Devaneios Desintéricos: o que une os ortodoxos

20-01-2012
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Quem já esteve em Moscovo , ou até mesmo em São Petesburgo, conhece a ostentação em que vivem os representantes da Igreja Ortodoxa Russa, não raras vezes em completa sobreposição e conluio com o suspeito poder nas rédeas do Kremlin. Na capital da federação russa os membros do Patriarcado ortodoxo russo passeiam-se em carros luxuosos, devidamente escoltados e protegidos pelos FSB, os serviços secretos do constitucionalmente laico e secular Estado russo. O poder que detêm emana de um singular entendimento implícito com o poder terreno dos políticos, aliança essa tão cara e, ao mesmo tempo, tão típica dos totalitarismos: o poder religioso assume uma cuidadosa gestão dos seus silêncios, evitando entrar em contenda com o universo político; dele obtém a garantia da manutenção de um dado status quo, social e político, dificultando o aparecimento de novas confissões e/ou combatendo os "concorrentes" da religião "para-oficial".É assim na Rússia. Segundo o Conselho da Europa, de cerca de 15000 associações de cariz confessional apenas cerca de 5000 conseguiram o direito à existência administrativa, sendo este, segundo aquele organismo europeu de Defesa dos Direitos Humanos, apenas a ponta do icebergue no problema da ausência de liberdade de religião em terras russas. Claro, também, que a Igreja Ortodoxa obtém o seu financiamento directamente das dotações públicas do Executivo de Moscovo, assim alimentando a sua milionária política de ostentação e construção de locais de culto. Por outro lado, o poderoso Patriarcado ortodoxo russo apoia a política do Kremlin, tantas vezes bárbara e sanguinária, para o problema separatista tchetcheno. Uma vez mais, dele obtém o pagamento devido: quase todas as áreas de governação, da Educação aos negócios Estrangeiros, passam, de um modo ou de outro, pelo cunho do patriarcado moscovita. Assim, por exemplo, a Igreja Ortodoxa conseguiu que o Ministério da Educação aprovasse programas de ensino público da religião (!!) com as matrizes definidas, apenas e só, pela Igreja Ortodoxa. Noutro sentido, em declarações na Duma, o Parlamento Russo, em 2004, o então Ministro dos Negócios estrangeiros Igor Ivanov declarou, orgulhoso, que a acção conjunta do seu Ministério e do Patriarcado havia permitido a inserção da Igreja Ortodoxa da Estónia no Patriarcado Moscovita, numa flagrante e propositada confusão entre o universo político e o religioso.O poder de ambos entralaça-se, pois, ao infinito tolerando, ambos, os respectivos extremismos. Os extremistas nacionalistas russos andam, não raras vezes, de mãos dadas com os extremistas ultra ortodoxos. A ambos, quer o Kremlin quer o Patriarcado Russo, põem a mão por baixo.Entre as vítimas favoritas desta tácita aliança do encobrimento mútuo, que reina na cada vez mais totalitária Rússia, estão os homossexuais russos.O monumento aos Heróis de Plevna (uma Batalha ocorrida em 1877 entre Otomanos e Russos, na actual Pleven, Bulgária) localizado em pleno centro de Moscovo foi, durante os tempos da URSS, local de encontro de homossexuais. A zona, na penumbra da legalidade, era evitada por crianças ou gente "respeitável" que não quisesse ser confundida com os comportamentos ditos "desviados". O apogeu da Democracia soit disant das terras russas, não libertou todos os oprimidos da sombra da sua existência pelo que a zona continua, ainda hoje, a ser conotada com comportamentos "menos correctos".Não contente com isso, a Igreja Ortodoxa chamou, ao seu serviço, a divisão jovem das missões evangelizadoras: o "grupo jovem ortodoxo de São Jorge" patrulha aquelas ruas de Moscovo , dia e noite, procurando identificar homossexuais para os abordar e explicar como o comportamento deles é repugnante aos olhos de Deus. Munidos de panfletos, prometem reeducar os desviados inimigos de Deus. O fenómeno não é, de todo, novo. Nem tão pouco o método: nos anos dourados do anti semitismo europeu da primeira metade do séc XX, os jovens "partisans" da Igreja ortodoxa já patrulhavam Moscovo, procurando denunciar os "perigosos judeus". Também então, como agora, obtinham o silêncio conivente do poder político. O que une os ortodoxos não é, afinal de contas, muito diferente daquilo que une os católicos: o ódio à diferença e àquilo que afecte a segurança das suas bolorentas permissas morais e prerrogativas de poder.


