Dias com árvores: Festival amarelo de Paredes de Coura

03-07-2011
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Narcissus cyclamineus DC.

A festa anual de música (alternativa, dizem eles) em Paredes de Coura não alegra só os que, nos cálidos verões, se extasiam com baterias tonitruantes e potentes bels de guitarra. O público hedonista, sem o saber, mantém parte daquele local arejado de relva e de outras plantas competidoras e, ao conformar-se à proibição de aceder a algumas áreas sensíveis, permite que, entre Fevereiro e Março, decorra um outro festival: o do narciso-de-trombeta, a que os locais que o conhecem - surpreendentemente não todos os habitantes da vila - chamam martelinhos.

É uma planta bolbosa que pode atingir trinta centímetros de altura, com folhas basais lineares, erectas e acanaladas. As flores solitárias, no cabecear típico do género, nascem protegidas por uma bráctea esbranquiçada e longa que cobre o botão antes de ele abrir; e que logo murcha para que as seis tépalas se revirem para trás sem esforço (justificando assim o epíteto) e cubram maternalmente o ovário. A corola é um tubo quase cilíndrico de um a dois centímetros de comprimento com remate crenado. Ainda não havia frutos; esperam-se muitas cápsulas de sementes angulosas e escuras.

Este narciso é um endemismo do noroeste da Península Ibérica, tido como vulnerável no Catálogo Galego de Especies Ameazadas. Em Portugal, está legalmente protegido por decreto-lei depois que uma directiva europeia o descreveu em perigo de extinção. Restringe-se às terras de Coura, às serras do Caramulo e da Freita, e ao complexo Pias/Santa Justa/Castiçal em Valongo; em Espanha só ocorre na Galiza. Tirando as do concelho de Paredes de Coura, as populações são em geral pequenas, em nichos que se estão a degradar por pressão humana. Esta herbácea necessita de prados húmidos e margens de riachos com sombra, e estes estão a ser ocupados para aproveitamento agrícola porque os antigos lameiros, atravessados por regatos de água fresca, já rareiam.

Conta A. Fernandes, no Anuário da Sociedade Broteriana de 1953, que, num impulso de empreendedorismo como por vezes assalta os portugueses, quando este narciso foi primeiramente descoberto, em 1881, em Valongo, se iniciou uma colheita desenfreada de bolbos para venda. Logo depois foi considerado extinto. Embora ali reencontrado décadas mais tarde, a pequena população que dele subsiste no vale do rio Ferreira é segredo bem guardado.

Contudo, é possível encontrar em floristas narcisos semelhantes. Têm, cremos, proveniência honesta. Pelo formato peculiar, o N. cyclamineus foi escolhido como progenitor de vários híbridos de jardim que os criadores engrinaldaram com nomes de fantasia: Dove Wings, February Gold, Reggae ou Little Witch.

Narcissus cyclamineus DC.

A festa anual de música (alternativa, dizem eles) em Paredes de Coura não alegra só os que, nos cálidos verões, se extasiam com baterias tonitruantes e potentes bels de guitarra. O público hedonista, sem o saber, mantém parte daquele local arejado de relva e de outras plantas competidoras e, ao conformar-se à proibição de aceder a algumas áreas sensíveis, permite que, entre Fevereiro e Março, decorra um outro festival: o do narciso-de-trombeta, a que os locais que o conhecem - surpreendentemente não todos os habitantes da vila - chamam martelinhos.

É uma planta bolbosa que pode atingir trinta centímetros de altura, com folhas basais lineares, erectas e acanaladas. As flores solitárias, no cabecear típico do género, nascem protegidas por uma bráctea esbranquiçada e longa que cobre o botão antes de ele abrir; e que logo murcha para que as seis tépalas se revirem para trás sem esforço (justificando assim o epíteto) e cubram maternalmente o ovário. A corola é um tubo quase cilíndrico de um a dois centímetros de comprimento com remate crenado. Ainda não havia frutos; esperam-se muitas cápsulas de sementes angulosas e escuras.

Este narciso é um endemismo do noroeste da Península Ibérica, tido como vulnerável no Catálogo Galego de Especies Ameazadas. Em Portugal, está legalmente protegido por decreto-lei depois que uma directiva europeia o descreveu em perigo de extinção. Restringe-se às terras de Coura, às serras do Caramulo e da Freita, e ao complexo Pias/Santa Justa/Castiçal em Valongo; em Espanha só ocorre na Galiza. Tirando as do concelho de Paredes de Coura, as populações são em geral pequenas, em nichos que se estão a degradar por pressão humana. Esta herbácea necessita de prados húmidos e margens de riachos com sombra, e estes estão a ser ocupados para aproveitamento agrícola porque os antigos lameiros, atravessados por regatos de água fresca, já rareiam.

Conta A. Fernandes, no Anuário da Sociedade Broteriana de 1953, que, num impulso de empreendedorismo como por vezes assalta os portugueses, quando este narciso foi primeiramente descoberto, em 1881, em Valongo, se iniciou uma colheita desenfreada de bolbos para venda. Logo depois foi considerado extinto. Embora ali reencontrado décadas mais tarde, a pequena população que dele subsiste no vale do rio Ferreira é segredo bem guardado.

Contudo, é possível encontrar em floristas narcisos semelhantes. Têm, cremos, proveniência honesta. Pelo formato peculiar, o N. cyclamineus foi escolhido como progenitor de vários híbridos de jardim que os criadores engrinaldaram com nomes de fantasia: Dove Wings, February Gold, Reggae ou Little Witch.

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