Devaneios Desintéricos: A nova América Latina: o Perú pós Alberto Fujimori

24-01-2012
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As alterações e movimentações políticas a que temos vindo a assistir na América Latina não são, ao contrário do que a pouca importância que a imprensa europeia e norte americana lhe atribui poderia fazer crer, totalmente inócuas e/ou inconsequentes para todo da Geopolítica Mundial. Antes pelo contrário. A viragem à esquerda de maior parte das novas democracias (veja-se o recente exemplo do Governo de La Paz ou a mais que provável vitória da socialista e ateia Bachelet na 2ª volta das eleições presidenciais do conservador e católico Chile, próximo dia 15) traduz um amadurerecer democrático de uma série de opiniões públicas de sociedades votadas a comandos ditatoriais na segunda metade do século XX. Sendo países com um enorme potencial humano e económico, com uma opinião pública que é tendencialmente avessa ao Imperialismo de Washington podemos vir a assistir, a brevo trecho, a soluções polícas tendentes, por exemplo, a maiores níveis de integração regional ( A comunidade de nações latino americanas de que falam o Presidente Toledo e o Presidente Lula?). Todo este "amadurecer" político tem, na sua génese, uma raiz de exigência de novos pressupostos sociais como só a Democracia soube implantar em territórios do Novo Mundo. E essas novas exigências sociais passam por um "ajuste de contas" com a História procurando encerrar capítulos de opressão e desrespeito pelos Direitos Humanos. É assim no novo Chile que Pinochet não queria ver. E é assim no Perú de hoje, que Fujimori vai ter de conhecer o sabor, muito provavelmente amargo, da Justiça. Alberto Fujimori, filho de pais japoneses que se mudaram para o Perú em 1934, foi presidente deste país de 1990 a 2000. No mandato recheado de tirania e corrupção, com supressão de liberdades individuais a favor da luta anti terrorista da Frente Maoísta Sendero Luminoso (aonde é que eu já vi isto?). Aliás, o relatório da Comissão de Verdade e Reconciliação, publicado em Lima a 28 de Agosto de 2003, prova a existência de uma lógica generalizada de massacres de camponeses, por vezes aldeias inteiras, às mãos do Exército Peruano por alegada suspeita, não provada (como se isso importasse...), de apoio aos Guerrilheiros Maoístas. O relatório da ONG Human Rights Watch, publicado passado Novembro, fala ainda de esterilizações forçadas de mulheres, tortura, suborno e corrupção generalizada do aparelho de Estado. Por outro lado, a Procuradoria Geral da República do Perú veior recentemente advogar a existência de largos milhões de dólares desviados para contas em Zürich, Genéve e Grand Cayman. Em 2000, apesar de do ponto de vista do Direito Constitucional Peruano tudo indicar que não poderia, resolve candidatar-se a um terceiro mandato presidencial que, obviamente, ganha a 28 de Maio de 2000. O que se seguiu foi um clima de intensa instabilidade social. Em Novembro do mesmo ano, partindo em visita de Estado para o Brunei, Fujimori resolve fugir para Tóquio onde apresenta, através de fax, a sua demissão de Presidente do Perú. Em Lima foram tempos conturbados que levaram às eleição de um novo presidente, o então líder da oposição, Alejandro Toledo. Em exílio no Japão, protegido pelo Governo Nipónico dado ser cidadão daquele país, o Governo de Lima nunca desistiu de obter a sua extradição. Sempre negada, Fujimori pôde desenvolver um novo partido - o Sí Cumple - com o intuito de se candidatar às eleições presidenciais peruanas de 2006. Como todos os ditadores, considera-se provavelmente intocável. E deverá ter sido nesse credo que passado dia 4 de Novembro descolou de Tóquio, num jacto privado, a caminho de Santiago, capital do Chile, com escala de reabastecimento em Tijuana, México. Estranhamente, o voo de Fujimori sobrevoou espaço aéreo peruano a caminho do Chile. Mais tarde, veio a ser descoberto que o então Chefe da Interpol em Lima, Carlos Medel, havia ordenado o desligar do sistema de alerta policial internacional do país durante 24 horas, entre dia 5 e 6 de Novembro. Tal operação contou com a conivência de altos responsáveis da Gestão do Espaço Aéreo. Todos prontamente despedidos e julgados, quando descobertos. Mas, em Santiago, foi apanhado quando julgava poder sobreviver a um eventual pedido de extradição junto do governo chileno, dado o período de dificuldades e desentendimentos que as relações Lima - Santiago vêm atravessando. E agora, Fujimori aguarda extradição para Lima onde, tal permita a Justiça dos Homens, será julgado por todas as atrocidades que orquestrou. Novos tempos na América Latina. Felizmente!


