Devaneios Desintéricos: reflexões em dia de reflexão

24-01-2012
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Depois de acompanhar toda a campanha eleitoral escolhi só hoje, sábado e dia oficial de reflexão, colocar aqui algumas considerações da ratazana que assina este blog. Foi meu entendimento, durante os últimos dias, não fazer o “Devaneios Desintéricos” entrar muito no rodopio e barulho ensurdecedor da blogosfera portuguesa, quase que unanimemente entregue à temática das presidenciais. Como tal, preferi não esquecer outros temas isto porque, para lá do nosso burgo, o “mundo continua a girar”. Não obstante, tenho acompanhado com especial interesse quase todas as reportagens, desde das poucas ideias propugnadas pelos candidatos até aos usuais abraços às peixeiras e sessões de ósculos, mais ou menos besuntados, aos respectivos filhos. Em momento algum olvidei a leitura da blogosfera na qual destaco, de entre várias leituras, as sempre interessantes e sóbrias análises do amigo Ricardo no seu Filho do 25 de Abril, os destaques do amigo Dito Cujo ou recentes contributos de Constança Cunha e Sá. Mas, depois de já ter participado em dezenas de eleições na minha vida (tenho mais de uma cidadania..), chego pela primeira vez ao dia de reflexão com a séria impressão de ter assistido a um desastroso espectáculo político, recheado de arrogâncias, prepotências e demagogias, da Esquerda à Direita. O que, francamente, é novo para mim uma vez que tal como o professor, e apenas no que tange as escolhas políticas, “raramente tenho dúvidas…” Mas vejamos:
Aníbal Cavaco Silva: Eu sou dos que tem memória. O candidato que agora alegremente trauteia “Grândola Vila Morena” e aos quatro ventos proclama que “o povo é quem mais ordena” foi aquele que não hesitou em carregar sobre o dito povo. Será, porventura, demagogia esquerdista o que afirmo? Talvez... Se calhar sê-lo-á. Mas, na essência, o que conta numa eleição presidencial é o carácter de um político (sim, porque por muito que ACS não queira sair do armário, é isso que ele é…um político). E convenhamos que Cavaco Silva foi exímio na gestão do seu silêncio, apartando-nos do seu verdadeiro ser... Soube, como bem atentou Garcia Pereira, nunca se pronunciar porque o "assunto seria competência da Assembleia da República", ou seria "competência do Presidente da República pelo que, por delicadeza com um presidente em exercício de funções, não se pronunciaria"... Quando instado a explanar as suas ideias sobre qualquer assunto mais "polémico" (v.g. aborto, cruzes nas escolas, droga ou casamentos homossexuais) apressou-se, qual Pai Moral da Lusitânia, a declarar a "pouca relevância dos assuntos para os problemas dos portugueses" substituindo-se, quiçá arrogantemente, ao poder de sindicância das suas posições pela Opinião Pública. Passando tal atestado de menoridade intelectual ao Povo (que a alturas tantas disse ser "quem mais ordena") exige-lhe, no entanto, um cheque em branco. E o Povo, como sempre, parece acorrer a mais um auto proclamado D.Sebastião vindo, desta vez, lá das brumas de Boliqueime. Memória curta?Manuel Alegre foi para mim, muito provavelmente, a maior decepção desta campanha. Quando, inicialmente, os media (ou merdia, como os alcunha o caríssimo Dito Cujo) propagaram a possibilidade da sua candidatura a Belém correndo pelo PS, encarei-o como uma solução arriscada, mas de qualidade. Tendo sido até hoje, e pensando continuar a ser, um entusiasta leitor de Alegre, confesso tê-lo imaginado diferente. Nada tenho contra a a legitimidade da sua campanha tendo, logo no primeiro minuto, admirado a sua ousadia em se candidatar sozinho. Mas, logo esse a entusiasmo inicial se substituiu uma aborrecida sensação de estar perante uma candidatura meramente revanchista, em detrimento de "um exercício de Liberdade e Cidadania" conforme apregoa a sua candiadatura. Ao invés de uma candidadatura de causas e de luta, testemunhei um bolorento, demagógico e constante prestar de homenagem a finados, temperado, aqui e ali, com poéticas palavras de ordem. Aquilo que pensava vir a ser um poema da mais douta literatura revelou-se uma reles "canção de amigo" galaico-transmontana. E o homem que imaginava cosmopolita, urbano e liberal, revelou-se preso a uma esquerda algo integralista, do Portugal profundo refém de patriotismos, de esquerda é certo, mas bacocos. Mário Soares confesso ser uma das minhas possibilidades de voto. Não sou um eleitor tradicional do PS tendo, há muito, me dissociado da sua via demasiado passiva perante os problemas sociais. Contudo, admiro Mário Soares pela actualidade dos seus valores. Quantos políticos de sistema em Portugal conseguem, com a sua frontalidade, defender aborto, drogas e casamentos homossexuais e ainda, sem