Devaneios Desintéricos: O espectro Franquista da Espanha do séc XXI

20-01-2012
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Sempre achei supreendente como, em Portugal, se fala relativamente pouco da política espanhola. Não mais, por exemplo, do que farão os editoriais de outros jornais europeus, com sede a milhares de quilómetros de Madrid. Por comparação, a discussão da política alemã em jornais holandeses, austríacos ou suíços é constante. Ultimamente, parece até haver um certo receio do establishment socialista luso em ser comparado com aquilo que os seus homólogos para lá de Vila Real de Santo António vão fazendo. Vergonha, diria eu, de quem se considera socialista? Mas adiante. O que é certo é que os nuestros hermanos nunca mais serão os mesmos depois de Zapatero, cuja Governo continua a surpreender até mesmo os oriundos da sua ala política. Desde da legalização das "parejas" homossexuais numa Espanha pós franquista ainda demasiado conservadora e católica até à supressão do financiamento estatal à Igreja Católica (lógico e indiscutível em qualquer Democracia que se diga laica), passando pela Reforma Educativa tendente à supressão da obrigatoriedade do ensino da disciplina de Moral e Religião (católica), variadas têm sido as medidas de elementar bom senso levadas a cabo pelo Governo de Madrid. A mais recente, contudo, teve o inesperado efeito de trazer a Espanha Democrática do séc XXI aos seus mais íntimos fantasmas, relançando o espectro da Guerra Civil e do Franquismo. Zapatero negociou com o Executivo Autonómico de Barcelona um novo Estatuto para a Catalunha que faz inscrever nas tábuas da lei a existência de uma nação catalã e de uma obrigatoriedade (usando a expressão aligeirada "dever") de todos os que lá habitam de falarem a língua catalã. Para além disto tudo, são transferidas para o poder de Barcelona uma grande quantidade de poderes executivos que, não fora a inexistência de personalidade jurídica internacional, transformariam a Catalunha num novo país. Até aqui, e dado que se trata de aproximar os órgãos de decisão dos decididos, tudo bem. Acontece, contudo, que passado 6 de Janeiro, num discurso em Sevilha - cidade mítica do Franquismo e integralismo espanhol - o influente General do Exército José Mena Aguado declarou serem o Terrorismo e a Integralidade territorial espanhola os maiores receios das Forças Armadas espanholas sendo que as mesmas não punham de lado a intervenção militar para assegurar a plena vigência constitucional em todo o território espanhol. O Ministro espanhol da Defesa, José Bono, a mando de Zapatero decidiu a imediata detenção do General subversivo, aguardando destituição plena dos cargos ocupados. Mas, na sequência da célere actuação do Executivo de Madrid, surgiu viva polémica na Sociedade espanhola lembrando -quem diria em pleno séc XXI? - os maiores pesadelos do Franquismo. Se, por um lado o jornal conservador ABC fala de uma pesada ameaça à liberdade de expressão levada a cabo pelos socialistas (seguindo a linha de pensamento de uma significativa parte dos editoriais espanhóis), outros agitam-se freneticamente referindo, como Jaume Sastre - representante do Lobby para a independência de Maiorca - que existem "generais que gostariam de ver repetido o massacre de civis em Guernica. Mas desta vez não terão o apoio de Mussolini ou Hitler". Idêntica linha, mais ou menos radical, seguem os jornais de quase todas as comunidades autonómicas, apoiados pelos Jornais mais á esquerda, de expressão nacional, como o El País. Mas, retirando o flamejar da cortina retórica e da normal querela de politiquice menor, o que fica? Desde logo, uma forte divisão no seio das Forças Armadas cujos quadros ousam, na Espanha plenamente democrática do séc XXI, intervir ou sugerir a possibilidade da sua intervenção, caso as decisões políticas não se enquadrem naquilo que almejam. Zapatero tem que ser forte na repressão deste tipo de cabeçilhas nas Forças Armadas sob pena de à poderosa Igreja Católica Espanhola se juntar o Exército na oposição às medidas socialistas de Madrid. Curioso como em Portugal não se fala destas coisas. O debate do futuro de Espanha é do maior interesse para o nosso burgo. Tudo o que se passou na Peninsula Ibérica afectou, directa ou indirectamente, Portugal....


