Devaneios Desintéricos: «violador da net em liberdade»

21-01-2012
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Na formulação sartriana, aliás já algo na linha do pensamento clássico helénico, só com e em Liberdade se atinge a responsabilidade plena. Mas, não querendo escorrer sobre "licenciosidades" como um célebre professor/ministro fez aqui há uns tempos, casos há em que se deve legitimamente pôr em causa senão o rigor e a responsabilidade dos media, pelos menos a assertividade dos critérios empregues.Exemplo de nota será o artigo publicado hoje pelo site noticioso Portugal Diário, da autoria da jornalista Cláudia Lima da Costa: «Violador da net em liberdade».Perante o título qualquer leitor será levado a concluir que se trata de um efectivo violador que agora foi colocado em Liberdade. Mas, na verdade, estamos perante um cidadão sem acusação formada presente a Tribunal, tendo-lhe sido aplicadas as medidas de coacção de proibição de se ausentar da área de residência e de obrigação de apresentações duas vezes por semana num posto policial. Isto porque, por inexistência de outras razões preventivas ou por inconsistência do material de prova, ou até por ambas, entendeu aquela Cúria não haver razão suficiente para sujeitar aquele cidadão a medida preventiva carcerária.Numa Democracia saudável, deveria ser esta razão suficiente para, por critérios óbvios de uma cidadania madura, a Imprensa adoptar um tom mais pedagógico e menos populista de explicação daquilo que são permissas essenciais à nossa matriz sócio-política: o direito a um processo judicial imparcial, fundado e proporcional, respeitador da presunção de inocência do cidadão e de todos os seus demais direitos.Ao invés, a linha editorial do Portugal Diário preferiu tornar o suspeito em criminoso assente, criando-se um clima de alarme público por existir um "violador à solta". A irresponsabilidade editorial tem, como efeito imediato e directo, o coro disentérico de disparates a que se assiste na caixa de comentários daquele "artigo jornalístico":«Os juizes são a vergonha deste País! Não culpem os politicos, culpem os juizes que tÊm orientação de esquerda [negrito meu] e protegem sempre os arguidos, por causa da "peninha" do "dó" e esquecem-se das vitimas, porque as vitimas são reaccionárias! »Este tipo de jornalismo, ao invés de exercer o papel absolutamente premente de controlo da salubridade democrática como se impõe numa sociedade madura, acaba por significar ele mesmo o ataque mais abjecto ao valores que mais deveria respeitar. Não obstante, e porque sempre aplaudida pelas massas sedentas de "atirar as devidas pedras", tem esta "qualidade" jornalística o terrível condão de nos evidenciar a debilidade cívica que três décadas de Democracia ainda não conseguiram colmatar.PS: Outro exemplo: "Agora escolha" do Boss, num singelo mas brilhante exemplo de como a manipulação e o sensacionalismo fazem, tantas vezes, o jogo do Ódio.


Na formulação sartriana, aliás já algo na linha do pensamento clássico helénico, só com e em Liberdade se atinge a responsabilidade plena. Mas, não querendo escorrer sobre "licenciosidades" como um célebre professor/ministro fez aqui há uns tempos, casos há em que se deve legitimamente pôr em causa senão o rigor e a responsabilidade dos media, pelos menos a assertividade dos critérios empregues.Exemplo de nota será o artigo publicado hoje pelo site noticioso Portugal Diário, da autoria da jornalista Cláudia Lima da Costa: «Violador da net em liberdade».Perante o título qualquer leitor será levado a concluir que se trata de um efectivo violador que agora foi colocado em Liberdade. Mas, na verdade, estamos perante um cidadão sem acusação formada presente a Tribunal, tendo-lhe sido aplicadas as medidas de coacção de proibição de se ausentar da área de residência e de obrigação de apresentações duas vezes por semana num posto policial. Isto porque, por inexistência de outras razões preventivas ou por inconsistência do material de prova, ou até por ambas, entendeu aquela Cúria não haver razão suficiente para sujeitar aquele cidadão a medida preventiva carcerária.Numa Democracia saudável, deveria ser esta razão suficiente para, por critérios óbvios de uma cidadania madura, a Imprensa adoptar um tom mais pedagógico e menos populista de explicação daquilo que são permissas essenciais à nossa matriz sócio-política: o direito a um processo judicial imparcial, fundado e proporcional, respeitador da presunção de inocência do cidadão e de todos os seus demais direitos.Ao invés, a linha editorial do Portugal Diário preferiu tornar o suspeito em criminoso assente, criando-se um clima de alarme público por existir um "violador à solta". A irresponsabilidade editorial tem, como efeito imediato e directo, o coro disentérico de disparates a que se assiste na caixa de comentários daquele "artigo jornalístico":«Os juizes são a vergonha deste País! Não culpem os politicos, culpem os juizes que tÊm orientação de esquerda [negrito meu] e protegem sempre os arguidos, por causa da "peninha" do "dó" e esquecem-se das vitimas, porque as vitimas são reaccionárias! »Este tipo de jornalismo, ao invés de exercer o papel absolutamente premente de controlo da salubridade democrática como se impõe numa sociedade madura, acaba por significar ele mesmo o ataque mais abjecto ao valores que mais deveria respeitar. Não obstante, e porque sempre aplaudida pelas massas sedentas de "atirar as devidas pedras", tem esta "qualidade" jornalística o terrível condão de nos evidenciar a debilidade cívica que três décadas de Democracia ainda não conseguiram colmatar.PS: Outro exemplo: "Agora escolha" do Boss, num singelo mas brilhante exemplo de como a manipulação e o sensacionalismo fazem, tantas vezes, o jogo do Ódio.

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