Lauro António Apresenta...: Tennessee Willimas

22-01-2012
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"A NOITE DE IGUANA", NO TEATRO E NO CINEMA No Teatro Maria Matos, unicamente durante cinco dias, a encenação de João Paulo Costa, de "A Noite da Iguana", peça de Tennessee Williams, numa produção conjunta daquele teatro e do ACE/Teatro do Bolhão. O Porto desceu a Lisboa, o que deveria acontecer por mais vezes.Não me parece que “The Night of Iguana” seja uma das melhores peças de Tennessee Williams, mas sei que deu um belíssimo e intenso filme com a assinatura de John Huston e desempenhos memoráveis de Richard Burton, Ava Gadner, Sue Lyon e, sobretudo, dessa espantosa Deborah Kerr. Era um elenco explosivo. Conta-se que o velho e divertido cineasta (um dos meus preferidos!), antes de iniciar as filmagens com tão “poderoso” elenco (e ainda com a presença de Elisabeth Taylor, a “controlar” o seu então marido) resolveu presentear os protagonistas, e também Elisabeth Taylor, com uma pistola e quatro balas douradas onde haviam sido previamente gravados os nomes dos demais actores. Felizmente, ninguém chegou a precisar de usá-las. Mas isto dizia bem, ainda que de forma irónica, do grau de tensão que existia entre o elenco. O mesmo se verificou entre as personagens, no resultado final.A intriga não tem muito que contar. Lawrence Shannon (Richard Burton), ex-pastor protestante e admirador de uma boa bebida, trabalha agora como guia turístico, e dirige uma excursão formada por professoras bem entradotas na idade, que se fazem acompanhar por uma jovem, Charlotte Goodall (Sue Lyon, a “Lolita” de Kubrick), obcecada em seduzir o ex-sacerdote. Tudo se irá concentrar numa perdida aldeia da costa mexicana, num motel a cair de podre, com uma vista soberba, dirigido por uma viúva que se faz acompanhar nos seus banhos nocturnos por dois efebos a tocar marimbar (é o mínimo que se pode antever). Aí se juntam em refúgio Lawrence Shannon, mais o grupo de excursionistas enraivecidas, dirigidas por uma recalcada e puritana Miss Fellowes (Grayson Hall), que não perdoa a Lawrence ter seduzido, ou ter sido seduzido, pela jovem Charlotte. Para culminar surge uma outra dupla extravagante e falida, composta por Hannah Jelkes (Deborah Kerr) uma pintora empreendedora, e o seu avô, poeta, que arrasta os seus muitos anos numa cadeira de rodas.O ex-padre ressente-se da fé abalada, esforça-se para juntar os pedaços de uma vida despedaçada, e vê-se encurralado por três mulheres que o cortejam cada uma à sua maneira. Neste jogo de vida ou de morte, de salvação ou perdição, Huston conseguia alguns bons momentos de quente sensualidade na tumultuosa paisagem mexicana. Os actores ajudavam bastante a retirar tensão dramática neste embate de destroços, mas o talento de Huston apadrinhava muito na direcção de actores, e no aproveitamento das suas potencialidades, enquadrando-os em excelentes cenários, fabulosamente fotografados a preto e branco. Nos Óscares do ano ganharia um para o melhor guarda-roupa, Dorothy Jeakins, e foi nomeado para outros três que não venceu, melhor actriz secundária, Grayson Hall, melhor direcção artística, Stephen B. Grimes, e melhor fotografia, para mestre Gabriel Figueroa. Ora voltando à peça teatral agora vista em palcos de Lisboa, deve dizer-se que a cenografia de Paulo Oliveira é bonita e funcional, os figurinos de Ana Teresa Castelo interessantes, a iluminação eficaz, mas tudo o resto deixa algo a desejar. Nunca se sente qualquer tensão entre as personagens, o drama arrasta-se em lugar de ir criando um crescendo dramático, o elenco (de que fazem parte António Capelo, Carlos Peixoto, Estrela Novais, Hélio Sequeira, José Pinto, Nídia Cardoso, Pedro Damião, Romi Soares, Sandra Salomé e Silvano Magalhães), raras vezes causa um sobressalto. Duas excepções: José Pinto, com uma figura brilhante, uma presença com uma força interior que ofusca tudo o mais e sobressai de forma estrondosa da mediania reinante (o seu avô poeta é de longe muito superior ao do filme!), e uma Romi Soares que se irá acompanhar com redobrado interesse. Estrela Novais tenta aproximar-se da figura criada por Ava Gadner, mas nunca o consegue, o mesmo acontecendo com António Capelo em relação a Richard Burton.Creio que o erro maior não será tanto dos actores, mas sobretudo da encenação que não consegue nunca criar tensão entre as figuras, nem logra uma direcção de actores à altura da proposta. Óbvio que o desafio era imenso: esta é uma peça difícil, onde só grandes desempenhos conseguem tornar plausíveis personagens e situações. Não aconteceu. Foi pena.


