimento da meta de inflacionar a economia. A economia nipónica entrou em recessão técnica no terceiro trimestre do ano, tendo o PIB anualizado caído 1.6%, depois de no trimestre anterior ter caído 7.3%.

Face à deterioração das condições macroeconómicas, a autoridade monetária nipónica decidiu aumentar as compras anuais de dívida pública doméstica para um valor máximo de 80 biliões de dólares, mais 30 biliões do que no programa anterior, alargando as compras a títulos com maturidades entre os 7 e os 10 anos, mais três anos do que o programa anterior. E aumentar as compras de fundos de investimento (ETFs) e fundos de investimento imobiliário (J-REITs) cotados em bolsa em 3 biliões de ienes/ano e em 90 biliões de ienes/ano, respectivamente. Com estas medidas, o Banco do Japão reforça o seu compromisso em reduzir as taxas de juro ao longo de toda a curva de rendimentos, o que de facto tem vindo a acontecer, sobretudo nos prazos mais longos (a yield do benchmark nipónico a 20 anos caiu de 1.27% no dia 31 de Outubro para 1.23% no dia 20 de Novembro. No entanto, o movimento de queda das yields poderá revelar-se relativamente limitado, por um lado, porque as yields nipónicas se encontram já em níveis reduzidíssimos, e por outro porque a decisão do Banco do Japão foi acompanhada pelo anúncio da alteração da composição da carteira do Fundo de Pensões do Estado (GPIF), cuja percentagem alocada à dívida pública doméstica passa de 60% para 35%, pois a dívida pública nipónica que o GPIF irá vender tenderá a ser absorvida pelas compras do Banco de Japão.

Paralelamente, a decisão do Banco do Japão em alargar o montante das compras de activos mais arriscados – ETFs e J-REITs – tem vindo a reflectir-se na valorização do índice Nikkei, que desde o final de Outubro já se apreciou mais de 5%. Este movimento deverá manter-se, na medida em que também o GPIF decidiu aumentar o peso dos stocks domésticos na sua carteira de 12% para 25%. Por último, referir que o GPIF decidiu aumentar o peso dos investimentos em dívida estrangeira de 12% para 25%. Com esta decisão, o GPIF dará suporte às decisões da autoridade monetária do Japão, na medida em que a compra de activos em moeda estrangeira implicará a venda de ienes, reduzindo o valor do iene e contribuindo para a re-inflação da economia através do encarecimento dos produtos importados. De facto, desde o final de Outubro, o iene já se desvalorizou mais de 5%.

Opinião BPI: Japão reforça medidas de suporte à economia

Teresa Gil Pinheiro, do Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI

14:37

As políticas monetárias das principais economias desenvolvidas continuam ultra acomodatícias e os investidores atribuem agora uma maior probabilidade ao adiamento dos ciclos de normalização das políticas monetárias.

Para tal contribui, em grande parte, o facto de as taxas de inflação se encontrarem em níveis muito baixos e dos principais bancos centrais estarem a rever em baixa as respectivas perspectivas de evolução dos preços no consumidor. Todavia, entre as quatro principais autoridades monetárias – Reserva Federal, Banco de Inglaterra, Banco do Japão e Banco Central Europeu – surgem sinais de divergência no seu posicionamento, reflectindo disparidades nos respectivos ciclos económicos, claramente mais fortes nas economias anglo-saxónicas. Por seu turno, o Banco do Japão e o BCE reforçaram as medidas de cariz não convencional como forma de combater os riscos de deflação e de enfraquecimento da actividade. O BCE comprometeu-se com um possível alargamento das medidas de cariz não convencional, caso a evolução da actividade económica e da inflação o justifique e o Banco do Japão surpreendeu o mercado no final de Outubro, anunciando a expansão das compras de dívida pública e de activos de maior risco.

A decisão do Banco do Japão tem como principal objectivo assegurar o cumprimento do objectivo para a taxa de inflação de 2%. Com efeito, desde Junho tem-se assistido a um movimento de desaceleração no ritmo de crescimento dos preços, o que em grande parte se justifica com a evolução do preço do petróleo que apresenta uma tendência descendente, situando-se actualmente abaixo dos 80 dólares por barril (Brent), mas que se poderá reflectir numa redução das expectativas inflacionistas, dificultando a tarefa do banco central em inflacionar a economia. Também o facto de o crescimento económico permanecer aquém do esperado tende a tornar-se num risco adicional para o cumprimento da meta de inflacionar a economia. A economia nipónica entrou em recessão técnica no terceiro trimestre do ano, tendo o PIB anualizado caído 1.6%, depois de no trimestre anterior ter caído 7.3%.

Face à deterioração das condições macroeconómicas, a autoridade monetária nipónica decidiu aumentar as compras anuais de dívida pública doméstica para um valor máximo de 80 biliões de dólares, mais 30 biliões do que no programa anterior, alargando as compras a títulos com maturidades entre os 7 e os 10 anos, mais três anos do que o programa anterior. E aumentar as compras de fundos de investimento (ETFs) e fundos de investimento imobiliário (J-REITs) cotados em bolsa em 3 biliões de ienes/ano e em 90 biliões de ienes/ano, respectivamente. Com estas medidas, o Banco do Japão reforça o seu compromisso em reduzir as taxas de juro ao longo de toda a curva de rendimentos, o que de facto tem vindo a acontecer, sobretudo nos prazos mais longos (a yield do benchmark nipónico a 20 anos caiu de 1.27% no dia 31 de Outubro para 1.23% no dia 20 de Novembro. No entanto, o movimento de queda das yields poderá revelar-se relativamente limitado, por um lado, porque as yields nipónicas se encontram já em níveis reduzidíssimos, e por outro porque a decisão do Banco do Japão foi acompanhada pelo anúncio da alteração da composição da carteira do Fundo de Pensões do Estado (GPIF), cuja percentagem alocada à dívida pública doméstica passa de 60% para 35%, pois a dívida pública nipónica que o GPIF irá vender tenderá a ser absorvida pelas compras do Banco de Japão.

Paralelamente, a decisão do Banco do Japão em alargar o montante das compras de activos mais arriscados – ETFs e J-REITs – tem vindo a reflectir-se na valorização do índice Nikkei, que desde o final de Outubro já se apreciou mais de 5%. Este movimento deverá manter-se, na medida em que também o GPIF decidiu aumentar o peso dos stocks domésticos na sua carteira de 12% para 25%. Por último, referir que o GPIF decidiu aumentar o peso dos investimentos em dívida estrangeira de 12% para 25%. Com esta decisão, o GPIF dará suporte às decisões da autoridade monetária do Japão, na medida em que a compra de activos em moeda estrangeira implicará a venda de ienes, reduzindo o valor do iene e contribuindo para a re-inflação da economia através do encarecimento dos produtos importados. De facto, desde o final de Outubro, o iene já se desvalorizou mais de 5%.

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