As alterações e movimentações políticas a que temos vindo a assistir na América Latina não são, ao contrário do que a pouca importância que a imprensa europeia e norte americana lhe atribui poderia fazer crer, totalmente inócuas e/ou inconsequentes para todo da Geopolítica Mundial. Antes pelo contrário. A viragem à esquerda de maior parte das novas democracias (veja-se o recente exemplo do Governo de La Paz ou a mais que provável vitória da socialista e ateia Bachelet na 2ª volta das eleições presidenciais do conservador e católico Chile, próximo dia 15) traduz um amadurerecer democrático de uma série de opiniões públicas de sociedades votadas a comandos ditatoriais na segunda metade do século XX. Sendo países com um enorme potencial humano e económico, com uma opinião pública que é tendencialmente avessa ao Imperialismo de Washington podemos vir a assistir, a brevo trecho, a soluções polícas tendentes, por exemplo, a maiores níveis de integração regional ( A comunidade de nações latino americanas de que falam o Presidente Toledo e o Presidente Lula?). Todo este "amadurecer" político tem, na sua génese, uma raiz de exigência de novos pressupostos sociais como só a Democracia soube implantar em territórios do Novo Mundo. E essas novas exigências sociais passam por um "ajuste de contas" com a História procurando encerrar capítulos de opressão e desrespeito pelos Direitos Humanos. É assim no novo Chile que Pinochet não queria ver. E é assim no Perú de hoje, que Fujimori vai ter de conhecer o sabor, muito provavelmente amargo, da Justiça. Alberto Fujimori, filho de pais japoneses que se mudaram para o Perú em 1934, foi presidente deste país de 1990 a 2000. No mandato recheado de tirania e corrupção, com supressão de liberdades individuais a favor da luta anti terrorista da Frente Maoísta Sendero Luminoso (aonde é que eu já vi isto?). Aliás, o relatório da Comissão de Verdade e Reconciliação, publicado em Lima a 28 de Agosto de 2003, prova a existência de uma lógica generalizada de massacres de camponeses, por vezes aldeias inteiras, às mãos do Exército Peruano por alegada suspeita, não provada (como se isso importasse...), de apoio aos Guerrilheiros Maoístas. O relatório da ONG Human Rights Watch, publicado passado Novembro, fala ainda de esterilizações forçadas de mulheres, tortura, suborno e corrupção generalizada do aparelho de Estado. Por outro lado, a Procuradoria Geral da República do Perú veior recentemente advogar a existência de largos milhões de dólares desviados para contas em Zürich, Genéve e Grand Cayman. Em 2000, apesar de do ponto de vista do Direito Constitucional Peruano tudo indicar que não poderia, resolve candidatar-se a um terceiro mandato presidencial que, obviamente, ganha a 28 de Maio de 2000. O que se seguiu foi um clima de intensa instabilidade social. Em Novembro do mesmo ano, partindo em visita de Estado para o Brunei, Fujimori resolve fugir para Tóquio onde apresenta, através de fax, a sua demissão de Presidente do Perú. Em Lima foram tempos conturbados que levaram às eleição de um novo presidente, o então líder da oposição, Alejandro Toledo. Em exílio no Japão, protegido pelo Governo Nipónico dado ser cidadão daquele país, o Governo de Lima nunca desistiu de obter a sua extradição. Sempre negada, Fujimori pôde desenvolver um novo partido - o Sí Cumple - com o intuito de se candidatar às eleições presidenciais peruanas de 2006. Como todos os ditadores, considera-se provavelmente intocável. E deverá ter sido nesse credo que passado dia 4 de Novembro descolou de Tóquio, num jacto privado, a caminho de Santiago, capital do Chile, com escala de reabastecimento em Tijuana, México. Estranhamente, o voo de Fujimori sobrevoou espaço aéreo peruano a caminho do Chile. Mais tarde, veio a ser descoberto que o então Chefe da Interpol em Lima, Carlos Medel, havia ordenado o desligar do sistema de alerta policial internacional do país durante 24 horas, entre dia 5 e 6 de Novembro. Tal operação contou com a conivência de altos responsáveis da Gestão do Espaço Aéreo. Todos prontamente despedidos e julgados, quando descobertos. Mas, em Santiago, foi apanhado quando julgava poder sobreviver a um eventual pedido de extradição junto do governo chileno, dado o período de dificuldades e desentendimentos que as relações Lima - Santiago vêm atravessando. E agora, Fujimori aguarda extradição para Lima onde, tal permita a Justiça dos Homens, será julgado por todas as atrocidades que orquestrou. Novos tempos na América Latina. Felizmente!

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