Devaneios Desintéricos: relatório Winograd

21-01-2012
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Com a Praça Rabin, uma vez mais, repleta de manifestantes descontentes, Israel vive momentos de aguda crise política. Sucede que, toldados os esforços de contenção da oposição, mesmo dentro do seu partido, ao seu Governo, Ehud Olmert, o ainda primeiro ministro do Executivo de Tel Aviv, foi obrigado a instituir uma comissão, presidida pelo Juiz Winograd, de análise dos actos do seu Governo na Guerra movida contra o Líbano no Verão de 2006. Recorde-se que Tel Aviv supreendeu o mundo na noite de 12 para 13 de Julho com um bloqueio naval, marítimo e aéreo ao Líbano, acompanhado de intensos bombardeamentos daquele Estado. As conclusões do relatório são claras ao detalhar a forma como, sem mais, foi ordenado um ataque militar em larga escala a um estado Soberano sem que "tivesse sido feito uma análise compreensiva e detalhada do ponto de vista militar do teatro de operações libanês". Mais acrescentam os membros desta Comissão que, ao se "precipitar para a Guerra, os responsáveis governativos israelitas - primariamente o Primeiro Ministro e o Ministro da Defesa - ignoraram a possibilidade de formas alternativas ao confronto como a continuação de uma lógica de contenção política ou, até, iniciativas diplomáticas apoiadas por movimentações militares de cariz menor". A Comissão remata dizendo que o "primeiro ministro tomou a decisão de encetar uma guerra de forma leviana, sem que nenhuma planificação militar lhe tivesse sido entregue ou sequera tivesse pedido ou tão pouco analisado o xadrez de possibilidades diplomáticas que detinha ao seu dispor".Posto isto, naturalmente que os editoriais de quase todos os diários israelitas clamam pela demissão de Olmert. Mesmo a recém tornada coqueluche da imprensa e diplomacia mundial, a Ministra dos Negócios Estrangeiros Tzipi Livni que, dentro do Kadima, sempre apoiou o bombardeamento de Beirute, vem agora dizer que Olmert deverá abandonar as rédeas do Executivo de Tel Aviv. Livni sabe que, não obstante a possível saída de Olmert, tal não terá necessariamente como significado o afastamento derradeiro do Partido Kadima do poder hebreu. Desta forma, nas usuais intrigas palacianas, pretende a ainda responsável pela Diplomacia israelita tomar a dianteira dos oposicionistas a Olmert dentro do Kadima. No entanto, a jogada poderá ter sido demasiado antecipada porquanto tudo indica que a segunda, e última, versão do Relatório Winograd só será apresentada lá mais para o Verão. Outro dos falcões do poder, o Ministro da Administração Interna Avi Dichter, sempre acalentou a pretensão de liderar o kadima contra Olmert. Mas ontem quebrou o estranho silêncio a que, nesta crise, se remeteu para declarar que se deverá dar mais uma possibilidade ao actual Primeiro Ministro. Os oposicionistas intra kadima são políticos relativamente jovens, sem experiência de coligação e alianças no perigoso e inflamado xadrez político do Knesset. Num cenário de demissão de Olmert, cada vez mais verosímil, embora formalmente habilitados a manter o Governo actual, o desfecho seria provavelmente o da convocação de eleições antecipadas.Livni eDichter sabem bem que, nessa hipótese, o poder passaria para os bem mais radicais seguidores de Benjamim Netanyahu, do Partido Likud de Direita conservadora e avessa á conciliação israelo-palestiniana. Um (mais outro) sério revés para o processo de Paz.Os devaneios de Olmert tiveram como consequência directa a morte de milhares de pessoas e milhões de refugiados. Para além disso, a desproporcionalidade empregue pelo Tsahal fez o Líbano perder muitas das estruturas essenciais ao desenvolvimento da sua população. E, como se esperava, teve o paradoxal efeito de incrementar o poderio e apoio do Hezbollah.A atitude do Primeiro Ministro de Israel foi bem mais do que a irresponsabilidade que, algo timidamente, Winograd denuncia no seu relatório. Foi criminosa. E para o julgamento de um crime não deveria bastar uma demissão.


