Funes, el memorioso: Velhos mitos urbanos

05-07-2011
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No meu tempo de estudante, a história passava-se numa oral do Doutor Rogério Ehrhardt Soares. O velho mestre do Direito Administrativo de Coimbra, irritado com a ignorância alardeada por certo aluno, teria chamado o bedel e formulado, com o seu proverbial sarcasmo, um pedido: «traga-me um fardo de palha, se faz favor». Muito calmo, sem se descompor, o aluno ter-se-ia dirigido também ao bedel e redarguido: «para mim, pode ser uma sande de queijo» (em certas variantes menos felizes, o pedido é uma cerveja).Em Lisboa, esta mesma historieta era protagonizada por outro professor qualquer, talvez Soares Martinez. Julgo também que já a vi em algum mail (desses que circulam, infinitos, pela internet), reportada a Marcelo Rebelo de Sousa.Ainda hoje me cruzo com colegas advogados ou juizes que ma contam na primeira pessoa: «quando eu andava em Coimbra...». Adoptam invariavelmente o tom saudoso e nostálgico de quem recorda um passado irrecuperável de felicidade. Falam como se me estivessem a narrar um facto verdadeiro e de que tiveram conhecimento directo. Sei logo, quando isso acontece, que estou perante um idiota.


No meu tempo de estudante, a história passava-se numa oral do Doutor Rogério Ehrhardt Soares. O velho mestre do Direito Administrativo de Coimbra, irritado com a ignorância alardeada por certo aluno, teria chamado o bedel e formulado, com o seu proverbial sarcasmo, um pedido: «traga-me um fardo de palha, se faz favor». Muito calmo, sem se descompor, o aluno ter-se-ia dirigido também ao bedel e redarguido: «para mim, pode ser uma sande de queijo» (em certas variantes menos felizes, o pedido é uma cerveja).Em Lisboa, esta mesma historieta era protagonizada por outro professor qualquer, talvez Soares Martinez. Julgo também que já a vi em algum mail (desses que circulam, infinitos, pela internet), reportada a Marcelo Rebelo de Sousa.Ainda hoje me cruzo com colegas advogados ou juizes que ma contam na primeira pessoa: «quando eu andava em Coimbra...». Adoptam invariavelmente o tom saudoso e nostálgico de quem recorda um passado irrecuperável de felicidade. Falam como se me estivessem a narrar um facto verdadeiro e de que tiveram conhecimento directo. Sei logo, quando isso acontece, que estou perante um idiota.

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