O ‘mea culpa’ do PSD versus o “país subsidiário” do PS

12-06-2015
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O ‘mea culpa’ do PSD versus o “país subsidiário” do PS

00:07 Gisa Martinho

gisa.martinho@economico.pt

Seis eurodeputados em curto e aceso debate na hora de fazer o balanço das três décadas de Portugal na UE.

O ambiente de pré-campanha eleitoral contaminou o debate entre os seis eurodeputados convidados para, em Estrasburgo, fazer o balanço dos 30 anos da assinatura da adesão de Portugal à CEE. As diferentes leituras políticas do caminho percorrido pelo país desde 12 de Junho de 1985 e, em particular, nos últimos cinco anos, rapidamente degenerou numa troca de palavras azeda entre os eurodeputados da coligação e do PS, perante o independente Marinho e Pinto e a ala mais à esquerda - PCP e Bloco alegaram agendas apertadas para se retirarem mais cedo.

"A celebração não é total", disse Carlos Zorrinho, eurodeputado do PS, depois de frisar que desde "2011 Portugal cometeu um erro de posicionamento", ficou "sem voz activa na UE, tornou-se um país subsidiário da Alemanha". A intervenção do socialista causou de imediato incómodo entre os eurodeputados da maioria, que atrasados, só ouviram as frases finais. Antes Zorrinho, que era professor na Universidade de Évora em 1985, tinha destacado que Portugal era hoje, graças à entrada no clube europeu, uma "sociedade mais moderna" e "uma democracia consolidada, ainda que a necessitar de obras". Ainda que haja muito para aprender, por exemplo, como "subir na cadeia de valor, com mais criação de riqueza e menos através dos custos de mão-de-obra". O socialista terminou, por isso, com um apelo à reflexão uma vez que o país "nunca tinha divergido em termos sociais e isso quebrou-se nos últimos quatro anos".

Paulo Rangel, eurodeputado do PSD, ainda destacou o "salto brutal" dado por Portugal entre 1985 e 2015, os ganhos em infraestruturas e qualificação, mas não resistiu a um ataque político aos socialistas. O social-democrata lembrou "a irresponsabilidade total do Governo socialista", que levou ao resgate da ‘troika', e a necessidade de um ‘mea culpa' do país: "Não se pode culpar a União Europeia. Os portugueses também falharam, havia obrigações que não cumprimos". Nuno Melo, do CDS, preferiu passar ao lado da celebração dos 30 anos, para apontar baterias ao programa de governo socialista apresentado a semana passada. "Há sempre um custo social quando é preciso pagar contas", avisou o popular.

Não houve resposta socialista. Carlos Zorrinho, antigo secretário de Estado do Executivo de José Sócrates, também alegou problemas de agenda para sair da sala do Parlamento Europeu, em Estrasburgo. A restante esquerda também deixou cedo o debate, mas ficaram notas negativas das três décadas de Portugal na UE. João Ferreira destacou, em primeiro lugar, o desaparecimento de explorações agrícolas, da frota pesqueira, da perda de peso da indústria num balanço que reconhece ser "complexo e difícil". O eurodeputado comunista salientou ainda os "efeitos profundamente assimétricos" do processo europeu e notou que os últimos anos desmentem o "cenário idílico e de harmonização do progresso" que muitos esperavam nos anos 80. Marisa Matias, do Bloco, assinala os dois momentos - Tratado de Maastricht e euro - em que a integração deixa de ser "positiva para ser negativa". A bloquista critica também as más escolhas políticas. "Ninguém nos obrigou a gastar dinheiro em betão em vez de em massa cinzenta", diz. E, para o futuro da UE, Marisa Matias tem "dúvidas que a comunidade resista com esta quebra de solidariedade".

Na fase do debate interactivo sobre os 30 anos da assinatura do Tratado, em Belém, restavam apenas Paulo Rangel e Marinho e Pinto - para quem é "especulativo" dizer que o país está melhor dentro da UE. Nem o dia de Portugal, 10 de Junho, fez com que os parlamentares baixassem a guarda em período pré-eleitoral num tema, Europa, que no passado fazia esbater divergências políticas e até formar uma frente comum do bloco central.

