Jean Ziegler, o mais respeitado, idolatrado e lido (mas também o mais criticado e detestado) escritor suíço tem novo trabalho dado à estampa: L'Empire de la honte - Império da Vergonha, que até onde pude perceber não está ainda disponível no mercado lusitano. Trata-se do homem mais detestado pelo poder da Paradeplatz de Zürich, isto é, pela poderosíssima banca helvética. Este polémico professor universitário de Sociologia da Universidade de Genéve e da Sorbonne, em Paris, amigo de juventude de Jean Paul Sartre, foi responsável pelo mais conhecido escândalo que abalou a credibilidade histórica da pequena perfeição suíça: ao lançar o livro "A Suíça, o ouro e os mortos", Jean Ziegler defendeu a até aí pouco verosímil teoria que a Suíça havia sido uma das razões essenciais para a sobrevivência do regime nazi ao "lavar" e esconder o dinheiro e o ouro dos milhões de judeus mortos no Holocausto. A insistência na verdade histórica valeu-lhe numerosos processos judiciais em toda a Europa, prontamente lançados pelos maiores bancos mundiais, entre eles os poderosíssimos UBS ou Crédit Suisse. Ziegler não era um iniciado. Anos antes já havia escrito "A Suíça lava mais branco" (edições Seuil, disponível em português) onde advogava que, debaixo do tapete da correcção e perfeição helvética, se escondia a mais tenebrosa putrefacção de apoio a regimes ditatoriais e apoio generalizado à lavagem de capitais por parte de traficantes de droga e armamento. Exímio no abalar dos interesses bolorentos da banca de Zürich e dos politiqueiros de Berna, Ziegler lança-se agora ao ataque global. E, fazendo uso da sua experiência enquanto relator especial da ONU para a problemática da Fome, tece violentos ataques contra os ligações perigosas entre as grandes multinacionais e a alta política de bastidores, suas responsabilidades sócio-políticas e suas obsessões pela procura do lucro pelo lucro. O seu livro relata-nos, por exemplo, que segundo a FAO/ONU o Mundo terá capacidade para alimentar, com cerca de 2700 calorias/dia, cerca de 12 mil milhões de pessoas. Tem hoje, não o fazendo, cerca de 6,4 mil milhões de seres humanos. Cada dia morrem, por fome e má nutrição, cerca de 100 000 pessoas. Ziegler não exita em o considerar, por que obra do Homem, como um verdadeiro genocídio. Para tanto ataca as multinacioanais, com rara precisão, trazendo-nos exemplos concretos e não resistindo a, uma vez mais, "bater" na bolorenta perfeição doméstica suíça, referindo o caso da multinacional helvética Nestlé, a maior empresa mundial de alimentação. Segundo Jean Ziegler, em pouco mais de 3 anos, o preço do quilograma de café etíope passou de 3 dólares para 80 cêntimos, lançando os camponeses na autêntica penúria e fome. A Nestlé compra quase toda a produção etíope de café, fixando unilateralmente os preços. 95% dos produtores são camponeses de produção de base familiar. Que fazer, então? Ziegler almeja que um dia, a vergonha cujo império ataca no seu livro, provoque tamanho horror aos demais que à vergonha se siga a boa vontade e consciência. E, no espírito de Kant e da Revolução Francesa, apela à luta política contra as mais abjectas expressões da actual ordem política mundial.MSD
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Jean Ziegler, o mais respeitado, idolatrado e lido (mas também o mais criticado e detestado) escritor suíço tem novo trabalho dado à estampa: L'Empire de la honte - Império da Vergonha, que até onde pude perceber não está ainda disponível no mercado lusitano. Trata-se do homem mais detestado pelo poder da Paradeplatz de Zürich, isto é, pela poderosíssima banca helvética. Este polémico professor universitário de Sociologia da Universidade de Genéve e da Sorbonne, em Paris, amigo de juventude de Jean Paul Sartre, foi responsável pelo mais conhecido escândalo que abalou a credibilidade histórica da pequena perfeição suíça: ao lançar o livro "A Suíça, o ouro e os mortos", Jean Ziegler defendeu a até aí pouco verosímil teoria que a Suíça havia sido uma das razões essenciais para a sobrevivência do regime nazi ao "lavar" e esconder o dinheiro e o ouro dos milhões de judeus mortos no Holocausto. A insistência na verdade histórica valeu-lhe numerosos processos judiciais em toda a Europa, prontamente lançados pelos maiores bancos mundiais, entre eles os poderosíssimos UBS ou Crédit Suisse. Ziegler não era um iniciado. Anos antes já havia escrito "A Suíça lava mais branco" (edições Seuil, disponível em português) onde advogava que, debaixo do tapete da correcção e perfeição helvética, se escondia a mais tenebrosa putrefacção de apoio a regimes ditatoriais e apoio generalizado à lavagem de capitais por parte de traficantes de droga e armamento. Exímio no abalar dos interesses bolorentos da banca de Zürich e dos politiqueiros de Berna, Ziegler lança-se agora ao ataque global. E, fazendo uso da sua experiência enquanto relator especial da ONU para a problemática da Fome, tece violentos ataques contra os ligações perigosas entre as grandes multinacionais e a alta política de bastidores, suas responsabilidades sócio-políticas e suas obsessões pela procura do lucro pelo lucro. O seu livro relata-nos, por exemplo, que segundo a FAO/ONU o Mundo terá capacidade para alimentar, com cerca de 2700 calorias/dia, cerca de 12 mil milhões de pessoas. Tem hoje, não o fazendo, cerca de 6,4 mil milhões de seres humanos. Cada dia morrem, por fome e má nutrição, cerca de 100 000 pessoas. Ziegler não exita em o considerar, por que obra do Homem, como um verdadeiro genocídio. Para tanto ataca as multinacioanais, com rara precisão, trazendo-nos exemplos concretos e não resistindo a, uma vez mais, "bater" na bolorenta perfeição doméstica suíça, referindo o caso da multinacional helvética Nestlé, a maior empresa mundial de alimentação. Segundo Jean Ziegler, em pouco mais de 3 anos, o preço do quilograma de café etíope passou de 3 dólares para 80 cêntimos, lançando os camponeses na autêntica penúria e fome. A Nestlé compra quase toda a produção etíope de café, fixando unilateralmente os preços. 95% dos produtores são camponeses de produção de base familiar. Que fazer, então? Ziegler almeja que um dia, a vergonha cujo império ataca no seu livro, provoque tamanho horror aos demais que à vergonha se siga a boa vontade e consciência. E, no espírito de Kant e da Revolução Francesa, apela à luta política contra as mais abjectas expressões da actual ordem política mundial.MSD