Devaneios Desintéricos: die Groot Krokodil

22-01-2012
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"Não estou preparado para conduzir os sul africanos brancos e outras minorias para um caminho de desistência e suicidio."15 de Agosto de 1986, Congresso do South African National Party "Pretoria foi concebida por e para os brancos. Nós não somos obrigados a mostrar a ninguém que somos superiores"18 de agosto de 1986, artigo de opinião no Sunday Times de Joanesburgo"O facto de os negros se assemelharem a seres humanos e actuarem como tal não os torna necessariamente dotados de inteligência(...). As lagartixas não são crocodilos só porque se parecem com eles. Se Deus quisesse nos ter concebido iguais, ter-nos-ia feito todos da mesma côr. Mas não. Criou-nos diferentes. Os brancos e os negros. Os dominadores e os dominados. Os últimos anos provaram que nós somos intelectualmente superiores aos negros"18 de agosto de 1986, artigo de opinião no Sunday Times de JoanesburgoDie Groot Krokodil. O grande crocodilo, em Afrikaans. Era assim que era conhecido Pieter Willem Botha, primeiro ministro e presidente da África do Sul de 1978 a 1989, anos duros do Apartheid, tal era a sua inflexibilidade e ânsia predatória. Morreu, ontem, calmamente enquanto dormia sem verdadeiramente ter enfrentado o julgamento que merecia. Por centenas de mortos em perseguições políticas, por massacres e torturas, por 40000 pessoas detidas sem julgamento, por responsabilidade nos confrontos interraciais, por recusar a legitimidade da Comissão Verdade e Reconciliação para o julgar e por tantas outras coisas, apenas teve que pagar 10000 rands e cumprir 12 meses de prisão em pena suspensa.As enciclopédias descrevem-no como um conservador moderado que procurou levar a cabo algumas reformas. Alguma direita portuguesa, sobretudo a saudosista colonial que ainda não acordou do "pesadelo moçambicano", terá muito provavelmente a tendência a desculpabilizá-lo ao mesmo tempo que, em relativo segredo, o venera. Afinal de contas, Botha até era um moçoilo progressista: face às acusações de racismo de estado, criou já em plenos anos 80 um Parlamento tricamaral: uma Câmara para os indianos, uma para os brancos (claro está, imensamente mais poderosa) e uma câmara parlamentar só para os "coloridos". Frise-se que neste último espectro de cores, não estavam incluídos os negros, mais de 90% da população, que continuaram sem qualquer representação no poder por serem "inferiores às outras raças". Num qualquer delírio, este homem chegou mesmo a permitir casamentos interraciais. Felizmente, a África do Sul de hoje já embarca noutros casamentos, assumindo-se como um bastião africano da luta pelos direitos humanos e cívicos. O crocodilo só agora morreu. Mas o pântano que ajudou a manter já secou há muito.PS: na foto, massacre do Soweto


"Não estou preparado para conduzir os sul africanos brancos e outras minorias para um caminho de desistência e suicidio."15 de Agosto de 1986, Congresso do South African National Party "Pretoria foi concebida por e para os brancos. Nós não somos obrigados a mostrar a ninguém que somos superiores"18 de agosto de 1986, artigo de opinião no Sunday Times de Joanesburgo"O facto de os negros se assemelharem a seres humanos e actuarem como tal não os torna necessariamente dotados de inteligência(...). As lagartixas não são crocodilos só porque se parecem com eles. Se Deus quisesse nos ter concebido iguais, ter-nos-ia feito todos da mesma côr. Mas não. Criou-nos diferentes. Os brancos e os negros. Os dominadores e os dominados. Os últimos anos provaram que nós somos intelectualmente superiores aos negros"18 de agosto de 1986, artigo de opinião no Sunday Times de JoanesburgoDie Groot Krokodil. O grande crocodilo, em Afrikaans. Era assim que era conhecido Pieter Willem Botha, primeiro ministro e presidente da África do Sul de 1978 a 1989, anos duros do Apartheid, tal era a sua inflexibilidade e ânsia predatória. Morreu, ontem, calmamente enquanto dormia sem verdadeiramente ter enfrentado o julgamento que merecia. Por centenas de mortos em perseguições políticas, por massacres e torturas, por 40000 pessoas detidas sem julgamento, por responsabilidade nos confrontos interraciais, por recusar a legitimidade da Comissão Verdade e Reconciliação para o julgar e por tantas outras coisas, apenas teve que pagar 10000 rands e cumprir 12 meses de prisão em pena suspensa.As enciclopédias descrevem-no como um conservador moderado que procurou levar a cabo algumas reformas. Alguma direita portuguesa, sobretudo a saudosista colonial que ainda não acordou do "pesadelo moçambicano", terá muito provavelmente a tendência a desculpabilizá-lo ao mesmo tempo que, em relativo segredo, o venera. Afinal de contas, Botha até era um moçoilo progressista: face às acusações de racismo de estado, criou já em plenos anos 80 um Parlamento tricamaral: uma Câmara para os indianos, uma para os brancos (claro está, imensamente mais poderosa) e uma câmara parlamentar só para os "coloridos". Frise-se que neste último espectro de cores, não estavam incluídos os negros, mais de 90% da população, que continuaram sem qualquer representação no poder por serem "inferiores às outras raças". Num qualquer delírio, este homem chegou mesmo a permitir casamentos interraciais. Felizmente, a África do Sul de hoje já embarca noutros casamentos, assumindo-se como um bastião africano da luta pelos direitos humanos e cívicos. O crocodilo só agora morreu. Mas o pântano que ajudou a manter já secou há muito.PS: na foto, massacre do Soweto

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