Sempre achei supreendente como, em Portugal, se fala relativamente pouco da política espanhola. Não mais, por exemplo, do que farão os editoriais de outros jornais europeus, com sede a milhares de quilómetros de Madrid. Por comparação, a discussão da política alemã em jornais holandeses, austríacos ou suíços é constante. Ultimamente, parece até haver um certo receio do establishment socialista luso em ser comparado com aquilo que os seus homólogos para lá de Vila Real de Santo António vão fazendo. Vergonha, diria eu, de quem se considera socialista? Mas adiante. O que é certo é que os nuestros hermanos nunca mais serão os mesmos depois de Zapatero, cuja Governo continua a surpreender até mesmo os oriundos da sua ala política. Desde da legalização das "parejas" homossexuais numa Espanha pós franquista ainda demasiado conservadora e católica até à supressão do financiamento estatal à Igreja Católica (lógico e indiscutível em qualquer Democracia que se diga laica), passando pela Reforma Educativa tendente à supressão da obrigatoriedade do ensino da disciplina de Moral e Religião (católica), variadas têm sido as medidas de elementar bom senso levadas a cabo pelo Governo de Madrid. A mais recente, contudo, teve o inesperado efeito de trazer a Espanha Democrática do séc XXI aos seus mais íntimos fantasmas, relançando o espectro da Guerra Civil e do Franquismo. Zapatero negociou com o Executivo Autonómico de Barcelona um novo Estatuto para a Catalunha que faz inscrever nas tábuas da lei a existência de uma nação catalã e de uma obrigatoriedade (usando a expressão aligeirada "dever") de todos os que lá habitam de falarem a língua catalã. Para além disto tudo, são transferidas para o poder de Barcelona uma grande quantidade de poderes executivos que, não fora a inexistência de personalidade jurídica internacional, transformariam a Catalunha num novo país. Até aqui, e dado que se trata de aproximar os órgãos de decisão dos decididos, tudo bem. Acontece, contudo, que passado 6 de Janeiro, num discurso em Sevilha - cidade mítica do Franquismo e integralismo espanhol - o influente General do Exército José Mena Aguado declarou serem o Terrorismo e a Integralidade territorial espanhola os maiores receios das Forças Armadas espanholas sendo que as mesmas não punham de lado a intervenção militar para assegurar a plena vigência constitucional em todo o território espanhol. O Ministro espanhol da Defesa, José Bono, a mando de Zapatero decidiu a imediata detenção do General subversivo, aguardando destituição plena dos cargos ocupados. Mas, na sequência da célere actuação do Executivo de Madrid, surgiu viva polémica na Sociedade espanhola lembrando -quem diria em pleno séc XXI? - os maiores pesadelos do Franquismo. Se, por um lado o jornal conservador ABC fala de uma pesada ameaça à liberdade de expressão levada a cabo pelos socialistas (seguindo a linha de pensamento de uma significativa parte dos editoriais espanhóis), outros agitam-se freneticamente referindo, como Jaume Sastre - representante do Lobby para a independência de Maiorca - que existem "generais que gostariam de ver repetido o massacre de civis em Guernica. Mas desta vez não terão o apoio de Mussolini ou Hitler". Idêntica linha, mais ou menos radical, seguem os jornais de quase todas as comunidades autonómicas, apoiados pelos Jornais mais á esquerda, de expressão nacional, como o El País. Mas, retirando o flamejar da cortina retórica e da normal querela de politiquice menor, o que fica? Desde logo, uma forte divisão no seio das Forças Armadas cujos quadros ousam, na Espanha plenamente democrática do séc XXI, intervir ou sugerir a possibilidade da sua intervenção, caso as decisões políticas não se enquadrem naquilo que almejam. Zapatero tem que ser forte na repressão deste tipo de cabeçilhas nas Forças Armadas sob pena de à poderosa Igreja Católica Espanhola se juntar o Exército na oposição às medidas socialistas de Madrid. Curioso como em Portugal não se fala destas coisas. O debate do futuro de Espanha é do maior interesse para o nosso burgo. Tudo o que se passou na Peninsula Ibérica afectou, directa ou indirectamente, Portugal....

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