Vivo numa calma e pacata zona residencial da cidade de Faro. O meu prédio tem 3 pisos, habitando eu no primeiro andar. Há uns dias atrás, a luz solar que entrava pela janela do meu quarto avermelhou-se. Da primeira vez que os raios luminosos filtrados iluminaram os meus aposentos, corri a debruçar-me na janela para perceber o porquê do sucedido. Cedo percebi, então, que o vizinho de cima havia colocado uma gigantesca bandeira nacional na sua janela que, de um modo particularmente aborrecido, passou a ensombrar a janela do meu quarto. Nos últimos dias o vizinho abaixo, do rés do chão, quiçá movido por uma inveja de vizinhança, resolveu logo ripostar, orgulhosamente exibindo a sua bandeira gigante carinhosamente pendurada no estendal da roupa....Anteontem, passando a porta do meu prédio, encontrei o meu vizinho do segundo andar que, uma vez ultrapassados os salamaleques que a cortesia de vizinhança exige, cedo me dirigiu a impertinente questão que se impunha: "Oh Max pá, a tua casa é a vergonha do prédio: é a única que não tem uma bandeira!! Não torces pela selecção? Não és patriota?". Tendo lhe respondido que dificilmente compreendia o conceito de pátria, mais dificuldade tinha em perceber porque raio haveria de pendurar a bandeira na minha janela. O que se seguiu foi um olhar esbugalhado, algo baralhado, do meu vizinho que cedo retorquiu "Porque o Filipão mandou"...Sinitra ordem esta vinda de um homem que, pelos vistos, ganhou, para os meus vizinhos do segundo andar, o papel de pai moral depósito das vãs esperanças de um povo. Mas serei eu um maquiavélico anti patriota que nem pela minha (???) selecção torço...ou haverá algo mais neste regabofe futebolístico em que o país mergulha? Quem é "Filipão"?? Porque exalta a pátria que não é sua e se entrega recorrentemente à providência divina? Uma simples pesquisa pela net dá-nos algumas simples pistas: disciplinador e adorador do ditador Augusto Pinochet (de quem outrora disse "Ter torturado muita gente, mas pelo menos não havia analfabetismo no Chile"), homofóbico (disse "Não gosto de ver tantos gays assim. Se descubro que um de meus jogadores é gay, eu rapidamente me livro dele") e machista (segundo este artigo do quotidiano francês 'Libération'). Com os seus santinhos e bocas políticas, lá vai passando a sua ideologia cavalgando um Povo acrítico e seguidista. Os media, esses, associam-se ao marketing das empresas criando a ideia de uma unidade bolorenta em torno de uma certa noção de portugalidade, presa algures entre as novíssimas escadas rolantes do renovado Campo Pequeno e as bandeiritas em promoção no Continente. Não olvidando, claro está, as sempre presentes "Aparições de Fátima". Portugal tem, durante os próximos dias, um novo führer. Sejamos então patriotas. Porque o Povo gosta é de festa. Porque o Filipão mandou...
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Vivo numa calma e pacata zona residencial da cidade de Faro. O meu prédio tem 3 pisos, habitando eu no primeiro andar. Há uns dias atrás, a luz solar que entrava pela janela do meu quarto avermelhou-se. Da primeira vez que os raios luminosos filtrados iluminaram os meus aposentos, corri a debruçar-me na janela para perceber o porquê do sucedido. Cedo percebi, então, que o vizinho de cima havia colocado uma gigantesca bandeira nacional na sua janela que, de um modo particularmente aborrecido, passou a ensombrar a janela do meu quarto. Nos últimos dias o vizinho abaixo, do rés do chão, quiçá movido por uma inveja de vizinhança, resolveu logo ripostar, orgulhosamente exibindo a sua bandeira gigante carinhosamente pendurada no estendal da roupa....Anteontem, passando a porta do meu prédio, encontrei o meu vizinho do segundo andar que, uma vez ultrapassados os salamaleques que a cortesia de vizinhança exige, cedo me dirigiu a impertinente questão que se impunha: "Oh Max pá, a tua casa é a vergonha do prédio: é a única que não tem uma bandeira!! Não torces pela selecção? Não és patriota?". Tendo lhe respondido que dificilmente compreendia o conceito de pátria, mais dificuldade tinha em perceber porque raio haveria de pendurar a bandeira na minha janela. O que se seguiu foi um olhar esbugalhado, algo baralhado, do meu vizinho que cedo retorquiu "Porque o Filipão mandou"...Sinitra ordem esta vinda de um homem que, pelos vistos, ganhou, para os meus vizinhos do segundo andar, o papel de pai moral depósito das vãs esperanças de um povo. Mas serei eu um maquiavélico anti patriota que nem pela minha (???) selecção torço...ou haverá algo mais neste regabofe futebolístico em que o país mergulha? Quem é "Filipão"?? Porque exalta a pátria que não é sua e se entrega recorrentemente à providência divina? Uma simples pesquisa pela net dá-nos algumas simples pistas: disciplinador e adorador do ditador Augusto Pinochet (de quem outrora disse "Ter torturado muita gente, mas pelo menos não havia analfabetismo no Chile"), homofóbico (disse "Não gosto de ver tantos gays assim. Se descubro que um de meus jogadores é gay, eu rapidamente me livro dele") e machista (segundo este artigo do quotidiano francês 'Libération'). Com os seus santinhos e bocas políticas, lá vai passando a sua ideologia cavalgando um Povo acrítico e seguidista. Os media, esses, associam-se ao marketing das empresas criando a ideia de uma unidade bolorenta em torno de uma certa noção de portugalidade, presa algures entre as novíssimas escadas rolantes do renovado Campo Pequeno e as bandeiritas em promoção no Continente. Não olvidando, claro está, as sempre presentes "Aparições de Fátima". Portugal tem, durante os próximos dias, um novo führer. Sejamos então patriotas. Porque o Povo gosta é de festa. Porque o Filipão mandou...