‘Faites vos jeux’! O dinheiro corre na cidade do vício. Bem próximo das roletas, Andre Agassi não foi a jogo mas levou 22 milhões de euros para a sua fundação.
Elvis tinha passado e feito um aceno, "hey girls", seguindo caminho numas calças azuis celeste e bluzão branco com os brilhantes perdidos. Mais à frente, lá estava Elvis outra vez, mais magro, menos efusivo, cantava "viva las Vegas" e dava movimento às ancas numa rua cheia de gente. Não há confusão nenhuma. São máscaras que andam por ali. Isto não é uma cidade a sério, se dúvidas houvesse. É uma feira hiperbólica, uma das capitais do vício onde figuras decadentes se cruzam com o mais ostensivo dos luxos. Não há ideia de quantos Elvis vivem em Las Vegas. Jamal Holmes nunca se cruzou com nenhum, Tatiana Iglesias também não. São adolescentes e vivem num bairro carenciado dos arredores de Vegas, Clark County, enorme aglomerado de casas todas iguais, paisagem urbana a perder de vista cortada no horizonte pelas montanhas do deserto do Nevada. Jamal e Tatiana são alunos da escola criada em 2001 pelo ex-tenista Andre Agassi. Elvis não nasceu em Las Vegas, mas Agassi sim, há 41 anos, e foi ali que, em 2001, abriu a Andre Agassi Preparatory Academy, escola que já levou à universidade jovens que de outro modo difi cilmente lá teriam chegado. Quase sempre de garrafa de água na mão, como na pausa de uma partida de ténis, o anfi trião e a Longines, seu patrocinador de sempre, convocaram amigos e parceiros para uma noite de gala, o Grand Slam for Children 2011, onde o que se quer, mais uma vez, é fazer dinheiro para manter uma instituição que se propõe "transformar o ensino público nos EUA para jovens desvaforecidos". Isso custa à Andre Agassi Foundation for Education cerca de um milhão de dólares por ano (750 mil euros) a que se soma uma subvenção anual do Estado do Nevada. Jasmine Brakum parece ter uns 12, 13 anos, mas percebe-se que é mais velha. Discurso articulado, resposta pronta, guia um grupo de oito convidados a conhecer o sítio onde podem investir. Tem 17 anos, é aluna finalista, terceira no ‘ranking' da sua classe, e está certa de que vai entrar na universidade para estudar ciência política e tornar-se numa advogada especialista em Direito de Família. "Cerca de 30 por cento dos alunos que saem desta escola são estudantes universitários", conta Agassi mais tarde, determinado em aumentar a fasquia. Quer o pleno. Não faz por menos.
"Never give up, never give up, never give up", lê-se junto a uma foto colocada ao lado de outra, de Nelson Mandela, uma referência. Vê-se um Agassi a chorar depois de vencer Roland Garros e fazer, ele mesmo, o pleno dos Grand Slam do ténis. "Que dia!", comenta. Horas depois, troca a camisola de algodão preto por um ‘smoking' e, ao lado da mulher, a também ex-tenista Steffi Graff, sobe ao palco do salão de festas de um dos casinos de luxo de Las Vegas e pede solidariedade em forma de dinheiro. O leilão começa com uma fotografia doada por Annie Leibowitz. Imagem apropriada ao ambiente. É Michael Jackson em jovem vestido de amarelo num jogo de espelhos. Base de licitação, 10 mil dólares (7,5mil euros). Os braços no ar sucedem-se e chega-se a um montante pouco comum: 130 mil dólares, ou seja, 97,5 mil euros. Na fila da frente, um comprador distraído continuou a licitar para a foto, sem saber que se passara ao leilão seguinte e fora o feliz contemplado com uma sessão fotográfica com aquela que é uma das mais conceituadas fotógrafas da actualidade. Agassi foi explicar-lhe e o leilão seguiu com um comprador a dar 90 mil dólares por um Longines Master Collection Moon Phases Andre Agassi. Foram mais de 22,5 mil euros a entrar numa noite que rendeu à fundação mais de 26 milhões de dólares. Agassi, no palco, agradeceu e ironizou: "temos a escola garantida para sempre". Antes tinha chorado, ao abrir um envelope com um donativo de 18 mil dólares. Felecia Hootsel assistiu nos bastidores, um sorriso largo de aparelho nos dentes. Há três anos ela conseguiu o que muitos não conseguem: entrar na Academia Agassi. São muitos os candidatos e o privilégio de entrar obedece a uma selecção "cruel", nas palavras do ex-tenista, e que privilegia os alunos que tenham irmãos na escola. Jasmin Barkum também lá estava. Riso nervoso, diz que a irmã é a sua grande referência, já está na universidade. Alguém lhe pergunta se ela entrou na academia também graças a ela. Jasmina faz cara feia. "Não, não. Eu fui a primeira. Isso ela tem de me agradecer a mim".
