Já começava a ser suspeito iniciarmos este blog sem ninguém convocar Forbela Espanca para a mesa da escrita e das palavras. Sobretudo, quando uma das co-autoras deste blog participou no filme de Francisco Manso sobre a vida desta flor bela.Florbela Espanca resume na sua poesia muito do que é o ser-se alentejano: as cores fortes do destino, a paisagem que nos transforma, uma certa rigidez telúrica que se torna sensual, muitas vezes por excesso. Como se os limites fossem apenas aqueles que decorrem dos nossos passos e da nossa vontade. Apesar de haver um sentido religioso imanente a quem somos.Está reposta, por isso, a "decência" (Cavaco dixit). Florbela Espanca, a bela senhora das ruas de Vila Viçosa e do empedrado de Évora, está sentada, mais uma vez, à nossa volta, vestida com um manto de cetim. E dedica-se á volúpia. Oiçamos a sua voz. A voz das suas palavras."VolúpiaNo divino impudor da mocidade,Nesse êxtase pagão que vence a sorte,Num frémito vibrante de ansiedade,Dou-te o meu corpo prometido à morte!A sombra entre a mentira e a verdade...A núvem que arrastou o vento norte...--- Meu corpo! Trago nele um vinho forte:Meus beijos de volúpia e de maldade!Trago dálias vermelhas no regaço...São os dedos do sol quando te abraço,Cravados no teu peito como lanças!E do meu corpo os leves arabescosVão-te envolvendo em círculos dantescosFelinamente, em voluptuosas danças... Florbela Espanca"Boa noite.
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Já começava a ser suspeito iniciarmos este blog sem ninguém convocar Forbela Espanca para a mesa da escrita e das palavras. Sobretudo, quando uma das co-autoras deste blog participou no filme de Francisco Manso sobre a vida desta flor bela.Florbela Espanca resume na sua poesia muito do que é o ser-se alentejano: as cores fortes do destino, a paisagem que nos transforma, uma certa rigidez telúrica que se torna sensual, muitas vezes por excesso. Como se os limites fossem apenas aqueles que decorrem dos nossos passos e da nossa vontade. Apesar de haver um sentido religioso imanente a quem somos.Está reposta, por isso, a "decência" (Cavaco dixit). Florbela Espanca, a bela senhora das ruas de Vila Viçosa e do empedrado de Évora, está sentada, mais uma vez, à nossa volta, vestida com um manto de cetim. E dedica-se á volúpia. Oiçamos a sua voz. A voz das suas palavras."VolúpiaNo divino impudor da mocidade,Nesse êxtase pagão que vence a sorte,Num frémito vibrante de ansiedade,Dou-te o meu corpo prometido à morte!A sombra entre a mentira e a verdade...A núvem que arrastou o vento norte...--- Meu corpo! Trago nele um vinho forte:Meus beijos de volúpia e de maldade!Trago dálias vermelhas no regaço...São os dedos do sol quando te abraço,Cravados no teu peito como lanças!E do meu corpo os leves arabescosVão-te envolvendo em círculos dantescosFelinamente, em voluptuosas danças... Florbela Espanca"Boa noite.