reticências, se mostrar contra a política belicista de Washington? Poucos, muito poucos...Pelo que me parece algo imprudente a discussão se terá ou não passado o seu tempo. Quem, neste país de sotainas e caciques, consegue adoptar semelhantes posições vanguardistas está longe de ver o seu tempo passar. Mas Soares é uma candidatura prtidária. E tal comporta consequências para o bem e para o mal. Sinto-me hesitante em "coroar" esta política deste PS e do seu autocrático Sócrates. Bem sei que se trata de eleições presidenciais, estou bem ciente do enquadramento político-jurídico das mesmas. Mas é o PS que está por trás...Jerónimo de Sousa foi a melhor campanha. Para além da inevitável solidariedade de esquerda, não nutro especial simpatia pelo PCP e pelos seus métodos pelo que não levará o meu voto. Contudo, o esforço, a elevação, a dedicação, a razoabilidade, a simpatia e a simplicidade do candidato Jerónimo de Sousa impressionaram-me. O Atlântico testemunhou a vitalidade do PCP, não acompanhada pelos media...Francisco Louçã esteve igual a si mesmo. Confesso-me, aliás, admirador do seu estilo. Protagonizou dos poucos momentos de verdadeira afronta a ACS tendo, por tal, cumprido eximiamente o papel a que se propunha. Como diz a campanha do Bloco, a "Liberdade está a passar por aqui"...Mas, é da minha vista, ou este Bloco por onde passaria a Liberdade, está muito mais institucionalizado?Finalmente, o que seria das eleições em Portugal sem Garcia Pereira e respectivos apoiantes do MRPP?No cômputo final, fica a séria impressão de um mau serviço prestado à Democracia nesta Eleição Presidencial. Nunca a imprensa portuguesa fez tão má cobertura de uma campanha eleitoral. Nunca foi tão pouco falado aquilo que verdadeiramente interessa. De ninguém se ouviu uma explanação detalhada sobre as suas ideias de Portugal em si, na Europa e no Mundo. À parte das aborrecidas e inevitáveis questões económicas (sim, porque "Sei lá quantos cantos tem «Os Lusiadas»...Camões sabia de Finanças?") pouco mais se relatou para além dos ósculos em mercados e feiras por parte dos candidatos. Citando o Boss em mais um dos seus excelentes posts, faço parte dos ainda 23% de indecisos, mas Domingo não faltarei, e em último recurso terei sempre o "pim pam pum, cada voto conta um", e o importante é que o meu, e o teu, não falhe na defesa de um Portugal livre e de progresso. PS: fotos obtidas n' O Espectro


Depois de acompanhar toda a campanha eleitoral escolhi só hoje, sábado e dia oficial de reflexão, colocar aqui algumas considerações da ratazana que assina este blog. Foi meu entendimento, durante os últimos dias, não fazer o “Devaneios Desintéricos” entrar muito no rodopio e barulho ensurdecedor da blogosfera portuguesa, quase que unanimemente entregue à temática das presidenciais. Como tal, preferi não esquecer outros temas isto porque, para lá do nosso burgo, o “mundo continua a girar”. Não obstante, tenho acompanhado com especial interesse quase todas as reportagens, desde das poucas ideias propugnadas pelos candidatos até aos usuais abraços às peixeiras e sessões de ósculos, mais ou menos besuntados, aos respectivos filhos. Em momento algum olvidei a leitura da blogosfera na qual destaco, de entre várias leituras, as sempre interessantes e sóbrias análises do amigo Ricardo no seu Filho do 25 de Abril, os destaques do amigo Dito Cujo ou recentes contributos de Constança Cunha e Sá. Mas, depois de já ter participado em dezenas de eleições na minha vida (tenho mais de uma cidadania..), chego pela primeira vez ao dia de reflexão com a séria impressão de ter assistido a um desastroso espectáculo político, recheado de arrogâncias, prepotências e demagogias, da Esquerda à Direita. O que, francamente, é novo para mim uma vez que tal como o professor, e apenas no que tange as escolhas políticas, “raramente tenho dúvidas…” Mas vejamos:
Aníbal Cavaco Silva: Eu sou dos que tem memória. O candidato que agora alegremente trauteia “Grândola Vila Morena” e aos quatro ventos proclama que “o povo é quem mais ordena” foi aquele que não hesitou em carregar sobre o dito povo. Será, porventura, demagogia esquerdista o que afirmo? Talvez... Se calhar sê-lo-á. Mas, na essência, o que conta numa eleição presidencial é o carácter de um político (sim, porque por muito que ACS não queira sair do armário, é isso que ele é…um político). E convenhamos que Cavaco Silva foi exímio na gestão do seu silêncio, apartando-nos do seu verdadeiro ser... Soube, como bem atentou Garcia Pereira, nunca se pronunciar porque o "assunto seria competência da Assembleia da República", ou seria "competência do Presidente da República pelo que, por delicadeza com um presidente em exercício de funções, não se pronunciaria"... Quando instado a explanar