Quem já esteve em Moscovo , ou até mesmo em São Petesburgo, conhece a ostentação em que vivem os representantes da Igreja Ortodoxa Russa, não raras vezes em completa sobreposição e conluio com o suspeito poder nas rédeas do Kremlin. Na capital da federação russa os membros do Patriarcado ortodoxo russo passeiam-se em carros luxuosos, devidamente escoltados e protegidos pelos FSB, os serviços secretos do constitucionalmente laico e secular Estado russo. O poder que detêm emana de um singular entendimento implícito com o poder terreno dos políticos, aliança essa tão cara e, ao mesmo tempo, tão típica dos totalitarismos: o poder religioso assume uma cuidadosa gestão dos seus silêncios, evitando entrar em contenda com o universo político; dele obtém a garantia da manutenção de um dado status quo, social e político, dificultando o aparecimento de novas confissões e/ou combatendo os "concorrentes" da religião "para-oficial".É assim na Rússia. Segundo o Conselho da Europa, de cerca de 15000 associações de cariz confessional apenas cerca de 5000 conseguiram o direito à existência administrativa, sendo este, segundo aquele organismo europeu de Defesa dos Direitos Humanos, apenas a ponta do icebergue no problema da ausência de liberdade de religião em terras russas. Claro, também, que a Igreja Ortodoxa obtém o seu financiamento directamente das dotações públicas do Executivo de Moscovo, assim alimentando a sua milionária política de ostentação e construção de locais de culto. Por outro lado, o poderoso Patriarcado ortodoxo russo apoia a política do Kremlin, tantas vezes bárbara e sanguinária, para o problema separatista tchetcheno. Uma vez mais, dele obtém o pagamento devido: quase todas as áreas de governação, da Educação aos negócios Estrangeiros, passam, de um modo ou de outro, pelo cunho do patriarcado moscovita. Assim, por exemplo, a Igreja Ortodoxa conseguiu que o Ministério da Educação aprovasse programas de ensino público da religião (!!) com as matrizes definidas, apenas e só, pela Igreja Ortodoxa. Noutro sentido, em declarações na Duma, o Parlamento Russo, em 2004, o então Ministro dos Negócios estrangeiros Igor Ivanov declarou, orgulhoso, que a acção conjunta do seu Ministério e do Patriarcado havia permitido a inserção da Igreja Ortodoxa da Estónia no Patriarcado Moscovita, numa flagrante e propositada confusão entre o universo político e o religioso.O poder de ambos entralaça-se, pois, ao infinito tolerando, ambos, os respectivos extremismos. Os extremistas nacionalistas russos andam, não raras vezes, de mãos dadas com os extremistas ultra ortodoxos. A ambos, quer o Kremlin quer o Patriarcado Russo, põem a mão por baixo.Entre as vítimas favoritas desta tácita aliança do encobrimento mútuo, que reina na cada vez mais totalitária Rússia, estão os homossexuais russos.O monumento aos Heróis de Plevna (uma Batalha ocorrida em 1877 entre Otomanos e Russos, na actual Pleven, Bulgária) localizado em pleno centro de Moscovo foi, durante os tempos da URSS, local de encontro de homossexuais. A zona, na penumbra da legalidade, era evitada por crianças ou gente "respeitável" que não quisesse ser confundida com os comportamentos ditos "desviados". O apogeu da Democracia soit disant das terras russas, não libertou todos os oprimidos da sombra da sua existência pelo que a zona continua, ainda hoje, a ser conotada com comportamentos "menos correctos".Não contente com isso, a Igreja Ortodoxa chamou, ao seu serviço, a divisão jovem das missões evangelizadoras: o "grupo jovem ortodoxo de São Jorge" patrulha aquelas ruas de Moscovo , dia e noite, procurando identificar homossexuais para os abordar e explicar como o comportamento deles é repugnante aos olhos de Deus. Munidos de panfletos, prometem reeducar os desviados inimigos de Deus. O fenómeno não é, de todo, novo. Nem tão pouco o método: nos anos dourados do anti semitismo europeu da primeira metade do séc XX, os jovens "partisans" da Igreja ortodoxa já patrulhavam Moscovo, procurando denunciar os "perigosos judeus". Também então, como agora, obtinham o silêncio conivente do poder político. O que une os ortodoxos não é, afinal de contas, muito diferente daquilo que une os católicos: o ódio à diferença e àquilo que afecte a segurança das suas bolorentas permissas morais e prerrogativas de poder.

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