Funes, el memorioso: Os vencedores

05-07-2011
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Falei dos derrotados da eleições europeias, Não falei ainda dos vencedores. Quem foram?Aparentemente, foi toda a gente menos o PS e Sócrates.No Nortadas - blogue onde quase todos os escribas são militantes ou simpatizantes do CDS, onde tenho alguns amigos e onde, ocasionalmente, participa o quase eurodeputado Diogo Feio - a tribo exultava. Contra tudo, contra todos e, sobretudo, contra as sondagens, o CDS seria um dos grandes vencedores da noite - sustentava-se, reproduzindo o discurso oficial. Custou-me a entender a euforia. No arco partidário que conta, os centristas ficaram em último lugar, não elegeram mais deputados do que os que já tinham e os que elegeram não acrescentam à maioria relativa do PSD na direita. Depois compreendi. Para um partido que enfrenta cada eleição com o coração nas mãos, sempre à espera de ser varrido do espectro político, a simples sobrevivência é uma vitória.Menos razões para sorrir tem o PCP. O aumento do número de votos é um prémio de consolação, não é uma vitória. Foi ultrapassado pelos arqui-rival Bloco de Esquerda e isso é uma inequívoca derrota. Limitou-se a resistir. Ninguém esperava que não resistisse.Vencedores indiscutíveis, foram o BE e o PSD.À triplicação dos deputados, o BE juntou a não pequena vitória de se manter num patamar que o impede de se tornar vítima do seu proprio sucesso. Pode continuar a ser um mero contra-poder, sem ter que assumir as responsabilidades de uma qualquer condução política que, no dia em que chegar, determinará a imediata e irremediável pulverização de uma força que nasceu apenas para criticar e desfazer, não para governar e construir.Também o PSD obteve dois importantes triunfos. Um, o de menor significado: venceu as eleições. Teve mais votos e mais deputados. O outro, aquele que a breve trecho se revelará mais relevante: uniu o partido e silenciou para os próximos tempos os baronatos nulos e ineptos que, de modo torpe e soez, traíam a líder e lhe cobiçavam o poder.Mas tudo isto são os faits divers da politíca partidária. Para aquilo que verdadeiramente interessa, para o povo português, a noite foi de vitória ou de derrota?Na essência, foi uma noite irrelevante. O regime chegou ao fim e não é uma ocasional e momentânea vitória do partido A ou do partido B que vai alterar o que quer que seja.Houve, é certo, o carão cerrado e nervoso do outrora seguro e arrogante Sócrates que, só por si, valeu a noite. Ele não estava triste por ter perdido, como tristes costumam estar os que perdem. Ele estava furioso. E a fúria de um presunçoso reduzido à insignificância é mel para os humildes.Mas essa é uma alegria fugaz e pouco nobre. Não redime nem salva.Bem analisados todos os resultados, se alguma coisa de substantivamente positivo resultou desta eleição, foi a afirmação definitiva de Paulo Rangel como líder de futuro.Desde o célebre discurso do 25 de Abril de há dois ou três anos que fiquei sem a mínima dúvida que Rangel era um político superior. As eleições europeias do fim-de-semana e a campanha que as antecedeu confirmaram-no. Ele é melhor do que a sua líder (que, diga-se em seu louvor e em prejuízo do que aqui escrevi no passado, teve o mérito de o escolher) e do que o mentor desta, Aníbal Cavaco Silva. E é melhor, porque - ao contrário destes - percebe com funda intuição que a essência da política e da arte do poder não é a economia, mas a VONTADE.Governar não é combater défices, nem equilibrar balanças de pagamentos, nem promover empregos ou controlar inflações. Governar é mobilizar vontades, inspirar confiança, fazer sonhar e tornar forte a fraca gente.Contabilistas de partidas dobradas, balanço e anexo à demonstração de resultados, Cavaco Silva e Manuela Leite não possuem nem possuiram nunca esta intuição superior do sentido nobre do político. Paulo Rangel tem-na em elevado grau.Cometeu alguns erros. Deixou-se cair na tentação politiqueira e populista de anunciar medidas, como a peregrina ideia de um «Erasmus do emprego». Um verdadeiro líder não anuncia medidas como quem vende fazenda a metro. Um verdadeiro líder cria o clima de confiança que dinamiza a vontade de cada um tomar as suas medidas. Mas foram erros menores, falhas de juventude, provavelmente induzidas pela estupidez dos conselheiros de propaganda. Não prejudicam o conjunto.Não é crível que o regime se regenere. Mas se Rangel se não perder nos corredores de Bruxelas (e não há razão nenhuma para isso acontecer: o povo não perdoa ao autarca que troca o município por um cargo nacional, mas admira o deputado que renuncia a um mandato que é invariavelmente interpretado como um simples "tacho"), ele pode inspirar uma nova geração de políticos que vá ainda a tempo de fazer a mudança e a revolução, por dentro, do sistema.É uma esperança.