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00:07 Gisa Martinho

gisa.martinho@economico.pt

Seis eurodeputados em curto e aceso debate na hora de fazer o balanço das três décadas de Portugal na UE.

O ambiente de pré-campanha eleitoral contaminou o debate entre os seis eurodeputados convidados para, em Estrasburgo, fazer o balanço dos 30 anos da assinatura da adesão de Portugal à CEE. As diferentes leituras políticas do caminho percorrido pelo país desde 12 de Junho de 1985 e, em particular, nos últimos cinco anos, rapidamente degenerou numa troca de palavras azeda entre os eurodeputados da coligação e do PS, perante o independente Marinho e Pinto e a ala mais à esquerda - PCP e Bloco alegaram agendas apertadas para se retirarem mais cedo.

"A celebração não é total", disse Carlos Zorrinho, eurodeputado do PS, depois de frisar que desde "2011 Portugal cometeu um erro de posicionamento", ficou "sem voz activa na UE, tornou-se um país subsidiário da Alemanha". A intervenção do socialista causou de imediato incómodo entre os eurodeputados da maioria, que atrasados, só ouviram as frases finais. Antes Zorrinho, que era professor na Universidade de Évora em 1985, tinha destacado que Portugal era hoje, graças à entrada no clube europeu, uma "sociedade mais moderna" e "uma democracia consolidada, ainda que a necessitar de obras". Ainda que haja muito para aprender, por exemplo, como "subir na cadeia de valor, com mais criação de riqueza e menos através dos custos de mão-de-obra". O socialista terminou, por isso, com um apelo à reflexão uma vez que o país "nunca tinha divergido em termos sociais e isso quebrou-se nos últimos quatro anos".

Paulo Rangel, eurodeputado do PSD, ainda destacou o "salto brutal" dado por Portugal entre 1985 e 2015, os ganhos em infraestruturas e qualificação, mas não resistiu a um ataque político aos socialistas. O social-democrata lembrou "a irresponsabilidade total do Governo socialista", que levou ao resgate da ‘troika', e a necessidade de um ‘mea culpa' do país: "Não se pode culpar a União Europeia. Os portugueses também falharam, havia obrigações que não cumprimos". Nuno Melo, do CDS, preferiu passar ao lado da celebração dos 30 anos, para apontar baterias ao programa de governo socialista apresentado a semana passada. "Há sempre um custo social quando é preciso pagar contas", avisou o popular.

Não houve resposta socialista. Carlos Zorrinho, antigo secretário de Estado do Executivo de José Sócrates, também alegou problemas de agenda para sair da sala do Parlamento Europeu, em Estrasburgo. A restante esquerda também deixou cedo o debate, mas ficaram notas negativas das três décadas de Portugal na UE. João Ferreira destacou, em primeiro lugar, o desaparecimento de explorações agrícolas, da frota pesqueira, da perda de peso da indústria num balanço que reconhece ser "complexo e difícil". O eurodeputado comunista salientou ainda os "efeitos profundamente assimétricos" do processo europeu e notou que os últimos anos desmentem o "cenário idílico e de harmonização do progresso" que muitos esperavam nos anos 80. Marisa Matias, do Bloco, assinala os dois momentos - Tratado de Maastricht e euro - em que a integração deixa de ser "positiva para ser negativa". A bloquista critica também as más escolhas políticas. "Ninguém nos obrigou a gastar dinheiro em betão em vez de em massa cinzenta", diz. E, para o futuro da UE, Marisa Matias tem "dúvidas que a comunidade resista com esta quebra de solidariedade".

Na fase do debate interactivo sobre os 30 anos da assinatura do Tratado, em Belém, restavam apenas Paulo Rangel e Marinho e Pinto - para quem é "especulativo" dizer que o país está melhor dentro da UE. Nem o dia de Portugal, 10 de Junho, fez com que os parlamentares baixassem a guarda em período pré-eleitoral num tema, Europa, que no passado fazia esbater divergências políticas e até formar uma frente comum do bloco central.

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