Detesto imagens futebolísticas, mas, por uma vez sem exemplo, cedo à tentação da facilidade: Aníbal Cavaco Silva portou-se nesta campanha como aqueles treinadores que numa competição por eliminatórias, depois de empatarem fora um-um, jogam em casa para o zero-zero.O cinzentismo, a covardia, a indisponibilidade absoluta e definitiva para correr o mínimo risco, o tacticismo rasteiro (a Vila Morena cantada em Grândola), a ocultação do pensamento, a recusa em pronunciar-se sobre qualquer tema que tivesse a mais remota hipótese de poder ser tido como comprometedor deram a imagem de um candidato que é tudo menos aquilo de que o país precisa, para ganhar ânimo e vontade de sair da crise.Dir-me-ão que tinha que ser assim, para ganhar as eleições. Teria, mas assim vai ganhar as eleições e perder o país.Foi na condição de líder do partido que Sá Carneiro bateu com a porta contra os eanistas do PSD. Ele sabia que ganhar não é tudo, e que não vale a pena ganhar a qualquer preço. Preferiu arriscar, a ceder. Meia dúzia de meses depois, tinha o partido na mão, para fazer dele o que quisesse.Tivesse Cavaco Silva sabido ser corajoso e frontal e talvez perdesse as eleições. Daqui a um ano ou dois, tinhas as condições todas para ser o condutor da regeneração do regime.Covarde como não sabe deixar de ser, ganhando vai ser apenas mais um refém do sistema. E vai morrer com o sistema.Vai ganhar. Mas não o merece.
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Detesto imagens futebolísticas, mas, por uma vez sem exemplo, cedo à tentação da facilidade: Aníbal Cavaco Silva portou-se nesta campanha como aqueles treinadores que numa competição por eliminatórias, depois de empatarem fora um-um, jogam em casa para o zero-zero.O cinzentismo, a covardia, a indisponibilidade absoluta e definitiva para correr o mínimo risco, o tacticismo rasteiro (a Vila Morena cantada em Grândola), a ocultação do pensamento, a recusa em pronunciar-se sobre qualquer tema que tivesse a mais remota hipótese de poder ser tido como comprometedor deram a imagem de um candidato que é tudo menos aquilo de que o país precisa, para ganhar ânimo e vontade de sair da crise.Dir-me-ão que tinha que ser assim, para ganhar as eleições. Teria, mas assim vai ganhar as eleições e perder o país.Foi na condição de líder do partido que Sá Carneiro bateu com a porta contra os eanistas do PSD. Ele sabia que ganhar não é tudo, e que não vale a pena ganhar a qualquer preço. Preferiu arriscar, a ceder. Meia dúzia de meses depois, tinha o partido na mão, para fazer dele o que quisesse.Tivesse Cavaco Silva sabido ser corajoso e frontal e talvez perdesse as eleições. Daqui a um ano ou dois, tinhas as condições todas para ser o condutor da regeneração do regime.Covarde como não sabe deixar de ser, ganhando vai ser apenas mais um refém do sistema. E vai morrer com o sistema.Vai ganhar. Mas não o merece.