‘Faites vos jeux’! O dinheiro corre na cidade do vício. Bem próximo das roletas, Andre Agassi não foi a jogo mas levou 22 milhões de euros para a sua fundação.
Elvis tinha passado e feito um aceno, "hey girls", seguindo caminho numas calças azuis celeste e bluzão branco com os brilhantes perdidos. Mais à frente, lá estava Elvis outra vez, mais magro, menos efusivo, cantava "viva las Vegas" e dava movimento às ancas numa rua cheia de gente. Não há confusão nenhuma. São máscaras que andam por ali. Isto não é uma cidade a sério, se dúvidas houvesse. É uma feira hiperbólica, uma das capitais do vício onde figuras decadentes se cruzam com o mais ostensivo dos luxos. Não há ideia de quantos Elvis vivem em Las Vegas. Jamal Holmes nunca se cruzou com nenhum, Tatiana Iglesias também não. São adolescentes e vivem num bairro carenciado dos arredores de Vegas, Clark County, enorme aglomerado de casas todas iguais, paisagem urbana a perder de vista cortada no horizonte pelas montanhas do deserto do Nevada. Jamal e Tatiana são alunos da escola criada em 2001 pelo ex-tenista Andre Agassi. Elvis não nasceu em Las Vegas, mas Agassi sim, há 41 anos, e foi ali que, em 2001, abriu a Andre Agassi Preparatory Academy, escola que já levou à universidade jovens que de outro modo difi cilmente lá teriam chegado. Quase sempre de garrafa de água na mão, como na pausa de uma partida de ténis, o anfi trião e a Longines, seu patrocinador de sempre, convocaram amigos e parceiros para uma noite de gala, o Grand Slam for Children 2011, onde o que se quer, mais uma vez, é fazer dinheiro para manter uma instituição que se propõe "transformar o ensino público nos EUA para jovens desvaforecidos". Isso custa à Andre Agassi Foundation for Education cerca de um milhão de dólares por ano (750 mil euros) a que se soma uma subvenção anual do Estado do Nevada. Jasmine Brakum parece ter uns 12, 13 anos, mas percebe-se que é mais velha. Discurso articulado, resposta pronta, guia um grupo de oito convidados a conhecer o sítio onde podem investir. Tem 17 anos, é aluna finalista, terceira no ‘ranking' da sua classe, e está certa de que vai entrar na universidade para estudar ciência política e tornar-se numa advogada especialista em Direito de Família. "Cerca de 30 por cento dos alunos que saem desta escola são estudantes universitários", conta Agassi mais tarde, determinado em aumentar a fasquia. Quer o pleno. Não faz por menos.
"Never give up, never give up, never give up", lê-se junto a uma foto colocada ao lado de outra, de Nelson Mandela, uma referência. Vê-se um Agassi a chorar depois de vencer Roland Garros e fazer, ele mesmo, o pleno dos Grand Slam do ténis. "Que dia!", comenta. Horas depois, troca a camisola de algodão preto por um ‘smoking' e, ao lado da mulher, a também ex-tenista Steffi Graff, sobe ao palco do salão de festas de um dos casinos de luxo de Las Vegas e pede solidariedade em forma de dinheiro. O leilão começa com uma fotografia doada por Annie Leibowitz. Imagem apropriada ao ambiente. É Michael Jackson em jovem vestido de amarelo num jogo de espelhos. Base de licitação, 10 mil dólares (7,5mil euros). Os braços no ar sucedem-se e chega-se a um montante pouco comum: 130 mil dólares, ou seja, 97,5 mil euros. Na fila da frente, um comprador distraído continuou a licitar para a foto, sem saber que se passara ao leilão seguinte e fora o feliz contemplado com uma sessão fotográfica com aquela que é uma das mais conceituadas fotógrafas da actualidade. Agassi foi explicar-lhe e o leilão seguiu com um comprador a dar 90 mil dólares por um Longines Master Collection Moon Phases Andre Agassi. Foram mais de 22,5 mil euros a entrar numa noite que rendeu à fundação mais de 26 milhões de dólares. Agassi, no palco, agradeceu e ironizou: "temos a escola garantida para sempre". Antes tinha chorado, ao abrir um envelope com um donativo de 18 mil dólares. Felecia Hootsel assistiu nos bastidores, um sorriso largo de aparelho nos dentes. Há três anos ela conseguiu o que muitos não conseguem: entrar na Academia Agassi. São muitos os candidatos e o privilégio de entrar obedece a uma selecção "cruel", nas palavras do ex-tenista, e que privilegia os alunos que tenham irmãos na escola. Jasmin Barkum também lá estava. Riso nervoso, diz que a irmã é a sua grande referência, já está na universidade. Alguém lhe pergunta se ela entrou na academia também graças a ela. Jasmina faz cara feia. "Não, não. Eu fui a primeira. Isso ela tem de me agradecer a mim".