Devaneios Desintéricos: a paródia nacionalista

21-01-2012
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Na manhã soalheira de Setúbal, encenou-se a peça pátria costumeira a 10 de Junho. Na deriva da portugalidade, a corveta presidencial, com um Cavaco de semblante sério como que encarnando a pesarosa alma lusa, atravessou a foz do Sado para, perante a jóia da Coroa NRP Vasco da Gama e da “dama de festas” NRP Sagres, desembarcar o presidente “de todos nós”. O fito era ali comemorar o dia de Portugal, de Camões e das Comunidades. O sebastianismo era evidente: o comandante, "diz que supremo", regressava da outra margem e desembarcava em festa, aplaudido por populares sadinos. Os BMWs da comitiva, escoltados de perto por viaturas Panhard M11 do Exército, percorreram a curta distância que separava o porto setubalense do palanque, localizado em plena Avenida Luísa Todi. Não obstante a demonstração de força, entendeu quem organizou semelhante "comemoração da pátria" que o BMW de Cavaco deveria, ainda, ser acompanhado por guarda costas, de óculos escuros, em passo de corrida junto da viatura. Este "american touch" foi, pouco depois, temperado por uma bem mais lusitana prece dita aos militares e povo, ali em comemoração do dia do laico (??) estado português, na voz do Bispo das Forças Armadas, devidamente anunciado ao gentio "Sua Excelência Reverendíssima D. Januário Torgal Ferreira".Depois, numa interessante resenha das paradas de estilo norte coreano, seguiu-se farta demonstração militarista, com todo um arsenal que incluía, por exemplo, uma companhia, nas palavras do comentador militar da RTP, para "combate no Ártico e em condições de neve". Confesso que o orgulho me tomou incauto perante o visionamento de fatos especiais brancos, armas especiais, tudo especial para o combate no...Ártico. Faz tanta falta como dentes numa galinha...Mas ficámos todos muito mais orgulhosos, não foi?A celebração da Portugalidade, em pleno século XXI, não deveria constituir desculpa bastante para, nem mesmo por um dia, se institucionalizar o fascismo de Estado. Se as comemorações são, como todas as celebrações, simbólicas...então talvez não devesse ser o Portugal militarista, bolorentamente entregue a preces e demonstrações de força de uma vacuidade atordoante que deveria ser celebrado. Ao invés de se orgulhar do sangue dos egrégios avós derramado "pela Pátria", quem manda neste "solo jucundo" deveria entregar o 10 de Junho à concretização das melhores esperanças dos netos.


Na manhã soalheira de Setúbal, encenou-se a peça pátria costumeira a 10 de Junho. Na deriva da portugalidade, a corveta presidencial, com um Cavaco de semblante sério como que encarnando a pesarosa alma lusa, atravessou a foz do Sado para, perante a jóia da Coroa NRP Vasco da Gama e da “dama de festas” NRP Sagres, desembarcar o presidente “de todos nós”. O fito era ali comemorar o dia de Portugal, de Camões e das Comunidades. O sebastianismo era evidente: o comandante, "diz que supremo", regressava da outra margem e desembarcava em festa, aplaudido por populares sadinos. Os BMWs da comitiva, escoltados de perto por viaturas Panhard M11 do Exército, percorreram a curta distância que separava o porto setubalense do palanque, localizado em plena Avenida Luísa Todi. Não obstante a demonstração de força, entendeu quem organizou semelhante "comemoração da pátria" que o BMW de Cavaco deveria, ainda, ser acompanhado por guarda costas, de óculos escuros, em passo de corrida junto da viatura. Este "american touch" foi, pouco depois, temperado por uma bem mais lusitana prece dita aos militares e povo, ali em comemoração do dia do laico (??) estado português, na voz do Bispo das Forças Armadas, devidamente anunciado ao gentio "Sua Excelência Reverendíssima D. Januário Torgal Ferreira".Depois, numa interessante resenha das paradas de estilo norte coreano, seguiu-se farta demonstração militarista, com todo um arsenal que incluía, por exemplo, uma companhia, nas palavras do comentador militar da RTP, para "combate no Ártico e em condições de neve". Confesso que o orgulho me tomou incauto perante o visionamento de fatos especiais brancos, armas especiais, tudo especial para o combate no...Ártico. Faz tanta falta como dentes numa galinha...Mas ficámos todos muito mais orgulhosos, não foi?A celebração da Portugalidade, em pleno século XXI, não deveria constituir desculpa bastante para, nem mesmo por um dia, se institucionalizar o fascismo de Estado. Se as comemorações são, como todas as celebrações, simbólicas...então talvez não devesse ser o Portugal militarista, bolorentamente entregue a preces e demonstrações de força de uma vacuidade atordoante que deveria ser celebrado. Ao invés de se orgulhar do sangue dos egrégios avós derramado "pela Pátria", quem manda neste "solo jucundo" deveria entregar o 10 de Junho à concretização das melhores esperanças dos netos.

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