"A NOITE DE IGUANA", NO TEATRO E NO CINEMA No Teatro Maria Matos, unicamente durante cinco dias, a encenação de João Paulo Costa, de "A Noite da Iguana", peça de Tennessee Williams, numa produção conjunta daquele teatro e do ACE/Teatro do Bolhão. O Porto desceu a Lisboa, o que deveria acontecer por mais vezes.Não me parece que “The Night of Iguana” seja uma das melhores peças de Tennessee Williams, mas sei que deu um belíssimo e intenso filme com a assinatura de John Huston e desempenhos memoráveis de Richard Burton, Ava Gadner, Sue Lyon e, sobretudo, dessa espantosa Deborah Kerr. Era um elenco explosivo. Conta-se que o velho e divertido cineasta (um dos meus preferidos!), antes de iniciar as filmagens com tão “poderoso” elenco (e ainda com a presença de Elisabeth Taylor, a “controlar” o seu então marido) resolveu presentear os protagonistas, e também Elisabeth Taylor, com uma pistola e quatro balas douradas onde haviam sido previamente gravados os nomes dos demais actores. Felizmente, ninguém chegou a precisar de usá-las. Mas isto dizia bem, ainda que de forma irónica, do grau de tensão que existia entre o elenco. O mesmo se verificou entre as personagens, no resultado final.A intriga não tem muito que contar. Lawrence Shannon (Richard Burton), ex-pastor protestante e admirador de uma boa bebida, trabalha agora como guia turístico, e dirige uma excursão formada por professoras bem entradotas na idade, que se fazem acompanhar por uma jovem, Charlotte Goodall (Sue Lyon, a “Lolita” de Kubrick), obcecada em seduzir o ex-sacerdote. Tudo se irá concentrar numa perdida aldeia da costa mexicana, num motel a cair de podre, com uma vista soberba, dirigido por uma viúva que se faz acompanhar nos seus banhos nocturnos por dois efebos a tocar marimbar (é o mínimo que se pode antever). Aí se juntam em refúgio Lawrence Shannon, mais o grupo de excursionistas enraivecidas, dirigidas por uma recalcada e puritana Miss Fellowes (Grayson Hall), que não perdoa a Lawrence ter seduzido, ou ter sido seduzido, pela jovem Charlotte. Para culminar surge uma outra dupla extravagante e falida, composta por Hannah Jelkes (Deborah Kerr) uma pintora empreendedora, e o seu avô, poeta, que arrasta os seus muitos anos numa cadeira de rodas.O ex-padre ressente-se da fé abalada, esforça-se para juntar os pedaços de uma vida despedaçada, e vê-se encurralado por três mulheres que o cortejam cada uma à sua maneira. Neste jogo de vida ou de morte, de salvação ou perdição, Huston conseguia alguns bons momentos de quente sensualidade na tumultuosa paisagem mexicana. Os actores ajudavam bastante a retirar tensão dramática neste embate de destroços, mas o talento de Huston apadrinhava muito na direcção de actores, e no aproveitamento das suas potencialidades, enquadrando-os em excelentes cenários, fabulosamente fotografados a preto e branco. Nos Óscares do ano ganharia um para o melhor guarda-roupa, Dorothy Jeakins, e foi nomeado para outros três que não venceu, melhor actriz secundária, Grayson Hall, melhor direcção artística, Stephen B. Grimes, e melhor fotografia, para mestre Gabriel Figueroa. Ora voltando à peça teatral agora vista em palcos de Lisboa, deve dizer-se que a cenografia de Paulo Oliveira é bonita e funcional, os figurinos de Ana Teresa Castelo interessantes, a iluminação eficaz, mas tudo o resto deixa algo a desejar. Nunca se sente qualquer tensão entre as personagens, o drama arrasta-se em lugar de ir criando um crescendo dramático, o elenco (de que fazem parte António Capelo, Carlos Peixoto, Estrela Novais, Hélio Sequeira, José Pinto, Nídia Cardoso, Pedro Damião, Romi Soares, Sandra Salomé e Silvano Magalhães), raras vezes causa um sobressalto. Duas excepções: José Pinto, com uma figura brilhante, uma presença com uma força interior que ofusca tudo o mais e sobressai de forma estrondosa da mediania reinante (o seu avô poeta é de longe muito superior ao do filme!), e uma Romi Soares que se irá acompanhar com redobrado interesse. Estrela Novais tenta aproximar-se da figura criada por Ava Gadner, mas nunca o consegue, o mesmo acontecendo com António Capelo em relação a Richard Burton.Creio que o erro maior não será tanto dos actores, mas sobretudo da encenação que não consegue nunca criar tensão entre as figuras, nem logra uma direcção de actores à altura da proposta. Óbvio que o desafio era imenso: esta é uma peça difícil, onde só grandes desempenhos conseguem tornar plausíveis personagens e situações. Não aconteceu. Foi pena.

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