Funes, el memorioso: Xanax

08-07-2011
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Quando completar 100 anos de idade e for entrevistado por um jovem jornalista nascido hoje, Aníbal Cavaco Silva, se estiver lúcido, não recordará a noite de 23 de Janeiro de 2011. Falará da adesão à União Europeia, do desenvolvimento das infraestruturas do país que ele promoveu, da sua acção como primeiro-ministro no final dos anos 80 do século passado...Não falará do seu segundo mandato como Presidente da República nem do dia em que ele começou.E a esta essencial evidência se resume o significado das eleições de ontem.Aníbal Cavaco Silva foi, como se sabia há muito, reeleito.Mas niguém ganhou com essa reeleição. Nem sequer ele próprio.Não por acaso, não houve na sede de campanha os tradicionais festejos da vitória. Não houve buzinões nas ruas. Não houve alegria nos lares.No Centro Cultural de Belém, duas dúzias de profissionais da juventude cumpriram enfadados a dolorosa missão de bater palmas nas pausas do discurso da vitória. No fim, com frio, gritaram três vezes "Cavaco, Cavaco, Cavaco" e "Portugal, Portugal, Portugal". Assim que puderam, meteram-se em casa com uma botija de água quente.Foram os únicos a celebrar.A verdade é que, como todos perceberam, não havia nada para celebrar.Esta não foi a vitória do sonho nem da esperança. Os portugueses que votaram Cavaco votaram como quem toma um xanax. Não à espera que dele chegue o amanhã, o sol ou a felicidade, mas apenas à espera que, com ele, a noite passe sem se sentir e sem se dar por ela.Pela forma como reservou as suas primeiras palavras para os abstencionistas que censurou asperamente por voltarem as costas ao regime e se recusarem a caucioná-lo com o seu voto; pela preocupação em insistir na ideia deletéria da eleição como sistema de absolvição de trapalhadas pelo povo, Aníbal Cavaco Silva intuiu bem (como sempre) de onde lhe vem o perigo e onde está o inimigo que lhe vai ensombrar o mandato.Para si, não há xanax que lhe valha. A prazo, vai descobrir o que já sabe: que foi o grande derrotado da noite de 23 de Janeiro de 2011.


Quando completar 100 anos de idade e for entrevistado por um jovem jornalista nascido hoje, Aníbal Cavaco Silva, se estiver lúcido, não recordará a noite de 23 de Janeiro de 2011. Falará da adesão à União Europeia, do desenvolvimento das infraestruturas do país que ele promoveu, da sua acção como primeiro-ministro no final dos anos 80 do século passado...Não falará do seu segundo mandato como Presidente da República nem do dia em que ele começou.E a esta essencial evidência se resume o significado das eleições de ontem.Aníbal Cavaco Silva foi, como se sabia há muito, reeleito.Mas niguém ganhou com essa reeleição. Nem sequer ele próprio.Não por acaso, não houve na sede de campanha os tradicionais festejos da vitória. Não houve buzinões nas ruas. Não houve alegria nos lares.No Centro Cultural de Belém, duas dúzias de profissionais da juventude cumpriram enfadados a dolorosa missão de bater palmas nas pausas do discurso da vitória. No fim, com frio, gritaram três vezes "Cavaco, Cavaco, Cavaco" e "Portugal, Portugal, Portugal". Assim que puderam, meteram-se em casa com uma botija de água quente.Foram os únicos a celebrar.A verdade é que, como todos perceberam, não havia nada para celebrar.Esta não foi a vitória do sonho nem da esperança. Os portugueses que votaram Cavaco votaram como quem toma um xanax. Não à espera que dele chegue o amanhã, o sol ou a felicidade, mas apenas à espera que, com ele, a noite passe sem se sentir e sem se dar por ela.Pela forma como reservou as suas primeiras palavras para os abstencionistas que censurou asperamente por voltarem as costas ao regime e se recusarem a caucioná-lo com o seu voto; pela preocupação em insistir na ideia deletéria da eleição como sistema de absolvição de trapalhadas pelo povo, Aníbal Cavaco Silva intuiu bem (como sempre) de onde lhe vem o perigo e onde está o inimigo que lhe vai ensombrar o mandato.Para si, não há xanax que lhe valha. A prazo, vai descobrir o que já sabe: que foi o grande derrotado da noite de 23 de Janeiro de 2011.

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