Com a Praça Rabin, uma vez mais, repleta de manifestantes descontentes, Israel vive momentos de aguda crise política. Sucede que, toldados os esforços de contenção da oposição, mesmo dentro do seu partido, ao seu Governo, Ehud Olmert, o ainda primeiro ministro do Executivo de Tel Aviv, foi obrigado a instituir uma comissão, presidida pelo Juiz Winograd, de análise dos actos do seu Governo na Guerra movida contra o Líbano no Verão de 2006. Recorde-se que Tel Aviv supreendeu o mundo na noite de 12 para 13 de Julho com um bloqueio naval, marítimo e aéreo ao Líbano, acompanhado de intensos bombardeamentos daquele Estado. As conclusões do relatório são claras ao detalhar a forma como, sem mais, foi ordenado um ataque militar em larga escala a um estado Soberano sem que "tivesse sido feito uma análise compreensiva e detalhada do ponto de vista militar do teatro de operações libanês". Mais acrescentam os membros desta Comissão que, ao se "precipitar para a Guerra, os responsáveis governativos israelitas - primariamente o Primeiro Ministro e o Ministro da Defesa - ignoraram a possibilidade de formas alternativas ao confronto como a continuação de uma lógica de contenção política ou, até, iniciativas diplomáticas apoiadas por movimentações militares de cariz menor". A Comissão remata dizendo que o "primeiro ministro tomou a decisão de encetar uma guerra de forma leviana, sem que nenhuma planificação militar lhe tivesse sido entregue ou sequera tivesse pedido ou tão pouco analisado o xadrez de possibilidades diplomáticas que detinha ao seu dispor".Posto isto, naturalmente que os editoriais de quase todos os diários israelitas clamam pela demissão de Olmert. Mesmo a recém tornada coqueluche da imprensa e diplomacia mundial, a Ministra dos Negócios Estrangeiros Tzipi Livni que, dentro do Kadima, sempre apoiou o bombardeamento de Beirute, vem agora dizer que Olmert deverá abandonar as rédeas do Executivo de Tel Aviv. Livni sabe que, não obstante a possível saída de Olmert, tal não terá necessariamente como significado o afastamento derradeiro do Partido Kadima do poder hebreu. Desta forma, nas usuais intrigas palacianas, pretende a ainda responsável pela Diplomacia israelita tomar a dianteira dos oposicionistas a Olmert dentro do Kadima. No entanto, a jogada poderá ter sido demasiado antecipada porquanto tudo indica que a segunda, e última, versão do Relatório Winograd só será apresentada lá mais para o Verão. Outro dos falcões do poder, o Ministro da Administração Interna Avi Dichter, sempre acalentou a pretensão de liderar o kadima contra Olmert. Mas ontem quebrou o estranho silêncio a que, nesta crise, se remeteu para declarar que se deverá dar mais uma possibilidade ao actual Primeiro Ministro. Os oposicionistas intra kadima são políticos relativamente jovens, sem experiência de coligação e alianças no perigoso e inflamado xadrez político do Knesset. Num cenário de demissão de Olmert, cada vez mais verosímil, embora formalmente habilitados a manter o Governo actual, o desfecho seria provavelmente o da convocação de eleições antecipadas.Livni eDichter sabem bem que, nessa hipótese, o poder passaria para os bem mais radicais seguidores de Benjamim Netanyahu, do Partido Likud de Direita conservadora e avessa á conciliação israelo-palestiniana. Um (mais outro) sério revés para o processo de Paz.Os devaneios de Olmert tiveram como consequência directa a morte de milhares de pessoas e milhões de refugiados. Para além disso, a desproporcionalidade empregue pelo Tsahal fez o Líbano perder muitas das estruturas essenciais ao desenvolvimento da sua população. E, como se esperava, teve o paradoxal efeito de incrementar o poderio e apoio do Hezbollah.A atitude do Primeiro Ministro de Israel foi bem mais do que a irresponsabilidade que, algo timidamente, Winograd denuncia no seu relatório. Foi criminosa. E para o julgamento de um crime não deveria bastar uma demissão.

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