PUBLICO.PT

02-07-2011
marcar artigo

Antes de mais, a depreciação do valor da repetição na vida humana parece desajustada: a capacidade de emular é uma das características que permite que as criancinhas evoluam e aprendam, já que sem a emulação e a repetição quedar-se-iam pelo autismo; e há conforto na repetição (da mesma forma que há depressão se não criarmos fugas à repetição). O discurso anti-emulação é por norma apanágio de auto-proclamados vanguardistas, uma sub-classe de humanos que ainda não se conseguiu extinguir completamente, em benefício da variedade da espécie humana. Não querendo laudar por definição objectos conformistas, repetitivos e plagiadores, parece-nos contudo que aqui e ali pode haver margem para sorrir com quem não faz mais do que recuperar duas ou três receitas e servir uma refeição saborosa. No caso dos Yuck, é toda a tradição do indie-rock que é revista, com cobertura de reverberação e sobremesa de coros e harmonias. Os compostos básicos são o som abafado e circular dos My Bloody Valentine do primeiro disco (o que é notório em "Holling out", na estupenda "Georgia" e na lentidão perfeita de "Rubber"), a charanga quebrada dos Pavement e as melodias e harmonias vocais dos Go-Betweens ("Suicide policeman"). Na essência, isto é simples punk-pop de três acordes esgalhados e melodia a rebentar de acne, como nessa pérola efervescente que é "The wall", uma cantiga que faz os Yuck entrarem na galeria dos melhores feitores de canções rock adolescente do século XXI (ao lado de gente como os Best Coast ou dos Wavves). Tivéssemos 18 anos e andaríamos por aí fora a jurar que isto era a salvação do mundo. Assim é só uma mão cheia de grandes cantigas e outra de bastante boas.

Categorias

Entidades

Antes de mais, a depreciação do valor da repetição na vida humana parece desajustada: a capacidade de emular é uma das características que permite que as criancinhas evoluam e aprendam, já que sem a emulação e a repetição quedar-se-iam pelo autismo; e há conforto na repetição (da mesma forma que há depressão se não criarmos fugas à repetição). O discurso anti-emulação é por norma apanágio de auto-proclamados vanguardistas, uma sub-classe de humanos que ainda não se conseguiu extinguir completamente, em benefício da variedade da espécie humana. Não querendo laudar por definição objectos conformistas, repetitivos e plagiadores, parece-nos contudo que aqui e ali pode haver margem para sorrir com quem não faz mais do que recuperar duas ou três receitas e servir uma refeição saborosa. No caso dos Yuck, é toda a tradição do indie-rock que é revista, com cobertura de reverberação e sobremesa de coros e harmonias. Os compostos básicos são o som abafado e circular dos My Bloody Valentine do primeiro disco (o que é notório em "Holling out", na estupenda "Georgia" e na lentidão perfeita de "Rubber"), a charanga quebrada dos Pavement e as melodias e harmonias vocais dos Go-Betweens ("Suicide policeman"). Na essência, isto é simples punk-pop de três acordes esgalhados e melodia a rebentar de acne, como nessa pérola efervescente que é "The wall", uma cantiga que faz os Yuck entrarem na galeria dos melhores feitores de canções rock adolescente do século XXI (ao lado de gente como os Best Coast ou dos Wavves). Tivéssemos 18 anos e andaríamos por aí fora a jurar que isto era a salvação do mundo. Assim é só uma mão cheia de grandes cantigas e outra de bastante boas.

marcar artigo