Devaneios Desintéricos: Elif Shafak

21-01-2012
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O revisionismo histórico e o negacionismo de Estado está longe de estar fora de moda. Os turcos, por exemplo, insistem em negar a evidência histórica plenamente provada que foi a limpeza étnica de quase um milhão de pessoas naquilo que passou à História como o Genocídio Arménio, ocorrido no início do século XX. Por questões históricas e de índole geopolítica/diplomática muitos países ainda não reconhecem a barbaridade histórica sofrida pelo povo arménio. Recusam-se a reconhecer como o fazem os neonazis com o Holocausto. Até onde sei, Portugal encontra-se entre os que preferem convenientemente ignorar. Por outro lado recorde-se, por exemplo, que quando há algum tempo atrás o Conselho Federal helvético decidiu reconhecer oficialmente o Genocídio Arménio, o Executivo de Ancara respondeu com a ameaça de corte de relações diplomáticas com Berna, tendo mesmo chegado a sugerir sanções ao investimento de capital suíço. O negacionismo turco vai a um ponto tal que se chega, sem pudor, a submeter a verdade da História à mais pura demagogia patriótica, procurando constantemente exaltar o ferveroso espírito nacionalista de um povo particularmente orgulhoso. O artigo 301 do Código Penal Turco constitui, ao estatuir a punição de todos aqueles que ataquem a "identidade turca", um dos mais aberrantes exemplos de perseguição política em Democracia. À sombra deste polémico preceito, a Justiça turca ataca intelectuais. Persegue oposicionistas. Pune quem ouse defender ter existido o dito Genocídio Arménio.Elif Shafak é uma das vítimas. Esta intelectual da literatura turca ousou, no seu mais recente livro (não disponível em Português, só Inglês: "The bastard of Istanbul"), recriar a figura dos "carniceiros turcos" que se ocupavam do assassinato de indivíduos arménios. Por tamanho "pecado" enfrentou a possibilidade de ser condenada a 3 anos de prisão. Pressões políticas, assim como da Imprensa, de um pouco por toda a Europa, colocaram a Justiça turca sob fortíssima pressão. A escritora acabou por ser, ontem, absolvida do sinistro crime de "atentar contra a identidade turca". Seja qual for a dita identidade, as elites que a cultivam terão que perceber que a mesma nunca partilhará da herança democrática europeia se não abandonar a demagogia populista patriotista de um estado desrespeitador dos mais elementares direitos humanos mas que, no entanto, se traveste de democracia vanguardista e cosmopolita. Não basta declarar-mo-nos democráticos. É preciso sermos.


O revisionismo histórico e o negacionismo de Estado está longe de estar fora de moda. Os turcos, por exemplo, insistem em negar a evidência histórica plenamente provada que foi a limpeza étnica de quase um milhão de pessoas naquilo que passou à História como o Genocídio Arménio, ocorrido no início do século XX. Por questões históricas e de índole geopolítica/diplomática muitos países ainda não reconhecem a barbaridade histórica sofrida pelo povo arménio. Recusam-se a reconhecer como o fazem os neonazis com o Holocausto. Até onde sei, Portugal encontra-se entre os que preferem convenientemente ignorar. Por outro lado recorde-se, por exemplo, que quando há algum tempo atrás o Conselho Federal helvético decidiu reconhecer oficialmente o Genocídio Arménio, o Executivo de Ancara respondeu com a ameaça de corte de relações diplomáticas com Berna, tendo mesmo chegado a sugerir sanções ao investimento de capital suíço. O negacionismo turco vai a um ponto tal que se chega, sem pudor, a submeter a verdade da História à mais pura demagogia patriótica, procurando constantemente exaltar o ferveroso espírito nacionalista de um povo particularmente orgulhoso. O artigo 301 do Código Penal Turco constitui, ao estatuir a punição de todos aqueles que ataquem a "identidade turca", um dos mais aberrantes exemplos de perseguição política em Democracia. À sombra deste polémico preceito, a Justiça turca ataca intelectuais. Persegue oposicionistas. Pune quem ouse defender ter existido o dito Genocídio Arménio.Elif Shafak é uma das vítimas. Esta intelectual da literatura turca ousou, no seu mais recente livro (não disponível em Português, só Inglês: "The bastard of Istanbul"), recriar a figura dos "carniceiros turcos" que se ocupavam do assassinato de indivíduos arménios. Por tamanho "pecado" enfrentou a possibilidade de ser condenada a 3 anos de prisão. Pressões políticas, assim como da Imprensa, de um pouco por toda a Europa, colocaram a Justiça turca sob fortíssima pressão. A escritora acabou por ser, ontem, absolvida do sinistro crime de "atentar contra a identidade turca". Seja qual for a dita identidade, as elites que a cultivam terão que perceber que a mesma nunca partilhará da herança democrática europeia se não abandonar a demagogia populista patriotista de um estado desrespeitador dos mais elementares direitos humanos mas que, no entanto, se traveste de democracia vanguardista e cosmopolita. Não basta declarar-mo-nos democráticos. É preciso sermos.

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