as suas ideias sobre qualquer assunto mais "polémico" (v.g. aborto, cruzes nas escolas, droga ou casamentos homossexuais) apressou-se, qual Pai Moral da Lusitânia, a declarar a "pouca relevância dos assuntos para os problemas dos portugueses" substituindo-se, quiçá arrogantemente, ao poder de sindicância das suas posições pela Opinião Pública. Passando tal atestado de menoridade intelectual ao Povo (que a alturas tantas disse ser "quem mais ordena") exige-lhe, no entanto, um cheque em branco. E o Povo, como sempre, parece acorrer a mais um auto proclamado D.Sebastião vindo, desta vez, lá das brumas de Boliqueime. Memória curta?Manuel Alegre foi para mim, muito provavelmente, a maior decepção desta campanha. Quando, inicialmente, os media (ou merdia, como os alcunha o caríssimo Dito Cujo) propagaram a possibilidade da sua candidatura a Belém correndo pelo PS, encarei-o como uma solução arriscada, mas de qualidade. Tendo sido até hoje, e pensando continuar a ser, um entusiasta leitor de Alegre, confesso tê-lo imaginado diferente. Nada tenho contra a a legitimidade da sua campanha tendo, logo no primeiro minuto, admirado a sua ousadia em se candidatar sozinho. Mas, logo esse a entusiasmo inicial se substituiu uma aborrecida sensação de estar perante uma candidatura meramente revanchista, em detrimento de "um exercício de Liberdade e Cidadania" conforme apregoa a sua candiadatura. Ao invés de uma candidadatura de causas e de luta, testemunhei um bolorento, demagógico e constante prestar de homenagem a finados, temperado, aqui e ali, com poéticas palavras de ordem. Aquilo que pensava vir a ser um poema da mais douta literatura revelou-se uma reles "canção de amigo" galaico-transmontana. E o homem que imaginava cosmopolita, urbano e liberal, revelou-se preso a uma esquerda algo integralista, do Portugal profundo refém de patriotismos, de esquerda é certo, mas bacocos. Mário Soares confesso ser uma das minhas possibilidades de voto. Não sou um eleitor tradicional do PS tendo, há muito, me dissociado da sua via demasiado passiva perante os problemas sociais. Contudo, admiro Mário Soares pela actualidade dos seus valores. Quantos políticos de sistema em Portugal conseguem, com a sua frontalidade, defender aborto, drogas e casamentos homossexuais e ainda, sem reticências, se mostrar contra a política belicista de Washington? Poucos, muito poucos...Pelo que me parece algo imprudente a discussão se terá ou não passado o seu tempo. Quem, neste país de sotainas e caciques, consegue adoptar semelhantes posições vanguardistas está longe de ver o seu tempo passar. Mas Soares é uma candidatura prtidária. E tal comporta consequências para o bem e para o mal. Sinto-me hesitante em "coroar" esta política deste PS e do seu autocrático Sócrates. Bem sei que se trata de eleições presidenciais, estou bem ciente do enquadramento político-jurídico das mesmas. Mas é o PS que está por trás...Jerónimo de Sousa foi a melhor campanha. Para além da inevitável solidariedade de esquerda, não nutro especial simpatia pelo PCP e pelos seus métodos pelo que não levará o meu voto. Contudo, o esforço, a elevação, a dedicação, a razoabilidade, a simpatia e a simplicidade do candidato Jerónimo de Sousa impressionaram-me. O Atlântico testemunhou a vitalidade do PCP, não acompanhada pelos media...Francisco Louçã esteve igual a si mesmo. Confesso-me, aliás, admirador do seu estilo. Protagonizou dos poucos momentos de verdadeira afronta a ACS tendo, por tal, cumprido eximiamente o papel a que se propunha. Como diz a campanha do Bloco, a "Liberdade está a passar por aqui"...Mas, é da minha vista, ou este Bloco por onde passaria a Liberdade, está muito mais institucionalizado?Finalmente, o que seria das eleições em Portugal sem Garcia Pereira e respectivos apoiantes do MRPP?No cômputo final, fica a séria impressão de um mau serviço prestado à Democracia nesta Eleição Presidencial. Nunca a imprensa portuguesa fez tão má cobertura de uma campanha eleitoral. Nunca foi tão pouco falado aquilo que verdadeiramente interessa. De ninguém se ouviu uma explanação detalhada sobre as suas ideias de Portugal em si, na Europa e no Mundo. À parte das aborrecidas e inevitáveis questões económicas (sim, porque "Sei lá quantos cantos tem «Os Lusiadas»...Camões sabia de Finanças?") pouco mais se relatou para além dos ósculos em mercados e feiras por parte dos candidatos. Citando o Boss em mais um dos seus excelentes posts, faço parte dos ainda 23% de indecisos, mas Domingo não faltarei, e em último recurso terei sempre o "pim pam pum, cada voto conta um", e o importante é que o meu, e o teu, não falhe na defesa de um Portugal livre e de progresso. PS: fotos obtidas n' O Espectro

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