Devaneios Desintéricos: imperialismos do canguru

21-01-2012
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«Só a vitória de Helen Clark poderá estancar a devassa imperialista das empresas e dos políticos australianos aqui na Nova Zelândia». Foi assim que um neozelandês amigo me justificou, em conversa animada em torno de um copito de "tintol", a razão pela qual votaria a reeleição de Helen Clark para líder do Executivo de Wellington. Está claro que se jogava naquela eleição da terra dos kiwis muito mais do que as relações de vizinhança no Mar da Tasmânia. Contudo, tal afirmação não deixa de traduzir uma crescente consciencialização das opiniões públicas da Oceania para o papel de estado director da geopolítica local que canberra tem arrogantemente clamado para si. O Executivo de John Howard, heróico sobrevivente do escândalo do "trigo, o petróleo e os cangurus", insiste em chamar a si a responsabilidade da patrulha local, numa autêntica longa manus, rectius uma competência delegada, dos senhores de Washington. O que se passa em Timor é de tudo isto exemplo. Quem insistir, por facciosismo ou por genuína ingenuidade, em ver na presente crise timorense apenas uma "escaramuça" entre militares mal pagos ou com salários em atraso comete um erro estrondoso de análise. A célere resposta de Canberra ao "pedido" timorense de ajuda deixou muita gente, e bem, de pé atrás. as razões para a suspeição são fundadas não fosse o por demais conhecido ódio de John Howard a Mário Alkatiri, o primeiro-ministro de Timor. Diz-se, pela Austrália, que o Primeiro Ministro timorense, além de "demasiado próximo da China", é também um "nacionalista em matéria de hidrocabornetos". Ça veut dire, insiste em conservar o petróleo para os timorenses, contrariamente às pretensões da vizinha Austrália. Respondendo a um pedido de ajuda com objectivos definidos pelo Governo de Díli, a Austrália suplantou, e muito, o pedido fazendo aterrar em Díli milhares de soldados, helicópteros e até tanques. A caminho, não vá o Diabo tecê-las, vai também a Armada Naval para "dar apoio". Mais, não bastasse a ingerência em proporcionalidade não requerida, John Howard considerou ser seu direito comentar a situação política de um país soberano, com órgãos próprios democraticamente legitimados, declarando que "Existe um problema significativo de governação e, por isso, os confrontos dos últimos dias são uma lição para os responsáveis eleitos". Mais continuou afirmando, numa aberrante falta de vergonha política, que "Não vale a pena andarmos a enganar-nos. O país não tem sido bem governado e espero que a experiência, para os que estão em cargos eleitos, de terem a necessidade de pedir ajuda do exterior, induza o comportamento apropriado no país". Em Díli, no meio da confusão de competências entre Primeiro Ministro e Presidente, John Howard deu ordens para, sem ser pedido, chamar ao seu Exército a responsabilidade pelo controlo total da segurança interna. Existem quartéis, até, onde os próprios soldados timorenses foram desalojados para se instalarem as chefias militares australianas. Lisboa, essa, soluça de espanto depois da perna que canberra lhe passou "A Austrália liderará, inquestionavelmente, o contigente internacional nos pressupostos por nós definidos" declarou Howard. Há uns tempos, cerca de 30 anos, Jakarta disse exactamente a mesma coisa.MSD


«Só a vitória de Helen Clark poderá estancar a devassa imperialista das empresas e dos políticos australianos aqui na Nova Zelândia». Foi assim que um neozelandês amigo me justificou, em conversa animada em torno de um copito de "tintol", a razão pela qual votaria a reeleição de Helen Clark para líder do Executivo de Wellington. Está claro que se jogava naquela eleição da terra dos kiwis muito mais do que as relações de vizinhança no Mar da Tasmânia. Contudo, tal afirmação não deixa de traduzir uma crescente consciencialização das opiniões públicas da Oceania para o papel de estado director da geopolítica local que canberra tem arrogantemente clamado para si. O Executivo de John Howard, heróico sobrevivente do escândalo do "trigo, o petróleo e os cangurus", insiste em chamar a si a responsabilidade da patrulha local, numa autêntica longa manus, rectius uma competência delegada, dos senhores de Washington. O que se passa em Timor é de tudo isto exemplo. Quem insistir, por facciosismo ou por genuína ingenuidade, em ver na presente crise timorense apenas uma "escaramuça" entre militares mal pagos ou com salários em atraso comete um erro estrondoso de análise. A célere resposta de Canberra ao "pedido" timorense de ajuda deixou muita gente, e bem, de pé atrás. as razões para a suspeição são fundadas não fosse o por demais conhecido ódio de John Howard a Mário Alkatiri, o primeiro-ministro de Timor. Diz-se, pela Austrália, que o Primeiro Ministro timorense, além de "demasiado próximo da China", é também um "nacionalista em matéria de hidrocabornetos". Ça veut dire, insiste em conservar o petróleo para os timorenses, contrariamente às pretensões da vizinha Austrália. Respondendo a um pedido de ajuda com objectivos definidos pelo Governo de Díli, a Austrália suplantou, e muito, o pedido fazendo aterrar em Díli milhares de soldados, helicópteros e até tanques. A caminho, não vá o Diabo tecê-las, vai também a Armada Naval para "dar apoio". Mais, não bastasse a ingerência em proporcionalidade não requerida, John Howard considerou ser seu direito comentar a situação política de um país soberano, com órgãos próprios democraticamente legitimados, declarando que "Existe um problema significativo de governação e, por isso, os confrontos dos últimos dias são uma lição para os responsáveis eleitos". Mais continuou afirmando, numa aberrante falta de vergonha política, que "Não vale a pena andarmos a enganar-nos. O país não tem sido bem governado e espero que a experiência, para os que estão em cargos eleitos, de terem a necessidade de pedir ajuda do exterior, induza o comportamento apropriado no país". Em Díli, no meio da confusão de competências entre Primeiro Ministro e Presidente, John Howard deu ordens para, sem ser pedido, chamar ao seu Exército a responsabilidade pelo controlo total da segurança interna. Existem quartéis, até, onde os próprios soldados timorenses foram desalojados para se instalarem as chefias militares australianas. Lisboa, essa, soluça de espanto depois da perna que canberra lhe passou "A Austrália liderará, inquestionavelmente, o contigente internacional nos pressupostos por nós definidos" declarou Howard. Há uns tempos, cerca de 30 anos, Jakarta disse exactamente a mesma coisa.MSD

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