Falei dos derrotados da eleições europeias, Não falei ainda dos vencedores. Quem foram?Aparentemente, foi toda a gente menos o PS e Sócrates.No Nortadas - blogue onde quase todos os escribas são militantes ou simpatizantes do CDS, onde tenho alguns amigos e onde, ocasionalmente, participa o quase eurodeputado Diogo Feio - a tribo exultava. Contra tudo, contra todos e, sobretudo, contra as sondagens, o CDS seria um dos grandes vencedores da noite - sustentava-se, reproduzindo o discurso oficial. Custou-me a entender a euforia. No arco partidário que conta, os centristas ficaram em último lugar, não elegeram mais deputados do que os que já tinham e os que elegeram não acrescentam à maioria relativa do PSD na direita. Depois compreendi. Para um partido que enfrenta cada eleição com o coração nas mãos, sempre à espera de ser varrido do espectro político, a simples sobrevivência é uma vitória.Menos razões para sorrir tem o PCP. O aumento do número de votos é um prémio de consolação, não é uma vitória. Foi ultrapassado pelos arqui-rival Bloco de Esquerda e isso é uma inequívoca derrota. Limitou-se a resistir. Ninguém esperava que não resistisse.Vencedores indiscutíveis, foram o BE e o PSD.À triplicação dos deputados, o BE juntou a não pequena vitória de se manter num patamar que o impede de se tornar vítima do seu proprio sucesso. Pode continuar a ser um mero contra-poder, sem ter que assumir as responsabilidades de uma qualquer condução política que, no dia em que chegar, determinará a imediata e irremediável pulverização de uma força que nasceu apenas para criticar e desfazer, não para governar e construir.Também o PSD obteve dois importantes triunfos. Um, o de menor significado: venceu as eleições. Teve mais votos e mais deputados. O outro, aquele que a breve trecho se revelará mais relevante: uniu o partido e silenciou para os próximos tempos os baronatos nulos e ineptos que, de modo torpe e soez, traíam a líder e lhe cobiçavam o poder.Mas tudo isto são os faits divers da politíca partidária. Para aquilo que verdadeiramente interessa, para o povo português, a noite foi de vitória ou de derrota?Na essência, foi uma noite irrelevante. O regime chegou ao fim e não é uma ocasional e momentânea vitória do partido A ou do partido B que vai alterar o que quer que seja.Houve, é certo, o carão cerrado e nervoso do outrora seguro e arrogante Sócrates que, só por si, valeu a noite. Ele não estava triste por ter perdido, como tristes costumam estar os que perdem. Ele estava furioso. E a fúria de um presunçoso reduzido à insignificância é mel para os humildes.Mas essa é uma alegria fugaz e pouco nobre. Não redime nem salva.Bem analisados todos os resultados, se alguma coisa de substantivamente positivo resultou desta eleição, foi a afirmação definitiva de Paulo Rangel como líder de futuro.Desde o célebre discurso do 25 de Abril de há dois ou três anos que fiquei sem a mínima dúvida que Rangel era um político superior. As eleições europeias do fim-de-semana e a campanha que as antecedeu confirmaram-no. Ele é melhor do que a sua líder (que, diga-se em seu louvor e em prejuízo do que aqui escrevi no passado, teve o mérito de o escolher) e do que o mentor desta, Aníbal Cavaco Silva. E é melhor, porque - ao contrário destes - percebe com funda intuição que a essência da política e da arte do poder não é a economia, mas a VONTADE.Governar não é combater défices, nem equilibrar balanças de pagamentos, nem promover empregos ou controlar inflações. Governar é mobilizar vontades, inspirar confiança, fazer sonhar e tornar forte a fraca gente.Contabilistas de partidas dobradas, balanço e anexo à demonstração de resultados, Cavaco Silva e Manuela Leite não possuem nem possuiram nunca esta intuição superior do sentido nobre do político. Paulo Rangel tem-na em elevado grau.Cometeu alguns erros. Deixou-se cair na tentação politiqueira e populista de anunciar medidas, como a peregrina ideia de um «Erasmus do emprego». Um verdadeiro líder não anuncia medidas como quem vende fazenda a metro. Um verdadeiro líder cria o clima de confiança que dinamiza a vontade de cada um tomar as suas medidas. Mas foram erros menores, falhas de juventude, provavelmente induzidas pela estupidez dos conselheiros de propaganda. Não prejudicam o conjunto.Não é crível que o regime se regenere. Mas se Rangel se não perder nos corredores de Bruxelas (e não há razão nenhuma para isso acontecer: o povo não perdoa ao autarca que troca o município por um cargo nacional, mas admira o deputado que renuncia a um mandato que é invariavelmente interpretado como um simples "tacho"), ele pode inspirar uma nova geração de políticos que vá ainda a tempo de fazer a mudança e a revolução, por dentro, do sistema.É uma esperança.

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